VIDA MEDIEVAL, VIDA VIOLENTA

Se os camponeses são velhacos, estúpidos, vesgos e feios, isso é porque nasceram do esterco do burro. Nem o diabo os quer no inferno, de tão mal que cheiram”.

Mas, a acreditarmos nessa informação de G. G. Coulton contida nos Excertos da Literatura Medieval não saberíamos explicar o que era feito dos camponeses após a morte, pois toda gente sabia que “ninguém mais entrara no céu após o Cisma do Ocidente”.

Contudo, esse problema como tantos outros estava fora das cogitações do homem medieval, para quem a verdade pertencia a Deus e só por Sua graça poderia ser revelada.

Na Alta Idade Média do século V até o século XI, aproximadamente -, a vida do indivíduo já estava traçada desde o seu nascimento, e só a morte poderia interromper o destino pré-configurado. Quem nascesse nobre, assim morreria. Quem viesse ao mundo como camponês, pereceria a arar a terra. Mesmo dentro de cada uma das camadas sociais, as opções eram poucas. Tanto o senhor como o servo praticamente não escolhiam o que fazer da própria vida. As cruzadas, o ressurgimento das cidades e a revolução comercial marcam a chamada Baixa Idade Média, que se estende até o século XV. Nela, o panorama se modifica um pouco. Enquanto a vida do nobre se altera, aparecem novas categorias profissionais: os artesãos e os comerciantes.

Nesse período, os horizontes se entreabrem e, embora de maneira precária, ao homem se coloca alguma possibilidade de opção.

Nobre: o Homem Rude

Um castelo não era mais que uma enorme choupana de madeira, uma tosca fortaleza. Do século XI em diante, passou a ser construído de pedra, mas continuou úmido, escuro, sem condições de higiene, com pouquíssimo mobiliário. Era essa a habitação da aristocracia feudal: o senhor, sua família e a corte.

Os nobres não trabalhavam, sendo sustentados pela atividade dos camponeses. Suas maneiras não eram de modo algum refinadas ou gentis. A glutonaria era um vício comum, e um beberrão moderno ficaria perplexo à vista da quantidade de vinho e cerveja consumida durante uma festa no castelo. Ao jantar, os nobres cortavam a carne com o punhal e comiam com as mãos. Os restos eram jogados no chão para os cachorros, sempre presentes.

As mulheres eram tratadas com indiferença e até com desprezo e brutalidade. Nos séculos XII e XIII, o comportamento das classes aristocráticas foi consideravelmente suavizado pelo desenvolvimento da cavalaria, com seu código ético e social. Entretanto, a cavalaria introduziu apenas um refinamento exterior. A constância das guerras e a ferocidade dos combates faziam dos nobres feudais homens basicamente rudes.

Camponês: o Sub-Homem

Manuscritos medievais descrevem que, no verão, “via-se a maioria dos camponeses, em dias de feira, andar pelas ruas e praças da aldeia sem nenhuma roupa”. Não é muito estranhável esse despudor, pois, nas miseráveis cabanas em que viviam, toda a família, e mesmo hóspedes, dormiam juntos em uma grande caixa coberta de palha.

A despeito de trabalhar de sol a sol, se a colheita fosse insuficiente, o camponês poderia morrer de inanição. Sua alimentação consistia em pão preto, verduras e sopa. Carne, só se ousasse desafiar as leis do feudo, entregando-se a caçadas proibidas. A choupana que lhe servia de moradia era construída de varas trançadas, recobertas de barro. O piso de terra e o teto de palha não ofereciam nenhuma defesa contra a chuva e a neve.

Analfabeto, vítima de temores supersticiosos e à mercê das arbitrariedades dos mais ricos e fortes, poucas maneiras tinha o camponês de alterar o seu destino. Uma delas era contrair uma moléstia contagiosa e repugnante, como a lepra. Então, deveria abandonar tudo e se unir aos companheiros de sina. Reunidos em cortejo, passariam o resto da vida a percorrer as estradas a agitar guizos que anunciavam a aproximação do tétrico desfile. A partir do século XI, muitos camponeses conseguiram migrar para as cidades ou integrar-se nas Cruzadas, mas suas condições de vida nem por isso mudaram substancialmente.

Quase toda a população do feudo compunha-se de pessoas de condição servil, divididas em quatro categorias: vilões, servos, seareiros e moradores. Os vilões pagavam ao senhor o censo e os servos a capitação. Ambos prestavam serviços obrigatórios, a corveia. Todos deviam-lhe as prestações e as banalidades. Tal regime de impostos sobreviveu em alguns países até mesmo após a Revolução Francesa (1789).

Os vilões não estavam pessoalmente presos à terra, como os servos que não podiam abandoná-la. Os seareiros e moradores não possuíam nenhuma terra que pudessem arar, e sobreviviam graças a expedientes avulsos. Alguns poucos escravos realizavam serviços domésticos e eram mantidos por ostentação, pois o sistema econômico vigente agricultura de subsistência dispensava-os.

Artífices Incorporados

Com a revalorização do comércio, as cidades voltaram a se expandir. A maior concentração urbana ocidental, até o final da Idade Média, foi Palermo, na Sicília, com 300.000 habitantes. Seguiam-se Paris (240.000), Veneza, Florença e Milão. Nenhuma outra atingiu 100.000 habitantes.

As cidades foram-se emancipando do feudo e adquirindo administração própria. As camadas dirigentes passaram a ser os comerciantes e artesãos, reunidos em corporações. Estas eram órgãos exclusivistas, que asseguravam a seus membros o mono- pólio do comércio e das profissões na região. Regulavam o preço e a qualidade dos pro- dutos, punindo severamente os infratores.

As corporações de ofício eram dirigidas pelos mestres, que possuíam as oficinas e empregavam os diaristas e adestravam os aprendizes. Ao fim de algum tempo, os aprendizes tornavam-se diaristas, e esses por sua vez poderiam acumular algum dinheiro e abrir oficina própria. Entretanto, nos últimos decênios da Idade Média, essa ascensão tornou-se cada vez mais difícil, dada a obstinação dos mestres em preservar seu monopólio.

Na verdade, essas oficinas formavam uma indústria doméstica, pois diaristas e aprendizes, via de regra, residiam com a família do mestre, que presidia pequena comunidade. Como as cidades fossem cercadas por paliçadas que as defendiam, os terrenos interiores começaram a se valorizar, alcançando alto preço. Assim casas e oficinas passaram a ter, dois ou três andares. Uma camada privilegiada pôde viver exclusivamente das rendas imobiliárias.

Os Sinos de Deus

Cada ordem ou dignidade, cada grau ou profissão distinguia-se pelos trajes. Assim também o clero. Seus membros foram passando da primitiva vida ascética e estoica para uma posição semelhante à da nobreza.

Um som se erguia sempre acima dos ruídos da vida ativa: o ressoar dos sinos. Em certas ocasiões – conclusão de um tratado, eleição de um papa – o dobrar dos sinos era ouvido durante o dia inteiro, e mesmo à noite. As igrejas eram repletas de mendigos que exibiam suas misérias e deformidades. As procissões, onde havia sempre muitas crianças, eram frequentes. Muitas vezes duravam dias e semanas, ininterruptamente. Em 1412, organizou-se em Paris uma procissão integrada por diferentes ordens e corporações, que perdurou desde maio até julho, a implorar pela vitória do rei, que havia partido para a guerra. Todos marchavam descalços, e a maioria em jejum.

A Ralé Urbana

Em algum tempo, as cidades passaram a abrigar uma população muito maior que seu potencial de emprego. Na fuga à servidão dos campos, surge a grande massa urbana dos desocupados: malfeitores, ladrões, mendigos. O superpovoamento era tamanho, que por vezes dezesseis pessoas abrigavam-se num só cômodo.

Ademais, as cidades medievais cresceram rapidamente e teria sido quase impossível dotá-las de padrões razoáveis de higiene e conforto, mesmo se as autoridades se preocupassem com isso, o que não ocorria. As ruas eram estreitas e tortuosas, e nesse espaço limitado meninos e rapazes entregavam-se a brincadeiras violentas, que causavam muitos protestos dos adultos e do clero.

Quase todas as cidades dependiam da água de poços ou rios, e eram comuns a febre tifoide e outras epidemias. Algumas possuíram esgotos, mas parece que nenhuma delas tomou providências no tocante à coleta de lixo. Em geral, as imundícies eram atiradas à rua para serem afinal levadas pelas chuvas ou consumidas pelos porcos e cachorros que por ali vagabundeavam.

Da mesma forma que nos campos, os bandos de salteadores trans- formavam qualquer excursão em perigosa aventura. As punições desses elementos eram atrozes e serviam de diversão pública. Certa feita, a cidade de Mons chegou a adquirir um salteador capturado, para ter a satisfação de vê-lo esquartejado numa festa popular.

O Teor Violento da Vida

A miséria, a estrutura social rígida que condenava cada homem a um destino hereditário, a insegurança do povo quanto ao futuro, a falta de defesa contra os poderosos e a penetração das ideias religiosas criaram o clima de violência e exaltação que caracteriza o período medieval.

Procissões, colunas de leprosos, cortejos de príncipes ataviados, execuções e prédicas de pregadores itinerantes, roubos e assaltos, eis as variações mais comuns do horizonte medieval.

Johan Huizinga, em seu livro O Declínio da Idade Média, assim se manifesta: “Será de surpreender que o povo considere o seu destino e o do mundo apenas como uma infinita sucessão de males? Mal governo, extorsões, cobiça e violência dos grandes. Guerras, assaltos, escassez, miséria e peste a isso, basicamente, se reduz a história da época aos olhos do povo. O sentimento geral de insegurança causado pelas guerras, pela ameaça dos malfeitores, pela falta de confiança na justiça, era ainda agravado pela obsessão da proximidade do fim do mundo, pelo medo do inferno, das bruxas e demônios. O pano de fundo de todos os modos de vida parecia negro. Por toda a parte, a injustiça reina.”

Fonte – Enciclopédia Conhecer, Abril S.A, Cultural e Industrial, São Paulo-SP, 1974 – Volume VII – páginas 1537 e 1539.

A HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA DE JUDEUS QUE FUGIU DAS PERSEGUIÇÕES EM SUA TERRA E VIERAM PARA A CIDADE DE NATAL PARA VIVER EM PAZ

E A ESTRANHA SITUAÇÃO DOS NATALENSES NO SÉCULO XXI, QUE BUSCAM AS SUAS ANTIGAS RAÍZES JUDAICAS PARA FUGIR DA ATUAL E CRESCENTE VIOLÊNCIA EM SUA TERRA

Rostand Medeiros – IHGRN

Nos últimos anos no Rio Grande do Norte é notório que várias pessoas buscam ardentemente nas histórias dos seus antepassados uma pretensa ligação com a fé judaica.

Isso é bem interessante para quem vive no Rio Grande do Norte.

Pois esse é um Estado onde é perceptível que a sua classe dirigente (de todas as orientações ideológicas) pouco se importa com os temas ligados à nossa cultura e a nossa própria história. São dirigentes que pouco sabem e pouco utilizam como ferramentas positivas para o crescimento da cidadania potiguar as nossas interessantes e ricas manifestações culturais, ou dos fatos ligados ao nosso passado. Dito isso, é inegável que essas buscas individuais por uma pretensa “Raiz judaica” chamam a minha atenção.

Percebi que esse movimento de potiguares em busca da “Estrela de Davi” se tornou tão intenso, que ao publicar algumas postagens relacionadas com esse tema no “TOK DE HISTÓRIA”, todas tiveram muita procura e intensa visibilidade.

A Estrela de Davi na mais antiga cópia completa sobrevivente do texto massorético, o Códice de Leningrado, datado de 1008 – Fonte – https://www.chabad.org/library/article_cdo/aid/788679/jewish/Star-of-David-The-Mystical-Significance.htm

Busca Da Fé?

Tal como o autor desse texto, cujos antepassados imigraram do Velho Mundo para viver em solo potiguar no início do século XVIII, muitas das pessoas que buscam suas “Raízes judaicas” possuem histórias semelhantes em relação aos seus antepassados.

Soldados romanos carregando os despojos das guerras judaicas – Fonte – http://www.bible-history.com/archaeology/rome/arch-titus-menorah-1.html.

Mesmo que já tenha se passado quase três séculos que essas pessoas aqui chegaram para povoar as terras potiguares, mesmo que não exista nenhuma ligação com terra de onde esses antigos vieram, mesmo tendo avós, bisavós e tataravós que nasceram em nosso sertão e debaixo do credo cristão, nos dias atuais muitos insistem e persistem arduamente nessa busca por essa “Estrela Perdida”.

Levado unicamente pela curiosidade, sempre que me encontro com aqueles que desejam se ligar (ou já se ligaram) ao judaísmo através das histórias dos seus antepassados, eu não perco a oportunidade de questionar a razão desse esforço e dessa busca.

Nos diálogos que tive percebi que alguns realmente acreditam nessa antiga ligação religiosa, que levam o tema a sério, estudam e pesquisam bastante os fatos. São pessoas que possuem informes orais que, segundo eles, provam essa ligação de maneira concreta e afirmam que seus antepassados realizavam em datas determinadas certos atos e ações que apontam para essa ligação com a fé judaica. Em meio a certos critérios, percebi que eles possuem pura e simplesmente a fé nessas teses. E sobre fé eu nada comento, apenas respeito!

Mas outros com quem dialoguei, vários inseridos nos setores sociais mais privilegiados da sociedade potiguar, essa busca pouco tem relação com a vontade de realmente se ligar a uma religiosidade praticada pelos antigos. Observei que para essas pessoas, a pretensa descoberta dessas ligações antigas se resume unicamente em conseguir determinados mecanismos que lhes facilitem a conquista de um passaporte estrangeiro para imigrar para outro país.

Pude notar que para esses que buscam suas “Raízes judaicas” como forma de facilitar sua saída do Brasil, várias são as razões pessoais para realizar esse tipo de projeto. Entretanto houve uma unanimidade nesses diálogos – A existência da violência urbana em Natal como principal motivador dessa mudança.

Ouvi repetidamente que “Natal está muito violenta”, que tem “Muito medo de viver em Natal”, ou medo de “Criar filhos em um lugar tão violento” e um até me disse que “Valia a pena até virar judeu para ir embora”.

E é verdade. Faz tempo que a capital potiguar deixou de ser o lugar idílico, calmo e tranquilo que conheci na minha juventude.

Protesto na Praia de Ponta Negra, em Natal, em 2017. O belo cartão postal da capital potiguar virou um “cemitério” em protesto por número de homicídios no Rio Grande do Norte naquele ano – Fonte – Reprodução/Inter TV Cabugi – https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2019/06/05/rio-grande-do-norte-tem-a-maior-taxa-de-homicidios-de-jovens-do-brasil-diz-atlas-da-violencia.ghtml

A nossa violência urbana, igualmente comum em outras grandes cidades brasileiras, por aqui avançou (e avança) de forma contundente e intensa. Muitas são as razões para esse fenômeno, sendo claro que as fortes desigualdades econômicas e sociais amplificadas nas últimas décadas, muito contribuíram para essa terrível mudança. Mas foi (e ainda é) algo tão forte, tão avassalador, que mudou totalmente nossos hábitos de convivência e de agir no dia a dia. E não posso esquecer que nas nossas periferias continuam a ser assoladas por uma matança incrível e cotidiana, onde os maiores atingidos são principalmente os jovens pobres e negros.

Pastores judeus da Bessarábia – Fonte – https://www.jewishgen.org/yizkor/pinkas_romania/rom2_00279.html

Foi quando percebi que essa situação contemporânea envolvendo potiguares, possui uma certa relação com os judeus membros das famílias Mandel, Schor, Ribenboim, Genes, Weinstein e Axelband, que devido a violência contra a fé judaica na Bessarábia, deixaram a sua terra na primeira metade do Século XX para encontrar na cidade de Natal aquilo que muitos atualmente sentem que perderam – Paz e tranquilidade para viver e crescer.   

Uma Região Intensa e Complicada

Possuindo uma área de 45.630 km², pouco menor que o estado do Espírito Santo, a Bessarábia fica localizada na Europa Oriental e na atualidade dois terços dessa região se encontram na República da Moldávia e uma pequena parte na República da Ucrânia. Mas no início do século XIX sua área era um principado vassalo aos turcos otomanos, que passou ao Império Russo através de negociações.

Em 1856, após a Guerra da Criméia, a Bessarábia fez parte de uma Moldávia independente, causando a perda do Império Russo acesso ao rio Danúbio, situação a qual não se conformaram. Através de negociações e ameaças, a região voltou para o domínio dos Czares em 1878. Mas em 1917, em meio a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa, a Bessarábia passou a fazer parte do então Reino da Romênia, cujas tropas invadiram a região em troca da passagem livre das tropas alemãs para a Ucrânia. O governa da recém criada União Soviética não se conformou com a situação e passou a considerar essa área como sua, além de se colocava politicamente favorável a retomá-la, a força se necessário. 

Até esse período, pelas idas e vindas em sua história, dá para perceber que a Bessarábia viu muita coisa acontecer, principalmente o sangue da sua gente derramado em várias guerras. E os judeus que lá viviam estavam sempre propensos a sofrerem com essa volatilidade política, mesmo vivendo nessa região ha séculos.

Os Judeus se estabeleceram na Bessarábia no século XV, formando comunidades mais ou menos numerosas. Com o tempo começaram a participar ativamente do comércio local, tornando-se conhecidos pela fabricação de bebidas alcoólicas. Um censo realizado em 1900 apontou que viviam na Bessarábia 1.935.000 pessoas, sendo 219.000 judeus. Eles dividiam esse espaço com romenos, russos, ucranianos, búlgaros, povos de origem turcas e minorias de origem grega e alemã. Provavelmente nesse período ali viviam os membros das famílias Mendel, Schor, Ribenboim, Genes, Weinstein e Axelband.

Segundo um conjunto de fichas que classificaram os estrangeiros residentes em Natal, produzidas pelo Departamento de Segurança Pública em 1937 e atualmente guardada no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Norte, descobri que dezesseis judeus, dessas seis famílias comentadas, vieram da Bessarábia e desembarcaram no Brasil entre 1912 e 1935. A maioria dessas pessoas inicialmente desembarcou em outras capitais brasileiras, para depois seguirem em momentos distintos para Natal. Eram homens e mulheres com idades variando de 61 a 19 anos, vindos das cidades de Secureni e Ataki, localizadas a nordeste da Bessarábia e distantes apenas 28 quilômetros uma da outra.

Historicamente os judeus que viviam na região de Secureni, onde consegui melhores informações, viviam do pequeno comércio, plantavam tabaco e beterraba, derrubavam e vendiam madeira, tinham moinhos de farinha e negociavam com cavalos, ovelhas, frutas e vegetais. Entre eles também haviam carpinteiros, sapateiros, peleteiros, serralheiros e outros profissionais.

Se no início do século XX essas duas cidades faziam parte da Romênia, atualmente Secureni, hoje chamada Sokyryany, fica no Condado de Chernivsti, na Ucrânia, ao lado da fronteira da República da Moldávia, onde a poucos quilômetros se encontra a antiga Ataki, atual Otaci.

Perseguições

Na primeira metade do século XIX, os judeus que viviam na Bessarábia não estavam sujeitos a perseguições dos russos. Mas em 1835, quando essa região estava gradualmente começando a perder sua autonomia e as ações de maior fortalecimento da população russa se multiplicaram, as leis antijudaicas começaram a ser aplicadas na Bessarábia, com a criação de vários decretos que tornaram a vida deles bastante complicada.

Judeus começaram a ser segregados nas grandes cidades, proibidos de estudar, impedidos de possuir propriedades e ainda exilados e isolados em pequenas aldeias espalhadas pela Europa Oriental.

As sociedades europeias da época possuíam um grande número de judeus integrados, participando até mesmo das esferas políticas, militares, econômicas e intelectuais. Apesar disso existiam fortes correntes antissemitas, de raízes religiosas ou não, na opinião pública europeia da época. Entre os cristãos europeus mais devotos, os judeus eram considerados como os “Algozes de Jesus” e outro tipo de preconceito bastante forte era o de ordem econômica. Diante desse quadro, não demorou para à situação dos judeus na Bessarábia piorar.

Macabro resultado do Primeiro Progrom de Chisinau em 1903.

Em 6 a 7 de abril de 1903, na cidade de Chisinau, atual capital da Moldávia, durante o Pessach, a Páscoa judaica, habitantes locais foram incentivados por autoridades do Império Russo para organizarem um “pogrom”, ou seja, uma série de ataques massivos, espontâneos contra os judeus, caracterizado por assassinatos, espancamentos, assédio, destruição de casas, de negócios, templos religiosos e outros ataques violentos. 

O chamado Primeiro Pogrom de Chisinau deixou 49 judeus assassinados, entre estas várias crianças. Cerca de 500 pessoas ficaram feridas, 1.500 casas e lojas judias foram parcialmente ou totalmente destruídas e 2.000 famílias judias ficaram desabrigadas.

Este pogrom abalou a população judia do Império Czarista e marcou uma virada na opinião pública judaica e mundial. Isso foi seguido por um novo aumento nas ondas de emigração de judeus da Europa Oriental para os Estados Unidos e para à Palestina.

O Presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt chama a atenção do Czar da Rússia Nicolau II para o massacre de Chisinau.

Uma das consequências desse ataque foi a vinda de 267 judeus da Bessarábia, distribuídos em 37 famílias, para formar uma colônia agrícola no Brasil, que ficou conhecida como Colônia Philippson. Eles chegaram em 18 de outubro de 1904 para ocupar uma área de 4.472 hectares, na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul. 

Mas não demorou e os judeus da Bessarábia levaram uma segunda dose de violência. Entre 19 e 20 de outubro, novamente em Chisinau, ocorreu um segundo progrom, com 19 mortos. Dessa vez o número de vítimas foi menor porque os judeus resistiram em algumas áreas e chegaram a matar alguns atacantes. Já na área das cidades de Secureni e Ataki não ocorreram ataques dos russos, mas o medo passou a ser a tônica do dia a dia desses judeus, que poucos anos depois começariam a imigrar para Natal.

Monumento na Moldávia em honra aos que morreram nos progroms realizados na Bessarábia.

Logo a região da Bessarábia, conforme comentamos anteriormente, passou a ser dirigida por autoridades do atualmente extinto Reino da Romênia. Isso criou a ideia que as perseguições diminuiriam, mas não foi assim que aconteceu.

Os judeus que viviam na cidade de Secureni tinham relações estáveis ​​com seus vizinhos, mas sofriam com a atitude dos agentes do governo. No final de 1921, na véspera do Yom Kippur, judeus andando nas ruas foram presos, muitos homens, mulheres e crianças foram retirados à força de suas casas e levados para um campo fora da aldeia, onde foram vigiados por guardas armados e montados em cavalos. Depois da meia-noite, em meio a muito frio, o Chefe da Polícia, outros policiais e um médico indicado pelo governo vieram ao campo. Queriam prender dois refugiados que haviam cruzado um rio das proximidades e seriam espiões russos. Ameaçaram que no caso de não encontrar os dois homens, eles deportariam todos da aldeia. Os soldados abusaram dos judeus, mas como não encontraram os dois elementos desistiram da ação e todos voltaram para casa.

Parece que com essa perseguição (e talvez outras mais), associado a notícia da mudança de judeus da Bessarábia para o Brasil, tornou atrativa a ideia de alguns judeus das cidades de Secureni e Ataki mudarem para o nosso país. Pois a maioria dos judeus que vieram dessa região para viver em Natal, partem da Bessarábia na primeira metade da década de 1920.

Chegada ao Novo Mundo

Ao tentarmos cruzar informações disponíveis na Hemeroteca da Biblioteca Nacional, com os dados que possuímos sobre os membros das famílias Mendel, Schor, Ribenboim, Genes, Weinstein e Axelband, são poucas as informações conseguidas. Mas foi possível traçar o caminho de uma dessas famílias através do tempo e perceber, mesmo limitadamente, como se desenvolveu sua mudança para Natal e sua vida posterior.

RMS Andes – Fonte – http://www.naval-history.net

No dia 21 de junho de 1926, ao meio dia, o vapor inglês RMS Andes, da Royal Mail Steam Packet Company, conhecida no Brasil como Mala Real Inglesa, lançou âncora em frente ao farol da barra do porto de Recife. Havia zarpado 15 dias antes do porto de Southampton (Inglaterra), com escalas em Cherbourg (França), Vigo (Espanha) e Lisboa (Portugal).

Em Recife desembarcaram 22 passageiros, entre eles o jovem casal Samuel e Bertha Axelband, ele com 24 e ela com 19 anos de idade e sem filhos. Mas os tramites burocráticos do casal na alfandega só foram resolvidos um dia depois, uma terça-feira. A razão provável foi um grande bafafá ocorrido na repartição, inclusive noticiado nos jornais, em decorrência da prisão do comerciante judeu Alexander Gurewitz. Este pretendia embarcar no mesmo RMS Andes para o Rio de Janeiro, mas teve a sua partida sustada por dois oficiais de justiça e policiais, que cumpriram um mandato expedido pelo juiz Adolpho Cyriaco, a pedido da Sra. Sophia Goldel, também judia e sua credora. (Diário de Pernambuco, 22/06/1926, págs. 2 e 4).

Certamente na capital pernambucana o casal recebeu apoio da comunidade judaica, que era relativamente numerosa e atuante. Mas, por alguma razão, eles não permaneceram em Recife. Provavelmente Samuel deve ter trabalhado como mascate, profissão que abria contatos e horizontes e era a atividade muito comum entre os judeus desembarcados Brasil vindos da Europa Oriental.

Uma situação normal para todos estrangeiros e imigrantes no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial – Todos seus deslocamentos em aeronaves eram monitorados pelo DOPS. Isso ocorria independentemente de raça, origem, credo, etc. O interessante é que esse material normalmente traz boas informações de pessoas que são alvo de pesquisas históricas.

Talvez como fruto de suas andanças, vamos ter notícias dos Axelband sete anos depois de desembarcarem em Recife. Uma nota afirma que Samuel Axelband era um comerciante em São Luís, no Maranhão, e divulgava o aniversário do seu filho Aron (O Imparcial, 07/03/1933, pág. 2). Mas seja lá o tipo de comércio que Samuel tinha nessa cidade, aparentemente ele não durou muito, pois quatro anos depois seu nome consta no prestigiado Almanak Laemmert (Ed. 1937, pág. 1.376) como sendo proprietário da alfaiataria “A Carioca”, na Rua Simplício Mendes, no Centro de Teresina, Piauí, uma rua com várias alfaiatarias. Nesse negócio Samuel aparentemente tinha uma sociedade com uma pessoa de sobrenome “Luz”, mas não obtive maiores informações.

É provável que essa informação não seja totalmente correta. Não no sentido que Samuel Axelband e sua família viveram em Teresina, mas na data. Pois é conhecido que os nomes listados no Almanak Laemmert perduravam por anos nas novas edições desse almanaque, gerando informações equivocadas. Até porque a família Axelband já vivia em Natal em janeiro de 1938.

Imigrante de Sucesso

O Censo demográfico de 1940 apontou Natal com 109 judeus e, segundo Câmara Cascudo (Ver o livro História da Cidade do Natal, 1999, IHGRN, pág. 389) sua sinagoga havia sido fundada em 12 de janeiro de 1919, um domingo, quando a pandemia de Gripe Espanhola se encaminhava para seu final. É provável que a existência dessa comunidade judaica e o fato de prováveis parentes de sua esposa, cujo sobrenome de solteira era Mandel, já viverem e comerciarem em Natal, tenha influenciado Samuel Axelband a viver nessa parte do Brasil.

Não sabemos como seu deu a chegada dessa família em Natal, qual negócio Samuel montou primeiramente e nem como se deu sua relação com a comunidade judaica e com a população local. Mas sabemos que quem se destacou em sua família na cidade por essa época, foi a sua filha Riva Axelband, que começou a chamar atenção do maestro Waldemar de Almeida como exímia pianista e logo a jovem realizava apresentações para a sociedade local. Como na 19ª audição do “Curso Waldemar de Almeida”, ocorrida em 31 de janeiro de 1938 no Teatro Carlos Gomes, atual Teatro Alberto Maranhão. No seu piano marca Albert Schmölz, Riva tocou a “Mazurca” opus 24 n. 1, do polonês Frederic Chopin e nos anos seguintes outros recitais se repetiriam.

Temos a informação que Samuel Axelband fundou, em data desconhecida, uma loja chamada “Casa Glória”, especializada em artigos masculinos, no bairro da Ribeira, na Rua Dr. Barata, número 205. Ao lado da sua loja havia o comércio de um outro judeu, era a “J. Mandel & Cia”, um parente de sua esposa.

Bairro da Ribeira, em Natal, na época da Segunda Guerra.

Provavelmente Samuel percebeu claramente a grande possibilidade de negócios que ocorreria com a Segunda Guerra Mundial e a presença de tropas americanas na capital potiguar em Natal. Logo seu negócio prosperou enormemente, ao ponto de fundar na Rua Chile, número 240, em frente a atual Capitania dos Portos, uma movelaria chamada “Progresso”.

Segundo o livro Natal, Uma comunidade singular, Egon e Frieda Wolff (Pág. 53, Rio de Janeiro, 1984), 30 dias após a morte de Franklin Delano Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos, houve na sede do Centro Israelita de Natal (CEN), no centro da cidade a cerimônia dos trinta dias de falecimento, que na fé judaica se denomina Shloshim. O ato foi realizado pelo Rabino Baum e contou com a presença de militares americanos judeus. Também estiveram presentes vários judeus que moravam em Natal, entre eles Samuel Axelband. 

Após o fim da guerra, como fizeram quase todos os judeus que viviam em Natal, os Axelband partiram da cidade nordestina que lhes deu tranquilidade para viver, mas que depois da Segunda Guerra e da partida das tropas estrangeiras, tinha pouco em termos econômicos a oferecer. Samuel foi viver em Recife, onde manteve uma representação de relógios.

Não sabemos quando sua existência findou nesse plano existencial e nem o que ocorreu com a sua família, mas sua trajetória e sua história no Brasil, especialmente em Natal, apontam para uma história de sucesso de um imigrante judeu da Europa Oriental que, mesmo recebendo apoios de pessoas da mesma religião, claramente mostra como essas pessoas desse grupo minoritário podiam viver tranquilos em Natal e no Rio Grande do Norte na primeira metade do século XX, sem o perigo dos progoms e das perseguições religiosas.

Cada um tem o direito acreditar na religião que quiser. Isso é uma situação de foto íntimo. Mas não deixa de ser um tanto irônico que em Natal, na segunda década do século XXI, na era do “futuro”, vários de seus cidadãos que não nasceram judeus, se voltem para suas pretensas “Raízes judaicas” para migrar de uma violência que anualmente crescer no número de assassinatos.

JHJHJHKJKH

Livros – História da Cidade do Natal, Câmara Cascudo, 1999, IHGRN, pág. 389.

Natal, Uma comunidade singular, Egon e Frieda Wolff, 1984.

Internet – https://kehilalinks.jewishgen.org/philippson/index.html

https://www.apusm.com.br/2014/09/fazenda-phillipson-os-114-anos-da-imigracao-judaica-em-santa-maria/

https://www.jewishgen.org/yizkor/pinkas_romania/rom2_00382.html

https://en.wikipedia.org/wiki/Bessarabia

https://ro.wikipedia.org/wiki/Istoria_evreilor_din_Republica_Moldova

NO TOK DE HISTÓRIA PODEM SER ENCONTRADOS ESSES TEXTOS SOBRE ASSUNTOS LIGADOS A JUDEUS.

