NATAL E SEUS INTELECTUAIS NA VISÃO DE MARIA EUGÊNIA CELSO

Autor – Rostand Medeiros

Ela tinha um nome prá lá de pomposo. Típico de quem pertencia a elite imperial brasileira. Filha de Conde, neta do Visconde de Ouro Preto, o mesmo que presidia o Gabinete Imperial quando da deposição do Imperador Pedro II, a mineira Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça foi uma mulher que marcou época muito mais pela sua poesia, do que pela sua genealogia.

Maria Eugênia Celso

De extrema sensibilidade poética, atualmente esquecida do grande público, Maria Eugênia Celso viveu grande parte de sua vida na imperial cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Casada com um funcionário de carreira do Ministério da Fazenda, já mãe de dois filhos, iniciou carreira no jornalismo. Teve grande desenvoltura na imprensa carioca, onde publicava uma coluna diária no “Jornal do Brazil” e teve várias de suas poesias estampadas nas revistas “O Galo”, “Fon-Fon” e “Revista da Semana”, onde assinava com o pseudônimo de “Baby-Flirt”. Enveredou pelo rádio, onde desenvolveu e apresentou vários programas nas emissoras “Nacional”, “Sociedade” e “Jornal do Brazil”. Seu programa “Quartos de Hora Literária” marcou época em um país onde proporcionalmente se lia muito mais do que agora.

Maria Eugênia Celso era funcionária de carreira do Ministério da Educação e Cultura e participou ativamente do Movimento Feminista, em favor da emancipação política e social da mulher. Nesta luta ombreou junto com a cientista Bertha Lutz, grande líder feminista brasileira.

Sobre sua visita ao RN

Devemos recordar que em 1928, o Rio Grande do Norte foi o estado pioneiro na liberação do voto feminino, fato este que trouxe Bertha Lutz a Natal. Aqui ela proferiu palestras viajou pelo interior para apoiar a luta pela emancipação do voto feminino no estado. Certamente a ação de Bertha no Rio Grande do Norte, ajudou a Luíza Alzira Soriano Teixeira se tornar a primeira mulher a ocupar um cargo eletivo na América Latina. Em 1 de janeiro 1929 Alzira Soriano tomou posse como prefeita do município de Lages, obtendo 60% dos votos.

Posse de Alzira Soriano

Não sei se foi por conta deste contato com Bertha Lutz, que fez Maria Eugênia Celso vir a Natal em maio de 1930. Mulher literata e de fina cultura, na edição de 13 de junho de 1930, do jornal natalense “A Republica“, reproduzindo uma página do “Jornal do Brazil”, a autora de “Em pleno sonho”, “De relance” e “Vicentinho” (estes dois últimos publicados pela Editora Monteiro Lobato), faz um interessante relato de sua visita a capital potiguar e outras capitais do nordeste.

1ª edição de Vicentinho, em 1925

Se hoje um turista observa Natal principalmente pela ótica do mar (onde muitos pensam que a cidade se resume a Ponta Negra e Genipabu), naqueles tempos era o Rio Potengi a principal beleza natural que marcava a visão daqueles que vinha de fora. Isso talvez por ser no velho cais da Tavares de Lira que eles desembarcavam dos navios da “Companhia Nacional”, ou do “Lloyd”. Ou vai ver que Maria Eugênia Celso desembarcou na hora de um belo por do sol. Mas o certo é que ela se deslumbrou com “A deliciosa cidadezinha a beira rio”.

“A deliciosa cidadezinha a beira rio”

Chamou atenção da poetisa duas situações que, para época, eram sinônimos de modernidade e não passavam despercebidos aos olhos de pessoas de outras paragens; o plano geral de sistematização urbana, elaborado pelo arquiteto italiano Giacomo Palumbo e o trânsito de aviões estrangeiros pela cidade. Para Eugênia a topografia, as ruas largas, arborizadas, e o ir e vir dos roncos dos motores aéreos era um extraordinário elemento de progresso, “Digna capital da terra das asas”.

Campo de Parnamirim

Sua “introdutora diplomática” sobre as coisas do Rio Grande do Norte foi Palmyra Wanderley, que Maria Eugênia Celso chamou de “a moça mais popular e querida do Nordeste”. Mas a poetisa de Petrópolis teve oportunidade de se entrosar mais fortemente com o clã dos Wanderley, onde figuravam outros proeminentes intelectuais da província. Maria Eugênia Celso participou de momentos literários e entusiasticamente aplaudiu as declamações de Carolina e Jayme Wanderley.

Mas seus elogios a Palmyra são enormes. Para ela, a potiguar era uma digna representante da intelectualidade feminina do Nordeste, onde a igualava a várias poetisas e autoras, entre estas uma adolescente cearense chamada Raquel de Queiroz, que possuía em suas letras “um saborosíssimo cunho regional”.

Raquel de Queiroz

Além de Palmyra, certamente a poetisa teve como cicerone o então governador Juvenal Lamartine, ou então alguém ligado ao seu governo, pois fez uma visita ao Aeroclube do Rio Grande do Norte. No local conheceu seus aeroplanos, o instrutor Djalma Petit e os alunos da escola de aviação. Naquele mesmo mês de maio de 1930, no dia 28, um dos alunos que estiveram junto a poetisa morreria em um acidente aéreo. (Ver https://tokdehistoria.wordpress.com/2011/03/13/edgar-dantas-o-primeiro-civil-a-morrer-pilotando-um-aviao-no-brasil/)

Em um tempo onde viajar era uma descoberta e, descobertas não se fazem as carreiras, em nossa terra Maria Eugênia Celso passou doze encantadores dias.

Ao longo dos anos a poetisa se dedicou fortemente ao assistencialismo junto a várias entidades.

Pela sua luta junto à causa da adoção do voto feminino no Brasil, em 1931 foi nomeada representante do nosso governo no II Congresso Internacional Feminista . Um ano depois o país adotava o voto para as mulheres.

Maria Eugênia Celso faleceu em 1963.

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