
Em 1999 conheci grande parte do litoral sul de Pernambuco, em uma viagem que começou em Natal e só finalizou na foz do Rio São Francisco, na divisa entre Alagoas e Sergipe.
Na época segui em um valente Chevette 1.6, movido exclusivamente a álcool, sem ar-condicionado, direção hidráulica, vidros elétricos e outras modernidades. E foi uma viagem maravilhosa.

Maravilhosa pelas descobertas de locais fantásticos, que ainda se encontravam intocados antes da invasão estrangeira, especulativa e imobiliária das nossas belas praias.
Pessoalmente não sabia da existência da praia do Porto, que neste local existia uma “ilha” e que a mesma possuía um solitário coqueiro. Na época a descoberta foi incrível.

Agora, neste primeiro semestre de 2012, decidi retornar e encontrar a mesma ilha que foi tão surpreendente.
Saí de Natal no meu Renault Logan, equipado com tudo que tem direito, esperando encontrar um acesso coberto de asfalto. Mas para minha surpresa, ao chegar próximo ao município pernambucano de Barreiras, descobri que a estrada para a praia do Porto continua de barro e que a praia continuava a “-Não ter nada de futuro”, segundo a informação de um transeunte local.

Lembrei-me que em 1999 tive de largar o Chevettinho, literalmente, no meio do mato e caminhar uns dois quilômetros, pulando porteiras e na eminencia de levar algum balaço de um proprietário mais radical. Agora descobri que na praia do Porto havia um bar. Bom, pelo menos havia um ponto de apoio e, teoricamente, as porteiras estariam abertas.
O acesso é muito difícil para um Logan, que sofreu muito, mas foi em frente. Chegar à esta praia é uma verdadeira aventura e um desafio. A sinalização é quase nula, a erosão no leito de barro do caminho é forte, exigindo seguir devagar, pois precisava voltar e não sou nenhum nababo para ter num segundo veículo.

Porém o visual do caminho, em meio a extensos canaviais, entrecortados com caminhos no meio da mata é maravilhoso, uma benção.
Quando o hidrômetro do carro marcava quase 10 quilômetros de barro, buracos e muita lama, chegamos a um maravilhoso coqueiral a beira mar, sem um pé de gente e com a bela Ilha do Coqueiro Solitário ao fundo.

Realmente vale a pena chegar nesse paraíso e deleitar-se com a paisagem da praia desértica
A ilhota é formada por pedras enormes, cuja disposição se estendem até o mar, formando piscinas naturais protegidas do vento e das ondas. A única vegetação é o famoso coqueiro que dá nome à ilha. Consta que esta venturosa árvore cresceu sozinho entre as pedras.

O local está próximo a beira mar, mas para galgar as pedras só é possível com a maré baixa, quando surge um acesso formado pela areia. A ilha passa a maior parte do tempo deserta, sendo visitada por pescadores e turistas e não há qualquer tipo de comércio. Descobrimos que o tal bar só abre na alta estação.

Para alguns esta praia do Porto foi um dos possíveis pontos de desembarque dos holandeses na época da invasão batava ao Nordeste do Brasil. A razão dos holandeses buscarem este local como ponto de apoio de suas naus, a mais de 100 quilômetros ao sul de Recife, estava na existência de ricos engenhos de cana-de-açúcar. Estes se localizavam nas atuais áreas rurais que atualmente compõem os municípios pernambucanos de Barreiros, Tamandaré, São José da Coroa Grande e produziam muita riqueza naquela época.

Inclusive me informaram que territorialmente a Ilha do Coqueiro Solitário pertence ao município de Barreiros e que na região existe um projeto de construção de um resort cinco estrela, de capital europeu.
Realmente não existem casas no lugar, o silencio impera, ouve-se apenas o barulho do mar quebrando na areia e o vento nas palhas dos coqueiros.

Mas, apesar de tudo, algo não estava correto!
Em um primeiro momento, depois de encarar a dura estrada em um carro que não foi especificamente criado para aquilo, seguindo devagar, com calma, ao chegar à beira mar não me dei conta em um primeiro momento de algo muito negativo.

Aparentemente a praia do Porto é muito visitada por hordas de pessoas que realizam piqueniques e deixam uma grande quantidade de lixo e muita sujeira. Não faltam marcas de fogueiras, estacas usadas para colocar lonas, restos de cordas usadas para armar redes de dormir, muita garrafa pet, plástico e todo tipo de porcaria.

Para completar o quadro triste não faltam pichações nas pedras da Ilha do Coqueiro Solitário. São principalmente marcações de nomes de pessoas que, na sua mediocridade, imaginam que perpetuam sua miserável existência, gravando seus nomes naquelas rochas que conheci limpas.

É uma pena que em um local tão belo ocorra este tipo de situação.

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Realmente voce nao poderia descrever tão bem, estive lá a dois dias atras 17/07/2012 onde sai da praia de carneiros onde eu e minha familia estamos hospedados passando as ferias e fui de cavalo pela praia numa linda cavalgada com meu amigo Sebastião um guia dono dos magníficos animais. E constatei a imbecilidade de uns vândalos estragando a linda paisagem da natureza! E fazendo de um lugar maravilhoso igual ao chiqueiro que devem viver. E lindo.
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Amigo,
É uma pena que as pessoas não saibam aproveitar o que a natureza nos deu. No futuro certamente um grupo de gringos vão comprar esta praia, colocar uma cerca, montar um baita hotel e cobrar muito alto para visitar este belo local.
Pelo menos vai estar protegido.
Paulo César
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Paulo,
Infelizmente tenho de concordar com você.
Acredito que será o destino daquele lugar se nada for feito.
Rostand
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Estive na praia do Porto lugar em Fevereiro de 2010 remando um caiaque a partir de Tamandaré e constatei a mesma coisa, muito lixo jogado na areia, foi de dar pena. Ainda não haviam as pichações.
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…E DE BÔNUS AGORA PARA MELHORAR A SITUAÇÃO, OS INÚMEROS ASSALTOS QUE OCORREM COM FREQUÊNCIA, AOS QUE ALÍ VISITAM AQUELE BELO CARTÃO POSTAL. E QUE SERVIU DE CENÁRIO PARA A NOVELA GLOBAL “A INDOMADA”.
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…E HOJE: 28/10/16, ESTOU EU AQUI MAIS UMA VEZ, FORA TANTOS OUTROS ASSALTOS QUE OCORRERAM DE 1 ANO PRÁ CÁ COM OS MESMOS CANGACEIROS, QUE AQUI NA ILHA FURTAM OS VISITANTES. NESTE MOMENTO, FOI ASSALTADO UM PESCADOR. QUE TEVE O MOTOR DE SUA “JANGADA” TOMADA POR ESTES 3 DELINQUENTES. TENTEI PELA MILÉSIMA VEZ, CHAMAR ALGUMA AUTORIDADE AQUI DA REGIÃO. MAIS COMO DE COSTUME, MAIS UMA VEZ, EM VÃO. E O PESCADOR COITADO, VEIO DE LONGE. AGORA TÁ COM FOME, SEM TER COMO VOLTAR PRA CASA, E ABANDONADO PELA POLÍCIA.
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Fiquei encantado com o seu relato. Ao mesmo tempo, realista e poético.
Apesar da sujeira e das pixações, fiquei desejoso de conhecer este pedacinho especial do litoral pernambucano.
As belas fotos emolduram o excelente texto.
Abraço!
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Tive o privilegio de acampar em feriadão nesta praia deserta, simplesmente inesquecível, obrigado por compartilhar isso.
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