PARA NUNCA SER ESQUECIDO – AUSCHWITZ: IMAGENS DE ONTEM E DE HOJE

O MITO SOBRE A ORIGEM DE SOBRENOMES DE JUDEUS CONVERTIDOS

OS CRIPTO JUDEUS NO BRASIL

JUDEUS EM NATAL – A SAGA DOS PALATNIK

A HISTÓRIA DOS JUDEUS NO BRASIL

JUDEUS SEM SABER

LEI PODE DAR CIDADANIA A BRASILEIROS DESCENDENTES DE JUDEUS

DIÁSPORA: DESCUBRA COMO OS JUDEUS SE ESPALHARAM PELO MUNDO

https://tokdehistoria.com.br/2014/03/23/sobrenomes-de-judeus-expulsos-da-espanha-em-1492-veja-se-o-seu-esta-na-lista/

A EXPULSÃO DOS JUDEUS DE PORTUGAL

O MITO DO TESOURO DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS

Graças às pseudo-histórias do livro e película O Código Da Vinci e dos livros em que se baseia, como O Sangue Sagrado e o Santo Graal, os míticos Cavaleiros Templários se encontraram no nexo de um notável emaranhado de mistérios históricos e na percepção geral do público eles se tornaram um sinônimo de história oculta e conhecimento misterioso, cujo núcleo é representado pela noção popular da existência de um grande tesouro perdido que teria pertencido a essa ordem.

As Cruzadas, guerra entre cristãos e mulçumanos.

O Tesouro dos Templários

Jerusalém, a Cidade Santa, é uma das cidades mais antigas do mundo, localizada em um planalto nas montanhas da Judéia e havia sido conquistada pelos cruzados europeus foi dos mulçumanos em 15 de julho de 1099, como parte da série de conflitos inseridos na Primeira Cruzada. Dezenove anos depois o rei cristão de Jerusalém Balduíno II autorizou o cavaleiro francês Hugues de Payens (ou Hugo de Payens) e mais oito devotados companheiros a fundar a Ordem dos Cavaleiros Templários e concedeu a Payens uma parte do complexo do Monte do Templo, daí o nome da ordem.

Representação de Jerusalém da Líder Cronicarum de Hartmann Schedel.

Inicialmente a humilde tarefa dos Templários era escoltar e proteger os peregrinos cristãos no caminho entre Jerusalém e o rio Jordão. Apesar do número pequeno de membros iniciantes, das simples missões dos primeiros tempos, logo os Templários foram sendo notados pelas vestes brancas e a cruz pintada de vermelho. O grupo tornou-se de grande importância na defesa dos Estados Cristões no Oriente, constantemente atacados pelas tropas muçulmanas. Logo a Ordem dos Templários alcançou enorme respeito, proeminência, riqueza e poder. 

Retirado das Chroniques de France vemos uma representação de templários diante do Papa e do Rei Felipe, o Belo, da França.

189 anos depois, com ciúmes de seu poder, ou desejoso de se apoderar das supostas riquezas da Ordem para equilibrar as contas de sua nação – e possivelmente por motivos mais sombrios – o rei francês Filipe, o Belo, agiu para destruí-los. Sob a alegação de cometerem pecados diversos contra a doutrina católica, este rei e o Papa Clemente V determinaram a extinção da ordem religiosa e seu líder, o Grão-mestre Templário Jacques de Molay, foi condenado à morte na fogueira.

Na véspera da prisão simultânea de todos os Templários na França, em 13 de outubro de 1307, um quadro de cavaleiros teria sido alertado por um informante para a iminente traição. Assim os membros da Ordem conseguiram retirar da fortaleza dos Templários em Paris as riquezas da instituição e elas foram levadas para a cidade de La Rochelle, na costa oeste da França. As arcas contendo uma grande quantidade de ouro e pedras preciosas, além de algo ainda mais valioso – relíquias cristãs, documentos, artefatos ou conhecimentos secretos, foram embarcadas em navios da poderosa frota da Ordem e seguiram para a Escócia.

Os cavaleiros cruzados entram em confronto com as tropas muçulmanas durante o segundo cerco de Antioquia da Primeira Cruzada. De um manuscrito francês da década de 1200.

Quando a Ordem foi finalmente destruída em 1312, para alguns o rei Filipe ficou de mãos vazias, enquanto a frota dos Templários aparentemente desapareceu da face da Terra.

Em torno do esqueleto deste relato, uma grande quantidade de detalhes intrigantes e potencialmente explosivos se acumulou. Com relatos que vão desde como os Templários conseguiram seu grande tesouro, do que ele era feito, o que aconteceu com ele e com os cavaleiros nos séculos seguintes.

Descanso de um cavaleiro templário.

Fontes do tesouro templário

As histórias alternativas parecem bastante confusas sobre este assunto, com pelo menos três fontes separadas fornecidas para a transmissão do “Segredo(s) final(is)” que os Templários supostamente possuíam, embora seja frequentemente sugerido que as fontes estão conectadas e formam um fio contínuo.

O Priorado de Sion

Selo dos Cavaleiros Templários.

Uma sugestão é que os Templários foram formados por uma organização anterior mais misteriosa e poderosa, o chamado Priorado de Sion.

Para os seguidores desta organização, Jesus e Maria Madalena haviam se casado, tiveram filhos, vieram para o sul da França e seus descendentes por sua vez fundaram a linhagem merovíngia de reis franceses. Para os defensores da existência do Priorado de Sion, embora os herdeiros desta linhagem fossem supostamente os reis legítimos do Ocidente (se não do mundo inteiro), seus poderes foram usurpados pela Igreja Católica. O Priorado então foi criado para proteger a linha de sangue dos herdeiros de Cristo, mas também os vários aspectos dos segredos envolvendo conhecimentos sobre o Cristianismo e outros mistérios antigos. Os Templários foram então criados pelos membros do Priorado do Sião para aumentar seu poder de combate e ter mais influência no mundo cristão.

Caçadores do templo perdido

A segunda explicação para o conhecimento e o tesouro secreto dos Templários, é que o grupo original de nove cavaleiros que fundou a Ordem descobriu algo de muito importante no subsolo do Templo de Salomão em Jerusalém.

De acordo com esta teoria, esses nove homens ao serem alojados em uma série de corredores subterrâneos conhecidos como Estábulos de Salomão, uma das poucas estruturas associadas ao antigo templo ainda existente, encontraram túneis e câmaras abaixo do Monte, descobrindo um esconderijo secreto que continha documentos, artefatos e preciosas relíquias. Assim equipados, os Templários foram capazes de enviar emissários de volta à Europa e começar sua notável ascensão ao poder e a fortuna.

Cruzados em uma pintura, no interior de uma igreja na Espanha.

Logo os senhores e príncipes da Europa ajudaram os Templários com doações de terras e prometeram outras formas de apoio. O Papa lhes concedeu privilégios extraordinários, isentando a Ordem de quaisquer jurisdições reais, exceto a sua. Os Templários tinham suas próprias leis e muitos jovens europeus, vários oriundos de famílias nobres, passaram a se reunir sob a cruz templária e serem iniciados em seus rituais.

A Conexão Cátara

Uma terceira explicação, também potencialmente ligada à linhagem da história de Cristo e do Priorado de Sião, é que os Templários herdaram seus tesouros dos cátaros.

Os cátaros são expulsos de Carcassone, França, no ano 1209 – Grandes Chroniques de France – Fonte – https://en.wikipedia.org/

Os cátaros (também conhecidos como Albigenses) foi uma seita cristã herética, que se tornou popular e poderosa no sul da França a partir do século XI. Seguiam um tipo de cristianismo derivado do Oriente, com muitos elementos gnósticos. O princípio básico do gnosticismo (o nome deriva do grego gnosis, conhecimento) é que o divino está presente dentro de cada indivíduo, e que a maneira de alcançar a união com o divino é através da gnose pessoal, ou auto exploração. Isto está em contraste com a abordagem católica, que diz que os padres são necessários como intermediários entre os indivíduos e Deus.

Os cátaros impressionaram muitos com sua piedade e pureza, ganhando seguidores e a proteção de poderosos nobres de Languedoc, uma área da Occitânia, no sul da França. Foram feitas numerosas tentativas por parte da Igreja para sufocar a disseminação dos Cátaros, que culminou em 1208 no lançamento da Cruzada Albigense, sendo seguida em 1229 pelo estabelecimento da inquisição contra esse grupo. O holocausto sangrento resultante quase exterminou os cátaros, com o último líder sendo executado em 1321.

Uma vista do Chateau de Montsegur no topo da montanha – Fonte – https://en.wikipedia.org/wiki/Siege_of_Monts%C3%A9gur#/media/File:Montsegur_montagne.jpg

O elemento crucial nesta triste história se dá em 1244, no cerco de Montségur. Esta era uma fortaleza dos cátaros no topo de uma montanha, no Departamento do Ariège, na região de Midi-Pyrénées, sudoeste da França. Os cátaros supostamente guardavam nesse local uma taça sagrada que era venerada em seus rituais e que foi associado ao Santo Graal, o cálice supostamente usado por Jesus Cristo na Última Ceia e tinha o poderes mágicos. Além dessa peça, vários outros tesouros também se encontravam nessa fortaleza.

De acordo com uma lenda popular, que tem uma forte semelhança com a história da fuga dos Templários de Paris a meia-noite de 13 de outubro de 1307, pouco antes da fortaleza catará cair para as forças católicas sitiantes, quatro cátaros desceram as muralhas e levaram o tesouro para um local seguro.

Como muitos Cavaleiros Templários vieram da região da fortaleza de Montségur, muitos acreditam que deve ter havido ligações entre os dois grupos, e que o tesouro cátaro teria assim passado para os Templários.

Fonte – http://legiaovertical.blogspot.com/2010/10/foi-revolucao-francesa-uma-vinganca-dos.html

Leve isso para o banco

Além de qualquer tesouro secreto ou sagrado que os Templários possuíssem, esses cavaleiros se tornaram extremamente ricos de uma forma bem mais convencional e materialista.

Em uma época anterior aos bancos, era costume que os ricos armazenassem seus ativos líquidos no lugar mais seguro possível. Muitas vezes isso significava uma sala forte em uma fortaleza, ou castelo, de uma ordem militar composta de cavaleiros extremamente bem armados, preparados para o combate e possuindo uma reputação impecável. Os Templários eram então candidatos óbvios para salvaguardar esses tesouros.

Os Templários também acumularam experiência na transferência de valores da Europa para a região de Jerusalém e toda a Terra Santa, além de realizar empréstimos. Eles até diversificaram o transporte marítimo, criando um serviço de transporte de peregrinos para a Terra Santa, ao lado de seus próprios homens e suprimentos. Já os assim chamados “Teóricos da conspiração dos templários” olham além desses convencionais métodos de negócios e argumentam que era a posse de conhecimentos secretos e das relíquias que tornaram a Ordem dos Templários um sucesso.

A Igreja do Templo, , consagrada em 1185 como a residência dos Cavaleiros Templários em Londres. não é apenas um importante local arquitetônico, histórico e religioso, é também o primeiro banco de Londres. – Fonte – https://www.bbc.com/news/business-38499883

O certo é que em meio a essas operações na Europa e na Terra Santa os Templários acumularam prestígio, riqueza, propriedades enormes, valiosos ornamentos para suas igrejas e muito poder. O que lhes permitiu influenciar, intimidar ou chantagear os que se colocavam no seu caminho. Isso igualmente criou uma legião de inimigos, como o rei Felipe da França.

Grande parte dessas vastas riquezas seriam parte tesouro supostamente desaparecido na noite de 13 de outubro de 1307.

O grande segredo

O que mais foi levado para a segurança naquela noite? Exatamente o que era o tesouro secreto dos Templários?

Relíquias

Talvez o tesouro consistisse em relíquias sagradas e importantes para os cristãos. As sugestões incluem fragmentos da Verdadeira Cruz, a Lança do Destino (a lança que supostamente perfurou o lado do corpo de Cristo enquanto ele era crucificado), a Arca da Aliança e o Sudário de Turim (cujo rosto alguns acreditam ser de Jacques de Molay, último Grão-Mestre da Ordem dos Templários) e o Santo Graal de Jesus é um candidato óbvio. Outra opção seria que os Templários possuíam Evangelhos diferentes que revelassem alguma outra versão da história de Jesus, destruindo alguma versão católica convencional, como a história de Jesus Cristo sendo casado e tendo filhos.

Conhecimento Secreto

Além de tudo isso, sugere-se que os Templários eram herdeiros de uma antiga tradição de sabedoria esotérica, o que explicaria a sua estranha mística gnóstica e outras práticas não cristãs. Entre as mais famosas eram seus rituais de iniciação, que envolviam cuspir para o lado da cruz, paródias da missa e, supostamente, negação de Jesus.

O Que Aconteceu Depois?

Como e o que os Templários adquiriram para seu propalado tesouro é apenas o começo da história. A verdadeira história é o que aconteceu depois, embora, novamente, existem várias versões distintas, cada uma com implicações diferentes para o local do tesouro dos Templários hoje.

Ruínas da antiga igreja Balantrodach, no sul da Escócia, construída pelos Templários. Foi o próprio Hugues de Payens que recebeu o terreno para construir esse templo do rei escocês David I, em 1128 – Fonte – https://en.wikipedia.org/wiki/Temple,_Midlothian

A Conexão Escocesa

A Escócia é frequentemente apontada como um destino potencial para os fugitivos da frota com o tesouro templário que pretensamente desapareceu da França na noite de 13 de outubro de 1307. É importante comentar que desde os primórdios da Ordem dos Templários, estes tinham uma relação próxima e positiva com os escoseses.

Na época, o rei da Escócia estava no meio de uma briga com o papado e, portanto, foi excomungado. Isso significa que na Escócia os Templários estariam além da autoridade do Papa e pelos próximos anos longe de torturas e julgamentos no continente. Além disso, acreditava-se que os governantes da Escócia eram amigáveis aos Templários e eles teriam inclusive lutado lado a lado com os escoceses em 1314 na Batalha de Bannockburn, contra os ingleses.

Os mistérios da Capela Rosslyn

Rosslyn foi construída entre 1440 e 1480 por William Sinclair, da família Sinclair, Condes de Orkney e também Senhores de Rosslyn, nas terras baixas da Escócia, entre as cidades de Edimburgo e Glasgow.

Capela Rosslyn, Midlothian, Escócia – Fonte – https://en.wikipedia.org/wiki/Rosslyn_Chapel

A família Sinclair era supostamente composta de Templários importantes no século XIII e a Maçonaria na Escócia foi supostamente fundada por William Sinclair, conectando assim os Templários com os maçons, seus pretensos sucessores.

A Capela Rosslyn representa o uso que os Sinclair fizeram da arquitetura e dos segredos dos Templários e está repleta de simbolismos maçônicos. Acredita-se que esse templo é uma cópia do Templo de Salomão, deliberadamente deixado inacabado para parecer com o original em ruínas. Dentro da capela o ornamentado e esculpido Pilar do aprendiz é sugerido como sendo um esconderijo para o saque dos Templários, assim como vários grandes baús que poderiam estar enterrados perto da propriedade.

A Conexão Americana

Esculturas, que alguns acreditam representar milho do Novo Mundo – Fonte – https://en.wikipedia.org/wiki/Rosslyn_Chapel

A Capela Rosslyn também exibe esculturas de elementos da flora americana, aparentemente esculpidas antes das viagens de Colombo. Isso se relaciona com lendas sobre Henry Sinclair, ancestral do construtor da capela e outro suposto Templário, que teria feito viagens secretas através do Atlântico, possivelmente usando conhecimentos secretos obtidos do tesouro dos Templários. Essas viagens possivelmente teriam a missão de enterrar o tesouro da Ordem a salvo de mãos europeias, no que depois ficaria conhecido como Novo Mundo.

Rennes-le-Château

Além de Rosslyn se tornar o foco dos caçadores do tesouro dos Templários, surgiu uma nova pista na pitoresca aldeia de Rennes-le-Château, em Languedoc, na antiga região cátara. Aqui o mistério de Bérenger Saunière entusiasma os caçadores de tesouros há décadas.

Padre Bérenger Saunière em frente ao pórtico da igreja de Rennes-le-château (data desconhecida) – Fonte – https://fr.wikipedia.org/

Saunière foi o padre da pobre aldeia de Rennes entre 1889 a 1905 e, devido a sua mirrada renda oficial, ele deveria ter passado a maior parte de sua vida na obscuridade e perto da pobreza. Mas durante a década de 1890 o padre Saunière começou a gastar abundantemente muita grana. Primeiro reformando a igreja e mais tarde construindo para si uma casa luxuosa. Na cosmopolita Paris esse padre teria convivido com ocultistas ricos e famosos e em sua suntuosa casa ele dava festas luxuosas para essa gente.

Acredita-se que a fonte desta riqueza foi um pergaminho misterioso que Saunière encontrou escondido dentro de um pilar na igreja da aldeia. O pergaminho, por sua vez, levou o padre a descobrir algum tesouro escondido nas proximidades. Possivelmente o tesouro perdido dos cátaros ou dos Templários.

No entanto, com sua morte em 1917, o segredo do tesouro foi perdido, talvez enterrado em algum lugar na zona rural circundante.

Castelo de cartas

Em conclusão, o tesouro dos Templários agora está escondido, ou enterrado ao redor da Capela Rosslyn na Escócia, em algum lugar na América do Norte, ou no subsolo de Rennes-le-Château.

Essas versões alternativas da história são uma leitura empolgante, mas a verdade é que esta teia complicada é construída quase inteiramente de especulações infundadas, erros simples ou ficções definitivas.

Quase todos os aspectos podem ser desmascarados, embora seja difícil saber por onde começar.

Os Templários realmente descobriram ou herdaram algo incrível?

Apesar das várias teorias, não há evidências de que os Cavaleiros Templários descobriram, ou herdaram algo de extraordinário.

As três principais fontes sugeridas para o tesouro são o chamado Priorado de Sion, os subterrâneos do Monte do Templo e os cátaros.

A história do Priorado de Sião é uma invenção de um vigarista e fantasista francês condenado, chamado Pierre Plantard de Saint-Clair.

Depois da Segunda Guerra Mundial Plantard inventou uma elaborada versão fantasiosa de uma história na qual ele era descendente dos reis merovíngios e, por extensão, do próprio Cristo. Ele então criou de sua mente uma sociedade secreta com antecedentes supostamente místicos e portentosos. A denominou de Priorado de Sião e recrutou alguns membros para as quase religiosas atividades nacionalistas e monarquistas, de desagradável caráter político. Ele chegou até mesmo a falsificar documentos contrabandeados para os arquivos nacionais franceses na Bibliothèque Nationale de Paris. Quando pesquisadores posteriores os encontraram, isso deu crédito a história que o próprio Plantard estava contando para eles.

Embora ele eventualmente tenha violado a lei e condenado pelos seus golpes, o então Priorado de Sion e sua longa tutela da linhagem de Cristo ficaram firmemente estabelecidos na imaginação popular. A conexão Priorado com a Ordem dos Templários era outro elemento da história inventada por Plantard.

Atual Abadia da Dormição, em Jerusalém. No século XII, os cruzados construíram uma igreja ainda maior chamada Santa Maria do Monte Sião, mas também foi destruída em 1187. O local permaneceu abandonado até o final do século XIX, quando por iniciativa do imperador alemão Guilherme II, a atual basílica foi construída e inaugurada em 1910.  

Deve ser apontado que embora houvesse, brevemente, uma Ordem de Sião real. Mas ela não tinha nada a ver com o Priorado criado pela cabeça amalucada de Plantard. Essa foi uma ordem monástica criada pelos cruzados, chamada Nossa Senhora do Monte Sião, com uma igreja denominada Santa Maria do Monte Sião, construída sobre as ruínas da grande basílica de Hagia Sion, no Monte Sião, na Terra Santa. Essa igreja construída pelos cruzados desabou após as vitórias mulçumanas no final do século XIII.

Conforme comentamos anteriormente, outro elemento comum da história dos Templários é que os cavaleiros fundadores escavaram sob o Monte do Templo e encontram “coisas incríveis”.

Foto dos antigos “Estábulos de Salomão”, onde a Ordem dos Templários se iniciou. Essa foto foi realizada no período do Império Otomano. Em 1996 os mulçumanos transformaram esse local em uma mesquita o que alterou as características históricas do local e gerou problemas com os israelenses – Fonte – https://commons.wikimedia.org/

Na prática não há um fragmento de evidência primária (por exemplo registros da época) para sugerir que quaisquer escavações foram realizadas pelos Templários, além de quaisquer obras de construção para ampliar ou equipar suas dependências no Monte do Templo. Embora existam túneis no Monte, não há nenhuma evidência de que os Templários já exploraram ou estavam até interessados ​​neles.

Afirmações sobre a escavação são frequentemente apoiadas pela suposição de que os nove cavaleiros fundadores eram muito poucos em número para estar lá com o propósito declarado de proteger os peregrinos e, portanto, devem ter tido “segundas intenções”.

Esta suposição é extremamente suspeita, especialmente considerando que cada cavaleiro pode ter tido um séquito de homens em armas, tornando-os uma força mais formidável do que é sugerido. Além disso, como comentamos anteriormente, a tarefa inicial dos Cavaleiros Templários era simplesmente escoltar os peregrinos de Jerusalém ao rio Jordão, para o qual um exército não era necessário.

A conexão cátara é igualmente suspeita.

Não há provas que os cátaros possuíam algum tesouro secreto, nem para o conto da fuga de Montségur, que parece ser pura ficção romântica. Nem há evidências de ligações especiais entre os Templários e os cátaros – apenas a informação circunstancial de que eles coexistiram e de que havia fortalezas dos Templários em área cátara, como havia em toda a França.

Existia algum tesouro templário?

A ascensão dos Templários à riqueza e ao poder foi realmente notável. Mas era realmente inexplicável?

Talvez eles fossem simplesmente as pessoas certas, no lugar certo e na hora certa.

A Ordem dos Templários deveu seu rápido crescimento em popularidade ao fato que combinou as duas grandes paixões da Idade Média, fervor religioso e proezas marciais. Não se pode esquecer sua prática na época para a caridade, doações a serem dadas em caráter institucional e não pessoal, foi uma base que favoreceu instituições como a dos Templários.

Outro conceito comum sobre os Templários é que eles eram imensamente ricos quando foram suprimidos e que esta riqueza desapareceu misteriosamente. Isso é um mito.

Na verdade, na hora de sua dissolução, os Templários estavam no vermelho por uma variedade de razões. A maioria de seus ativos estava na forma não líquida e eles precisavam de quaisquer aluguéis ou renda que suas propriedades pudessem auferir para suas aventuras extremamente caras no Oriente.

Vale recordar que no final do Século XIII eles, junto com os outros cruzados, foram expulsos da Terra Santa pelos mulçumanos, com uma concomitante perda de prestígio e, portanto, doações. Há evidências consideráveis ​​de que em 1307 os Templários estavam lutando para pagar a manutenção básica de seus comandantes e muitos de seus membros viviam na penúria.

A Frota dos Templários

A famosa frota desses cavaleiros é igualmente mítica.

Embora estivessem fortemente engajados no transporte e no comércio, com viagens constantes de ida e volta para a Terra Santa, é improvável que eles já tivessem mais do que um punhado de navios.

Em 1312 sua grande ordem rival, os Cavaleiros Hospitalários, que eram especificamente envolvidos em operações navais, possuía apenas quatro navios de guerra, e é improvável que os Templários tivessem muitos mais.

Existem poucos registros que afirmam explicitamente quantos navios eles tinham, mas a maioria do que é mencionada é que só havia dois. Quando precisassem de navios extras, eles os alugariam. Além disso, seus navios eram galés, totalmente inadequados para o tipo de exploração Atlântica atribuída a eles por alguns historiadores alternativos.

Novos Rumos

Mais equívocos se acumulam em torno do destino dos Templários.

Mulçumanos matando um Cruzado em combate, em um um romance francês do século XIV sobre
as primeiras cruzadas.

Sabemos que sua destruição surgiu em parte por causa de sua própria fraqueza, ao invés do medo de sua força.

Na França os Templários realmente tiveram uma jornada difícil, com muitos executados por heresia, mas em grande parte da Europa eles não sofreram perseguições.

O Papa Clemente inicialmente tentou parar a perseguição, mas Filipe, o Belo, tinha feito um bom trabalho ao destruir a reputação dos Templários na França por meio de calúnias e aquisição de confissões por tortura. Mas muito dos que os Templários possuíam foram compartilhados entre outras ordens, incluindo um par de Ordens sucessoras em Portugal e na Espanha, sobre as quais nada houve de secreto ou clandestino.

Os Templários Realmente Tinham um Conhecimento Secreto ou Relíquias Preciosas?

Não há evidências de que os Templários possuíam algum grande segredo.

As estranhas práticas que deram origem a muitas das suposições e as lendas sobre os Templários foram exageradas pelos promotores do rei Filipe como parte da trama para denegrir seus nomes.

O conhecimento secreto que eles supostamente possuíam e que teria sido transmitido aos maçons é pura especulação, tendo sido inventados por alguns grupos e escritores maçônicos do século XVIII em diante, na tentativa de se darem um aspecto mais impressionante de proveniência.

A Capela Rosslyn Tem Alguma Ligação Com os Templários?

Na verdade, não há nenhuma evidência para isso e de acordo com Evelyn Lord, autor de The Knights Templar in Britain, o templo foi construído cem anos depois que a Ordem foi suprimida.

Outra vista da Capela Rosslyn – Fonte – https://www.visitscotland.com/info/tours/rosslyn-chapel-dc460ecf

Já a alegada conexão escocesa é algo geralmente tênue.

Ao contrário da lenda, não há registro de Templários lutando com rei escocês da época Robert the Bruce. Além disso, os Templários geralmente se davam bem com os reis ingleses. Já a proeminente família Sinclair não eram amigos dos Templários e há registros de que testemunharam contra eles nos julgamentos de 1309. Dito isto, um dos primeiros Sinclairs pode muito bem ter sido um Templário nas primeiras décadas da Ordem, mas esta era uma situação comum a muitos nobres do período.

A capela de Rosslyn em si é quase certamente uma cópia da Catedral de Glasgow e provavelmente foi deixado inacabado por falta de dinheiro, o que era comum nas capelas particulares.

Supostas conexões entre o construtor da capela, William Sinclair e a Maçonaria na Escócia são consideradas espúrias e com base em ficções posteriores. Não há evidências de que qualquer tesouro ou outros segredos estejam enterrados dentro ou ao redor da capela Rosslyn. Também não há evidências, além algumas cartas de autenticidade extremamente duvidosa, que Sinclair foi uma das primeiras pessoas que viajou pelo Atlântico para o Novo Mundo.

Existe um verdadeiro mistério de Rennes-le-Château?

Nöel Corbu – Fonte – https://alchetron.com/No%C3%ABl-Corbu

Muito parecido com a fraude de Pierre Plantard e o Priorado do Sião, a maioria do mistério de Rennes pode ser rastreado até uma farsa francesa dos anos 1950. Neste caso Noël Corbu, o proprietário de um restaurante recém-inaugurado na antiga vila do padre Bérenger Saunière, imaginou que um bom tesouro misterioso poderia impulsionar seu novo negócio.

Já a riqueza inexplicável de Saunière veio de sua prática de vender indulgências, onde, em troca de uma taxa, ele realizaria uma missa para encurtar a permanência do pagador no purgatório. Esta prática havia sido proibida pela Igreja Católica e, de fato, Saunière foi suspenso e eventualmente demitido por violações persistentes.

O padre Saunière não morreu um homem rico. Muito pelo contrário, pois ele viveu muitos de seus últimos anos na quase pobreza, desesperado por dinheiro. O pilar oco no qual ele supostamente descobriu o pergaminho que lhe trouxe sua fortuna, e que é exibido aos visitantes desse templo na atualidade, quase certamente é uma farsa completa que nunca fez parte da Igreja. Não há evidências que qualquer tesouro tenha sido enterrado ou encontrado na área.

O Engano dos Templários

Um cavaleiro templário em armadura pronto
para a batalha, de um manuscrito francês do século 14.

As mentiras e invencionices de Pierre Plantard e Nöel Corbu, junto com sua repetição por autores subsequentes, que recentemente alcançou a sinergia maior e final no trabalho de Dan Brown, significa muito de um interesse genuíno sobre os Templários.

Por exemplo, é possível que os Templários adotassem algumas abordagens não convencionais para o Cristianismo devido às suas experiências no Oriente?

É verdade que pouco se sabe sobre os Cátaros, além da tragédia envolvendo sua brutal repressão.

A Capela Rosslyn é realmente uma extraordinária e bela peça de arquitetura, genuinamente rica em simbolismo estranho. Mas a forma como os pseudo historiadores reciclam a ficção e desinformação que envolvem esse local significa que os chamados “Mistérios Templários” funcionam tal como uma bola de neve rolando colina abaixo, ganhando massa e impulso, mas com nada mais do que lama em seu núcleo.

FONTE – LEVY, Joel. LOST HISTORIES – EXPLORING THE WORLD’S MOST FAMOUS MYSTERIES, London, UK, 1ª Edição,  2006, Págs. 115 a 129.

JESUS ANTES DE CRISTO

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Jesus – Fonte – http://2.bp.blogspot.com/

Pesquisadores vão além da Bíblia e procuram pelo Jesus histórico – e o que não é mencionado no livro sagrado

Rodrigo Cavalcante

Fonte – http://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/religiao/jesus-antes-cristo-434985.phtml#.WF_PMPkrLIW

Cristo está em toda parte: nas obras mais importantes da história da arte, nos roteiros de Hollywood, nos letreiros luminosos de novas igrejas, nas canções evangélicas em rádios gospel, nos best-sellers de autoajuda, nos canais de televisão a cabo, nos adesivos de carro, nos presépios de Natal. Onde você estiver, do interior da floresta amazônica às montanhas geladas do Tibete, sempre será possível deparar com o símbolo de uma cruz, pena de morte comum no Império Romano à qual um homem foi condenado há quase 2 mil anos. Para mais de 2 bilhões de pessoas esse homem era o próprio messias (“Cristo”, do grego, o ungido) que ressuscitara para redimir a humanidade.

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Nascimento de Jesus – Obra de Lorenzo Costa (1460 – 5 de Março de 1535) foi um pintor italiano do Renascimento. Nasceu em Ferrara, mas se mudou para Bolonha quando tinha 20 anos. Neste quadro, chama atenção os detalhes da cidade ao fundo, a pose do bebê deitado sobre o braço – Fonte – http://khristianos.blogspot.com.br/2015/12/a-natividade-por-pintores-famosos.html

Embora o mundo inteiro (inclusive os não cristãos) esteja familiarizado com a imagem de Cristo, até a bem pouco tempo os pesquisadores eram céticos quanto à possibilidade de descobrir detalhes sobre a vida do judeu Yesua (Jesus, em hebraico), o homem de carne e osso que inspirou o cristianismo. “Isso está começando a mudar”, diz o historiador André Chevitarese, professor de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos especialistas no Brasil sobre o “Jesus histórico” – o estudo da figura de Jesus na história sem os constrangimentos da teologia ou da fé no relato dos evangelhos. Embora tragam detalhes do que teria sido a vida de Jesus, os evangelhos são considerados uma obra de reverência e não um documento histórico. Chevitarese e outros pesquisadores acreditam que, apesar de não existirem indícios materiais diretos sobre o homem Jesus, arqueólogos e historiadores podem ao menos reconstituir um quadro surpreendente sobre o que teria sido a vida de um líder religioso judeu naquele tempo, respondendo questões intrigantes sobre o ambiente e o cotidiano na Palestina onde ele vivera por volta do século I.

Nazaré, entre 6 e 4 a.C.

Uma aldeia agrícola com menos de 500 habitantes, cuja paisagem é pontuada por casas pobres de chão de terra batida, teto de estrados de madeira cobertos com palha, muros de pedras coladas com uma argamassa de barro, lama ou até de uma mistura de esterco para proteger os moradores da variação da temperatura no local. Segundo os arqueólogos, essa é a cidade de Nazaré na época em que Jesus nasceu, provavelmente entre os anos 6 e 4 a.C., no fim do reinado de Herodes. Isso mesmo: segundo os historiadores, Jesus deve ter nascido alguns anos antes do ano 1 do calendário cristão. “As pessoas naquele tempo não contavam a passagem do tempo como hoje, por meio da indicação do ano”, explica o historiador da Unicamp Pedro Paulo Funari. “O cabeçalho dos documentos oficiais da época trazia apenas como indicação do tempo o nome do regente do período, o que leva os pesquisadores a crer que Jesus teria nascido anos antes do que foi convencionado.”

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Imagem do século 13 de Jesus sendo apresentado aos rabinos | Crédito: Duccio di Buonis – Fonte – http://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/religiao/jesus-antes-cristo-434985.phtml#.WF_PMPkrLIW

Se você também está se perguntando por que os historiadores buscam evidências do nascimento de Jesus na cidade de Nazaré – e não em Belém, cidade natal de Jesus, de acordo com os evangelhos de Mateus e Lucas –, é bom saber que, para a maioria dos pesquisadores, a referência a Belém não passa de uma alegoria da Bíblia. Na época, essa alegoria teria sido escrita para ligar Jesus ao rei Davi, que teria nascido em Belém e era considerado um dos messias do povo judeu. Ou seja: a alcunha “Jesus de Nazaré” ou “nazareno” não teria derivado apenas do fato de sua família ser oriunda de lá, como costuma ser justificado.

Mesmo que os historiadores estejam certos ao afirmarem que o nascimento em Belém seja apenas uma alegoria bíblica, o entorno de uma casa pobre na cidade de Nazaré daquele tempo não deve ter sido muito diferente do de um estábulo improvisado como manjedoura. Como a residência de qualquer camponês pobre da região, as moradias eram ladeadas por animais usados na agricultura ou para a alimentação de subsistência. A dieta de um morador local era frugal: além do pão de cada dia (no formato conhecido no Brasil hoje como pão árabe), era possível contar com azeitonas (e seu óleo, o azeite, usado também para iluminar as casas), lentilhas, feijão e alguns incrementos como nozes, frutas, queijo e iogurte.

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O que seria a alimentação típica no tempo de Jesus – Fonte – http://dailylifeinthetimeofjesus.weebly.com/daily-life-at-the-time-of-jesus.html

De acordo com os arqueólogos, o consumo de carne vermelha era raro, reservado apenas para datas especiais. O peixe era o animal consumido com mais frequência pela população, seco sob o sol, para durar. A maioria dos esqueletos encontrados na região mostra deficiência de ferro e proteínas. Essa parca alimentação é coerente com relatos como o da multiplicação dos pães, no Evangelho de Mateus, no qual os discípulos, preocupados com a fome de uma multidão que seguia Jesus, mostram ao mestre cinco pães e dois peixes, todo o alimento de que dispunham.

Se alguém presenciasse o nascimento de Jesus, provavelmente iria deparar com um bebê de feições bem diferentes da criança de pele clara que costuma aparecer nas representações dos presépios. Baseados no estudo de crânios de judeus da época, pesquisadores dizem que a aparência de Jesus seria mais próxima da de um árabe (de cabelos negros e pele morena) que da dos modelos louros dos quadros renascentistas. Seu nome, Jesus, uma abreviação do nome do herói bíblico Josué, era bastante comum em sua época. Ainda na infância, deve ter brincado com pequenos animais de madeira entalhada ou se divertido com rudimentares jogos de tabuleiro incrustados em pedras. Quanto à família de Jesus, os pesquisadores não acreditam que ele tenha sido filho único. Afinal, era comum que famílias de camponeses tivessem mais de um filho para ajudarem na subsistência da família. Isso poderia explicar o fato de os próprios evangelhos falarem em irmãos de Jesus, como Tiago, José, Simão e Judas. “As igrejas Ortodoxa e Católica preferiram entender que o termo grego adelphos, que significa irmão, queria dizer algo próximo de discípulo, primo”, diz Chevitarese.

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Vestuário no tempo de Jesus – VESTUÁRIO – No primeiro século a roupa era muito mais simples do que é hoje. A maioria das roupas eram feitas de lã, embora o linho também fosse usado (feito de linho cultivado na área de Jericó ou importado do Egito). Tanto os homens como as mulheres usavam normalmente uma túnica e um manto. A lei judaica exigia que o manto tivesse bordas unidas aos seus quatro cantos. Cada borda era para incluir um cordão azul e foi concebido como uma forma de ajudar as pessoas a se lembrar de manter a Lei de Deus. Para ocasiões especiais uma longa roupa conhecida como ‘estola’ era usada. Eram usados geralmente sandálias de couro (ou talvez de madeira) – Fonte – http://dailylifeinthetimeofjesus.weebly.com/daily-life-at-the-time-of-jesus.html

Assim como outros jovens da Galileia, é provável que ele não tenha tido uma educação formal ou mesmo a chance de aprender a ler e escrever, privilégio de poucos nobres. Ainda assim, nada o impediria de conhecer profundamente os textos religiosos de sua época transmitidos oralmente por gerações.

Política, religião e sexo

Desde aquele tempo, a região em que Jesus vivia já era, digamos, um tanto explosiva. O confronto não se dava, é claro, entre judeus e muçulmanos (o profeta Maomé só iria receber sua revelação mais de cinco séculos depois). A disputa envolvia grupos judaicos e os interesses de Roma, cujo império era o equivalente, na época, ao que os Estados Unidos são hoje. E, assim como grupos religiosos do Oriente Médio resistem atualmente à ocidentalização dos seus costumes, diversos grupos judaicos da época se opunham à influência romana sobre suas tradições. Na verdade, fazia séculos que os judeus lutavam contra o domínio de povos estrangeiros.

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Ocupações no tempo de Cristo – Os principais trabalhos masculinos eram ser fazendeiros, artesãos, ou pescadores. As mulheres aprendiam a cozinhar e os deveres domésticos. Elas também memorizavam as escrituras, mas era proibido para elas ler ou escrever. Os mais afortunados teriam aprendido um ofício de seu pai – como ocorreu com o próprio Jesus. Muitos dos que não tinham um emprego estável seriam trabalhadores ocasionais, cujo salário diário dependia do capricho daqueles que contratavam um grupo de trabalhadores todas as manhãs. Alguns indivíduos tinham uma vida de mendicância ou mesmo de escravidão – Fonte – http://dailylifeinthetimeofjesus.weebly.com/daily-life-at-the-time-of-jesus.html

Antes de os romanos chegarem, no ano 63 a.C., eles haviam sido subjugados por assírios, babilônios, persas, macedônios, selêucidas e ptolomeus. Os judeus sonhavam com a ascensão de um monarca forte como fora o rei Davi, que por volta do século 10 a.C. inaugurara um tempo de relativa estabilidade. Não à toa, Davi ficaria lembrado como o messias (ungido por Javé) e, assim como ele, outros messias eram aguardados para libertar o povo judeu (veja quadro na pág. 33).

A resistência aos romanos se dava de maneiras variadas. A primeira delas, e mais feroz, era identificada como simples banditismo. Nessa categoria estavam bandos de criminosos formados por camponeses miseráveis que atacavam comerciantes, membros da elite romana ou qualquer desavisado que viajasse levando uma carga valiosa.

Além do banditismo, havia a resistência inspirada pela religião, principalmente a dos chamados movimentos apocalípticos. De acordo com os seguidores desses movimentos, Israel estava prestes a ser libertado por uma intervenção direta de Deus que traria prosperidade, justiça e paz à região. A questão era saber como se preparar para esse dia.

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Mosaico do século XII, existente na Catedral de Cefalù, na Sicília, Itália – Fonte – http://www.teslasociety.com/hagiasophia.htm

Alguns grupos, como os zelotes, acreditavam que o melhor a fazer era se armar e partir para a guerra contra os romanos na crença de que Deus apareceria para lutar ao lado dos hebreus. Para outros grupos, como os essênios, a violência era desnecessária e o melhor mesmo a fazer era se retirar para viver em comunidades monásticas distantes das impurezas dos grandes centros. E Jesus, de que lado estava?

É quase certo que Jesus tenha tido contato com ao menos um líder apocalíptico de sua época, que preparava seus seguidores por meio de um ritual de imersão nas águas do rio Jordão. Se você apostou em João Batista, acertou.

O curioso é que, para a maioria dos pesquisadores, incluindo aí o padre católico John P. Meier, autor da série sobre o Jesus histórico chamada Um Judeu Marginal, o movimento apocalíptico de João Batista deve ter sido mais popular, em seu tempo, do que a própria pregação de Jesus. Os historiadores acreditam que é bem provável que Jesus, de fato, tenha sido batizado por João Batista nas margens do rio Jordão, e que o encontro deve ter moldado sua missão religiosa dali em diante.

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Representação moderna dos soldados romanos – Fonte – http://www.instonebrewer.com/visualSermons/Jesus%2BChildren/_Sermon.htm

Apesar de não haver nenhuma restrição para que um líder religioso judeu tivesse relações com mulheres em seu tempo, ninguém sabe ainda se entre as práticas espirituais de Jesus estaria o celibato. Da mesma forma, afirmar que ele teve relações com Maria Madalena, como no enredo de livros como O Código Da Vinci, também não passaria de uma grande especulação.

Uma morte marginal

O pesquisador Richard Horsley, professor de Ciências da Religião da Universidade de Massachusetts, em Boston, é categórico: a morte de Jesus na cruz em seu tempo foi muito menos perturbadora para o Império Romano do que se costuma imaginar. Horsley e outros pesquisadores desapontam os cristãos que imaginam a crucificação como um evento que causara, em seu tempo, uma comoção generalizada, como naquela cena do filme O Manto Sagrado em que nuvens negras escurecem Jerusalém e o mundo parece prestes a acabar. Apesar de ter sido uma tragédia para seus seguidores e familiares, a morte do judeu Yesua deve ter passado praticamente despercebida para quem vivia, por exemplo, no Império Romano. Ou seja: se existisse uma rede de televisão como a CNN, naquele tempo, é bem possível que a morte de Jesus sequer fosse noticiada. E, caso fosse, dificilmente algum estrangeiro entenderia bem qual a diferença da mensagem dele em meio a tantas correntes do judaísmo do período – assim como poucas pessoas no Ocidente compreendem as diferenças entre as diversas correntes dentro do Islã ou do budismo.

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Fonte – http://allchristiannews.com/wp-content/uploads/2016/03/Jesus-Crucifixion.jpg

Os pesquisadores sabem, no entanto, que Jesus não deve ter escolhido por acaso uma festa como a Páscoa para fazer sua pregação em Jerusalém. A data costumava reunir milhares de pessoas para a comemoração da libertação do povo hebreu do Egito. No período que antecedia a festa, o ar tornava-se carregado de uma forte energia política. Era quando os judeus pobres sonhavam com o dia em que conseguiriam ser libertados dos romanos.

Para a elite judaica que vivia em Jerusalém, contudo, as manifestações anti-Roma não eram nada bem-vindas. Afinal, como ela se beneficiava da arrecadação de impostos da população de baixa renda, boa parte dela tinha mais a perder que a ganhar com revoltas populares que desafiassem os dirigentes romanos, cujos estilos de vida eram copiados por meio da construção de suntuosas vilas (espécie de chácaras luxuosas) nas cercanias de Jerusalém.

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Fonte – https://pradoshmitter.files.wordpress.com/2009/12/the_crucifixion_tintoretto_1565.jpg

A própria opulência do Templo do Monte de Jerusalém, reconstruído por Herodes, o Grande, parecia uma evidência de que a aliança entre os romanos e os judeus seria eterna. A construção era impressionante até mesmo para os padrões romanos, o que fazia de Jerusalém um importante centro regional em sua época.

Em meio às festas religiosas, o comércio da cidade florescia cada vez mais. Vendia-se de tudo por lá, incluindo animais para serem sacrificados no templo. Os mais ricos podiam comprar um cordeiro para ser sacrificado e quem tivesse menos dinheiro conseguia comprar uma pomba no mercado logo em frente. A cura de todos os problemas do corpo e da alma (na época, as doenças eram relacionadas à impureza do espírito) passava pela mediação dos rituais dos sacerdotes do templo.

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Representação da crucificação de Cristo através do pintor italiano Giotto di Bondone (1266 – 1337) – Fonte – http://art-now-and-then.blogspot.com.br/2014/05/art-and-jesus-crucifixion.html

Não é difícil imaginar a afronta que devia ser para esses líderes religiosos ouvir que um judeu rude da Galileia curava e livrava as pessoas de seus pecados com um simples toque, sem a necessidade dos sacerdotes. A maioria dos pesquisadores concorda que atos subversivos como esses seriam suficientes para levar alguém à crucificação.

Quase tudo o que os pesquisadores conhecem sobre a crucificação deve-se à descoberta, em 1968, do único esqueleto encontrado de um homem crucificado em Giv’at há-Mivtar, no nordeste de Jerusalém. Após uma análise dos ossos, eles concluíram que os calcanhares do condenado foram pregados na base vertical da cruz, enquanto os braços haviam sido apenas amarrados na travessa. A raridade da descoberta deve-se a um motivo perturbador: a pena da crucificação previa a extinção do cadáver do condenado, já que o corpo do crucificado deveria ser exposto aos abutres e aos cães comedores de carniça. A idéia era evitar que o túmulo do condenado pudesse servir de ponto de peregrinação de manifestantes. De qualquer forma, a descoberta desse único esqueleto preservado prova que, em alguns casos, o corpo poderia ser reivindicado pelos parentes do morto, o que talvez tenha acontecido com Jesus.

O que aconteceu após sua morte?

Para os pesquisadores, a vida do Jesus histórico encerra-se com a crucificação. “A ressurreição é uma questão de fé, não de história”, diz Richard Horsley.

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A ressurreição de Cristo na visão do italiano Piero della Francesca (1415 — 1492) – Fonte – http://www.jesus-story.net/painting_resurrection.htm

Tudo o que os historiadores sabem é que, apesar de pequeno, o grupo de seguidores de Jesus logo conseguiria atrair adeptos de diversas partes do mundo. E foi um dos novos convertidos, um ex-soldado que havia perseguido cristãos e ganhara o nome de Paulo, que se tornaria uma das pedras fundamentais para a transformação de Jesus em um símbolo de fé para todo o mundo. Com sua formação cosmopolita, Paulo lutou para que os seguidores de Jesus trilhassem um caminho independente do judaísmo, sem necessidade de obrigar os convertidos a seguirem regras alimentares rígidas ou, no caso dos homens, ser obrigados a fazer a circuncisão. A influência de Paulo na nova fé é tão grande que há quem diga que a mensagem de Jesus jamais chegaria aonde chegou caso ele não houvesse trabalhado com tanto afinco para sua difusão.

Mesmo para quem não acredita em milagres, não há como negar que Paulo e os outros seguidores de Jesus conseguiram uma proeza e tanto: apenas três séculos após sua morte, transformaram a crença de uns poucos judeus da Palestina do século I na religião oficial do Império Romano. Por essa época, a vida do judeu Yesua já havia sido encoberta pela poderosa simbologia do Cristo: assim como os judeus sacrificavam cordeiros para Javé, o Cristo se tornaria símbolo do cordeiro enviado por Deus para tirar os pecados do mundo. Desde então, a história de boa parte do mundo está dividida entre antes e depois de sua existência.


SAIBA MAIS –

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Fonte – http://www.crystalinks.com/isis.html

Nossa Senhora de Ísis

De onde pode ter se originado uma das mais belas imagens cristãs

Se você acha que conhece a imagem acima, é bom dar uma olhada com um pouco mais de atenção. À primeira vista, ela parece, de fato, representar a Nossa Senhora embalando o menino Jesus. Mas não é. A imagem da estátua é uma representação da deusa egípcia Ísis oferecendo o peito a seu filho Hórus. Apesar de não haver como provar que as imagens de Nossa Senhora tenham sido inspiradas diretamente em representações como essa, os pesquisadores sabem que o cristianismo sofreu, em seus primórdios, a influência de diversos cultos que faziam parte dos mundos egípcio e greco-romano. “Desde seu início, o cristianismo tinha uma diversidade assombrosa”, diz o professor de Teologia Gabriele Cornelli, da Universidade de Brasília. Na região do Egito, por exemplo, prevalecera o chamado cristianismo gnóstico, cujos textos revelam um Jesus bem mais parecido com um monge oriental. Alguns historiadores acreditam até que alguns cristãos gnósticos possam ter sido influenciados por missionários budistas vindos da Índia.

O luxo que vem de Roma – Diferentemente de Jesus, nobres judeus viviam muito bem, obrigado

Para a elite judaica que vivia na Palestina do século I, levar uma vida com requinte e elegância era sinônimo de viver como os romanos. Escavações arqueológicas em Jerusalém e outras cidades indicam uma clara influência da arquitetura e da decoração de Roma no interior das mansões. Para criar uma atmosfera palaciana, era comum, no interior das casas, a reprodução de afrescos e desenhos decorativos com motivos florais e geométricos. Em ambientes maiores, as colunas no estilo romano eram indispensáveis, assim como o uso de mármore para o acabamento dos detalhes – quem não podia pagar pelo mármore usava uma tinta de cor parecida para manter a aura palaciana. Fontes, vasos vitrificados e pisos de mosaico colorido também faziam parte do sonho de consumo dos novos ricos de Jerusalém, que costumavam receber os amigos influentes recostados confortavelmente no triclinium, espécie de divã usado na hora das refeições. Resquícios da importação de vinhos e outros ingredientes nobres da cozinha mediterrânea, como o garum, um molho especial de peixe típico da cidade de Pompéia, também foram encontrados no interior das mansões. Algumas delas deviam ter uma vista privilegiada para o Templo de Jerusalém, de onde os nobres podiam assistir confortavelmente à movimentação dos peregrinos ou mesmo à condenação à morte de rebeldes judeus.

AS DESCOBERTAS MAIS RECENTES SOBRE A VIDA DE JESUS CRISTO

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Relíquias e manuscritos encontrados nos últimos anos têm ajudado arqueólogos e cientistas a compreender com mais detalhes as pessoas com quem o Messias dos cristãos viveu e revigoram a busca por evidências sobre seu passado

Por Humberto Abdo

http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/08/novas-descobertas-sobre-verdade-historica-de-jesus.html

Nutridas por boatos e muitos fãs, algumas figuras públicas continuam notórias com o passar dos anos. Mas existe um personagem que, mesmo após mais de dois milênios, continua encantando o público. Você já ouviu seu nome antes: de uma forma ou de outra, todos já foram apresentados a Jesus de Nazaré. Mas descrever seu passado em detalhes é um desafio que também resiste ao tempo.

Recém-lançado no Brasil, o livro Em busca de Jesus (Objetiva) reúne as mais recentes tentativas de reconstituir a vida do famoso filho de Deus e mostra que esse ainda é um tema bem popular. A partir de seis relíquias encontradas nos últimos anos, os autores David Gibson e Michael McKinley analisaram pesquisas e argumentos de profissionais envolvidos na busca pelo misterioso homem nascido em Nazaré e crucificado na província romana da Judeia, região da atual Cisjordânia.

A história de Jesus é formada por pouquíssimas informações comprovadas por cientistas ou especialistas, mas já existem algumas certezas. “Acredita-se que Jesus só sabia falar aramaico e muito provavelmente era analfabeto”, diz André Chevitarese, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de Jesus histórico: uma brevíssima introdução. “Ele viveu e morreu como judeu de origem campesina; o cristianismo que conhecemos hoje é um movimento posterior àquela época.” Através da reconstrução facial de crânios encontrados perto de Jerusalém, especialistas estabeleceram como seria a verdadeira aparência física de um morador típico da região. Diferentemente do homem branco, alto e de olhos azuis idealizado pelos artistas, é mais provável que Jesus tenha sido moreno, de olhos castanhos, cabelo curto e estatura baixa: um judeu comum nascido no Oriente Médio. Sobre seu local de nascimento, os teólogos insistem em Belém, terra natal de Davi, um dos antigos reis de Israel. “Mas nada favorece essa versão, e do ponto de vista histórico não há dúvidas: Jesus é nazareno”, afirma Chevitarese.

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PLOT TWIST BÍBLICO

Enquanto o mundo se concentrava nos momentos finais da Segunda Guerra Mundial, em 1945, um camponês foi responsável pela descoberta de 13 manuscritos encontrados no Egito. Eles ficariam conhecidos mais tarde como Biblioteca de Nag Hammadi, nome da cidade onde foram localizados. Historiadores confirmaram que a data estimada dos textos corresponde ao século 4 e que são traduções de originais em grego. “São achados cruciais para a compreensão do cristianismo em seu período de formação e demonstram a existência dessa pluralidade de manifestações religiosas nos quatro primeiros séculos”, explica Vagner Porto, professor de arqueologia clássica da USP. Boa parte desses papiros, escritos em copta (mistura dos idiomas grego e egípcio), estava ligada ao movimento cristão conhecido por gnosticismo. “Os ensinamentos gnósticos diferem na crença de que cada um é responsável por seus atos e por sua própria salvação espiritual”, explica Karlos Bunn, presidente da Igreja Gnóstica do Brasil.

Judas Iscariotes e Maria Madalena exerceram papéis decisivos na trajetória de Jesus. Seus possíveis Evangelhos foram encontrados em péssimas condições, e hoje são considerados textos gnósticos. A primeira aparição do Evangelho de Maria foi registrada em 1896, mas uma sequência de atrasos — incluindo um cano de água estourado na casa de uma editora e a eclosão da Primeira Guerra Mundial — fez que ele só fosse publicado em 1955, com algumas páginas perdidas e bastante deteriorado. Assim como certos textos de Nag Hammadi, esses fragmentos apresentavam Maria como grande seguidora dos ensinamentos de Jesus. “O conceito de Maria Madalena como a discípula amada indica que um grupo de cristãos do primeiro século a considerava uma das líderes desse movimento”, disse Paulo Roberto Garcia, professor de teologia e ciências da religião na Universidade Metodista de São Paulo. Não existe, contudo, confirmação de que os manuscritos se refiram a Maria Madalena no lugar da própria mãe de Jesus.

Já o Evangelho de Judas, identificado nos anos 1970 por dois agricultores, foi recuperado após um roubo repentino e examinado pela primeira vez em 1983. Nos anos 2000, passou por um processo de restauração, e 85% do material foi preservado. De início, o documento foi divulgado como um plot twist, isto é, uma reviravolta na história. O texto conta a redenção de Judas, afirmando que teria sido o mais fiel dos seguidores e que cumprira ordens de Jesus para ajudá-lo a livrar-se de seu corpo após a morte. “O problema foi todo o sensacionalismo empregado na tradução, trabalhada com a expectativa de mudar o papel de Judas”, disse Garcia. “Um dos textos diz que ele subiria aos céus pelo que fez, sendo que dois dos tradutores concordaram que a versão correta teria sido ‘não subiria’, por exemplo.”

Para muitos dos arqueólogos e historiadores envolvidos na busca por evidências que remontem, de alguma forma, ao passado de Jesus, é pouco provável que objetos relacionados a sua história continuem a aparecer nos próximos anos. “Hoje as pesquisas não se concentram tanto em itens que pertenceram a Jesus”, diz Chevitarese. “O objetivo maior é conhecer o ambiente físico, geográfico e político dele, além de suas crenças, seus amigos, inimigos e, sobretudo, quem foi ele.”

APP EM NOME DE JESUS

A suposta urna funerária com os ossos de Tiago, um dos 12 apóstolos, desperta algumas dessas características. “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”, diziam as inscrições do ossuário, em aramaico. Oded Golan, colecionador de antiguidades pouco familiarizado com religião, afirma ter comprado o objeto em Israel, nos anos 1970, no início sem assimilar seu verdadeiro significado. Uma análise de escrita feita em 2002 sugeriu que a segunda parte das inscrições teria sido gravada pelas mãos de outro escriba. “Supondo que Tiago tenha morrido na década de 40 do século 1, Jesus já teria de ser uma figura reconhecida em todo o ambiente da Judeia para que seu nome fosse agregado como forma de distinção, mas Jesus de Nazaré só se torna amplamente conhecido um século e meio depois”, disse Chevitarese. “A frase gravada refere-se a Jesus de Nazaré? Tiago foi seu irmão? Maria foi, como dizem, virgem a vida inteira, ou teve outros filhos?”, pergunta McKinley no livro. Sem a chance de confirmar se o artefato é genuíno, essas dúvidas devem continuar sem respostas.

Objetos que um dia estiveram em contato com Jesus até hoje provocam fascinação. Nos tempos da Idade Média, eles movimentaram um comércio bem incomum. Imitações de artefatos eram fabricadas com mais frequência do que os arqueólogos contemporâ­neos gostariam de admitir. “Para explorar a crença popular, encorajava-se a ideia de que possuir uma relíquia traria bênçãos e também serviria como amuleto”, diz Garcia.

Um deles é o Sudário de Turim, o manto que teria envolvido o corpo de Jesus. Atualmente, o objeto descansa numa capela no norte da Itália, equipada com controle de temperatura e vidro à prova de balas. A peça de linho retangular exibe manchas de sangue e vincos equivalentes a um rosto. É o artefato mais bem documentado de todos, mencionado nos quatro Evangelhos e nos Livros Apócrifos (relatos de Cristo não reconhecidos pela Igreja). A relíquia também repousa em milhões de celulares e tablets espalhados pelo planeta: embora o Vaticano não tenha se posicionado enfaticamente sobre o assunto, aproveitou para lançar, em 2013, o primeiro aplicativo dedicado ao Santo Sudário. O Shroud 2.0 permite ampliar a imagem para uma análise mais detalhada do pano — sem ter de viajar até a Itália.

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HOMEM PROCURADO

Várias análises do manto foram realizadas e comprovaram que o material realmente cobriu o corpo de um ser humano e que as manchas de sangue eram de fato compostas por hemoglobina. O estudo mais recente, publicado em 2014 na revista científica Injury, também aponta que os ferimentos sofridos por esse indivíduo correspondem aos de uma crucificação. Apesar dos resultados, a data do manto — muito distante dos anos vividos por Jesus Cristo — ainda é um contra-argumento forte. “O maior desafio é conseguir permissão para novos testes”, explica McKinley. “O Sudário provavelmente permanecerá atrás de um vidro blindado para sempre.” A aparição desses objetos, relacionados a períodos tão distantes, simboliza a caçada interminável a possíveis referências de Jesus como figura histórica. “Resultado de uma percepção sustentada exclusivamente pelo ponto de vista científico, com análises da história, arqueologia e sociologia”, explica Chevitarese.

Talvez o discernimento científico explique a desconfiança inicial de Karen King, professora da Universidade Harvard, quando um colecionador anônimo resolveu entrar em contato, convencido de que havia encontrado o papiro do Evangelho da Esposa de Jesus, como seria chamado mais tarde. Apesar do nome chamativo, o achado — um pequeno fragmento bastante deteriorado — não tem qualquer relação com o Evangelho de Maria, texto gnóstico encontrado décadas antes, e tampouco reforça hipóteses de que Jesus tivesse sido casado. Em 14 linhas, o manuscrito parece debater a real necessidade do celibato na religião cristã, reflexão inédita nos demais Evangelhos canônicos.

RESISTENTES AO TEMPO

“A questão principal do papiro é assegurar que mulheres casadas e com filhos também possam ser discípulas de Jesus — uma discussão frequente nos tempos do cristianismo primitivo, conforme a virgindade celibatária passava a ser mais valorizada”, disse Karen em relatório divulgado pela Harvard Divinity School.

Após a publicação de sua análise ter sido desconsiderada por uma porção de estudiosos, Karen reforçou a veracidade do documento com o resultado de exames feitos ao longo de dois anos, até a confirmação em abril de 2014: o material não era uma imitação moderna e foi escrito entre os séculos 6 e 9. Entretanto, não existe consenso sobre os significados desse pequeno pedaço de história, talvez pelo seu estado de conservação ou pelo conteúdo incompleto do texto. Mas to­das as características são compatíveis com a longa e constante busca por Jesus: fragmentadas, ambíguas e, ainda assim, resistentes ao tempo.

AS OITO RELÍQUIAS
Os artefatos que ajudam a entender o que era a Judeia no século 1
EVANGELHO DA ESPOSA DE JESUS
Escrito em copta, questiona a necessidade do celibato no cristianismo.
COMO FOI ACHADO
Colecionador anônimo comprou das mãos de um negociante alemão.
 
 

 

BIBLIOTECA DE NAG HAMMADI
A coleção de papiros inclui Evangelhos, como os de Tomé e de Filipe.
COMO FOI ACHADO
Por um camponês egípcio que fazia escavações nos arredores à beira do rio Nilo.
 

EVANGELHO DE MARIA
Publicado em 1955, o texto gnóstico reforça a presença da discípula em vários momentos da vida de Jesus.
COMO FOI ACHADO
O estudioso alemão Karl Reinhardt comprou em 1986 o documento original, que encontrou na aldeia de Akhmin, no Alto Egito, no Cairo.
 
EVANGELHO DE JUDAS
A descoberta de seu Evangelho continua a confundir: Judas traiu mesmo Jesus?
COMO FOI ACHADO
Dois agricultores encontraram o manuscrito no final dos anos 1970, no sul da cidade do Cairo.
 
RELICÁRIO DE MÁRMORE DE JOÃO BATISTA
Fragmentos de ossos de um homem que viveu no Oriente Médio, sem provas de que eram de João Batista.
COMO FOI ACHADO
Em 2010, durante buscas nas ruínas de uma basílica do século 5, na Bulgária.
 
SANTO SUDÁRIO
O manto sagrado pode ter sido usado para cobrir o corpo de Jesus — ou para colocar essa ideia na cabeça de fiéis.
COMO FOI ACHADO
As referências são antigas e muito vagas, mas o manto voltou a aparecer na França no século 14.
 
URNA FUNERÁRIA COM OSSUÁRIO DE TIAGO
Urna onde se lê “Tiago, filho de José, irmão de Jesus” significaria que o messias teve um irmão.
COMO FOI ACHADO
Foi comprada em Haifa, em Israel, nos anos 1970.
PEDAÇO DA CRUZ
Como o próprio nome diz, seria um pedaço da cruz em que Jesus foi crucificado.
COMO FOI ACHADO
Em 2013, arqueólogos alegaram ter encontrado o pedaço durante uma escavação no norte da Turquia.

A GRANDE AVENTURA DOS JESUÍTAS NO BRASIL

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Os europeus levantando uma cruz na costa americana (1706) – Fonte – http://brazilcomesalive.yolasite.com/alyssa-images.php

A Companhia de Jesus foi fundamental na fundação de Salvador, Rio e São Paulo. Criou nossa versão do idioma português. Catequizou índios, participou de batalhas, liderou explorações em busca de ouro. Ajudou a formar o país

Desde os anos 1960, muitas crianças sonham em ser astronauta. Viajar para outros planetas, com suas paisagens bizarras, seus ambientes absurdos e – quem sabe? – seus moradores de costumes quase inacreditáveis de tão diferentes. Por volta de 1550, era possível viver esse mesmo sonho: jovens ousados, educados nas melhores escolas católicas, podiam ser convidados para viver entre os algonquins do Canadá, os astecas mexicanos, os indianos de Goa, os moradores do arquipélago japonês, os tupis-guaranis do Brasil. Cada um deles, em todos os sentidos para o ponto de vista de um europeu, vivia, comia e rezava como um verdadeiro alienígena. Os jovens do Velho Continente podiam experimentar esses novos planetas, desde que reunissem uma combinação de fé, disciplina, espírito didático e capacidade de gerenciamento. Havia muitas opções para um missionário cristão abraçar a causa da catequização das terras distantes. Mas a Companhia de Jesus era a mais nova e mais promissora. Surgira poucos anos antes, pelas mãos de um jovem basco, amante das armas e das mulheres, convertido para a fé por uma bala de canhão.

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Ignácio de Loyola, nascido Inigo Lopez de Recalde (1491-1556), fundador da Companhia de Jesus – Fonte – http://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/terra-brasilis/a-grande-aventura-dos-jesuitas-no-brasil.phtml#.V6H_DI-cHIV

Aventureiro e enamorado

Iñigo vinha de família bem relacionada de Azpeitia, no noroeste da Espanha. Na juventude, fez estágio como pajem do nobre Juan Velázquez de Cuellar e se acostumou a andar bem-vestido, com cabelos loiros e compridos. Dizia-se encantado por uma moça da elite, que nunca chegou a nomear, mas que, confessava, não parava de ocupar seus pensamentos. “Ficava logo embebido a pensar nela duas, três ou quatro horas sem se dar conta, imaginando o que havia de fazer em serviço de uma senhora”, ele escreveria em sua autobiografia. O gosto pelas guerras era bem mais público.

Como seguidor do vice-rei de Navarra, António Manrique de Lara, Iñigo participou da batalha de guerra que colocava os reis da França e da Espanha na disputa pelo controle do Sacro Império Romano-Germânico. Lutando a favor dos espanhóis, em 20 de maio de 1531, durante um cerco francês a Pamplona, uma bala de canhão passou entre suas pernas. Milagrosamente, o jovem basco sobreviveu. Foi levado para casa, com a perna destroçada. No castelo da família, onde passou por uma recuperação lenta e dolorosa, com direito a uma cirurgia nos joelhos – sem anestesia – que tinha por objetivo consertar uma cirurgia anterior – também sem anestesia –, um jovem sofredor e entediado encontrou consolação em livros católicos da biblioteca da família. O guerreiro mulherengo se recuperou com uma perna mais curta e uma decisão firme: seguir os caminhos de Cristo.

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O símbolo dos jesuítas – Fonte – https://en.wikipedia.org/wiki/Society_of_Jesus

Começou tentando ir à Cidade Santa. Conseguiu em 1523, mas ficou por um período muito curto, durante o qual ele se mostrou um risco para os católicos que negociavam cuidadosamente sua permanência na Jerusalém dominada por muçulmanos. Andando sem seguranças, forçando a entrada em lugares vedados a cristãos, ele foi convidado a voltar para a Europa o mais rápido possível. Retornou a contragosto, sonhando em voltar, sem conseguir. 

Iñigo dirigiria suas atenções a outro objetivo: fundar uma ordem religiosa guerreira, de forte caráter missionário. Para isso, voltaria a estudar, a fim de preencher uma grave lacuna, a falta de formação teológica. Em Paris, encontrou seis religiosos mais novos que se tornaram o núcleo central da Companhia de Jesus: Francisco Xavier, Pedro Fabro, Simão Rodrigues, Nicolás Bobadilla, Diogo Laínez e Alfonso Salmerón. Em 15 de agosto de 1534, durante um encontro na Igreja de Saint Denis, no bairro parisiense de Montmartre, eles fundaram a Companhia de Jesus. Em 1537, o fundador adotou um novo nome, mais amigável para os ouvidos dos espanhóis não bascos: Inácio. Em 1540, o papa Paulo III aprovou a existência do novo grupo. Era um começo rápido e promissor.

Soldados de Cristo

Inácio nunca usou o termo “jesuítas”, pelo qual o grupo ficaria conhecido. A expressão se estabeleceria décadas depois, quando o esforço missionário ajudou a estabelecer o apelido, que fazia referência a “pessoas que citam o nome de Jesus com muita frequência”. Mas o nome oficial, Societas Jesu, ou Sociedade de Jesus, caracterizava com precisão os objetivos do grupo, criado como uma milícia com hierarquia clara, conduta impecável e o mesmo espírito de conquista que acompanhou o fundador até o fim da vida, em 1556.

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Padre celebra a eucaristia (1707) – Fonte – http://library.brown.edu/create/fivecenturiesofchange/chapters/chapter-2/the-jesuits/

Inácio ainda sonhou com um retorno a Jerusalém. Depois, se instalou em Veneza, à espera de orientações papais. Até que aquele grupo de jovens instruídos e disponíveis para a evangelização chamou a atenção das lideranças do Vaticano, que resolveram usar os jesuítas no esforço de reação à reforma protestante. Todos os fundadores se envolveriam na catequização e na publicação de trabalhos que lutavam pela restauração da fé católica. O sucessor de Inácio, Diogo Laínez, chegaria a se estabelecer como uma importante liderança no Concílio de Trento. Era forte candidato a papa, mas não chegou ao posto. Os jesuítas só formariam um pontífice em 2013, com a eleição do argentino Jorge Bergoglio. Sua vocação, no século 16, era outra: a evangelização em terras estrangeiras.

Começou com São Francisco Xavier, possivelmente o jesuíta mais famoso da história. O único fundador da ordem a deixar a Europa estava em Portugal, onde o rei João III se mostrava interessado no esforço missionário daqueles jovens promissores. Em uma década morando na Ásia, ele converteria algo entre 30 mil e 100 mil pessoas, um número espantoso – e obviamente inflado, no sentido de que muitos dos pagãos que aceitavam o batismo não entendiam o que havia acontecido e não mudavam nenhum de seus costumes, mesmo que incluíssem o canibalismo, a poligamia e a crença em vários deuses.

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Diogo de Mendonça Furtado e o padre jesuíta Domingo Coinia, diante de um grupo de clérigos e soldados em São Salvador da Bahia de Todos os Santos, atual Salvador, Bahia, Brasil – Fonte – http://library.brown.edu/create/fivecenturiesofchange/chapters/chapter-2/the-jesuits/

O exemplo de Xavier seria seguido no Brasil, onde, em 1549, chegaram, junto com o primeiro governador-geral Tomé de Souza, seis jesuítas, liderados por um religioso muito dedicado, com vocação para professor, mas rejeitado por causa de sua gagueira quase insuportável. Manoel da Nóbrega chegava a uma região desacreditada, de menor importância para Portugal. Ninguém esperava muito de Nóbrega, mas ele surpreenderia a todos.

Um padre, três metrópoles

O pai de Nóbrega era desembargador. Ele se formou em direito canônico e filosofia na Universidade de Coimbra. Em 1544, com 27 anos, finalmente desistiu de tentar ser aprovado como professor, entrou para a Companhia de Jesus e começou a fazer viagens de peregrinação e pregação pela Península Ibérica. Nos hospitais onde tentava realizar exorcismos, era conhecido como “o Gago”. Convidado para vir ao Brasil depois que o cofundador Simão Rodrigues preferiu ficar em Portugal, chegou em 29 de março de 1549, depois de 56 dias de viagem, como parte de uma comitiva com seis navios e mil pessoas. Nunca mais retornaria à Europa.

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Padre Manuel da Nóbrega, em um selo Português comemorativo aos 400 anos de fundação de São Paulo – Fonte – https://en.wikipedia.org/wiki/Society_of_Jesus

Nóbrega era o chefe da primeira turma de jesuítas. Recebeu excelentes condições de trabalho: diferentemente do que acontecia na Ásia ou na América do Norte, a ordem detinha a exclusividade sobre a evangelização da colônia. Apesar de descoberta em 1500, e de uma primeira tentativa mais sistemática de ocupação em 1532, seria apenas com a chegada do governador-geral Tomé de Souza a Salvador que Portugal começava, de fato, a colonizar a vasta Terra de Santa Cruz, dominada por diferentes grupos de indígenas e tomada por uma vegetação espessa que praticamente impedia qualquer investigação para além do litoral.

Até sua morte, em 1570, Nóbrega se mostrou incansável. Ajudou a definir o traçado de Salvador, a primeira cidade planejada do país. Na sequência, andou por todo o território que formava a colônia, de São Paulo a Pernambuco. Mapeou vilas, identificou tribos, foi decisivo em guerras e rebeliões e ajudou a colocar em pé três futuras metrópoles fundamentais: Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.

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Vista de Salvador em 1735 – Fonte – http://brazilcomesalive.yolasite.com/alyssa-images.php

O jesuíta deu atenção especial a Porto Seguro, onde Pedro Álvares Cabral havia desembarcado e os indígenas eram especialmente hostis. Ali ficou João de Azpilcueta Navarro, responsável por organizar uma primeira tentativa de explorar os sertões que hoje pertencem à Bahia e ao interior de Minas Gerais. Na busca por uma famosa Serra das Esmeraldas, Navarro e outros 13 desbravadores conheceram o Rio São Francisco, acamparam em condições precárias e tiveram de se esconder de índios que surgiam e desapareciam misteriosamente. 

Ao voltar para o litoral, depois de um ano e meio e 2 mil quilômetros de viagem, estava tão doente que acabou morrendo, dois anos depois, em Salvador. Deixou como legado uma carta em que descrevia a fauna e a flora que encontrou. “Há muita caça, assim de animais como de aves”, escreveu. “Há uns animais que se chamam antas. Há muitas castas de macacos, entre os quais uns pardos com barba como homens. Há veados, gatos, onças, tigres e muitas cobras, entre as quais há umas que têm no rabo uma coisa à maneira de cascavel.” João também deixou estudos com os primeiros fundamentos para traduzir tupi para o português e vice-versa. O documento seria usado pelo padre José de Anchieta na construção de sua própria gramática. João, aliás, foi quem iniciou Anchieta no trabalho de entender aquela língua tão difícil para os europeus.

Enquanto tudo isso acontecia, Nóbrega já tinha descido até São Vicente, onde fez uma tentativa diferente de incursão para além das praias: o estabelecimento de um ponto de apoio no planalto. Foi ele quem escolheu uma área instalada entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí e controlada pelo cacique Tibiriçá, amigo dos ocidentais desde que havia começado a conviver, muitos anos antes, com um degredado chamado João Ramalho. Tibiriçá e os 25 mil índios tupiniquins que ele liderava ajudaram a construir um colégio onde se ensinava a ler e escrever em tupi e onde se aprendiam noções de latim, além de carpintaria e marcenaria.

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Padre José de Anchieta – Fonte – https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d8/Anchieta.jpg

Foi naquele vale bem protegido por tupiniquins que 13 dos 26 jesuítas que viviam no Brasil na época morariam em um barracão de cerca de 90 m2, feito de paredes de taipa de pilão e com telhado de folhas de palmeira. Nóbrega chegou a realizar uma missa no local, em 29 de agosto de 1553. Mas foi uma segunda celebração, conduzida pelo padre Manuel de Paiva com José de Anchieta no apoio, que marcou o batismo da cidade: São Paulo, em homenagem ao santo celebrado naquele 25 de janeiro de 1554. A política de estabelecer colégios como a base de centros urbanos, tipicamente jesuíta, seria rapidamente aplicada também no Rio de Janeiro, além de Olinda, São Luís, Ilhéus e Recife.

Anchieta havia encontrado Nóbrega em São Paulo, e reencontraria o chefe outras vezes. Em especial quando os dois se fizeram reféns voluntários da tribo dos tamoios, aliados dos franceses, na região onde hoje fica Ubatuba.

O fim provisório

O conflito com os tamoios seria decisivo para a fundação do Rio de Janeiro, uma terra que parecia destinada a ficar em mãos francesas. Para ajudar na negociação com os portugueses, Nóbrega e Anchieta permaneceram entre os indígenas. Foram bem-recebidos – tão bem que precisavam rezar muito e fazer autoflagelação frequente para lidar com o assédio das índias que os maridos e pais ofereciam. Um único episódio destoante quase levou os dois ao martírio: um jovem líder, muito amigo dos franceses, perseguiu os dois padres, que tiveram que correr muito e se esconder até que os chefes o acalmassem. 

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Padre jesuíta no Brasil Colonial – Fonte – http://library.brown.edu/create/fivecenturiesofchange/chapters/chapter-2/the-jesuits/

A negociação não foi muito longe, mas o terceiro governador-geral, Mem de Sá, acabaria destruindo o forte francês Coligny e instalando os portugueses na vila de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde Nóbrega construiu um colégio e viveu até a morte. Anchieta ainda tinha mais duas décadas de trabalho pela frente. Deixaria como legado um conhecimento do idioma do grupo tupi-guarani, o início de uma literatura produzida no Brasil e uma lista de conhecimentos das plantas locais.

A partir do século 17, os jesuítas estavam instalados como uma potência. Desde 1580 não detinham o monopólio sobre a pregação, mas seus colégios formavam as elites locais, suas fazendas (que contavam com o uso de mão de obra escrava) forneciam alimentos para todas as cidades. E, mais importante, suas aldeias, centros autônomos onde os índios viviam protegidos dos colonizadores civis, protegiam os locais da exploração exagerada. Delimitado por Nóbrega, o conceito de aldeias provocaria atritos intensos com os jesuítas que vieram depois. Eles seriam cercados e expulsos, em diferentes ocasiões, em todas as principais cidades do país. Os conflitos foram especialmente graves no Maranhão, graças a um religioso português com vocação para a confusão: Antonio Vieira.

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Padre Antônio Vieira retratado na obra “Celeberrus P. Antonius Vieyra Soc. Jesu Lusit. Vijssipon” (1742) – Fonte – http://library.brown.edu/create/fivecenturiesofchange/chapters/chapter-2/the-jesuits/

Nascido em Portugal, educado em Salvador, Vieira dividiria sua atenção entre os assuntos dos europeus e dos brasileiros. Na corte em Lisboa, defendeu que os lusitanos deixassem Pernambuco com os holandeses – na década de 1630, parecia impossível aos portugueses recuperar aquelas terras. Diante da pressão da coroa espanhola, bolou um plano que incluía a instalação do rei João IV no Rio de Janeiro, mas nunca seria colocado em prática. 

No Brasil, Vieira se envolveu principalmente com a colonização da Amazônia e com os conflitos com as lideranças civis do Maranhão, que insistiam em tomar os índios para si e se irritavam com a interferência jesuítica nos assuntos seculares. Em um de seus muitos sermões, de 1654, ele se dirigiu aos maranhenses com desprezo: “A este Evangelho do Domingo Quinto da Quaresma chamais comumente o domingo das verdades. Por me não sair, contudo, do que hoje todos esperam, estive considerando comigo que verdades vos diria, e, segundo as notícias que vou tendo desta nossa terra, resolvi-me a vos dizer uma só verdade. Mas que verdade será esta? Não gastemos tempo. A verdade que vos digo é que no Maranhão não há verdade.” Perseguido pela Inquisição, isolado das cortes em Portugal, Vieira morreria nos arredores de Salvador, cansado e desiludido.

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Pintura que mostra o Marquês de Pombal – Fonte – http://jesuitsslaverybrazil.blogspot.com.br/

Portugal oscilava entre o apoio aos colonos e a defesa dos religiosos. Isso até a ascensão de reis que tinham a pretensão de modernizar o Estado e reduzir a influência dos jesuítas, que, em Portugal, na Espanha e na França, eram professores, confessores e orientadores de várias gerações de reis e rainhas. Em Portugal em específico, sob a influência do marquês de Pombal, a ordem seria expulsa do país e de suas colônias em 1759. 

Cidade após cidade, os cerca de 600 religiosos que viviam no Brasil foram colocados em navios em direção a Portugal. Alguns foram detidos, outros seguiram para a Itália. Uma pequena parte reagiu e ficou entre os índios, dentro das missões que a ordem vinha fundando e mantendo, em especial ao sul do Brasil, no Paraguai e na Argentina. Religiosos e locais pegaram em armas e acabaram massacrados nas Guerras Guaraníticas. A experiência das missões havia deixado um legado impressionante: os índios viviam com relativa autonomia. Alguns se mostraram artesãos talentosos, cuja produção de instrumentos musicais povoaria os salões e as igrejas europeias com violinos feitos nas Américas.

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O Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, popularmente conhecido como Ruínas de São Miguel das Missões, é o conjunto de remanescentes da antiga redução jesuítica de São Miguel Arcanjo, integrante dos chamados Sete Povos das Missões. Localiza-se no município de São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul – Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADtio_Arqueol%C3%B3gico_de_S%C3%A3o_Miguel_Arcanjo

Catorze anos depois, em 1773, a ordem toda foi extinta por decisão do papa Clemente XIV. Nesse momento, os inacianos ligados a Portugal já tinham o destino selado. A inquisição encerraria a vida de Gabriel Malagrida: o padre de 72 anos foi queimado na Praça do Rossio, em Lisboa, na tarde de 21 de setembro de 1761. Foi a última vez que um condenado pela Inquisição era morto em praça pública em território português. Ele havia batido de frente com o marquês de Pombal por muitos anos, desde que afirmara que o terremoto que aterrou Lisboa em 1755 era um castigo divino.

E assim, por força do fogo e de uma bula papal, a ordem deixou de influenciar os rumos do Brasil. Foi autorizada a voltar em 1814, mas a marca sobre o país nunca mais seria a mesma. Permanece nos centros educacionais. Em termos internacionais, os jesuítas agora alcançaram, depois de cinco séculos, o cargo mais alto da Igreja Católica: o papa Francisco pertence ao grupo fundado por Inácio de Loyola e construído com o sangue e o suor de jovens cultos e corajosos.

Linha do tempo

A trajetória da ordem

  • 1491• Nascimento de Inácio de Loyola
  • 1500• Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil
  • 1534•Inácio funda a Companhia de Jesus
  • 1540•O papa Paulo III formaliza a criação da Companhia de Jesus
  • 1542• Primeira ação missionária dos jesuítas, no Congo
  • 1549• Chegada de Tomé de Souza e Manoel da Nóbrega a Salvador
  • 1551• Chegada a Salvador do primeiro bispo do Brasil, Pero Fernandes Sardinha
  • 1553• Chegada de José de Anchieta ao Brasil
  • 1554• Missa de fundação da cidade de São Paulo
  • 1565• Fundação da cidade do Rio de Janeiro
  • 1580• Portugal é anexado ao reino da Espanha e os jesuítas perdem a exclusividade no Brasil
  • 1607• Início das missões jesuíticas
  • 1640• Portugal volta a ser um reino independente, sob o comando do rei dom João IV
  • 1665• O Tribunal da Inquisição manda prender Antonio Vieira
  • 1759• Expulsão dos jesuítas de Portugal e suas colônias
  • 1773• Extinção da Companhia de Jesus por ordem do papa Clemente XIV
  • 1814• O papa Pio VII reabre a Companhia de Jesus
  • 2013• Jorge Bergoglio é eleito papa e adota o nome Francisco.

Jesuítas no Brasil

  • Manoel da Nóbrega • 

1517-1570 

Decisivo na fundação de Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.

  • José de Anchieta •

1534-1597 

Grande pregador, criou uma gramática tupi-português e converteu centenas de índios.

  • João de Azpicuelta Navarro •

1521/3-1557 

Esteve na primeira expedição em busca de ouro em Minas Gerais.

  • Antonio Vieira •

1608-1697

Polêmico, participou ativamente da História de Portugal, de Salvador e de São Luís, no Maranhão.

  • João Felipe Bettendorf • 

1625-1698

Decisivo na colonização da Amazônia e na fundação de Santarém.

  • Gabriel Malagrida •

1689-1761

Realizou uma expedição de 14 mil quilômetros no sertão nordestino. Morto pela Inquisição.

SAIBA MAIS

LIVROS

A Grande Aventura dos Jesuítas no Brasil, Tiago Cordeiro, Ed. Planeta, 2016

Autobiografia, Inácio de Loyola, Editorial A.O., 2005

História da Companhia de Jesus no Brasil, Serafim Leite, Itatiaia, 2000

A Heresia dos Índios – Catolicismo e Rebeldia no Brasil Colonial, Ronaldo Vainfas, Companhia das Letras, 1995


Autor e fonte – TIAGO CORDEIRO http://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/terra-brasilis/a-grande-aventura-dos-jesuitas-no-brasil.phtml#.V6H_DI-cHIV

 

JUDEUS SEM SABER

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Fonte – http://culturahebraica.blogspot.com.br/2013_06_23_archive.html

Perseguidos na Europa pela Inquisição, centenas de judeus se exilaram na América no fim da Idade Média. Cinco séculos depois, descendentes tentam descobrir suas raízes

Eduardo Manet não esquece aquela noite de junho de 1943. O tempo estava bom em Havana. Ele e a mãe tinham ido ao cinema. Na volta para casa, o futuro escritor cubano ouviu a mãe explicar que ela havia nascido em uma família “Marrana”. O menino não entendeu imediatamente o que aquilo queria dizer. “Creio que não ouvi direito… o ruído do mar, meus ouvidos zumbiam…”

A frase não fazia sentido para Manet. “Marrano” significa “porco” em espanhol. Confuso, ele perguntou: “Como assim? Você nasceu com os porcos?”. O adolescente, prestes a completar 13 anos, compreendeu na hora que acabara de ferir profundamente a mãe. Com uma expressão séria no rosto, ela explicou ao filho o sentido religioso do termo: “Chamamos de Marranos os judeus sefarditas que foram obrigados a se converter à religião católica no fim do século XV. Eles não tinham escolha: era o exílio ou a conversão. Os que não quiseram abandonar a terra de seus ancestrais nem se converter ao catolicismo acabaram na fogueira”.

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Obra mostra cena de explusão de judeus da Espanha em 1492. Muitos deixaram o país, mas outros optaram por ficar e se onverter ao catolicismo. (Xilogravura, Michaly von Zichy, 1880, posteriormente colorizada)

Sessenta anos depois, o escritor manteve gravado na memória esse dia em que descobriu o segredo de sua família. Ele era judeu sem o saber. Ou melhor, era um criptojudeu. Inspirado por essa revelação, decidiu pesquisar mais a fundo a história de seus antepassados. Em 2007, reuniu o resultado de seus estudos para escrever o livro Marrane! (Marrano!), publicado pela editora francesa Hugo et Compagnie. A obra não é apenas uma emocionante viagem à Cuba da juventude do autor, mas também um interessante relato sobre a trajetória de uma família marrana que se refugiou no Novo Mundo para fugir da Inquisição. Em busca das origens, o autor se debruçou sobre sua árvore genealógica e retrocedeu no tempo até chegar a doña Asunción, judia sefardita que foi obrigada a dissimular sua religião na Espanha do século XV.

Naquela época, os judeus eram alvo de uma feroz perseguição religiosa na Península Ibérica. O antissemitismo não era novo. As primeiras manifestações desse tipo de preconceito remontam à Antiguidade, mas só no fim do século XIV a intolerância assumiu a forma de grandes massacres de judeus, os chamados pogroms. A situação dos filhos de Israel só piorou quando, cem anos depois, a rainha Isabel de Castela, conhecida como “a Católica”, assinou vários decretos reais condenando severamente todos os hebreus que não abraçassem a fé cristã.

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Há quem garanta que Colombo foi judeu, assim como grande parte da tripulação de suas três caravelas. (Chegada de Colombo na América em 1492, óleo sobre tela John Vanderlyn, séc. XIX)

Milhares de judeus passaram então a esconder sua religião. A Inquisição se mostrou especialmente implacável com eles. Em 1481, muitos Talmudes (livros que registram as leis e costumes dos hebreus) foram queimados em autos de fé organizados em toda a Espanha. Em 1492, os reis católicos tomaram Granada, expulsando definitivamente os muçulmanos da Península Ibérica. Senhores absolutos da Espanha e contando com o apoio do papa Sisto IV, que reconheceu oficialmente a Inquisição espanhola em uma bula de 1478, os soberanos de Castela e Aragão assinaram o Decreto de Alhambra em 31 de março de 1492, que expulsou os judeus do reino espanhol. De acordo com esse texto, todos os súditos hebreus deveriam se converter ao catolicismo ou partir. Apesar da enérgica ação de Isaac Abravanel, funcionário da corte de Isabel de Castela que tentou obter a anulação do decreto, as perseguições se intensificaram.

Centenas de milhares de israelitas (entre 200 mil e 400 mil pessoas, dependendo da fonte) escolheram deixar o país. Alguns foram para Portugal, de onde foram expulsos em 1497. Outros atravessaram o estreito de Gibraltar para viver livremente sua fé do outro lado do Mediterrâneo, no Marrocos. Muitos fugiram para o Oriente – para a Itália, para o leste da Europa, para o Egito ou para a Palestina. Houve os que encontraram refúgio no Império Otomano, onde o sultão Bayazid II lhes ofereceu sua hospitalidade. Os que ficaram (cerca de 150 mil) se converteram, mas um grande número continuou a viver secretamente de acordo com a tradição judaica.

Não era fácil professar a fé na clandestinidade, principalmente na ausência de rabinos e de ensino religioso. Praticados de forma secreta, os ritos e as festas perdiam às vezes o sentido, mas os gestos sobreviveram e foram transmitidos de pai para filho. A comunidade dos marranos na Europa, também chamados de “conversos”, contava com algumas celebridades, como o filósofo Baruch Spinoza (que acabou rompendo com o judaísmo), ou Antoine de Luppes, avô materno do filósofo Michel de Montaigne.

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Página original do decreto, assinado pelos soberanos de Castela e Aragão, que determinou a expulsão dos judeus no século XV

Há quem diga que o próprio Cristóvão Colombo era um criptojudeu, mas não há provas que corroborem tal afirmação. A única certeza é que grande parte dos financiadores de sua expedição de 1492 era judia. Entre eles estavam Abraão e Isaac Abravanel, Juan Cabrero, Luis de Santángel, Gabriel Sánchez e Alfonso de la Caballeria. Segundo Lee Friedman, autor de um estudo sobre os pioneiros judeus do Novo Mundo intitulado Jewish pioneers and patriots (Pioneiros e patriotas judeus), vários membros da tripulação das três caravelas da expedição de Colombo seriam judeus. Alguns teriam, inclusive, criado raízes na América desde a primeira missão, em agosto-setembro de 1492. Cada nova onda de conquistadores trouxe novos criptojudeus.

Desde a década de 60, diversas comunidades marranas vêm sendo identificadas no continente americano. Não só em Cuba, mas também em Porto Rico, no Brasil (a partir dos anos 80), no México e nos Estados Unidos. Um dos casos mais interessantes é o de um grupo de moradores da região do Novo México, nos EUA, que, apesar de oficialmente cristãos, seguem há várias décadas as tradições judaicas sem sequer ter consciência disso.

A revelação sobre as raízes israelitas dessa comunidade do sudoeste dos Estados Unidos foi feita pelo historiador Stanley Hordes em 2005 e gerou polêmica entre a população local. Segundo Hordes, o Novo México abrigaria uma das mais antigas comunidades criptojudaicas da América. O historiador de Santa Fé revelou que centenas de viejitos – como são conhecidos lá os velhos habitantes hispanófonos – ignoram que mantêm vivos diversos elementos da tradição israelita há centenas de anos, mesmo se considerando oficialmente católicos.

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Eduardo Manet, escritor cubano, que se descobriu marrano: pesquisa resultou num livro que vai da inquisição à Cuba do século XX

Eles evitam, por exemplo, comer carne de porco e acendem duas velas nas sextas-feiras à noite. A oração que recitam em enterros seria muito próxima de uma prece judaica chamada kaddish, mas não existe sinagoga alguma em um raio de mil quilômetros e eles não conhecem a Torá.

Hordes divulgou sua pesquisa no livro To the end of the Earth – A history of the crypto-jews of New Mexico (Até o fim do mundo – Uma história dos criptojudeus do Novo México), publicado em 2005. Nessa obra, o historiador defende a ideia de que os ancestrais dessa “tribo perdida” seriam marranos vindos no rastro de Hernán Cortez, explorador espanhol que conquistou o México em 1519. Segundo Hordes, esses descendentes de judeus teriam se instalado na fronteira norte do império colonial espanhol, no território correspondente ao atual Novo México, onde era mais fácil escapar da autoridade da Igreja e do Estado e praticar sua fé livremente.

Para sustentar sua tese, Hordes cita várias biografias de conquistadores investigados por tribunais espanhóis por causa de suas crenças religiosas. O principal caso seria o de um certo Luis de Carvajal, sobrinho do governador da província de Nuevo León, no México. Ele, sua mãe e sua irmã foram condenados à morte em 1596 por serem judeus. Seu tio e outros 170 marranos teriam então deixado a cidade de Cerralvo, no atual México, marchando em direção ao norte, sem dar nunca mais nenhum sinal de vida. Stanley Hordes acredita que os criptojudeus do Novo México sejam descendentes desses homens e mulheres.

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A Expulsão dos Judeus, de Roque Gameiro.

O isolamento dessa comunidade se revelou uma faca de dois gumes. Desenraizados e tendo adotado o calendário romano, eles teriam perdido o sentido das tradições que, no entanto, continuaram observando. Nos últimos anos, alguns desses marranos têm realizado o movimento que os judeus chamam de techuva, o “retorno às origens”.

Stanley Hordes conta o caso de uma moradora da cidade católica de Ruidoso, no Novo México, que empreendeu esse resgate de suas origens ancestrais. Sonya Loya diz sempre ter se sentido judia, mas só recomeçou a observar o Shabbat depois de descobrir a história de suas origens ao ler o livro de Hordes. Na verdade, essa revelação não a surpreendeu. Um de seus tios, ao retornar da Segunda Guerra Mundial, disse ter visto o nome da família em uma lista de prisioneiros dos campos de concentração. Criptojudia, ela decidiu se converter ao judaísmo para se tornar “plenamente” judia.

O caso de Bill Sanchez é ainda mais impressionante, pois esse marrano chegou a ser ordenado padre católico. As revelações de Hordes o abalaram de tal modo que ele decidiu mandar analisar seu DNA. O exame revelou que ele possuía uma série de marcadores genéticos em seu cromossomo Y presentes em 30% dos homens judeus (os cientistas reiteram, no entanto, que não existe um cromossomo “judeu”). Bill Sanchez não renegou a fé católica, mas hoje ele usa uma correntinha no pescoço com a estrela de Davi ao lado de um crucifixo.

AUTOR – Baudouin Eschapasse – Jornalista e colaborador da revista Historia

FONTE – http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/judeus_sem_saber.html


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Decreto divulgou lista oficial de sobrenomes e o que é necessário para conseguir o passaporte português

Milhares de brasileiros podem obter a cidadania portuguesa como descendentes de sefarditas. A lei portuguesa que beneficia os herdeiros dos judeus expulsos da Península Ibérica no século 15 foi aplicada pela primeira vez em outubro, com a aprovação de três pedidos de naturalização, um deles vindo justamente do Brasil.

Embora não existam dados oficiais que confirmem o número atual de sefarditas, diferentes organizações judaicas estimam que haja 3,5 milhões em todo o mundo. No Brasil, eles seriam em torno de 40 mil, dos cerca de 110 mil judeus que vivem no país.

Mas o número de brasileiros beneficiados pela medida do governo português pode ser significantemente maior, já que a lei não especifica que apenas os descendentes que ainda pratiquem o judaísmo sejam contemplados com a naturalização.

“O critério legal é a ascendência sefardita portuguesa, não a religião do interessado. Como se sabe, um segmento importante de pessoas abrangidas pela lei é de descendentes de judeus sefarditas que foram forçados à conversão ao cristianismo”, explica à BBC Brasil o advogado português Rui Castro, especialista em processos de cidadania lusa e que mantém escritórios no Brasil e em Portugal.

Em 1496, o rei D. Manuel determinou a expulsão de todos os judeus do território português. Os que optaram por permanecer no país foram obrigados a se converter, ficando conhecidos como cristãos-novos. Durante o período da Inquisição, muitos desses judeus convertidos também foram perseguidos e forçados a abandonar Portugal, refugiando-se em diversos países, entre eles o Brasil.

Sobrenomes oficiais

A aquarela 'A Expulsão dos Judeus', do artista português Roque Gameiro, retrata a história da Inquisição em Portugal - Foto: Reprodução
A aquarela ‘A Expulsão dos Judeus’, do artista português Roque Gameiro, retrata a história da Inquisição em Portugal – Foto: Reprodução

Desde que surgiram as primeiras notícias há aproximadamente dois anos, de que Portugal e Espanha aprovariam leis que facilitariam a naturalização dos descendentes de sefarditas, circulam pela internet listas com milhares de sobrenomes – alguns deles entre os mais comuns do Brasil – que indicariam a ascendência, mas nenhuma delas de cunho oficial.

Essa lacuna foi preenchida com a publicação do Decreto-Lei n.º 30-A/2015, de 27 de fevereiro passado, que abriu caminho para a naturalização dos descendentes de sefarditas, em que a Justiça lusa finalmente divulgou uma lista oficial com os seguintes sobrenomes: Abrantes, Aguilar, Almeida, Álvares, Amorim, Andrade, Avelar, Azevedo, Barros, Basto, Belmonte, Brandão, Bravo, Brito, Bueno, Cáceres, Caetano, Campos, Cardoso, Carneiro, Carvajal, Carvalho, Castro, Crespo, Coutinho, Cruz, Dias, Dourado, Duarte, Elias, Estrela, Ferreira, Fonseca, Franco, Furtado, Gaiola, Gato, Gomes, Gonçalves, Gouveia, Granjo, Guerreiro, Henriques, Josué, Lara, Leão, Leiria, Lemos, Lobo, Lopes, Lombroso, Lousada, Lopes, Macias, Machado, Machorro, Martins, Marques, Mascarenhas, Mattos, Meira, Melo e Prado, Mello e Canto, Mendes, Mendes da Costa, Mesquita, Miranda, Montesino, Morão, Moreno, Morões, Mota, Moucada, Negro, Neto, Nunes, Oliveira, Osório (ou Ozório), Paiva, Pardo, Pereira, Pessoa, Pilão, Pina, Pinheiro, Pinto, Pimentel, Pizarro, Preto, Querido, Rei, Ribeiro, Rodrigues, Rosa, Sarmento, Salvador, Silva, Soares, Souza, Teixeira, Teles, Torres, Vaz, Vargas e Viana.

A iniciativa, no entanto, gerou críticas, pois apenas o sobrenome não é suficiente para a entrada com o pedido de cidadania. “O legislador cometeu um erro ao mencionar essa lista. Existem nomes que efetivamente estão estreitamente relacionados a uma origem sefardita, mas, mesmo nestes casos, o interessado tem de reunir elementos complementares de prova”, diz Rui Castro.

Lei beneficia herdeiros dos judeus expulsos da Península Ibérica (mapa acima) no século 15 - Foto: Divulgação
Lei beneficia herdeiros dos judeus expulsos da Península Ibérica (mapa acima) no século 15 – Foto: Divulgação

Maior rigor

Segundo o Consulado Geral de Portugal em São Paulo, para solicitar a naturalização é preciso que o candidato comprove laços com uma comunidade sefardita de origem portuguesa. Isso é possível através de alguns requisitos que confirmem a ligação com Portugal, como sobrenome, idioma familiar, e descendência direta ou colateral.

Em países como Turquia, Israel ou Estados Unidos, com um número considerável de descendentes de sefarditas, a confirmação de um nome de família e até mesmo do uso da língua portuguesa já pode significar um grande passo para conseguir a cidadania lusa. No entanto, o fato de o Brasil ser uma ex-colônia de Portugal faz com que muitos destes elementos não sejam suficientes para provar a ascendência, tornando o processo mais rigoroso para os brasileiros.

“Os pedidos de cidadãos brasileiros que afirmam ser descendentes de pessoas condenadas pela Inquisição por heresias relativas ao judaísmo não pode ser admitido automaticamente”, admite Michael Rothwell, porta-voz da Comunidade Israelita do Porto, responsável por emitir o Certificado da Comunidade Judaica Portuguesa, documento usado para confirmar a ascendência sefardita no processo de naturalização.

A organização com sede no Porto tem emitido o certificado apenas para judeus praticantes, o que tem sido criticado pelos advogados especialistas na naturalização lusa.

“Esta é uma interpretação errada da lei, não só para a maioria dos juristas que tratam do tema, mas também na opinião da Comunidade Israelita de Lisboa, que não segue por este caminho”, argumenta Rui Castro. “A naturalização não deve ser condicionada pela halachá (lei judaica), que determina sob seus específicos critérios quem é ou não judeu. O que deve ser considerado é se o interessado é descendente desses portugueses que foram forçados a abandonar seu país e, muitas vezes, suas crenças para continuar vivos.”

Hoje um dos pontos turísticos mais famosos de Lisboa, a praça do Rossio, no centro da capital, foi palco de execuções de judeus durante a Inquisição - Foto: Reprodução
Hoje um dos pontos turísticos mais famosos de Lisboa, a praça do Rossio, no centro da capital, foi palco de execuções de judeus durante a Inquisição – Foto: Reprodução

Fundador e diretor da Associação Brasileira de Descendentes de Judeus da Inquisição (Abradjin), Marcelo Miranda Guimarães defende uma interpretação “sensibilizada” da lei pelos portugueses, que facilite a naturalização dos herdeiros de cristãos-novos.

“A lei é muito bem-vinda, mas precisa ser interpretada com consciência e sensibilidade, porque a maioria desses judeus foi obrigada a se converter ao cristianismo para não morrer, eram pessoas proibidas de realizar qualquer ritual ligado ao judaísmo”, explica Guimarães à BBC Brasil.

“Como podemos ir a uma sinagoga buscar os documentos dos nossos ancestrais se nem sinagogas existiam naquela época no Brasil, onde o judaísmo também era proibido? Mas existem caminhos alternativos. Vários livros relatam as histórias dessas famílias no país, listam nomes e documentam a realidade da época. Isso deve ser levado em consideração como prova, porque, se não for, mais de 95% dos descendentes brasileiros não terão direito a essa reparação”, afirma.

Custos e procedimentos

Uma seção do Museu da História da Inquisição, em Belo Horizonte, é dedicada às vítimas brasileiras da intolerância religiosa - Foto: Divulgação Associação Brasileira de Descendentes de Judeus da Inquisição
Uma seção do Museu da História da Inquisição, em Belo Horizonte, é dedicada às vítimas brasileiras da intolerância religiosa – Foto: Divulgação Associação Brasileira de Descendentes de Judeus da Inquisição

Depois de levantar os documentos que considerar necessários para comprovar a ascendência sefardita, é preciso obter o Certificado da Comunidade Judaica Portuguesa, por intermédio das comunidades israelitas de Lisboa ou do Porto. A ausência desse certificado pode ser compensada de outras maneiras, como com “a apresentação de registros de sinagogas e cemitérios judaicos, títulos de residência, títulos de propriedade, testamentos e outros comprovantes de ligação familiar na linha colateral de progenitor comum a partir da Comunidade Sefardita de origem portuguesa”, de acordo com o Consulado Português em São Paulo.

Os candidatos têm ainda de ser maiores ou emancipados face à lei portuguesa e não podem ter sido condenados a crimes com pena igual ou superior a três anos, também de acordo com a legislação vigente no país europeu.

Segundo Rui Castro, o custo global do processo nunca será inferior a 1 mil euros (cerca de R$ 4,3 mil), valor que pode aumentar se for preciso realizar o levantamento de documentos ou se o candidato optar por contratar uma assessoria jurídica.

Em contato com a BBC Brasil, o Ministério da Justiça português informou que até o fim de outubro 250 pedidos de naturalização estavam em análise, dos quais cerca de 10% correspondiam a cidadãos brasileiros. A expectativa, no entanto, é de que esse número cresça nos próximos meses, impulsionado pelas notícias de que Portugal começou a aplicar a lei que garante a cidadania aos descendentes de sefarditas.

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Fonte – BBC BRASIL.com – http://noticias.terra.com.br/brasil/saiba-como-lei-portuguesa-pode-dar-cidadania-a-brasileiros-descendentes-de-judeus,76b283919d683a5010ec8b8da1a3492e64vhj841.html


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Eles se distribuíram por mais de 100 países e ainda assim conseguiram manter vivos seus valores e tradições

Texto Eduardo Szklarz | Ilustrações Marcos Rufino 

Os judeus são o único povo que nasceu com o dever divino de habitar uma região do planeta: Canaã (Israel). No entanto, ao longo de seus 4 mil anos de história, eles se tornaram a nação mais cosmopolita do mundo. As comunidades judaicas hoje se espalham em mais de 100 países – do México à Inglaterra, do Cazaquistão à África do Sul, de Cuba ao Japão. Com exceção de Israel, os judeus têm vivido como minorias em todos esses lugares.

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“A história judaica é marcada por sucessivas dispersões e diásporas dentro de diásporas”, diz Luis S. Krausz, professor de Literatura Hebraica e Judaica na Universidade de São Paulo (USP). “Essa história começa com a destruição do Templo de Salomão pelo rei Nabucodonosor, no século 6 a.C., quando os judeus foram levados ao cativeiro na Babilônia. E continua até o século 20, com a dispersão e o genocídio dos judeus da Europa.”

Tantas travessias produziram uma diversidade de grupos judaicos que cristalizaram costumes, idiomas e culinárias dos lugares onde viveram. E também contribuíram para enriquecer as culturas locais. Nesta reportagem, vamos viajar pelos momentos mais importantes da saga judaica através das fronteiras.

Babilônia e Império Romano

Os judeus botaram o pé no mundo em 587 a.C., quando o rei babilônio Nabucodonosor invadiu o antigo reino de Judá (ao sul de Israel). O monarca arrasou Jerusalém e mandou parte de seus habitantes para a Babilônia, na Mesopotâmia (hoje Iraque). Mas o que havia sido um degredo imposto à força contribuiu para o florescimento do judaísmo. “Foi durante o exílio que se impôs pela primeira vez a todos os judeus a prática regular de sua religião”, diz o historiador britânico Paul Johnson no livro História dos Judeus.

Representação do exílio judaico na Babilônia.
Representação do exílio judaico na Babilônia.

“Também foi reforçado o ritual da circuncisão, que os distinguia dos pagãos, e o costume do shabat (dia do descanso)”, diz Johnson. Os escribas redigiram as tradições orais e compilaram os pergaminhos vindos do templo destruído. O calendário judaico se aprimorou com a astronomia babilônica e incluiu festas como o Pessach (Páscoa), que recorda a saída dos hebreus da escravidão no Egito. Apenas 50 anos depois, em 538 a.C., o rei persa Ciro permitiu a volta dos judeus a Jerusalém e a reconstrução do templo. “Muitos preferiram ficar na Babilônia, que permaneceu como um centro da cultura judaica por 1,5 mil anos”, diz Johnson. Em 63 a.C., uma nova reviravolta. O general Pompeu invadiu a Judeia e a transformou em província do Império Romano. Terminava assim o reino dos Hasmoneus – o último país judeu independente que existiu até a criação do Israel moderno, em 1948.

Representação existente no Arco de Tito, em Roma, onde vemos o triunfo romano na comemoração do saque de Jerusalém.  -Fonte - wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7d/Arch_of_Titus_Menorah.png
Representação existente no Arco de Tito, em Roma, onde vemos o triunfo romano na comemoração do saque de Jerusalém. -Fonte – wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7d/Arch_of_Titus_Menorah.png

A tensão culminou com uma rebelião. Em 70, o general romano Tito reprimiu os revoltosos, destruiu o segundo templo e mandou os judeus a uma nova diáspora, que alcançou a Ásia, a Europa e o norte da África. Mas ao contrário dos anos na Babilônia, o exílio nos domínios romanos marcou o início das perseguições. “Os romanos não toleravam o culto judaico a um Deus único nem costumes como o shabat”, diz o historiador francês Gerald Messadié no livro História Geral do Antissemitismo. A situação piorou com a conversão do imperador Constantino ao cristianismo, no século 4. Em 325, o Concílio de Niceia acusou os judeus pela morte de Jesus, o que serviu de base para o mito medieval de que tinham poderes sobrenaturais e eram aliados do diabo. Nas terras da cristandade, os judeus foram proibidos de exercer funções públicas, ter empregados e se casar com não judeus.  Qualquer semelhança com as Leis de Nuremberg, promulgadas em 1935 pelo nazismo, não é coincidência.

Os sefaradim

No século 9, a comunidade judaica da Babilônia começou a declinar e muitos rumaram para outros cantos do globo. Parte foi para o norte da África, à região que hoje corresponde a Argélia, Marrocos, Sahara Ocidental e Mauritânia. Lá se assentaram nos domínios de duas tribos muçulmanas: os berberes, que eram exímios guerreiros; e os mouros, mais tolerantes, que se dedicavam ao comércio, ao artesanato e à ciência.

Como os exércitos mouros estavam em franca expansão pela Espanha, os judeus pegaram carona com eles – e ficaram conhecidos como sefaradim (de Sefarad, “Espanha” em hebraico). Produziram uma língua própria, o ladino, impregnando de vocábulos hebraicos o espanhol medieval. A união entre mouros, judeus e ciganos daria origem ao flamenco, que até hoje é tocado e bailado como um hino à liberdade.

Nos demais países muçulmanos, os judeus viviam como cidadãos de segunda classe. Podiam seguir suas crenças nos dhimmis (comunidades protegidas) desde que pagassem impostos. Seu status era superior ao de pagãos e escravos. “No mundo islâmico, os judeus desfrutaram de prosperidade nos séculos 10, 11 e 12. Houve explosões de violência contra eles, mas esporádicas e locais”, diz o historiador britânico Nicholas de Lange em Povo Judeu. Alguns chegavam a ser ministros dos califas. O rabino Maomônides (1135-1204), um grande filósofo da Idade Média, foi médico dos sultões do Egito. “No século 13, quando o mundo muçulmano passou a sofrer pressões dos cristãos no oeste e dos mongóis no leste, a condição dos judeus piorou de forma dramática”, diz Lange.  “Os líderes islâmicos deram carta branca à intolerância religiosa.

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” Pior: no século 15, Fernando de Aragão e Isabel de Castela (os reis católicos) se uniram para acabar com o domínio muçulmano no sul da Espanha. A Santa Inquisição queimava judeus como “hereges” e pilhava seus bens. Em 1492, os reis católicos derrotaram Granada, o último bastião mouro na Península Ibérica. E expulsaram os judeus que não aceitassem a conversão imediata à fé cristã. Os que quiseram praticar o judaísmo de forma aberta emigraram para o Império Otomano, que abrangia a Turquia, o norte da África e o Oriente Médio. “A maioria, cerca de 100 mil, optou pela solução mais fácil: fugir para Portugal”, diz Lange. “Foi uma decisão equivocada. Cinco anos depois, o rei dom Manuel batizou os judeus à força.”

Os convertidos, os “cristãos-novos”, continuaram sendo alvo de suspeita dos inquisidores. Tanto que ficaram conhecidos como marranos (“porcos”, em espanhol) ou anussim (“forçados”, em hebraico). “Para muitos, a saída foi praticar o judaísmo secretamente, correndo risco de vida”, diz o escritor americano-português Richard Zimler, autor de vários livros sobre o tema. Outros botaram o pé no mundo e se fixaram em todo o arco mediterrâneo, sul da França, Holanda, Inglaterra e norte da Alemanha.

Segundo Johnson, a diáspora sefaradim mobilizou judeus do mundo inteiro. A chegada de refugiados a uma cidade provocava a expulsão dos que lá viviam. “Muitos judeus converteram-se em vendedores ambulantes”, diz. Vem dessa época a lenda antissemita do Judeu Errante, o sujeito que teria negado água a Jesus no trajeto até a crucificação e por isso havia sido condenado a uma vida sem rumo. O primeiro gueto da história, em Veneza, data de 1516. Outros “cristãos-novos” vieram para o Brasil, trabalhar em Minas Gerais ou nos engenhos de Pernambuco. Em 1636, fundaram no Recife a primeira sinagoga das Américas sob a bênção dos holandeses.

Os ashkenazim

A saga dos sefaradim foi simultânea à de outro importante grupo: os ashkenazim (do hebraico medieval Ashkenaz, “Alemanha”). Eles se assentaram entre a Alemanha e a França, ao longo do Vale do Reno, a partir do século 8, incentivados pelo imperador Carlos Magno. A maioria se dedicava ao artesanato, à fabricação de vinhos e ao comércio – conheciam como poucos as rotas para o Mediterrâneo e o Oriente Médio.

Ashkenazim   (Judeus alemães)  em 1876. O termo Ashkenazi geralmente se refere aos judeus da Europa Oriental - Fonte - http://www.israeldailypicture.com/2011/09/who-is-jew-more-than-100-years-ago-in.html
Ashkenazim  (Judeus alemães) em 1876. O termo Ashkenazi geralmente se refere aos judeus da Europa Oriental – Fonte – http://www.israeldailypicture.com/2011/09/who-is-jew-more-than-100-years-ago-in.html

“No século 13, muitos ashkenazim foram para a Polônia atraídos pelas oportunidades econômicas”, diz Lange. “Tinham em suas mãos a maior parte do comércio.” A idade dourada dos ashkenazim acabou em 1648, ao serem alvo de uma rebelião dos cossacos, vindos da Rússia e da Ucrânia, que investiram contra os judeus, matando perto de 100 mil e dizimando 300 comunidades. O antissemitismo tornou a Europa um lugar perigoso. Judeus já haviam sido expulsos da Inglaterra em 1290 e da França em 1306.

“A ausência de um Estado fez com que construíssem sua identidade com base em parâmetros mais religiosos e étnicos do que nacionais ou territoriais”, diz Krausz. Em geral, viviam como estrangeiros, apenas tolerados. Não podiam reivindicar os direitos dos outros cidadãos e pagavam impostos abusivos. Não tinham terras nem participavam de corporações de ofícios, que só aceitavam cristãos. “Restava-lhes o pequeno comércio e a lida com o dinheiro”, diz Krausz. Os ashkenazim chegaram à Lituânia, Ucrânia, Moldávia e Rússia. Viviam num vilarejo semi-isolado, o shtetl. Assim como os sefaradim, criaram seu dialeto: o ídiche, que mescla alemão medieval com termos hebraicos e eslavos.

A emancipação

Quando os ventos da Revolução Francesa sopraram na Europa, os judeus puderam sair do gueto e conquistar a cidadania. Figuras como Albert Einstein e Sigmund Freud moldaram o pensamento do Ocidente. Mas, se por um lado o século 19 trouxe emancipação, também instigou o nacionalismo. Os modernos Estados-nação acusaram os judeus de não participar da cultura majoritária e, portanto, da identidade nacional.

Foto de livro mostrando as vítimas de um Pogrom contra judeus na Russia - Fonte - http://www.jewishsphere.com/JewishCustoms/JewishCustomsRussia.html
Foto de livro mostrando as vítimas de um Pogrom contra judeus na Russia – Fonte – http://www.jewishsphere.com/JewishCustoms/JewishCustomsRussia.html

A Rússia virou palco do pogrom – uma perseguição insuflada pelos czares. Algumas matanças acabaram com shtetls inteiros e motivaram levas de emigrantes para ir para os Estados Unidos a partir de 1880, milhares de ashkenazim retornaram ao ponto de partida, a Palestina. A Inglaterra assumiu o controle da região após a Primeira Guerra e impôs restrições à imigração, apesar de defender um lar nacional para os judeus bem ali, onde Davi havia governado 3 mil anos antes. A imigração aumentou nos anos 30, com o fluxo de judeus que fugiam do nazismo.

JUdeus desembarcando na palestina na década de 1940 - Fonte - http://en.wikipedia.org/wiki/Zionism#/media/File:PikiWiki_Israel_20841_The_Palmach.jpg
JUdeus desembarcando na palestina na década de 1940 – Fonte – http://en.wikipedia.org/wiki/Zionism#/media/File:PikiWiki_Israel_20841_The_Palmach.jpg

Após a criação de Israel, em 1948, judeus foram expulsos de países árabes onde residiam havia séculos. No Egito, que tinha 65 mil judeus em 1937, restaram menos de 100. Na Líbia, nenhum. “Quando meu pai era menino na Polônia, as ruas eram cobertas de pichações dizendo: `Judeus, vão para a Palestina! Quando voltou, em visita à Europa 50 anos mais tarde, os muros estavam cobertos de pichações dizendo: `Judeus, saiam da Palestina!¿”, recorda o escritor israelense Amós Oz no livro Contra o Fanatismo.

Os muitos judeus

Os sefaradim e ashkenazim são os principais grupos, mas há outros

Italianos

Vivem na península da Itália desde a destruição do segundo templo, no ano 70. A eles se juntaram sefaradim deportados da Espanha e de Portugal no século 15.

Norte da África

São descendentes dos judeus que se assentaram ali por volta do século 9. Também foram expulsos após a criação de Israel. Na Líbia, por exemplo, não restou um único judeu. No Egito, menos de 100.

Mizrahim

Viveram no Iraque, Síria, Líbano, Egito e outros do Oriente Médio desde a Antiguidade, muito antes da chegada dos sefaradim, com quem são confundidos. Sua fala e seus nomes são árabes. Os do Iraque descendem de cativos que foram levados à Babilônia no século 6 a.C. Foram expulsos após a Independência de Israel, em 1948.

Teimanim

Chegaram ao Iêmen provavelmente no tempo de Salomão. Falam árabe como os mizrahim, mas sua tez é morena-escura e possuem um folclore muito típico. Expulsos após a criação de Israel, restaram cerca de 200 no Iêmen.

Etíopes

Conhecidos como Beta Israel ou falashas, têm origem desconhecida. Teriam chegado lá nos tempos de Salomão ou se convertido ao judaísmo em algum momento posterior. Em vez de hebraico, usavam o ge¿ez ou o am¿hári como língua religiosa e eram observadores estritos do shabat e da kashrut (lei alimentar). Eram quase 40 mil, viviam em campos de refugiados e foram resgatados por Israel nos anos 80 e 90.

Indianos

O sincretismo do hinduísmo se combinou com a segregação do sistema de castas – que acabou protegendo-os. Os judeus da costa do Malabar viveram muito tempo separados do resto do mundo. Hoje são cerca de 5 mil.

Chineses

Se assentaram em vários locais do país na Idade Média e foram bem tolerados pelo confucionismo. A maior comunidade ficava em Kaifeng, mas foi perdendo suas tradições. Hoje são cerca de 2,5 mil em toda a China.

Saiba mais

Livros

Povo Judeu, Nicholas de Lange, Folio, 2007

Passagens: Literatura Judaico-Alemã entre Gueto e Metrópole, Luis S. Krausz, Edusp, 2012



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UMA NOITE MÁGICA NO TEATRO DO BARRO VERMELHO

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Autor – Rostand Medeiros 

Em um passado já distante, quando Natal ainda era uma pequena capital, antes até da existência do Teatro Alberto Maranhão, ocorreu um espetáculo teatral na região do Barro Vermelho que marcou época e ficou na mente dos natalenses por décadas. Como foi este espetáculo e um pouco da vida de Joaquim Lourival, um dos atores desta apresentação e um homem que foi uma grande fonte de informações históricas para Luís da Câmara Cascudo.

História do Teatro em Natal

O historiador Cláudio Augusto Pinto Galvão, em seu maravilhoso sobre a história do Teatro Alberto Maranhão, intitulado “100 anos de arte e cultura – Teatro Carlos Gomes – Teatro Alberto Maranhão” (Natal : Ed. RN, 2005), informa que a mais antiga notícia documentada sobre uma encenação na cidade de Natal deve-se a uma correspondência de D. João V, rei de Portugal, datado de 23 de agosto de 1730 e dirigida ao Governador e Capitão-general da Capitania de Pernambuco, em que informa que o Capitão-mor do Rio Grande (do Norte), em carta dirigida à Sua Majestade, comunica que, ao tomar conhecimento do casamento do príncipe português D. José com a princesa espanhola Dona Maria Ana, fez festejar devidamente o evento nessa capitania, com nove dias sucessivos com comédias e várias festas de cavalo e outras celebridades iluminando-se três noites todas as casas da dita cidade avantajando-se nas ruas, pois se acendiam nela oitenta luzes cada noite sendo toda esta despesa a sua custa, assim descreve o documento.

As imagens que aqui apresentam teatros e peças teatrais do século XIX, são da coleção da Biblioteca Nacional, mas servem apenas de caráter ilustrativo. Nenhuma delas mostra teatros em Natal no século XIX.
As imagens que aqui apresentam teatros e peças teatrais do século XIX, são da coleção da Biblioteca Nacional, mas servem apenas de caráter ilustrativo. Nenhuma delas mostra teatros em Natal no século XIX.

Segundo Luís da Câmara Cascudo, no seu livro “História da cidade do Natal” (Páginas 215 a 217, 3ª Ed. Natal, 1999), os documentos existentes sobre o teatro em Natal apontam que em 1841, havia um barracão de palha onde funcionava a Sociedade do Teatro Natalense. Este simples local de apresentação teatral foi construído na antiga praça Gonçalves Ledo, onde atualmente se encontra o prédio do antigo Dispensário “Sinfrônio Barreto”. Sob a batuta de Matias Carlos de Vasconcelos Monteiro, era uma sociedade amadora, onde mulheres não participavam das peças teatrais e que em pouco tempo teve o barraco de palha incendiado. Matias Carlos tentou conseguir apoio governamental, mas quando este saiu em 1843, a sociedade já tinha sido desfeita. Cláudio Galvão aponta que nem são conhecidas as razões da desistência e não há mais notícia do “teatro” da Sociedade de Teatro Natalense[1].

Devido ao autor do texto não possuir fotos de Natal na década de 1880, as ilustrações utilizadas para mostrar a capital potiguar são dos anos finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX.
Devido ao autor do texto não possuir fotos de Natal na década de 1880, as ilustrações utilizadas para mostrar a capital potiguar são dos anos finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX.

Outros grupos teatrais surgiram em vários locais da cidade, com peças continuando a serem realizadas em simples barracões de palhas. No mesmo local onde a Sociedade do Teatro Natalense construiu seu primitivo local de apresentação, um novo barracão foi construído por outro grupo teatral e novamente queimado em 31 de dezembro de 1853. Iluminar estas apresentações com lampiões a querosene era fogo, literalmente falando!

No ano seguinte, a Sociedade Theatral Apóllo Riograndense alugou uma casa ao negociante português Manoel dos Santos Martins Romano. Aparentemente na capital potiguar esta foi a primeira casa onde se realizou uma peça teatral feita de alvenaria. Cláudio Galvão aponta que o imóvel localizava-se onde se encontra o Instituto Histórico e Geográfico, com a frente para a Rua Grande, atual Praça André de Albuquerque. Consta que lá ocorreram apenas duas apresentações[2].

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Outras casas, por outros grupos teatrais amadores foram alugadas e espetáculos eram realizados com muito improviso.

Em 1860 foi realizada uma tentativa oficial de criação de um teatro, o que mostra que havia um anseio, talvez uma cobrança, da população natalense por uma casa de espetáculos digna do nome. Mas esta tentativa não deu certo.

Entre 1865 e 66, em pleno período da Guerra do Paraguai (que ocorreu entre 1864 e 1870), no mesmo local onde o teatro da Sociedade de Teatro Natalense havia sucumbido ao fogo, um terceiro teatro de palha foi construído. Aparentemente esta casa seguia seu curso de apresentações de maneira positiva, proporcionando ao natalense um pouco de diversão entre os dias modorrentos de cidade provinciana e as notícias da guerra. Mas em uma noite de espetáculo o alferes Rolim Cavalcanti de Albuquerque cercou o local com uma patrulha militar e prendeu seis homens que foram levados a força para o Quartel local e encaminhados para combater os paraguaios nos batalhões de Voluntários da Pátria[3].

Conflito armado entre militares e civis brasileiros, no período da Guerra do Paraguai. Esta cena poderia ser parecida com a ocorrida no conflito do antigo teatro.
Conflito armado entre militares e civis brasileiros, no período da Guerra do Paraguai. Esta cena poderia ser parecida com a ocorrida no conflito do antigo teatro.

Logo o barracão de palha foi queimado. Existem duas versões para o episódio. Em uma o fogo realizado a mando do Alferes Rolim, como castigo para aqueles que deixavam as obrigações militares para assistir funções teatrais. Já a outra versão, a mais aceita, foi que o teatro de palha foi queimado pelo povo de Natal para evitar que o local servir-se de nova “ratoeira” para levar jovens para a guerra.

Um Recanto Natalense

O Barro Vermelho é hoje um dos bairros centrais da nossa cidade, ainda com muitas casas antigas, mas que vai se verticalizando rapidamente. Luís da Câmara Cascudo aponta na página 257, do seu livro “História da cidade do Natal” (3ª Ed. Natal, 1999), que esta região de Natal foi uma “Antiga área de sítios, casas de veraneio, longe do mar e da mata, onde aconteceram festas memoráveis e maravilhosas festa juninas”[4].

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Um destes sítios pertencia ao Vigário Bartolomeu Fagundes de Vasconcelos, conhecido como padre Memeuzinho. Homem que gostava das artes, maçom, foi o padre que abriu as portas de sua propriedade para que no dia do nascimento de Jesus Cristo de 1886, ali ocorresse as apresentações teatrais[5].

Quase 33 anos depois, o Professor Joaquim Lourival Soares da Câmara, conhecido popularmente como Professor Panqueca, concedeu uma entrevista sobre aquele memorável espetáculo que ficou na mente dos antigos natalenses. Lourival era conhecido na pequena Natal por ser um homem que tinha uma memória prodigiosa, que lhe proporcionava um vasto e profundo conhecimento dos costumes de outrora, que via o presente como um fardo insuportável e que tinha nas recordações do passado um dos consolos da vida. Mas além de tudo isso, Joaquim Lourival foi um dos atores daquele espetáculo.

Parte do relato do conhecido Professor Panqueca, publicado com destaque na primeira página da edição de 14 de dezembro de 1911 do jornal natalense “A República”
Parte do relato do conhecido Professor Panqueca, publicado com destaque na primeira página da edição de 14 de dezembro de 1911 do jornal natalense “A República”

O relato foi publicado com destaque na primeira página da edição de 14 de dezembro de 1911 do jornal natalense “A República”[6].

Recordações de Uma Noite Maravilhosa

O autor do texto de 1911 utilizava o pseudônimo de Paulo da Terra. Este encontrou o velho Professor na sua casa, no final da tarde, descansando na sua velha espreguiçadeira e com uma bíblia na mão, livro ao qual ele denominava holofote dos céus.

Rio Potengi
Rio Potengi

Em uma Natal onde existiam mais cata-ventos para retirar água dos poços artesianos, do que automóveis circulando pelas ruas esburacadas, Joaquim Lourival vivia no final da poeirenta Rua dos Tocos, atual Avenida Princesa Isabel, já nas proximidades da igualmente contemporânea Avenida Deodoro.

Em meio a uma prosa reproduzida em parte pelo jornal, Paulo da Terra perguntou a Joaquim Lourival, homem nascido no ano de 1849, como ele via as mudanças em uma Natal que crescia muito para os padrões da época. Para o velho Mestre o presente lhe invadia a alma de tristeza, enquanto o passado lhe trazia consolação[7]. Preferia o passado, pois não era um homem de deixar amores velhos por novos. Dispensava concertos de palácios para ouvir modinhas cantadas por Botelho, ao som do violão de Heronildes. Era um homem que ainda gostava das Lapinhas e recordava com extrema satisfação as ocasiões em que ia para os “pagodes” da praia da Redinha e dos teatros do Barro Vermelho[8].

Nesse ponto o articulista Paulo da Terra buscou mais informações sobre estes espetáculos teatrais e comentou que não era primeira vez que ouvia falar destas apresentações.

O teatro possuía uma enorme importância na sociedade brasileira na década de 1880.
O teatro possuía uma enorme importância na sociedade brasileira na década de 1880.

A apresentação trouxe uma grande multidão, que para o jovem ator Lourival deixou o perímetro da cidade “sem ninguém”. Era o dia 25 de dezembro de 1868, um sábado, era o Presidente da Província, o governador da época, Manuel José Marinho da Cunha, que havia tomado posse do cargo a menos de dois meses e este se fez presente a função com toda seu séquito[9].

Joaquim Lourival tinha entre 17 e 18 anos e foi o protagonista do drama “Camila no subterrâneo ou os alteadores do Montenegro”, do italiano Camillo Frederici[10]Era a primeira tentativa de se fazer teatro ao ar livre em Natal, aproveitando a noite de lua clara e muitos colaboraram com candeeiros para iluminar o local. Não houve incêndios!

Claudio Galvão, em sua tese de doutorado em história intitulada “Alguns compassos – Câmara Cascudo e a musica (1920 – 1960)”, na página 19, traz um texto do folclorista Câmara Cascudo, através dos relatos do Professor Joaquim Lourival, sobre a peça apresentada no sítio do Barro Vermelho e publicada em um dos capítulos do livro “Histórias que o tempo leva” (1ª ed. Editora Monteiro Lobato, S. Paulo, 1924).

Devido aos preconceitos e as regras sociais da época, nenhuma jovem natalense aceitou o convite de fazer parte do grupo teatral e coube a um jovem ator fazer o papel de uma protagonista da peça. Mas ele foi dublado por uma veterana atriz chamada Maria Epiphania, a quem Câmara Cascudo conheceu pessoalmente e faleceu idosa em 1918. Talvez ela não tenha participado deste evento no Barro Vermelho devido a sua idade e por exigência do roteiro, pois já havia encenado esta mesma peça dez anos antes.

Pouco antes de iniciar a função teatral, mesmo sem explicar a razão, descobriram que não tinha como ser apresentada nenhuma música. Foi o Senhor José Macabeu de Vasconcelos que se lembrou que em casa tinha um realejo de corda e correu a sua residência para pegar o instrumento e salvar o espetáculo. Em sua entrevista ao articulista Paulo da Terra, Joaquim Lourival fala deste realejo, mas informa que também havia flautas, um violino e a apresentação seguiu tranquila para deleite dos antigos natalenses. Houve grande alegria com a apresentação teatral ao ar livre.

A apresentação teatral de 25 de dezembro de 1886 terminou com fogos e balões, quase uma festa junina.
A apresentação teatral de 25 de dezembro de 1886 terminou com fogos e balões, quase uma festa junina.

Era alta madrugada quando o espetáculo terminou. Foram soltos balões e disparados vários fogos de artificio.

Diferenças Deixadas de Lado

Mas enfim, porque este espetáculo marcou época em Natal?

Ocorreu um grande afluxo de autoridades e de pessoas do povo ao Barro Vermelho. Aquele congraçamento coletivo, com a presença do presidente da província (o que garantia que ações como a realizada pelo alferes Rolim não se repetissem), igualmente aliviava as tensões.

Não podemos esquecer que a Guerra do Paraguai estava no seu quarto ano e filhos da terra morriam, ou ficavam aleijados em terras distantes. Para aliviar o fardo da saudade nada melhor do que assistir na noite de natal a um belo trabalho teatral, de forma coletiva e democrática.

A (16)

Aparentemente foram deixadas de lado as provincianas diferenças de classe existentes na pequena Natal e todos que ali estavam aproveitaram muito aquela noite do nascimento de Jesus Cristo em 1868.

Foi uma noite onde as coisas funcionaram a contento, mesmo com certas doses de improviso. E não ocorreram incêndios!

Evidentemente que o trabalho daqueles que estavam no palco e nos bastidores deve ter sido singular. A produção, mesmo sendo tida como simples, parece ter sido muito bem trabalhada pelos atores e a peça do italiano Camillo Frederici caiu no gosto popular.

A (11)

Joaquim Lourival comentou que a repercussão foi tanta que nos dias posteriores o poeta e acadêmico Manoel Quintiliano dedicou um poema ao espetáculo, que foi publicado com destaque nos jornais de Natal. Em 1911 o velho Professor ainda lembrava das estrofes.

Claudio Galvão aponta, em outro escrito de Câmara Cascudo no livro “Histórias que o tempo leva”, que ocorreu a realização de uma reprise atendendo a inúmeros pedidos, no mesmo local, a 1º de janeiro de 1869.

Parece que Dionísio, o deus grego do teatro, ajudou para que aquela noite de natal, em Natal, fosse mágica e inesquecível!

O Destino de Um Amante da História

Na primeira página do jornal “A República”, de 13 de setembro de 1926, temos a notícia do falecimento de Joaquim Lourival.

Em um longo obituário soubemos que o fato ocorreu na sua casa, às 22 horas de 10 de setembro e houve grande consternação em Natal. Ao seu velório compareceram o governador José Augusto Bezerra de Medeiros e várias autoridades. Tinha o velho Mestre 77 anos de idade, era filho do poeta Lourival Açucena e foi também Professor do poeta Ferreira Itajubá. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Grau 33 da Maçonaria potiguar e estava aposentado. Mas não inativo!

“A República”, de 13 de setembro de 1926,  notícia do falecimento de Joaquim Lourival.
“A República”, de 13 de setembro de 1926, notícia do falecimento de Joaquim Lourival.

Temos a notícia que a sua casa era sempre procurada por aqueles que desejavam saber mais da história da capital potiguar, desde tempos coloniais, sendo ele considerado “tradição viva” da cidade. Grande sabedor da cultura popular, dono de uma memória prodigiosa, Joaquim Lourival Soares da Câmara foi um grande informante de Cascudo e de outros pesquisadores sobre a Natal antiga.

Nas década de 1880, a imagem mais comum ao período natalino estava sempre focada na figura de Jesus Cristo.
Nas década de 1880, a imagem mais comum ao período natalino estava sempre focada na figura de Jesus Cristo.

Pessoas como o Professor Joaquim Lourival Soares da Câmara, o conhecido Professor Panqueca, merecem todo nosso respeito e admiração. Principalmente por não deixarem a história morrer e democratizarem a esta informação junto aos mais jovens que valorizam o conhecimento do passado.

COM ESTA HISTÓRIA SOBRE UM INTERESSANTE MOMENTO DAS ARTES NA MINHA MARAVILHOSA CIDADE E A LEMBRANÇA DE UM HOMEM QUE AMAVA A HISTÓRIA, DESEJO A TODOS QUE FREQUENTAM O NOSSO BLOG UM FELIZ NATAL!


NOTAS

[1] Ver Relatório apresentado à Assembleia Provincial do RN pelo Vice-Presidente André de Albuquerque Maranhão no dia 7 de setembro de 1843.

[2] Ver “Acta Diurna”, de Luís da Câmara Cascudo. O teatro em Natal. “A República”, Natal, 15 de agosto de 1940.

[3] Quando a Guerra do Paraguai teve início, aproveitando o patriotismo que tinha tomado conta do país, muitos voluntários se apresentaram para lutar espontaneamente. O governo assegurava vantagens aos voluntários como prêmio em dinheiro, terras, preferência nos empregos públicos, patentes de oficiais honorários, liberdade a escravos, assistência a órfãos, viúvas e mutilados de guerra. Com o passar do tempo, o aumento da mortandade em combate e a diminuição do entusiasmo popular, o governo imperial passou a exigir dos presidentes das províncias cotas de voluntários, que deveriam recrutar. Cada Província foi solicitada prover, no mínimo, 1% da sua população. Essa foi a razão da ação do alferes Rolim no teatro. Por outro lado, havia várias formas de se escapar da convocação: os aquinhoados faziam doações de recursos, equipamentos, escravos e empregados para lutarem em seu lugar; os de menos posses alistavam seus parentes, filhos, sobrinhos ou agregados; aos despossuídos só restava a fuga para o mato. O Rio Grande do Norte formou o 28º Corpo de Voluntários da Pátria (28º CVP) e no 55º CVP os potiguares se uniram aos piauienses. Por razões que não sei explicar, o 28º CVP foi dissolvido durante a guerra e seus homens incorporado aos 34º CVP (Pará) e ao 36º CVP (Maranhão).

[4] A região do Barro Vermelho era assim conhecida já em fins do século XVIII, quando um antigo documento aponta que o sargento João Antônio Freitas era morador do “Barro Vermelho” e requereu mais outros pedaços de terra até a “Lagoa Seca”.

[5] Bartolomeu Fagundes de Vasconcelos nasceu em 1815, na localidade de Vila Flor, no Rio Grande do Norte. Viveu num ambiente onde a política e a religião eram assuntos preponderantes e foi ordenado em 1839, no seminário de Olinda. Além da formação religiosa recebeu também influências de Padres-Maçons que sonhavam com um Brasil livre e governado por Brasileiros. Homem de caráter firme e sentimentos nobres contrariou o poderoso Bispo Dom Vital por não ter abjurado à maçonaria. Serviu ao sacerdócio por 34 anos e a maçonaria por 37. Foi político, chefe de partido e Vice-Presidente de Província. Faleceu em 1877. Texto de Luís Soares de Lima, exibido no endereço eletrônico http://vigariobartolomeu.org/o-patrono/

[6] Segundo Claudio Galvão, o apelido Panqueca se deveu a um personagem que interpretara, ele que fora ator amador na maioria das sociedades teatrais em atividade na Natal do século XIX.

[7] Certamente o rápido crescimento populacional da capital potiguar dos primórdios do século XX, trouxe para o Professor Panqueca a ideia que o passado lhe trazia mais consolo na vida. Mas não é difícil compreender esta situação quando nos debruçamos sobre os números frios do crescimento estatístico de Natal entre 1900 e 1920 (em 1910 não ocorreu o censo demográfico). Observamos que em vinte anos a cidade saltou de 16.056 para 30.696 habitantes. Pode parecer pouco aos olhos de hoje a proporcionalidade deste crescimento, mas ao observarmos o resultado do censo de 1890, quando Natal tinha 13.725, seu crescimento populacional em dez anos foi de meros 2.331 habitantes. Ao passo que entre 1900 e 1920, este crescimento foi de 14.640 pessoas. Mesmo levando em consideração o hiato de tempo entre os levantamentos estatísticos, a forma de coleta destes dados, é perceptível um aumento da população natalense. Em grande parte isso se ocorreu pelo incremento de novas vias de transporte (principalmente ferroviário). Ver – http://pt.wikipedia.org/wiki/Natal_%28Rio_Grande_do_Norte%29

[8] No início do século XX era normal a população de Natal assistir muitos folguedos populares tradicionais, fato que perdurou com maior força até a década de 1930. Provavelmente a Lapinha que Joaquim Lourival assistia era a da velha Rosário, na Santa Cruz da Bica, próximo a atual sede da COSERN. A Lapinha era uma dança tipicamente religiosa, parecida com o Pastoril, mas que divergia em pontos essenciais de sua execução. Os repertórios eram inspirados em motivos religiosos, onde tinham como figura central o “Pastorzinho”, que dançava junto com as pastoras. Vestiam-se de maneira discreta. Ver Deífilo Gurgel, in “Espaço e tempo do folclore potiguar”, págs. 105 e 106 e 112, Natal, FUNCART, 1999.

[9] Manuel José Marinho da Cunha foi presidente da província do Rio Grande do Norte entre 1 de setembro de 1868 a 10 de março de 1869. Ver – http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Jos%C3%A9_Marinho_da_Cunha

[10] Camillo Federici, nasceu em Garessio, Itália, em 9 de abril de 1749 e morreu em Padova no dia 23 de dezembro de 1749. Foi um dramaturgo e ator de teatro, cujo verdadeiro nome era Giovanni Battista Viassolo.

SOBRENOMES DE JUDEUS EXPULSOS DA ESPANHA EM 1492 – VEJA SE O SEU ESTÁ NA LISTA

Expulsão dos judeus da Espanha
Expulsão dos judeus da Espanha

Autor – Rostand Medeiros

Uma grande amiga, que dá muito valor a história, me mandou a dica desta postagem.

Ela é feita sob medida para aqueles que buscam saber se descendem, ou não, de judeus.

Mas vamos aos fatos.

Bem, em um site de notícias mexicano temos a informação que o governo espanhol publicou uma lista com 5.220 nomes e sobrenomes de origem judaica, que serão reconhecidos pela Espanha após mais de 500 anos de exclusão.

Informa o site que dias atrás o parlamento espanhol começou uma análise para devolver a cidadania para os descendentes dos judeus expulsos em 1492.

Veja o link – http://www.sdpnoticias.com/internacional/2014/03/21/atencion-si-tu-apellido-aparece-en-esta-lista-podras-recibir-nacionalidad-espanola

Aqueles que possuem estes sobrenomes, que vivam ou não na Espanha, poderão obter a dupla cidadania. Pois segundo o site de notícias, o artigo 23 º do Código Civil Espanhol, afirma que “Os cidadãos estrangeiros sefarditas, que provem a sua condição e sua ligação especial com o nosso país, mesmo sem residência legal em Espanha, qualquer que seja a sua ideologia, religião ou crenças”.

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Expulsão de judeus – Fonte – https://lahistoriajudiadeandalucia.files.wordpress.com/2012/08/aenfardelar.jpg

Bem, se isso é sério e real eu não tenho como corroborar.

Mas sabemos que no final do século XV, os judeus compunham entre 10% e 15% da população de Portugal — isso somando os cerca de 50 mil judeus portugueses, mais os quase 120 mil que cruzaram a fronteira vindos da vizinha Espanha em 1492, quando os Reis Católicos Fernando e Isabel expulsaram toda a população judaica daquele reino. Nos primeiros dois séculos depois do Descobrimento, o Brasil recebeu boa parte dessa população, os chamados Cristão-novos, convertidos ao cristianismo à força. Um em cada três portugueses que imigraram para a colônia era Cristão-novo.

Até recentemente, acreditava-se que esses judeus conversos abandonaram seus sobrenomes “infiéis” para adotar novos “inventados” baseados exclusivamente em nomes de plantas, árvores, frutas, animais e acidentes geográficos.

Como identificar, então, quem era Cristão-novo?

A mais importante pista está justamente nos arquivos da Inquisição. Aproximadamente 40 mil julgamentos resistiram ao tempo, 95% deles referentes a crimes de judaísmo. Anita Waingort Novinsky, historiadora da Universidade de São Paulo, encontrou exatos 1.819 sobrenomes de Cristão-novos detidos, só no século XVIII, no chamado “Livro dos Culpados”. Os sobrenomes mais comuns dos detidos eram , Nunes (120), Henriques (68), Mendes (66), Correia (51), Lopes (51), Costa, (49), Cardoso (48), Silva (47) e Fonseca (33). A Inquisição anotava todos os nomes dos detidos cuidadosamente, como se fosse a Gestapo nazista e mantinha uma relação de bens de Cristão-novos para confisco.

Isso não quer dizer, no entanto, que todas as famílias com esses sobrenomes eram marranas. Nas investigações, sob tortura, os detidos diziam tudo o que os inquisidores queriam ouvir, acusando vizinhos, empregados e parentes “inocentes”. Fora isso, os sobrenomes eram realmente comuns.

O historiador paulistano Paulo Valadares, autor do “Dicionário Sefaradi de Sobrenomes”, no qual destaca 14 mil sobrenomes oriundos de judeus da Península Ibérica, alerta que é preciso ir além: identificar se há antepassados portugueses que chegaram ao Brasil nos séculos XVI ou XVII ou se foram citados nos anais da Inquisição até o século XVIII, se a família se estabeleceu em alguma região específica e se guarda tradições “estranhas” (Ver – http://www.olhardireto.com.br/conceito/noticias/exibir.asp?id=3514 ).

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Fonte – http://blogs.yahoo.co.jp/

Bom, mas em relação a como se consegue esta dupla nacionalidade?

Aí não sei mesmo!

Mas acho que isso é difícil, pois assim a população Espanha dobraria de tamanho rapidamente. Tanto que depois saiu uma notícia que a pretensa concessão de cidadania espanhola através da ligação histórica com antepassados judeus seria falsa.

Em todo caso, no meu ponto de vista, o legal da postagem foi a publicação dos 5.220 sobrenomes de origem judaica. De pessoas que, segundo o site, foram comprovadamente expulsas daquele país após a Reconquista do território espanhol dos Mouros.

Eu encontrei meu sobrenome (ou “apellido”), Medeiros, entre os listados.

Mas os meus antepassados partiram, em um dia bem remoto, nesta situação de perseguição lá da Espanha ?

Esse material me incentivou a pesquisar mais fundo na história dos meus antepassados e o que descobri é que eles são realmente oriundos da Península Ibérica.

Brasão da freguesia da Ribeira Seca
Brasão da freguesia da Ribeira Seca

É certo também que eles vieram de Portugal, pois consegui alcançar dois irmãos Medeiros que emigraram para o Brasil, mais precisamente para a vila (atual cidade) de Santa Luzia, na Paraíba e depois para o Seridó Potiguar.

Um deles fincou raízes na região da cidade potiguar de Caicó e seu irmão em Acari, de quem descendo. Isso tudo na primeira metade do século XVIII. Constam que eram oriundos da Ilha de São Miguel, nos Açores, mais precisamente da freguesia (aqui no Brasil é o distrito) da Ribeira Seca, também conhecida como São Miguel da Ribeira Seca. Esta freguesia pertence a cidade de Ribeira Grande.

Bem o que apurei sobre estes meus antepassados reproduzo mais adiante, logo após a lista com os nomes.

Mas voltando a questão judaica – Os antepassados destes irmãos Medeiros poderiam ter vindo da Espanha? Seriam eles eram judeus ou cristãos?

Confesso que nada sei. Mas buscar este passado remoto, as minhas raízes, isso é legal de se conhecer e espero aprofundar mais e mais estas pesquisas.

Segue a lista –

A.Abad, Abadía, Abarca, Abastos, Abaunza, Abbot, Abdallá, Abdalah, Abdallah, Abdelnour,Abdo, Abea, Abel, Abela, Abelado, Abella,Abellán, Abendaño, Abou, Abraham, Abrahams, Abrahán, Abrego, Abreu, Abrigo, Abril, Abufelo, Abugadba, Aburto, Acabal, Acebal, Acedo, Acevedo, Acosta, Acuña, Adames, Adamis, Adanaque, Adanis, Adis, Aedo, Agababa, Agámez, Agayón, Agrazal, Agreda, Aguayo, Agudelo, Agüero, Aguiar, Aguilar, Aguilera, Aguiluz, Aguilve, Aguinaga, Aguirre, Agurto,Agustín, Ahuja, Ahumada, Aiello, Aiza, Aizprúa, Aizpurúa, Alache, Alama, Alan, Alani, Alanis, Alanís, Alaniz, Alarcón, Alas, Alavez, Alayón, Alba, Albarello, Albarracín, Albelo, Albenda, Alburola, Alcaíno, Alcanzar, Alcázar, Alcazar, Alcibar, Alcócer, Alcóser, Alcóver, Alcózer, Aldana, Aldaña, Aldapa, Aldecoba, Alderrama, Alegría, Alejos, Alemán, Alexander, Alexandre, Alfaro, Alfonso, Algaba, Alguera, Aliaga, Alicama, Alier, Alizaga, Allan, Allon, Alluín, Almanza, Almanzar, Almanzo, Almaraz, Almazan, Almeida, Almendares, Almendárez, Almendáriz, Almengor, Almonte, Aloisio, Aloma, Alomar, Alonso, Alonzo, Alpírez, Alpízar, Altamirano, Altenor, Alterno, Altino, Altonor, Alva, Alvarado, Alvarenga, Alvares, Álvarez, Alvaro, Alvear, Alverde, Alvergue, Alvir, Alzate, Amado, Amador, Amalla, Amaris, Amaya, Amor, Amora, Amores, Amoros, Ampie, Ampié, Ampiée, Ampiee, Anaya, Anchetta, Anchez, Anchía, Anchieta, Andia, Andino, Andrade, André, Andrés, Andujar, Andújar, Andujo, Angele, Angelini, Anglada, Angulo, Anice, Anjos, Ansorena, Antelo, Antero, Antezana, Antich, Antillón, Antón, Antúnez, Anzora, Aparicio, Apolinar, Apollonio, Aponte, Aquiles, Aquino, Aragón,Aragones, Aragonés, Araica, Arana, Arancibia, Aranda, Arando, Arango, Aranjo, Araque, Arata, Araujo, Araus, Arauz, Araya, Arbaiza, Arballo, Arbelo, Arbizu, Arbizú, Arboleda, Arburola, Arca, Arcarate, Arce, Arceyudh, Arceyut, Arceyuth, Arcia, Arcía, Arciniegas, Ardila, Ardín, Ardón, Ardonnix, Areas, Arellano, Arena, Arenas, Arévalo, Argudo, Arguedas, Argüelles, Argüello, Argueta, Arguijo, Arias, Ariasdes, Arica, Arie, Ariño, Arispe, Arista, Ariza, Arjona, Armada, Armas, Armenta, Armento, Armeras, Armesto, Armijo, Arnáez, Arnau, Arnesto, Anuelo, Arnuero, Arone, Arosemena, Arquín, Arrazola, Arrea, Arredondo, Arreola, Arriaga, Arriagada, Arrieta, Arriola, Arrocha, Arroliga, Arrollo, Arrone, Arrones, Arronés, Arronez, Arronis, Arroniz, Arroyave, Arroyo, Arrubla, Artavia, Arteaga, Artecona, Artiaga, Artiga, Artiles, Artiñano, Artola, Artolozaga, Aruj, Aruizu, Arze, Arzola, Ascante, Ascencio, Asch, Asencio, Asero, Así, Asís, Aspirita, Astacio, Astete, Astorga, Astorquiza, Astúa, Asturias, Asunción, Asusema, Atehortúa, Atein, Atencio, Atensio, Atiensa, Atienza, Augusto, Ávalos, Avelar, Avellán, Avendaño, Ávila, Avilés, Avilez, Ayala, Ayales, Ayara, Ayarza, Aybar, Aycinena, Ayerdis, Aymerich, Azar, Azaria, Asofeifa, Azqueta, Azua, Azúa, Azuar, Azucena, Azul, Azuola, Azurdia.

B. Babb, Babar, Baca, Bacca, Bacigalupo, Badilla, Bado, Báez, Baeza, Baidal, Bairnales, Baizan, Bajarano, Balarezo, Baldares, Balday,Baldelomar, Balderas, Balderrama, Balderramos,Baldí, Baldi, Baldioceda, Baldivia, Baldizón,Balladares, Ballar, Ballard, Ballester, Ballestero,Ballesteros, Ballón, Balma, Balmaceda, Balmacera,Balon, Balser, Baltodano, Banegas, Banet, Banilla, Baños, Bañuelos,
Baquedano, Baquero, Baradín, Baraen, Barahoma, Barahona, Barajas,Baraquiso, Barat, Barba, Barbagallo, Barbagebra, Bárbara, Barbena, Barben,Barberena, Barbosa, Barboza, Barcelas, Barcelata, Barcenas, Barcia, Bardayan,Barguil, Barillas, Barletta, Baro, Barón, Barquedano, Barquero, Barquette, Barra, Barracosa, Barrante, Barrantes, Barraza, Barreda, Barrenechea, Barrera,Barrero, Barreto, Barrias, Barrientos, Barriga, Barrio, Barrionuevo, Barrios,Barroso, Barrot, Barrott, Barrundia, Barsallo, Bart, Bartal, Barteles, Bartels,Barth, Barvas, Baruch, Basadre, Basán, Basilio, Basti, Bastida, Bastos, Bastti,Batalla, Batán, Batista, Batres, Bautista, Bauzid, Baviera, Bayo, Bazán, Bazo,Beatriz, Becancur, Becerra, Becerril, Bedolla, Bedoya, Beeche, Beeché,Beingolea, Beita, Bejarano, Bejos, Bel, Belette, Belgrave, Bellanero, Bellido,Bello, Belloso, Belmonte, Beltrán, Beltre, Benach, Benambourg, Benambugr,Benambur, Benavente, Benavides, Benavídez, Benda, Bendaña, Bendig,Bendij, Benedictis, Beneditt, Benevides, Bengoechea, Benites, Benítez, Benito,Benzón, Berasaluce, Berciano, Berdasco, Berdugo, Berenzón, Bermejo,Bermeo, Bermudes, Bermúdez, Bernadas, Bernal, Bernardo, Bernat, Berrios,Berríos, Berrocal, Berrón, Bertel, Bertrán, Betancort, Bentancourt,Betancourth, Betancur, Betancurt, Beter, Beteta, Bethancourt, Betrano, Better,Biamonte, Binda, Blanco, Blandino, Blando, Blandón, Blau, Blum, Bobadilla,Bodán, Bogán, Bogantes, Bogarín, Bohorguez, Bohorquez, Bojorge, Bolaños,Bolívar, Bonice, Boniche, Bonichi, Bonilla, Borbas, Borbón, Borda, Bordallo,Borge, Borges, Borja, Borjas, Borjes, Borloz, Borras, Borrasé, Borredo,Borrero, Bosque, Botero, Boza, Bran, Bravia, Bravo, Brenes, Breve, Briceño,Brilla, Briones, Brito, Brizeño,Brizuela, Buencamino, Buendía, Bueno, Bueso,Buezo, Buga, Bugarín, Bugat, Bugria, Burgos, Burguera, Burgues, Burillo,Busano, Bustamante, Bustillo, Bustillos, Busto, Bustos, Buzano, Buzeta, Buzo.

C. Caamano, Caamaño, Cabada, Cabadianes, Cabal, Cabalceta, Caballero, Cabana, Cabaña, Cabeza, Cabezas, Cabistán, Cabral, Cabrera, Cabrerizo, Cáceres, Cadenas, Cadet, Cageao,Caicedo, Cairol, Cajas, Cajiao, Cajina, Cala, Calatayud, Calazán, Calcáneo, Caldas, Caldera, Calderón, Calero, Caliva, Calix, Calle, Calleja, Callejas, Callejo, Calles, Calvo, Calzada, Camacho, Camaño, Camarena, Camareno, Camarillo,Cambronero, Camona, Campabadal, Campabadall, Campodónico, Campos, Canales, Canalias, Canas, Candamo, Candelaria, Candelario, Canejo, Canessa, Canet, Canetta, Canizales, Canizález, Canizares, Canno, Cano, Canossa, Cantarero, Cantero, Cantillano, Canto, Cantón, Cañas, Cañizales, Cañizález, Capón, Carabaguias, Carabaguiaz, Caranza, Caravaca, Carazo, Carbalda, Carballo,Carbonell, Carbonero, Carcache, Carcachi, Cárcamo, Carcedo, Carcía, Cárdenas, Cárdenes, Cardona, Cardos, Cardoso, Cardoza, Cardoze, Cares, Carias, Caridad, Carit, Carlos, Carmiol, Carmona, Carnero, Caro, Carpio, Carranza, Carrasco, Carrasquilla, Carreño, Carrera, Carreras, Carrillo, Carrión, Carrizo, Carro, Cartagena, Cartago, Cartín, Carvajal, Carvalho, Carvallo, Casa, Casaca, Casafont, Casal, Casanova, Casañas, Cásares, Casas, Casasnovas, Casasola, Cascante, Casco, Casorla, Cassasola, Cásseres, Castaneda, Castañeda, Castañedas, Castaño, Castañón, Castaños, Castelán, Castellano, Castellanos, Castellón, Casteñeda, Castiblanco, Castilla, Castillo, Castro, Catania, Cateres, Catón, Cavalceta, Cavaller, Cavallo, Cavanillas, Cavazos, Cavero, Cazanga, Ceba, Ceballos, Ceciliano, Cedeño, Cejudo, Celada, Celedón, Celís, Centella, Centeno, Cepeda, Cerceño, Cerda, Cerdas, Cerna, Cernas, Cerón, Cerpas, Cerros, Cervantes, Cervilla, Céspedes, Cevallos, Cevedo, Cevilla, Chabrol, Chacón, Chamarro, Chamorro, Chanquín, Chanta, C 84 Chanto, Chavarría, Chavera, Chaverri, Chaves, Chávez, Chavira, Cheves, Chévez, Chica, Chicaiza, Chicas, Chilquillo, Chinchilla, Chinchillo, Chirino, Chirinos, Chocano, Choza, Cid, Cifuentes, Cintrón, Cisar, Cisne, Cisnero, Cisneros, Cisternas, Claro, Cleves, Cobaleda, Coe, Coello, Coen, Cohen, Coles, Colina, Colindres, Collado, Collina, Colom, Coloma, Colombo, Colomer, Concepción, Concha, Conde, Condega, Condes, Conedo, Conejo, Congosto, Conte, Contreras, Corales, Corao, Cordeiro, Cordero, Cordido, Córdoba, Cordón, Cordonero, Córdova, Cordoze, Corea, Corella, Cornavaca, Cornejo, Corona, Coronado, Coronas, Coronel, Corrales, Correa, Corredera, Corro, Corta, Cortaberría, Cortés, Cortez, Cortinez, Cortissoz, Corvera, Cosio, Cosiol, Cosme, Cossio, Costa, Cotera, Coto, Crespo, Crispín, Crispino, Cruces, Cruz, Cuadra, Cuadrado, Cuan, Cuaresma, Cuarezma, Cuarta, Cubas, Cubenas, Cubero, Cubías, Cubias, Cubilla, Cubillo, Cubillos, Cubria, Cuebas, Cuellar, Cuéllar, Cuello, Cuenca, Cuendis, Cuernavaca, Cuervo, Cuesta, Cueva, Cuevas, Cuevillas, Cunill, Cunillera, Curbelo, Curco, Curdelo.

D. Da Costa, Da Silva, Dacosta, D’Acosta,Dalorso, Dalorzo, Dalsaso, Damaceno, Damito,Daniel, Daniels, Dapuerto, Dapueto,Darce, Darche,Darcia, Darío, Dasadre, Dasilva, Dávalos, David,Dávila, Davis, D’Avola, De Abate, De Aguilar, De Alba, De Alvarado, De Benedictis, De Briones, De Camino, De Castro, De Céspedes, De Espeleta, De Ezpeleta, De Falco, De Faria, De Franco, De Jesús, De Jorge, De Juana, De La Cruz, De La Cuesta,De La Espriella, De La Fuente, De La Garza, De La Guardia, De La Herran, De La Hormaza, De La Jara, De La Mata, De La Nuez, De La O, De La Osa, De La Ossa, De La Paz, De La Peña, De La Rocha, De La Rosa, De La Selva, De La Teja, De La Torre, De La Trava, De La Vega, De Largaespada, De Las Casas, De Las Cuevas, De Las Heras, De Lemos, De León, De Lev, De Lima, De López, De Luz, De Miguel, De Miranda, De Moya, De Odio, De Óleo, De Ona, De Oña, De Paco, De Paredes, De Pass, De Paz, De Pazos, De Pedro, De Pinedo, De Prado, De Rayo, De Sárraga, De Sá, De Trinidad, De Ureña, De Vega, De Yglesias, Del Barco, Del Barrio, Del Bello, Del Busto, Del Carmen, Del Castillo, Del Cid, Del Pilar, Del Pimo, Del Río, Del Risco, Del Socorro,Del Solar, Del Valle, Delatolla, Delgadillo, Delgado, Deliyore, Dellale, Dellanoce, Delso, Delvo, Dengo, Denis, Dennis, Detrinidad, Devanda, Devandas, Devoto, Dias, Díaz, Díez, Díjeres, Díjerez, Dimas, Dinares, Dinarte, Discua, Doblado, Dobles, Dodero, Dalmus, Dalmuz, Domingo, Domínguez, Donado, Donaire, Donato, Doña, Doñas, Donzón, Dorado, Dormos, Dormuz,Doryan, Duar, Duares, Duarte, Duartes, Duenas, Dueñas, Duque, Duque Estrada, Durall, Durán, Durante, Duval, Duvall, Duverrán.

E.Echandi, Echavarría, Echeverri, Echeverría, Eduarte, Egea, Elías, Eligia, Elizalde, Elizonda, Elizondo, Elmaleh, Emanuel, Enrique, Enriques, Enríquez, Eras, Erazo, Escabar, Escalante, Escamilla, Escarré, Escobar, Escobedo, Escocia, Escorriola, Escosia, Escoto, Escovar, Escribano, Escude, Escudero, España, Esparragó, Espelerta, Espeleta, Espinach, Espinal, Espinales, Espinar, Espino, Espinosa, Espinoza, Espitia, Esquivel, Esteban, Esteves, Estévez, Estrada, Estrella.

F.Faba, Fabara, Fabián, Fábrega, Fabregat,Fabres, Facio, Faerrón, Faeth, Faiges, Fait, Faith,Fajardo, Falco, Falcón, Falla, Fallas, Farach, Farah,Fargas, Farias, Farías, Faries, Fariña, Fariñas,Farrach, Farrer, Farrera, Farrier, Fatjo, Fatjó, Faundez, Faune, Fava, Fazio, Fermández, Fermán,Fernandes, Fernández, Fernando, Ferrada, Ferrán, Ferrando, Ferraro,Ferreira,Ferreiro, Ferrer, Ferrero, Ferris, Ferro, Ferros,Fiallos, Fictoria, Fidalgo,Fierro, Figueiredo, Figuer,Figueras, Figueres, Figueroa, Filomena, Fletes,Fletis, Flores, Fonseca, Font, Forero, Formoso, Fornaguera, Fraga,Fraguela,Francés, Frances, Francesa, Francia, Francis,Franco, Fray, Frayle, Freer,Freira, Fresno, Freyre, Frías,Frutos, Fuentes, Fumero, Funes, Funez, Fúnez,Fuscaldo, Fusco.

G. Gabriel, Gadea, Gaete, Gago, Gainza, Gaitán,Galacia, Galagarza, Galán, Galarza, Galaviz, Galba,Galcerán, Galeano, Galeas, Galeno, Galera,Galiana, Galiano, Galindo, Galino, Galiñanes, Gallardo, Gallegas, Gallegos, Gallo, Galo, Galtés,Galván, Gálvez, Galvis, Gamarra, Gamazo, Gambo,Gamboa, Gámez, Garay, Garayar, Garbanzo, Garcés, García, Gardela,Gargollo, Garino, Garita, Garmendia, Garner, Garnier, Garreta, Garrido, Garro,Garrón, Garza, Garzel, Garzón, Garzona, Gaspar, Gateno,Gateño, Gavarrete,Gavilán, Gaviria, Gavosto, Gayoso,Gaytán, Gazel, Gazo, Geoyenaga, Gil,Gillén, Gilles, Giral, Giraldo, Giraldt, Giralt, Giro, Girón, Gladis, Goches,Góchez, Godines, Godínez, Godoy, Goic, Goicoechea, Goicuria, Goldenberg,Golfín, Gomar, Gómez, Gomis, Gondres,Góndrez, Góngora, Gonzaga,Gonzales, González, Gonzalo, Goñi, Gordon, Górgona, Goyenaga, Gracía,Gracias,Gradis, Grajal, Grajales, Grajeda, Grana,Granada, Granados, Granda,Grandoso, Granera, Granizo, Granja, Graña, Gras, Grau, Greco, Greñas,Gridalva, Grigoyen, Grijalba, Grijalda, Grijalva, Grillo, Guadamuz, Guadrón,Guajardo, Guardado, Guardano, Guardia, Guardián, Guardiola, Guarín,Guasch, Gudino, Gudiño, Güel, Güell, Güendel, Güendell, Guerra, Guerrero,Guevara, Guido, Guie, Guier, Guifarro, Guilá, Guillarte, Guillén, Guillermet,Guillermo, Guilles, Güillies, Guillies, Guillis,Guilloch, Guiménez, Guindos,Guitiérrez, Guitta, Guix,Gulubay, Gunera, Guntanis, Gurdián, Gurrero,Gurrola, Gustavino, Gutiérrez, Guzmán.

H.Haba, Habibe, Haenz, Harrah, Hénchoz,Henríquez, Henrriquez, Herdocia, Heredia,Herencia, Heríquez, Hermann, Hermosilla, Hernández, Hernando, Hernánez, Herra, Herradora,Herrán, Herrera, Herrero, Hevia, Hidalgo, Hierro,Hincapié, Hinostroza, Horna, Hornedo, Huerta,Huertas, Huete, Huezo, Hurtado, Hurtecho.

I. Ibáñez, Ibarra, Ibarras, Icaza, Iglesias, Ilama,Incapié, Incer, Incera, Inceras, Inces, Infante,Iracheta, Iraheta, Irastorza, Irias, Iribar, Irigaray,Irola, Isaac, Isaacs, Israel, Ivañez, Izaba, Izaguirre,Izandra, Iznardo, Izquierdo, Izrael, Izurieta

J.Jácamo, Jacobo, Jácome, Jácomo, Jaen,Jáenz, Jara, Jaramillo, Jarquín, Jarrín, Jerano, Jerez,Jiménez, Jimera, Jinesta, Jirón, Joseph, Jovel,Juárez, Junco, Juncos, Jurado.

K. Kaminsky, Klein, Kuadra.

L.La Barca, Labra, Lacarez, Lacayo, Lafuente,Lago, Lagos, Laguardia, Laguna, Lain, Laine,Lainez, Laitano, Lamas, Lamela, Lamicq,Lamugue, Lamuza, Lancho, Lanco, Landazuri,Lández, Lanuza, Lanza, Lanzas, Lapeira, Laporte,Laprade, Lara, Lares, Largaespada, Largo, Larios,Larrabure, Larrad, Larragan,Larragán, Larraguivel, Lasa, Lasantas, Láscares,Láscarez, Láscaris, Lasso, Lastra, Lastreto, Latiff,Latino, Latorraca, Laurito,Laverde, Lázaro, Lázarus, Lázcares, Lazo, Lazzo, L’Calleja, Leal, Leandra,Leandro, Ledezma, Ledo, Leitón, Leiva, Lejarza, Lemmes,Lemos, Lemus,Lemuz, Leñero, León, Lépiz, Levi, Leytón, Leyva,Lezama, Lezana, Lezcano,Lhamas, Lieberman, Lima, Linares, Linarte,Lindo, Lines, Líos, Lira, Lizama,Lizana, Lizano, Lizarme, Llabona, Llach, Llado, Llamazares, Llamosas, Llano,Lanos, Llanten, Llaurado, Llerena, Llibre, Llinas, Llobet, Llobeth,Llorca, Llorella, Llorens, Llorente, Llosent, Lloser, Llovera, Llubere,Loáciga,Loáiciga, Loáisiga, Loaissa, Loaiza, Lobo,Loeb, Loew, Loinaz, Lombardo,Londoño, Lope,Lopes, Lopera, López, Lopezlage, Loprete, Lora, Loredo, Lorente,Lorenz, Lorenzana, Lorenzen, Lorenzo, Loría, Lorío, Lorio, Lorz, Losada,Losilla,Louk, Louzao, Loynaz, Loza, Lozano, Luarca, Lucas, Lucena,Lucero,Lucke, Lugo, Luis, Luján, Luna, Lunaza, Luque, Luquez.

M.Macaya, Macedo, Maceo, Machado, Machín, Machuca, Macia, Macias, Macías, Macís, Macre, Macrea, Madariaga, Maderos, Madinagoitia, Madrano, Madrid, Madriga, Madrigal, Madril, Madriz, Maduro, Magalhaes, Magallón, Magaña, Magdalena, Maguiña, Mahomar, Maikut, Maingot, Mairena, Maisonave, Maita, Majano, Majarres, Malaga, Maldonado, Malé, Malespín, Malestín, Maltés, Maltez, Malvarez, Manavella, Mancheno, Mancia, Mancía, Mandas, Mangaña, Mangas, Mangel, Manjarres, Mans, Mansalvo, Mansilla, Manso, Mantanero, Mantica, Mantilla, Manuel, Manzanal, Manzanares, Manzano, Manzur, Marabiaga, Maradiaga, Marbes, Marbis, Marcenaro, March, Marchena, Marcia, Marcías, Marcillo, Marcos, Mardones, Marenco, Margules, María, Marichal, Marín, Marinero, Marino, Mariñas, Mariño, Marot, Maroto, Marqués, Marquez, Marreco, Marrero, Marroquín, Marsell, Marte, Martell, Martén, Martens, Martí, Martin, Martínez, Martins, Marvez, Mas, Masía, Masís, Maso, Mason, Massuh, Mastache, Mata, Matamoros, Matarrita, Mate, Mateo, Matera, Mateus, Matías, Matos, Mattus, Mattuz, Matul, Matus, Matute, Maurel, Maurer, Mauricio, Mauro, Maynard, Maynaro, Maynart, Mayo, Mayor, Mayorga, Mayorquín, Mayre, Mayrena, Maza, Mazariegos, Mazas, Mazín, Mazón, Mazuque, Mazure, Medal, Mederano, Mederas, Medeiros, Medina, Medinilla, Medoza, Medrano, Meira, Mejía, Mejías, Melara, Meléndez, Melgar, Melgarrejo, Mellado, Melo, Membreño, Mena, Menayo, Menchaca, Mendea, Méndez, Mendiantuba, Mendieta, Mendiola, Mendives, Mendivil, Mendoza, Mendreño, Menéndez, Meneses, Menjibar, Menjivar, Menocal, Meono, Meoño, Merayo, Meraz, Merazo, Merazzo, Mercado, Mercelina, Mercer, Mergarejo, Mérida, Merino, Merizalde, Merlo, Mesa, Mesales, Mesalles, Meseguer, Mesén, Messeguer, M 95 Mestayer, Meszaros, Meza, Michelena, Michelino, Micillo, Miguez, Mijangos, Mijares, Milanés, Milano, Millet, Mina, Minas, Minero,Miño, Miqueo, Miraba, Miralles, Mirambell, Miramontes, Miranda, Miro, Mirquez, Mitja, Mitjavila, Mizrachi, Mojarro, Mojica, Molestina, Molian, Molín, Molina, Molinero, Molleda, Mollinedo, Mollo, Moncada, Mondol, Mondragón, Moneda, Moneiro, Monestel, Monga, Mongalo, Móngalo, Monge, Mongillo, Monguillo, Monjarres, Monjarrez, Monjica, Monserrat, Montagné, Montalbán, Montalbert, Montalto, Montalván, Montalvo, Montana, Montanaro, Montandón, Montano, Montealegre, Montealto, Montecino, Montecinos, Monteil, Montejo, Montenaro, Montenegro, Montero, Monterosa, Monteroza, Monterrey, Monterrosa, Monterroso, Montes, Monterinos, Monteverde, Montiel, Montier, Montoya, Monturiol, Mora, Moraes, Moraga, Morales, Morán, Morazán, Moreira, Morejón, Morena, Moreno, Morera, Moriano, Morice, Morillo, Morín, Moris, Morise, Moro, Morote, Moroto, Morraz, Morúa, Morún, Morux, Morvillo, Moscarella, Moscoa, Moscoso, Mosquera, Motta, Moxi, Moya, Mozquera, Mugica, Muiña, Muir, Mulato, Munera, Mungía, Munguía, Munive, Munizaga, Muñante, Muñiz, Muñoz, Murcia, Murgado, Murgas, Murias, Murillo, Murilo, Muro, Mussap, Mussapp, Mussio, Mustelier, Muxo.

N.Naim, Naira, Nájar,Nájares, Najarro, Nájera, Nájeres, Naranjo, Narvaes, Narváez, Nasralah, Nasso, Navaro, Navarrete, Navarrette, Navarro, Navas, Nayap, Nazario, Nema, Nemar, Neyra, Nieto, Nino, Niño, Noble, Noboa, Noel, Nogebro, Noguera, Nomberto, Nora, Noriega, Norza, Nova, Novales, Novo, Novoa, Nuevo, Nuez, Nunga, Núñez.

O.Obaldía, Obanbo, Obando, Obares, Obellón, Obon, Obrego, Obregón, Ocampo, Ocampos, Ocaña, Ocaño, Ocario, Ochoa, Ocón, Oconitrillo, Ode, Odio, Odir, Odóñez, Odor, Oduber, Oguilve, Ojeda, Okarlo, Okendo, Olarte, Olaso, Olaverri, Olazaba, Olguín, Oliva, Olivar, Olivares, Olivárez, Olivas, Oliver, Olivera, Oliverio, Olivier, Oliviera, Olivo, Oller, Olmeda, Olmedo, Olmo, Olmos, Omacell, Omodeo, Ondoy, Onetto, Oñate, Oñoro, Oporta, Oporto, Oquendo, Ora, Orama, Oramas, Orantes, Ordeñana, Ordoñes, Ordóñez, Orduz, Oreamuno, Oreas, Oreiro, Orella, Orellana, Orfila, Orias, Orios, Orjas, Orjuela, Orlich, Ormasis, Ormeño, Orna, Ornes, Orochena, Orocu, Orosco, Orozco, Ortega, Ortegón, Ortiz, Ortuño, Orve, Osante, Oseda, Osegueda, Osejo, Osequeda, Oses, Osorio, Osorno, Ospina, Ospino, Ossa, Otalvaro, Otárola, Otero, Oto, Otoya, Ovares, Ovarez, Oviedo, Ozerio, Ozores, Ozuno.

P.Pabón, Pacheco, Paco, Padilla, Páez, Paguaga, País, Países, Paiz, Pajuelo, Palacino, Palacio, Palacios, Palaco, Paladino, Palazuelos, Palencia, Palma, Palomar, Palomino, Palomo, Pamares, Pampillo, Pana, Pandolfo, Paniagua, Pantigoso, Pantoja, Paña, Papez, Parada, Parado, Parajeles, Parajón, Páramo, Pardo, Paredes, Pareja, Pares, París, Parra, Parrales, Parreaguirre, Parriles, Parrilla, Pasamontes, Pasapera, Pasos, Passapera, Pastor, Pastora, Pastrán, Pastrana, Pastrano, Patiño, Patricio, Paut, Pauth, Pavez, Pavón, Paz, Pazmiño, Pazos, Pedraza, Pedreira, Pedreiro, Pedroza, Peinador, Peinano, Peláez, Pellas, Pellecer, Pena, Penabad, Penado, Pendones, Penón, Penso, Peña, Peñaloza, Peñaranda, Peñas, Peñate, Penzo, Peñón, Peraldo, Perales, Peralta, Peraza, Perdomo, Perea, Perearnau, Pereira, Pereiras, Perera, Pereyra, Pérez, Perezache, Pergo, Pericón, Perla, Perlaza, Pessoa, Peynado, Peytrequín, Pezo, Picado, Picasso, Picavea, Pichardo, Pico, Picón, Piedra, Piedrafita, Pila, Pilarte, Pimente, Pina, Pinada, Pinagel, Pinagen, Pinar, Pincai, Pincay, Pinchinat, Pineda, Pinel, Pinell, Piney, Pinillos, Pinkay, Pino, Pintado, Pinto, Pinzas, Piña, Piñar, Piñate, Piñeiro, Piñeres, Pinzón, Pío, Pion, Piovano, Piovet, Pitalva, Piza, Pizarro, Pla, Plá, Placeres, Pláceres, Plácido, Placidón, Plaja, Platero, Poblador, Poblete, Pocasangre, Pochet, Podoy, Pokoy, Pol, Polamo, Polo, Polonio, Poma, Pomar, Pomareda, Pomares, Ponares, Ponce, Pontigo, Pool, Porat, Porquet, Porras, Porta, Portela, Porter,Portero, Portilla, Portillo, Portobanco, Portocarrera, Portugués, Portuguez, Posada, Posla, Poveda, Povedano, Pozo, Pozos, Pozuelo, Prada, Pradella, Pradilla, Prado, Prat, Pratt, Pravia, Prendas, Prendis, Pretiz, Prettel, Prieto, Prietto, Primante, Prior, Prioto, Privatt, Procupez, Puente, Puentes, Puertas, Puga, Puig, Pujo, Pujol, Pulido, Pulis, Pull, Pulles, Pupo, Purcallas.

Q.Quedo, Queralt, Queredo, Querra, Quesada, Quevedo, Quezada, Quiel, Quijada, Quijano, Quinaz, Quinde, Quino, Quintana, Quintanilla, Quinter, Quintero, Quinto, Quiñones, Quiñónez, Quirce, Quiroga, Quirós, Quiroz.

R.Raa, Raabe, Raba, Rabetta, Raga, Raigada, Raigosa, Ramírez, Ramón, Ramos, Randel, Randuro, Rangel, Raphael, Rauda, Raudes, Raudez, Raventos, Raventós, Raygada, Rayo, Rayos, Real, Reales, Reazco, Recinos, Recio, Redondo, Regaño, Regidor, Regueira, Regueyra, Reich, Reina, Renderos, Rendón, Reñazco, Repeto, Repetto, Requene, Requeno, Requeño, Rescia, Resenterra, Restrepo, Retana, Reuben, Revelo, Revilla, Revollar, Revollo, Rey, Reyes, Reyna, Riba, Ribas, Ribera, Ribero, Ricardo, Ricaurte, Riera, Rileva, Rincón, Río, Ríos, Riotte, Rivalta, Rivardo, Rivas, Rivel, Rivera, Rivero, Riverón, Riveros, Rizo, Roa, Roba, Robelo, Roble, Robles, Robleto, Roboz, Roca, Rocabado, Rocca, Roch, Rocha, Roda, Rodas, Rodesma, Rodesno, Rodezno, Rodó, Rodo, Rodrigo, Rodríguez, Roe, Roig, Rois, Rojas, Rojo, Roldán, Romagosa, Román, Romano, Romero, Roque, Rosa, Rosabal, Rosales, Rosas, Rouillón, Rovillón, Rovira, Roviralta, Roy, Royo, Roys, Rozados, Rozo, Ruano, Rubí, Rubia, Rubín, Rubino, Rubio, Rucavado, Rudín, Rueda, Rugama, Rugeles, Ruh, Ruilova, Ruin, Ruiz, Romoroso, Russo.

S.Saavedra, Saba, Sabah, Saballo, Saballos, Sabat, Sabate, Sabba, Sabín, Sabogal, Saborío, Saboz, Sacasa, Sacida, Sada, Sadaña, Sáenz, Saer, Saerron, Sáez, Safiano, Sage, Sagel, Sagot, Sagreda, Saguero, Sala, Salablanca, Salamanca, Salas, Salazar, Salbavarro, Salcedo, Salcino, Saldaña, Saldivar, Salgada, Salgado, Salguera, Salguero, Saliba, Salinas, Salmerón, Salmón, Salom, Salomón, Salumé, Salume, Salustro, Salvado, Salvatierra, Salvo, Samaniego, Sambrana, Samper, Samudio, Samuel, San Gil, San José, San Juan, San Martín, San Román, San Silvestre, Sanabria, Sanahuja, Saname, Sanamucia, Sanarrusia, Sánchez, Sancho, Sandí, Sandigo, Sandino, Sandoval, Sandria, Sandy, Sanga, Sangil, Sanjines, Sanjuan, Sansebastián, Sansilvestre, Sanson, Sansores, Santa Ana, Santa Cruz, Santa María, Santacruz, Santamaría, Santana, Santander, Santiago, Santibanes, Santiesteban, Santillán, Santín, Santisteban, Santoanastacio, Santos, Sanvicente, Sanz, Saraiva, Saravanja, Saravia, Sardinas, Sardiñas, Sariego, Sarmiento, Sárraga, Sarratea, Sarraulte, Sarria, Sas, Sasso, Satjo, Sauceda, Saucedo, Sauza, Savala, Savallos, Savedra, Savinón, Saxón, Sayaguez, Scriba, Seas, Seballos, Secades, Secaida, Seco, Sedano, Sedo, Segares, Segovia, Segreda, Segura, Sehezar, Selaya, Selles, Selva, Selvas, Semerawno, Semeraro, Sepúlveda, Sequeira, Sermeño, Serra, Serracín, Serrano, Serrato, Serraulte, Serru, Serrut, Servellón, Sevilla, Sevillano, Sibaja, Sierra, Sieza, Sigüenza, Siguenza, Siles, Siliezar, Silva, Silvera, Silvia, Simana, Simón, Sinchico, Sio, Sion, Siri, Sirias, Siverio, , Siz, Sobalvarro, Sobrado, Sojo, Sol, Solana, Solano, Solar, Solares, Solarte, Soldevilla, Solé, Solemne, Soler, Solera, Soley, Solís, Soliz, Solno, Solo, Solórzano, Soltero, Somarriba, Somarribas, Somoza, Soria, Sorio, Soro, Sorto, Sosa, Sossa, Sosto, Sotela,Sotelo, Sotillo, Soto, Sotomayor, Sotres, Souto, Soutullo, Sovalbarro, Soza, Suárez, Suazao, Suazo, Subia, Subiros, Subirós, Subisos, Succar, Sueiras, Suñer, Suñol, Surroca, Suyapa, Suzarte.

T.Tabah, Tabares, Tablada, Tabor, Tabora, Taborda, Taco, Tagarita, Tagarró, Tal, Talavera, Taleno, Tamara, Tamargo, Tamayo, Tames, Tanchez, Tanco, Tapia, Tapias, Taracena, Tardencilla, Tarjan, Tarrillo, Tasara, Tate, Tato, Tavares, Tedesco, Teherán, Teijeiro, Teixido, Tejada, Tejeda, Tejos, Tellería, Telles, Téllez, Tello, Tellos, Tencio, Tenorio, Terán, Tercero, Terrade, Terrientes, Terrin, Terrín, Thames, Theran, Thiel, Thiele, Thuel, Tíjeres, Tijerino, Tinoco, Toala, Tobal, Tobar, Tobe, Tobella, Tobín, Tobón, Toledo, Toletino, Tomas, Tomás, Tomeu, Toribio, Torijano, Tormo, Toro, Torralba, Torre, Torrealba, Torregresa, Torregroza, Torrente, Torrentes, Torres, Tórrez, Tortós, Tortosa, Toruño, Tosso, Touma, Toval, Tovar, Trala, Traña, Traures, Travierzo, Travieso, Trediño, Treguear, Trejos, Treminio, Treviño, Triana, Trigo, Triguel, Triguero, Trigueros, Trilite, Trimarco, Trimiño, Triquell, Tristán, Triunfo, Troche, Trocanis, Troncoso, Troya, Troyo, Troz, Trueba, Truffat, Trujillo, Trullas, Trullás, Truque, Tula, Turcio, Turcios.

U.Ubach, Ubao, Ubeda, Ubico, Ubilla, Ubisco, Ubizco, Ucanan, Ucañan, Ugalde, Ugarte, Ujueta, Ulacia, Ulate, Ulcigrai, Ulcigral, Ulecia, Uley, Ulibarri, Ulloa, Umaña, Umanzor, Ungar, Urain, Uralde, Urbano, Urbina, Urcuyo, Urdangarin, Urea, Urela, Ureña, Urgellés, Uriarte, Uribe, Uriel, Urieta, Uriza, Uroz, Urquiaga, Urra, Urraca, Urrea, Urroz, Urruela, Urrutia, Urtecho, Urunuela, Urzola, Usaga, Useda, Uva, Uveda, Uzaga, Uzcategui.

V.Vadivia, Vado, Valdelomar, Valderama, Valderrama, Valderramo, Valderramos, Valdés, Valdescastillo, Valdez, Valdiva, Valdivia, Valdivieso, Valencia, Valenciano, Valentín, Valenzuela, Valera, Valerín, Valerio, Vales, Valiente, Valladares, Vallarino, Vallcaneras, Valldeperas, Valle, Vallecillo, Vallecillos, Vallejo, Vallejos, Valles, Vallez, Valls, Vals, Valverde, Vanegas, Vaquerano, Vardesia, Varela, Varga, Vargas, Vargo, Varsi, Varsot, Vartanian, Varth, Vasco, Vasconcelos, Vasílica, Vásquez, Vassell, Vaz, Veas, Vedoba, Vedova, Vedoya, Vega, Vegas, Vela, Velarde, Velasco, Velásquez, Velazco, Velázquez, Vélez, Veliz, Venegas, Ventura, Vera, Verardo, Verastagui, Verdesia, Verdesoto, Vergara, Verguizas, Vertiz, Verzola, Vesco, Viales, Viana, Viatela, Vicario, Vicente, Vico, Víctor, Victores, Victoria, Vidaechea, Vidal, Vidales, Vidalón, Vidaorreta, Vidaurre, Videche, Vieira, Vieto, Vigil, Vigot, Vila, Vilaboa, Vilallobos, Vilanova, Vilaplana, Villar, Villareal, Villarebia, Villareiva, Villarreal, Villarroel, Villas, Villaseñor, Villasuso,Villatoro, Villaverde, Villavicencio, Villeda, Villegas, Villejas, Villena, Viloria, Vindas, Vindel, Vinueza, Viñas, Víquez, Viscaino, Viso, Vivallo, Vivas, Vivero, Vives, Vívez, Vivies, Vivó, Vizcaíno, Vizcayno.

W.Wainberg, Wolf.

Y.Yaacobi, Yanarella, Yanayaco, Yanes, Yepez, Yglesias, Yllanes, Yurica, Yzaguirre.

Z.Zabala, Zabaleta, Zabate, Zablah, Zacarías, Zacasa, Zalazar, Zaldivar, Zallas, Zambrana, Zambrano, Zamora, Zamorano, Zamudio, Zamuria, Zapata, Zaragoza, Zárate, Zarco, Zaror, Zarzosa, Zavala, Zavaleta, Zayas, Zayat, Zecca, Zedan, Zegarra, Zelada, Zelaya, Zeledón, Zepeda, Zetina, Zonta, Zoratte, Zuleta, Zumba, Zumbado, Zúñiga, Zunzunegui.

Bem, como comentei anteriormente, este material me ajudou incentivou muito a buscar mais informações e o que apurei sobre o meu primeiro antepassado a chegar ao Brasil eu reproduzo agora….

Sebastião de Medeiros Matos – Natural da Ilha de São Miguel, nos Açores, Sebastião (também Sebastião Afonso de Medeiros, conforme alguns genealogistas) migrou para o Brasil na primeira metade do século XVIII, estabelecendo-se, inicialmente, em Santa Luzia, na Ribeira do Sabugi, na Paraíba, juntamente com seu irmão e companheiro de migração Rodrigo de Medeiros Rocha (nascido a 21 de janeiro de 1709, batizado no dia 26 seguinte, na igreja de São Pedro da Ribeira Seca, na mencionada Ilha de São Miguel).

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Igreja paroquial de São Pedro da Ribeira Seca (século XVI), onde meus antepassados foram batisados – Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/Ribeira_Seca_(Ribeira_Grande) 

Eles eram filhos de Manuel Afonso de Matos, Alferes, e Maria de Medeiros Pimentel, os quais haviam casado nos Açores, a 17 de junho de 1693, e, conforme o grande e seguro historiador e genealogista Olavo de Medeiros Filho, faleceram a 7 de novembro de 1729 e 27 de novembro de 1734, respectivamente, no lugar chamado Lomba de Santa Bárbara.

Pelo lado paterno, foram seus avós Rodrigo de Matos e Catarina de Fontes, e, pelo materno, Bartolomeu de Frias Camelo e Maria de Medeiros Rocha (casaram 31 de março de 1674), esta, filha de Francisco Lopes da Costa e Maria de Medeiros (casaram a 15 de outubro de 1650.

Em Santa Luzia, casaram-se ambos os irmãos com duas irmãs – Sebastião de Medeiros Matos, com Antônia de Morais Valcácer, e Rodrigo de Medeiros Rocha, com Apolônia Barbosa de Araújo. Eram elas filhas de Manuel Fernandes Freire, natural de Olinda, e de Antônia de Morais Valcácer, também Antônia de Morais, a qual era filha de Pedro Ferreira das Neves, conhecido como Pedro Velho, e sua mulher Custódia de Amorim Valcácer – ele, natural de Mamanguape, transladou-se para a Ribeira do Sabugi, onde viveu na Fazenda Cacimba da Velha e se tornou um patriarca e proprietário de muitas terras.

Aliás, juntamente com o cunhado Sebastião de Medeiros Matos, um filho homônimo do patriarca requereu a sesmaria transcrita abaixo, publicada por João de Lyra Tavares: 

“Nº 497 em 24 de Março de 1759 – Tenente Vicente Ferreira Neves e Tenente Sebastião de Medeiros, moradores nesta capitania, dizem que a custa de sua fazenda e risco de suas vidas, tinham descoberto sobre a serra da Borburema, sertões deste governo, terras devolutas e desaproveitadas, com sufficiencia de crear gados e como careciam de terras para os crear pretendiam que se lhes concedesse por sesmaria em nome de S.M. tres leguas de comprido e uma de largo, para ambos, na dita serra, logar chamado Albino riacho chamado Olho d’Agua Grande que nascia da pedra chamada o Fundamento cujas terras confrontam em muita distância pela parte do nascente com R.R.P.P. da companhia do sitio do Poço, pela parte do poente com terras do defunto Izidoro Hortins, pela do norte com as de Antonio de Araujo Frazão e Cosme Dias de Araujo e pela do sul com José da Costa Romeo ou com quem verdadeiramente pertencesse, podendo fazer do comprimento largura ou da  largura comprimento, pedindo em conclusão se lhe concedesse as ditas terras por sesmaria com as confrontações declaradas para fazer a sua situação e peão no dito logar chamado Albino e Riacho chamado Olho d’Agua Grande. Foi feita a concessão, no governo de José Henrique de Carvalho.”

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A cidade de Acari, na ribeira do Rio Acauã, no Seridó Potiguar, surgiu de um pouso de viajantes, a partir da construção da Capela de Nossa Senhora da Guia (foto) pelo sargento‐mor Manuel Esteves de Andrade, em 1737. Foi neste templo religioso que meus antepassados buscaram conforto espiritual no Brasil – Fonte – http://vlogdocatiripapo.blogspot.com.br/2010/04/cantos-de-acari-igreja-do-rosario.html

Posteriormente, o Alferes, depois Tenente e, finalmente, Capitão Sebastião de Medeiros Matos e sua mulher, Antônia de Morais Valcácer, passaram para o Seridó do Rio Grande do Norte, região vizinha do Sabugi, onde até hoje proliferam seus descendentes. Todos os estudiosos da história e da genealogia do Sabugi e do Seridó são unânimes em afirmar que daqueles dois casais – Sebastião de Medeiros Matos e Antônia de Morais Valcácer, Rodrigo de Medeiros Rocha e Apolônia Barbosa de Araújo – descendem todos os que portam o sobrenome Medeiros, originados do sertão do Rio Grande do Norte e do da Paraíba. Aqui se deve registrar, ainda, que um sobrinho dos dois irmãos, de nome José Inácio de Matos, igualmente açoriano, também esteve muito ligado a eles, havendo migrado junto ou chegado logo pouco tempo depois; ele casou com uma filha de Sebastião de Medeiros Matos, Quitéria Maria da Conceição. Não se sabe exatamente quando aqueles irmãos chegaram ao Brasil, mas é razoável acreditar que aportaram aqui no final da terceira década do século XVIII. Sabe-se que Rodrigo teve seu inventário iniciado em 1757, ficando seu irmão como tutor dos órfãos; sua viúva, Apolônia, faleceu e foi sepultada a 28 de novembro de 1802, estando com 88 anos de idade, conforme o registro do seu sepultamento. De Sebastião e de sua mulher, Antônia, não tenho as datas de falecimento, mas ele estava ainda vivo em 1793, com uma avançadíssima idade.

Estas informaçãoes são oriundas do site http://www.geocities.ws/dinoamedeiros/SebastiaoAfonsoMed.html

Bom, é isso pessoal, espero que tenham curtido esta viagem genealógica.

Entretanto, confesso que por mais que descubra coisas interessantes nesta questão, o que me dá orgulha mesmo de ser quem sou, é o fato de ser Nordestino. Talvez eu não fosse tão feliz em ser brasileiro se não tivesse nascido nesta região e morasse aqui.



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A BUSCA PELO JESUS DA HISTÓRIA

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CRISTO FOI BATIZADO POR JOÃO BATISTA NO RIO JORDÃO, ESCOLHEU DOZE DISCÍPULOS,
PREGOU PELA GALILEIA DURANTE MENOS DE UM ANO E FOI CRUCIFICADO. MAS ESSAS POUCAS CERTEZAS SOBRE SUA VIDA SÓ TORNAM AINDA MAIS INSTIGANTE AQUILO QUE NÃO SE SABE – E PROVAVELMENTE NUNCA SE SABERÁ – SOBRE ELE

Isabela Boscov

A fé cristã se fortaleceu no decorrer dos últimos vinte séculos não por se constituir em um impecável museu de relíquias capazes de narrar de forma coerente e incontestável a história de Jesus. A fé cristã se enriqueceu da adversidade e construiu uma vigorosa verdade teológica apesar das falhas gritantes dos registros históricos sobre o homem que mandou o apóstolo Pedro construir a sua Igreja. Sua passagem terrestre, no entanto, deitou sobre o tempo histórico marcas muito tênue. Fora os Evangelhos, textos sagrados do cristianismo, a figura de Jesus aparece citada apenas de forma cifrada ou pouco clara em obras escritas dezenas de anos depois de sua morte. Por essa razão, as raras descobertas arqueológicas que iluminam o período histórico de Jesus na Palestina são recebidas com grande curiosidade pelos estudiosos. Há dois anos, foi encontrada uma urna funerária de pedra gravada com a inscrição em aramaico “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. Passada a excitação inicial com o que parecia ser a primeira prova não textual da existência física de Jesus, as dúvidas prevaleceram. O fato de a relíquia ter sido removida há muitos séculos da terra, só agora encontrada e não se poder precisar onde andou por tanto tempo contribuiu para que a descoberta não fosse considerada definitiva. O episódio, porém, encerra a lição de que a força da palavra de Jesus independe das provas históricas. Estas, por sua vez, continuarão a ser buscadas com afinco e precisão crescentes.

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O Natal é uma data cristã em que a tradição menos se harmoniza com a história. Jesus não nasceu no ano que dá início à sua era, mas sim algo como seis anos antes – culpa de uma confusão entre os calendários romano e cristão. O local de nascimento de Jesus também é fonte de questionamentos. Ignora-se por que seus pais, Maria e José, que moravam em Nazaré, estariam em Belém no momento do parto. A explicação tradicional, de que teriam retornado à cidade natal de José para um censo, esbarra na falta de registros de alguma grande convocação desse tipo nesses anos. Os romanos, que dominavam a região, faziam censos em seu império para recolher tributos – e a lógica sugere que eles registravam seus contribuintes nos locais em que trabalhavam e residiam. Os Evangelhos de Lucas e Mateus, com pequenas discrepâncias, fazem narração semelhante do nascimento. Até o século XVIII, não havia a preocupação de procurar fatos que comprovassem os Evangelhos. Isso mudou. Diz o teólogo espanhol Julián Carrón: “Desde o início, a Igreja Católica acreditou que os Evangelhos tivessem origem na figura histórica de Jesus, e sempre os considerou testemunhos de fatos acontecidos. Apesar disso, a partir do iluminismo alguns estudiosos começaram a achar que os Evangelhos não tinham valor histórico e que era preciso encontrar outro tipo de correspondência entre eles e os fatos”.

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Os especialistas discutem livremente a função de proselitismo dos Evangelhos. A própria narração do Natal é interpretada como sendo uma espécie de esforço de propaganda. Belém era a cidade do rei Davi, uma ótima maneira de reforçar, a posteriori, a afirmação de que Jesus era o Messias: ele seria, assim, descendente pela linha paterna de um dos fundadores do judaísmo, e teria nascido na mesma cidade que ele. A estrela de Belém, citada apenas por Mateus, é outro mistério. Nascer no leste, aparecer sobre Jerusalém e então virar-se para o sul, na direção de Belém, como descreve o evangelista, é um comportamento no mínimo estranho para uma estrela. O enigma astronômico há séculos intriga os cientistas. Uma primeira resposta foi aventada em 1604, pelo astrônomo alemão Johannes Kepler. Ao observar uma conjunção de Júpiter, Saturno e Marte, ele calculou que o fenômeno teria ocorrido também em 6 a.C. – o possível ano do nascimento de Jesus –, produzindo impressão semelhante àquela descrita por Mateus. Outros estudiosos acreditam que o evangelista ficou tão encantado com a passagem do cometa Halley, em 66 D.C., que o teria incluído em sua narrativa. E há os que acham que a estrela de Belém não passa de um símbolo, lendário do começo ao fim, da chegada de um rei. “Os astrônomos nunca vão encontrar a verdadeira estrela de Belém, porque ela é produto da nossa imaginação: é a luz que brilha sobre o Cristo criança”, diz A.N. Wilson, autor de Jesus: A Life. Atribui-se, ainda, à imaginação dos artistas (e ao euro centrismo) o aspecto físico com que Jesus passou à história. Os longos cabelos castanhos aloirados, os traços esculpidos e os olhos claros são incongruentes com o biótipo de um palestino do século I. O mais provável é que ele fosse moreno, com olhos escuros e cabelos crespos – bem diferente, portanto, não só do Jesus da iconografia, como da imagem impressa no Sudário que está exposto em Turim, na Itália.

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A busca pelo Jesus histórico – como de resto da maioria das investigações materiais da Antiguidade – produz mais dúvidas do que respostas. Nem a morte do Nazareno na cruz, uma das poucas certezas da história, deixa de suscitar interrogações. No mundo greco-romano, não havia desonra maior do que a morte sem sepultura. Um corpo exposto ao tempo, aos olhares de estranhos, às feras e às aves era um insulto público, e significava também a destruição da identidade – um fim sem epitáfio e, portanto sem posteridade, uma preocupação suprema da Antiguidade. Por isso, para acrescentar injúria à tortura, os romanos crucificavam os escravos desobedientes e os presos políticos. Mesmo após o condenado expirar, os soldados continuavam a montar guarda: baixar um morto da cruz era um privilégio que exigia súplica, influência ou propina, ou todas as três coisas. Não é de estranhar que, dentre os milhares de pessoas que se calcula terem sido crucificadas nos arredores de Jerusalém durante o domínio romano, um único esqueleto tenha sido encontrado – o de um judeu de seus 20 anos de idade chamado Yehohanan, filho de Hagkol, como consta da inscrição em seu ossuário.

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A análise da ossada de Yehohanan, localizada em 1968, revela que suas mãos não foram pregadas à cruz: provavelmente, seus braços foram amarrados à trave, enquanto seus pés foram dispostos lateralmente à viga e atravessados por trás, na altura do calcanhar, por um pino de ferro. Como o pino entortou, não foi possível despregar o pé direito de Yehohanan, e sua família teve de enterrá-lo com um pedaço da cruz preso ao osso. Na suposição de o jovem judeu preservado no ossuário servir de modelo para a morte de Jesus Cristo – e ele é o único de que se dispõe –, ele levanta duas questões relevantes. A primeira é que é, sim, possível que Jesus tenha ganhado uma sepultura, apesar de não ser esse o costume. A outra é que, se as mãos e os pés de Jesus não foram perfurados por cravos, as chagas com que ele é descrito nos Evangelhos e habitualmente representado não correspondem aos seus ferimentos reais. Essas são meras suposições, claro, e é quase certo que nunca será possível prová-las ou desaprová-las. Na tentativa de retraçar os passos de Jesus, historiadores e arqueólogos esbarram continuamente em dilemas semelhantes: as evidências concretas são ínfimas, e por isso mesmo nem se pode descartá-las, nem tomá-las como indícios seguros.

Tácito
Tácito

A procura por traços concretos da existência de Jesus é relativamente recente. Começou com os movimentos racionalistas da virada do século XVII para o XVIII, quando ganhou força a ideia de que qualquer dúvida ou mistério poderiam ser desfeitos pela ciência – e, no espírito da época, o objetivo era menos verificar a existência de Jesus e mais negá-la como um mito comparável a tantos outros presentes na Bíblia. Hoje, não há mais como pôr em disputa o fato de que Jesus existiu. Ele é citado, ainda que de passagem, por dois cronistas não cristãos do período, o judeu Josefo e o romano Tácito. As fontes mais aceitas sobre a trajetória de Jesus – os Evangelhos Sinópticos, de Mateus, Lucas e Marcos – são consistentes com o que se sabe sobre a Palestina do século I, de forma que a chance de ser fruto da imaginação de seus autores é desprezível. Muitas informações podem ser tiradas também das Cartas de Paulo (anteriores aos Evangelhos em sua forma escrita), o mais instruído dos discípulos, e de fontes não canônicas, especialmente do Evangelho de Tomé, cujo texto integral foi descoberto em 1945 e desde então vem sendo objeto de grande atenção. Ainda que os consensos sobre a trajetória de Jesus sejam frágeis, os historiadores acreditam ser fato que ele tenha sido batizado no Rio Jordão pelo profeta João Batista, que tenha escolhido doze apóstolos, que tenha pregado pela Galileia – talvez numa missão muito curta, de menos de um ano –, e que tenha sido crucificado, muito provavelmente durante uma Páscoa. Essas certezas, porém, só tornam ainda mais instigante aquilo que não se conhece sobre Jesus, e que vai do prosaico, como a sua aparência física, ao absolutamente cifrado – de que forma ele teria passado os anos de sua adolescência e juventude, sobre os quais nenhuma pista confiável sobreviveu.

Mar da Galileia
Mar da Galileia

Mesmo o local mais sagrado da religião a que Jesus deu origem, a Igreja do Santo Sepulcro – erigida sobre a caverna em que o corpo de Jesus teria sido colocado por José de Arimatéia –, não está a salvo de incertezas. A igreja foi consagrada em 335, a mando do imperador Constantino (que instaurou o cristianismo como religião oficial do Império Romano), quando uma tumba que se acredita ser a de Cristo foi descoberta sob um templo pagão. Se sua descrição e localização conferem com os Evangelhos e a crônica do período, não há, por outro lado, provas arqueológicas que confirmem ser essa a sepultura de Jesus. Muito mais tênue ainda é a ligação que se pretende estabelecer entre Jesus e a seita dos essênios, cujos célebres Manuscritos do Mar Morto foram encontrados no fim da década de 40. Praticantes de um judaísmo ascético e radical, os essênios pareciam ter, conforme os documentos que legaram, muito em comum com o pensamento de Jesus – daí a hipótese de que Cristo tenha passado a juventude com eles. A teoria tem muitos adeptos, e outros tantos detratores. Itzhak Magen e Yuval Peleg, dois arqueólogos israelenses ligados aos órgãos históricos de seu país, argumentaram que um exame mais detido das cavernas de Qumran, onde estavam os manuscritos, sugere que elas funcionavam não como um refúgio de ermitãos, mas talvez como olaria, e que os pergaminhos foram simplesmente levados da biblioteca do templo de Jerusalém para lá, para sua proteção. Não seria, portanto, um lugar de estudo onde um jovem fosse se iniciar.

Cavernas de Qumran
Cavernas de Qumran

São remotas as chances de que, algum dia, venham a surgir as evidências diretas que tanto se buscam sobre Jesus. A Palestina era uma província menor, que interessava ao Império Romano apenas na medida em que se situava entre o Egito e a Síria. Menos importância equivale a menos documentos e monumentos – a primeira dificuldade no caminho da arqueologia. O ossuário do sumo sacerdote judeu Caifás, que entregou Jesus ao governador romano Pôncio Pilatos e exigiu sua execução, é dado como genuíno. Mas só há poucas décadas se encontrou uma laje com a inscrição do nome de Pôncio Pilatos. Até autenticar-se esse fragmento de pedra, o nome do governador romano existia apenas na literatura. Escavar em Jerusalém e arredores é, além disso, uma proposição delicada. A cidade vive uma divisão conflituosa entre as três religiões para as quais é sagrada – o cristianismo, o judaísmo e o islamismo –, e expedir uma autorização é uma questão que exige sensatez política e diplomática. Em anos recentes, com o recrudescimento das hostilidades entre israelenses e palestinos, a situação se agravou: das quase cinqüenta grandes escavações em andamento em Israel, apenas quatro continuam em atividade. Não há como garantir a segurança das demais. Finalmente, a região é o paraíso dos caçadores de troféus, que retiram peças de seu contexto para vendê-las – e, assim, eliminam quase todo o seu valor científico –, e dos arqueólogos ambiciosos, que anunciam descobertas bombásticas antes que elas possam ser analisadas por seus pares. Em agosto deste ano, por exemplo, o arqueólogo britânico Shimon Gibson anunciou com grande alarde ter encontrado a suposta caverna de João Batista, localizada no que é hoje um pequeno kibutz. Há indícios de que seguidores de João, ao menos, tenham usado o local, que conta com o que se julga ser uma pia batismal por onde escorreriam o óleo e a água empregados na unção. Qualquer outra hipótese, porém – como a de que João ou mesmo Jesus tenham administrado batismos ali, conforme especula Gibson –, é prematura.

João Batista
João Batista

A fé, claro, não precisa de provas que a confirmem, ou não levaria o nome de fé. Não precisa, mas, de alguma forma, sempre as deseja. Os Evangelhos descrevem a relutância de Jesus em fazer milagres, mas deixam entrever sua visão de que, ocasionalmente, esses sinais eram necessários. Conta-se também como, após a Ressurreição, Cristo deixou que o incrédulo São Tomé tocasse suas chagas para comprovar que era ele mesmo, o Filho de Deus, quem estava ali. Desde que o cristianismo começou a se espalhar – e ele se alastrou como um rastilho de pólvora pela Palestina e logo também por todo o mundo romano em suas primeiras décadas –, começaram a surgir também as relíquias: fragmentos da Cruz Verdadeira (que, fossem todos eles autênticos, teria dimensões descomunais), ossos de santos, frascos de sangue e toda uma miríade de testemunhos físicos de que Cristo, seus apóstolos e mártires caminharam sobre a Terra, gerando um culto que poderia muito bem ser caracterizado como fetichismo ou superstição. Na Idade Média, a Igreja muitas vezes se valeu da venda de relíquias e de indulgências como fonte de renda – um comércio que, durante uma visita a Roma, horrorizou o padre Martinho Lutero e acabou servindo como um dos estopins para a Reforma Protestante. Hoje o Vaticano desencoraja esse tipo de apego, ou, quando muito, o tolera, e trata as descobertas de possíveis relíquias com o máximo de circunspecção. Mesmo assim, elas ainda pipocam.

Para os cientistas esta seria uma possibilidade da face aproximada de Jesus Cristo
Para os cientistas esta seria uma possibilidade da face aproximada de Jesus Cristo

Quando se pensa no homem que fundou a maior religião monoteísta do planeta, resistente a 2.000 anos de sismos políticos e sociais, ao crescimento de outras religiões e às cizânias em seu próprio interior, é natural imaginá-lo voltado para nós, transmitindo para as gerações vindouras sua mensagem. Esse Jesus, contudo, é o da teologia. De acordo com a historiadora Paula Fredriksen, professora de escritura da Universidade de Boston, para encontrar o Jesus histórico deve-se visualizá-lo de outra forma: de costas para nós, e voltado para os seus contemporâneos e conterrâneos. O problema imediato de Jesus era fazer-se entender por eles, e foi para pessoas como ele próprio que Cristo elaborou seu discurso, ou que os evangelistas escreveram seus relatos. É preciso, então, primeiro entender a Palestina do século I e, em seguida, contrapor a ela os relatos dos Evangelhos – um exercício que pode render frutos surpreendentes.

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Diz a máxima – quase sempre verdadeira – que quem escreve a história são os vencedores. Os Evangelhos, porém, são a mais notável exceção a essa regra. Tudo sugere que os relatos de Mateus, Lucas, Marcos e João começaram a ganhar forma na segunda metade do século I, quando o cristianismo ainda era um movimento marginal, que apenas começava a ensaiar o seu passo decisivo – o de transpor a esfera do judaísmo para conquistar os gentios e se alastrar pelo mundo romano. Os Evangelhos estão carregados de marcas dessa trajetória. Eles assinalam, por exemplo, a relutância do romano Pôncio Pilatos em aceitar as acusações do sacerdote judeu Caifás e condenar Jesus à morte. Nas menções a Pilatos que sobreviveram na crônica política da época, contudo, o governador é retratado como um oficial brutal, que se excedia no zelo com que executava prisioneiros a ponto de incomodar Roma. Esse é um dos pontos em que os estudiosos convergem: a maneira como os Evangelhos mitigam a culpa de Pilatos, transferindo-a quase toda para o clero judaico, é uma herança clara do momento que o cristianismo atravessava por volta dos anos 60 e 70, de tentar seduzir Roma e forjar laços com ela. Do ponto de vista de um historiador, portanto, até em suas omissões ou contradições os Evangelhos são um documento historiográfico riquíssimo, repleto de pistas sobre as intenções de Jesus e sobre as tensões políticas a que ele e seus seguidores estavam submetidos.  

Flavius Josefus
Flavius Josefus

Essa tática – a de estudar o que não é dito – é, segundo Paula Fredriksen, útil também no caso do historiador judeu Josefo. O mais ativo cronista da região no século I, Josefo forneceu descrições detalhadas dos acontecimentos políticos e sociais. Mas não menciona fome, impostos escorchantes, violações flagrantes da lei judaica (por parte de Herodes Antipas, rei da Galileia  ou dos oficiais romanos) nem forte presença de tropas do invasor. Não relata, enfim, turbulências além do normal. O retrato consensual que se tem da região no início do século I é o de uma terra cultivada, muito populosa – outro cronista diz que nunca se andava um dia inteiro sem atravessar uma vila, uma aldeia ou uma cidade –, e que usufruía uma convivência não exatamente harmoniosa, mas também não particularmente tensa, com o poder romano. A Galileia era já muito romanizada, mas eram os judeus, e não os romanos, que a governavam, frisa Paula Fredriksen. Ou seja, a julgar pelo que narra Josefo, é muito mais lógico que Jesus tenha feito mais oposição a preceitos judaicos do que à dominação romana – o contrário do que dizem, por exemplo, alguns teólogos ligados à Teologia da Libertação, que gostam de ver em Jesus um proto-socialista.

Palestina hoje
Palestina hoje

O irlandês radicado nos Estados Unidos John Dominic Crossan, professor de estudos bíblicos da Universidade DePaul de Chicago e talvez o mais influente estudioso da área, vai mais fundo nesse panorama da Palestina. Em O Jesus Histórico, Crossan se vale de numerosos trabalhos de colegas seus para reconstruir um retrato minucioso dessa sociedade. E duas características da Palestina – assim como de toda a bacia do Mediterrâneo – são fundamentais para entender Jesus, diz ele. A primeira delas é o código de honra e vergonha, que assegurava à força a lealdade no interior das comunidades. Nesse sistema, famílias e clãs se tornavam pequenos soberanos, com poder de vida e morte sobre seus membros – e ai de quem transgredisse suas regras. Outro traço muito típico do Mediterrâneo, aponta o historiador, é o costume do apadrinhamento: tudo nesse universo dependia de intercessão, de que se pedisse um favor e alguém o concedesse.

John Dominic Crossan
John Dominic Crossan

Para as pessoas humildes que viviam espremidas entre os sistemas de honra e apadrinhamento, imagina John Dominic Crossan, o desejo de escapar não devia ser pequeno. Mas como alguém pode se subtrair à sociedade? Os cínicos – e a palavra aqui são derivados do grego para “canino”, sem o sentido atual – filosofaram uma resposta a essa pergunta: segundo os partidários dessa espécie de contracultura da Antiguidade (que achavam que se devia “latir” contra as injustiças), a pobreza levava à liberdade, que por sua vez levava à realeza – a um homem que é senhor de si mesmo. Não se tratava apenas de teoria. Os cínicos tinham diretrizes práticas em relação à aparência (cabelo comprido, manto e pés descalços), alimentação (tirada de um alforje) e moradia (proporcionada por quem se dispusesse a dar abrigo ao rebelde itinerante). No tempo de Cristo, os cínicos eram figuras comuns, e facilmente reconhecíveis por suas vestimentas, seu cajado e suas atitudes. Não eram benquistos pelas autoridades romanas, claro, porque enchiam de ideias as classes menos favorecidas. De certa forma, Jesus se encaixaria no papel de um cínico, diz Crossan – exceto pelo fato de que ele foi bem além da proposta do movimento. Jesus não pregava a autossuficiência, como os cínicos, mas sim a mais absoluta comensalidade, sem distinções entre homens e mulheres, pobres e ricos, gentios ou judeus, poderosos ou párias. Isso não desagradaria só aos romanos. Enfureceria acima de tudo os adeptos da lei judaica, que nesse momento atravessava uma fase de sectarismo pronunciado. E, como arrisca Crossan, mais desmoralizante e subversivo do que combater uma regra é simplesmente ignorá-la.

Muito já se discutiu se Jesus estaria em continuidade com o judaísmo ou em oposição aos padrões sociais e religiosos de sua época. Mas o inglês Christopher Tuckett, professor de estudos do Novo Testamento na Universidade de Oxford, levanta um argumento forte a favor do Jesus radical: o ministério de Cristo se mostrou tão ofensivo para parte de seus contemporâneos que eles o levaram à morte pelo método mais cruel de execução já inventado. Sob essa luz, muito do que Jesus pregou ganha um novo sentido. Tome-se, por exemplo, sua condenação do divórcio. “Todo aquele que se divorciar de sua mulher e desposar outra comete adultério contra a primeira”, diz o Evangelho de Marcos. Ora, à primeira vista essa parece ser uma posição conservadora. Mas é preciso reparar que Jesus fala que um homem que toma uma segunda esposa é um adúltero. Na lei judaica, só os homens, e não as mulheres podiam pedir o divórcio. Nivelando o direito feminino ao masculino, Jesus desfere um golpe contra o androcentrismo, um dos pilares da tradição.  

São Marcos
São Marcos

Nesse cenário, até o sacramento do batismo adquire um sentido subversivo. Na época em que Cristo viveu, o único local em que um judeu podia oferecer sacrifícios para purificar-se era o Templo de Jerusalém – caro chegar até lá, caro custear a estada e caro comprar, à entrada do templo, os animais que seriam sacrificados. Na prática, isso equivalia a excluir da redenção, por critérios econômicos, uma parcela da população. O batismo seria, assim, um atalho barato e viável para o poder divino: bastava um banho para limpar-se dos pecados – e bastava esse gesto para minar o monopólio dos sacerdotes sobre a salvação.

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Foi isso que o ministério de Jesus fez: solapar de forma sistemática a hierarquia. Quase todas as suas alusões ao Reino de Deus deixam transparecer essa preocupação. Um reino que é das crianças não seria, na Antiguidade, propriamente um reino dos inocentes – e sim daqueles sem poder nem direito de opinião ou escolha. Numa tradução mais correta do grego original, o reino dos pobres viraria o reino dos indigentes, dos indesejados. Nada fala mais alto, entretanto, que a decisão de Jesus de confiar ao seu apóstolo Pedro, e não ao seu irmão Tiago, os rumos de sua Igreja. Num ambiente regrado pelo apadrinhamento, seria natural que os familiares de Jesus se beneficiassem mais de seus dons, sua fama e seu poder crescente. Jesus, porém, preferiu quebrar a espinha aos usos e costumes de seu tempo. Seu reino, de certa forma, não estava no futuro: nesses termos, era já muito presente.

Cristo en Majestad, Fra Angelico

Por mais valioso que seja conhecê-la, a dimensão política de Jesus, entretanto, em nada ajuda a compreender a sua natureza essencial – a divina. É nesse ponto, em que fé e ciência colidem, que começam as questões verdadeiramente insolúveis. A Ressurreição é a passagem mais desafiadora dos Evangelhos para um historiador secular: ela é a chave para o reconhecimento da divindade de Jesus, mas a que menos possibilidade oferece de se encaixar numa perspectiva científica. Francis Watson, professor de exegese do Novo Testamento na Universidade de Aberdeen, na Escócia, argumenta que o problema de não ser possível provar os milagres e a ressurreição de Jesus – nem nunca ter sido possível provar fenômenos semelhantes – não é, em si só, prova em contrário de que tais fatos tenham sucedido. A questão levantada por Francis não é apenas técnica, ou um jogo de palavras. Qualquer tentativa de contar a história de Jesus pondo de lado a confissão de que ele é o Cristo – enfim, o filho de Deus e o próprio Deus – seria equivocada, diz o professor: separar Jesus, a figura histórica, de Cristo, a figura divina, significa desprezar exatamente o fator que confere a ele sua importância absoluta e insuperável. Não importa se se pensa que Jesus é o filho que integra a Santíssima Trindade, que era um profeta como qualquer outro de seu tempo ou que era meramente um lunático que se acreditava o Messias – Jesus será sempre definido como sendo o Cristo ou o não-Cristo. Será sempre definido, em suma, por uma indagação. Assim foi durante sua vida, na Galileia, quando seus próprios familiares duvidaram de sua origem divina, ou quando os aldeões que o viram expulsar os demônios do corpo de um homem o acusaram de ter esse poder por meio de Belzebu. E assim é hoje: quanto mais se tenta chegar ao Jesus “verdadeiro”, mais fé e história se entrelaçam. E mais o mistério se aprofunda. Mistério cuja chave Jesus mesmo produziu, ao afirmar: “Meu reino não é deste mundo”. 

A EXPULSÃO DOS JUDEUS DE PORTUGAL

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Expulsão dos judeus de Jerusalém pelo Imperador Adriano, 135 d.C. – Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/Judeus_em_Portugal

«Andem estes mal baptizados tão cheios de temor desta fera [a Inquisição] que pela rua vão voltando os olhos [para ver] se os arrebata, e com os corações incertos, como a folha da árvore movediça, caminham, e se param atónitos.»

Samuel Usque, Consolação às Tribulações de Israel, Diálogo III, Cap. 30, 1533.

Com o advento do Cristianismo, leis discriminatórias contra os judeus começaram a ser aprovadas – primeiro, pelos romanos, e depois pelos bárbaros Visigodos que invadiram a península em 409 d.C.. Entre outras coisas, foram proibidos os casamentos mistos entre judeus e cristãos e até mesmo instituída uma conversão forçada ao cristianismo (a qual não parece ter surtido grande efeito, visto que outras conversões em massa foram realizadas ao longo da História).

Em 711 d.C., tropas mouras invadem a Península Ibérica e derrotam os visigodos. Os mouros foram encarados como libertadores pelos judeus, uma visão até certo ponto correta, visto que cristãos e judeus eram incluídos pelos muçulmanos no grupo dos “Povos do Livro” (Bíblia, Torá etc). Os indivíduos que professavam tais crenças podiam continuar a praticá-las sob domínio islâmico, desde que pagassem uma taxa (a jizya) aos governantes e respeitassem as leis islâmicas.

Da Reconquista ao sequestro dos inocentes

Com a Reconquista da Península Ibérica pelos cristãos, os judeus passaram a temer novamente pela sua sorte. Todavia, pelo menos em Portugal até meados do século XV, eles gozaram de relativa liberdade, embora tivessem de pagar impostos escorchantes. Obtiveram mesmo grande destaque na vida pública portuguesa, como diplomatas, conselheiros reais, administradores, médicos, matemáticos, astrônomos, comerciantes e banqueiros (embora a maior parte da população judaica fosse composta de pessoas com profissões bem mais modestas, a saber, alfaiates, sapateiros, tecelões, pastores e pequenos comerciantes). Tal projeção começou a gerar descontentamento entre o povo, que sentia estar “a cristandade submetida à jurisdição judaica” (conforme queixou-se um frade em carta a Dom Afonso V). Tal clima de insatisfação generalizou-se e os judeus começaram a ser vítimas de perseguições e violência por parte de populares.

A situação na Espanha a partir de meados do século XIV já prenunciava o destino que esperava os judeus portugueses. Em Toledo, em 1355, 12 mil judeus morreram vítimas de perseguição religiosa; o número atingiu 50 mil em Palma de Mallorca, em 1391. Com o início das operações da Inquisição, ou “Santa Inquisição”, em 1478, o temor se espalhou entre os judeus da Espanha. Temendo pela própria sorte, milhares se converteram ao catolicismo, enquanto outro tanto buscou refúgio em Portugal. O volume de refugiados aumentou dramaticamente quando em 1492 foi decretada a expulsão dos judeus da Espanha.

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Esse grande contingente de milhares de judeus (93 mil segundo as contas do contemporâneo Andrés Bernaldez) fugitivos sem bens e dinheiro acirrou os ânimos dos portugueses.

A maioria dos fugitivos atravessou a fronteira em busca de abrigo, mediante licença de trânsito por oito meses atribuída pelo rei D. João II.

Além da ira popular, os imigrantes tiveram de lidar com a esperteza de Dom João II, que vislumbrou uma oportunidade de lucrar com a desgraça alheia: o rei instituiu a cobrança de dois escudos (Outros pesquisadores afirmam que era um tributo de 8 cruzados)  por cada imigrante, para que pudessem permanecer em Portugal por oito meses.

Como ao fim do prazo de permanência os judeus não conseguiram sair de Portugal (não havia navios suficientes para transporta-los – ou assim foi dito), o rei ordenou que fossem vendidos como escravos. As crianças entre dois e dez anos foram tiradas de seus pais, batizadas e levadas para colonizar as ilhas de São Tomé e Príncipe, onde a maioria não resistiu às condições do clima.

Apesar disso ainda vivem naquelas ilhas descendentes destes judeus, os quais, como prova de extrema resistência cultural, ainda conservam alguns costumes judaicos.

Da Expulsão ao Pogrom de Lisboa

Com a ascensão de Dom Manuel I ao trono português, em 1495, os castelhanos escravizados foram libertados. Todavia, o casamento anunciado do rei com a princesa Isabel da Espanha colocou os judeus novamente em clima de tensão. Isto porque o contrato de casamento incluía uma cláusula que exigia a expulsão dos hereges (mouros e judeus) do território português, tal como os reis espanhóis haviam feito em 1492. O rei Manual I tentou fazer com que a princesa reconsiderasse (já que precisava dos capitais e do conhecimento técnico dos judeus para o seu projeto de desenvolvimento de Portugal), mas foi tudo em vão. Em 5 de dezembro de 1496, Dom Manuel assinou o decreto de expulsão dos hereges, concedendo-lhes prazo até 31 de outubro de 1497 para que deixassem o país. Aos judeus, o rei permitiu que optassem pela conversão ou desterro, esperando assim que muitos se batizassem, ainda que apenas pro forma.

Os judeus, no entanto, não se deixaram convencer e a grande maioria optou por abandonar o país. O rei, ao ver cair por terra sua estratégia, mandou fechar todos os portos de Portugal – menos o porto de Lisboa – para impedir a fuga.

Uma vez que os Judeus constituíam uma parte importante da elite econômica, cultural e científica do país, o rei queria evitar a sua fuga e concentrou no porto de Lisboa cerca de 20 mil judeus, esperando transporte para abandonar o território português.

Em abril de 1497, o rei manda sequestrar as crianças judias menores de 14 anos, para serem criadas por famílias cristãs, o que foi feito com grande violência. Em outubro de 1497, os que ainda resistiam à conversão foram arrastados à pia batismal pelo povo incitado por clérigos fanáticos e com a complacência das forças da ordem.

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Uma das duas únicas gravuras sobreviventes até os dias atuais e intitulada em alemão “Von dem Christeliche – Streyt, kürtzlich geschehe – jm. M.CCCCC.vj Jar zu Lissbona – ein haubt stat in Portigal zwischen en christen und newen chri – sten oder juden, von wegen des gecreutzigisten [sic] got.” (Da Contenda Cristã, que recentemente teve lugar em Lisboa, capital de Portugal, entre cristãos e cristãos-novos ou judeus, por causa do Deus Crucificado”).

Foi desses batismos em massa e à força que surgiram os marranos, ou cripto-judeus, que praticavam o judaísmo em segredo embora publicamente professassem a fé católica.

Os “cristãos novos” nunca foram realmente bem aceitos pela população “cristã velha”, que desconfiava da sinceridade da fé dos conversos. Essa desconfiança evoluiu para a violência explícita em 1506, quando ocorreu o Progom de Lisboa. A peste grassava na cidade desde janeiro, fazendo dezenas de vítimas por dia. Em abril, mais uma vez insuflados por clérigos fanáticos, que culpavam os “cristãos novos” pela calamidade, o populacho investiu contra eles, matando mais de dois mil deles, entre homens, mulheres e crianças.

A nova diáspora

Para os judeus portugueses, o Pogrom de Lisboa foi a gota d’água final. Iniciava-se nova diáspora judaica, tendo alguns rumado para o norte da Europa, onde fundaram comunidades nos Países Baixos e Alemanha. Outros se dirigiram para o sul da França, e até mesmo para a Inglaterra. Alguns judeus preferiram retornar ao Oriente Médio, tendo sido bem recebidos pelos turcos otomanos.

 Expulsão dos judeus de Espanha em 1492,xilogravura, posteriormente colorida, de Michaly Von Zichy, 1880, AKG Imagens/Latins Tock – Fonte – http://www2.uol.com.br/historiaviva

Os judeus portugueses também chegaram com os holandeses na Capitania luso-brasileria de Nova Lusitânia, Pernambuco, e consecutivamente a toda região setentrional do Nordeste brasileiro, outrora conquistado aos portugueses pela Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, entre os anos de 1630 a 1654, onde fundaram no Recife, capital da Nova Holanda, a primeira sinagoga das Américas, a Sinagoga Kahal Zur Israel, sob a direção do grande Hakham Issac Aboab da Fonseca, que foi autor dos primeiros textos literários e religiosos escritos em língua hebraica nas Américas. Com a reconquista portuguesa do Nordeste setentrional do Brasil, e a proibição de praticar o judaismo, a comunidade dispersou-se, sendo que alguns voltaram para Amsterdã, outros migraram para outras colonias holandesas nas Américas do Sul, Central e do Norte e uma parcela permaneceu, refugiando-se nos sertões, interior do Nordeste Brasileiro onde se converteram em cripto-judeus.

Em Nova Iorque, que foi colonia holandesa com o nome de Nova Amsterdão, chegaram do Recife um grupo de 23 judeus em Setembro de 1654, onde fundaram a primeira comunidade judaica dessa cidade.

Embora a presença judaica no continente americano date de um século e meio antes da conquista da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais ao Nordeste brasileiro, os judeus convertidos (cristão-novos) fizeram parte da expedição portuguesa que, sob o comando do capitão Cabral, “descobriu” o Brasil em 22 de abril de 1500.

Mesmo depois da abolição do Tribunal do Santo Ofício, em 1821, o cripto-judaísmo continuou a ser praticado em Portugal, em especial na Beira Interior e Trás-os-Montes. Em Belmonte, só terminaria já depois do 25 de Abril.

Fonte – http://pt.wikipedia.org/wiki/Judeus_em_Portugal


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