O FAMOSO DEBATE ENTRE O ESCRITOR JAMES BALDWIN E O INTELECTUAL WILLIAM F. BUCKLEY NA UNIVERSIDADE CAMBRIDGE

Em breve completará 60 anos do dia que dois grandes intelectuais norte-americanos se enfrentaram em um debate histórico, sobre a tensa situação das divisões raciais dos Estados Unidos. Passadas tantas décadas, o evento não perdeu sua relevância e a fala do escritor negro James Baldwin continua marcante.

Fonte – Baseado no texto de Gabrielle Bello, em The American – Fonte – https://www.theatlantic.com/entertainment/archive/2019/12/james-baldwin-william-f-buckley-debate/602695/

Existe na Inglaterra uma sociedade de debate e liberdade de expressão chamada Cambridge Union Society, também conhecida como Cambridge Union, sendo essa a maior sociedade de alunos da Universidade de Cambridge, Inglaterra.

Brasão da Cambridge Union – Fonte – Wikipédia

Fundada em 1815, a Cambridge Union é a mais antiga sociedade de debates em funcionamento contínuo no mundo. É legalmente uma instituição de caridade autofinanciada, que possui e tem controle total sobre sua propriedade privada e edifícios no centro da cidade de Cambridge. Essa sociedade igualmente arrecada fundos para despesas de eventos e manutenção de seus edifícios por meio de taxas de associação e patrocínio, além de gozar de fortes relações com a famosa universidade, uma instituição acadêmica cuja fundação remonta ao ano de 1209.

Depois de mais de 200 anos, a Cambridge Union é mais conhecida por seus debates, que recebem atenção da mídia nacional e internacional. Em 18 de fevereiro de 1965, no seu principal auditório, completamente lotado na ocasião, houve um desses debates. E o que ali foi dito reverbera até hoje!

James Baldwin (esquerda) e William F. Buckley (direita) – Fonte – Dave Pickoff / AP / Bettmann / Getty / The Atlantic – Via – https://www.theatlantic.com/entertainment/archive/2019/12/james-baldwin-william-f-buckley-debate/602695/

Choque de Titãs

“O sonho americano está às custas do negro americano”, declarou James Arthur Baldwin (Nova Iorque, 2 de agosto de 1924 — Saint-Paul de Vence, 1 de dezembro de 1987)[1] em seu debate com William Frank Buckley Junior (Nova Iorque, 24 de novembro de 1925 – Stamford, 27 de fevereiro de 2008)[2]. Baldwin estava ecoando a moção do debate – que o sonho americano estava às custas dos negros americanos, com Baldwin a favor, Buckley contra.

A ênfase na palavra de Baldwin deixa seu ponto de vista claro. “Eu colhi o algodão e o levei para o mercado, e construí as ferrovias sob o chicote de outra pessoa para nada”, disse ele, sua voz subindo com a cadência do púlpito. “Por nada.” O auditório lotado ficou em silêncio. 

Prédio da Cambridge Union – Fonte – Wikipédia.

Aqui estava um choque de titãs diametralmente opostos: em um canto estava Baldwin, baixo, esguio, quase andrógino com seu rosto ainda jovem, a voz carregando as inflexões levemente cosmopolitas que ele tinha há anos. Ele era o radical do debate, um escritor estimado sem medo de condenar vulcanicamente a supremacia branca e o racismo antinegro de norte-americanos conservadores e liberais. No outro canto estava Buckley, alto, de pele clara, cabelo bem penteado e mandíbula rígida, suas palavras esculpidas com seu sotaque transatlântico característico, quase britânico. 

Se Baldwin – o virtuoso verbal que escreveu retratos comoventes da América negra e sobre a vida como um expatriado na Europa – defendeu a necessidade de mudança dos Estados Unidos, Buckley se posicionou como o moderado razoável que resistiu às transformações sociais que os líderes dos direitos civis pediam. principalmente o fim da segregação racial. Alguns dos alunos na plateia o conheciam como nada menos que o pai do conservadorismo americano moderno.

Um recente debate na Cambridge Union, com a presença do ator inglês Stephen Fry. Nesse mesmo local debateram Baldwin e Buckley em 1965 – Fonte – Wikipédia.

O apoio de Buckley ao direito do Sul à segregação e as condenações de Baldwin à América branca ocorreram contra o pano de fundo onde os Estados Unidos se encontrava profundamente dividido em 1965, tal como em 2022.

Mundos Diferentes

Uma pedra fundamental para o entendimento desse debate está nas diferenças marcantes em como Baldwin e Buckley foram criados. 

Enquanto Baldwin cresceu pobre no bairro do Harlem, Nova York, com predominância de residentes negros e pobres, Buckley foi cercado por privilégios. Sua mãe, Alöise Steiner Buckley, encheu sua casa com criados e tutores para seus dez filhos. Ela era profundamente católica, a semente das rígidas visões religiosas maniqueístas que seu filho adotaria. Ao longo de sua vida, Buckley se tornaria conhecido pela estrita divisão de “bem” e “mal” em sua visão de mundo, segundo a qual o catolicismo e o capitalismo eram bons, e o ateísmo e o socialismo exemplificavam o mal.

Também ficou claro para a descendência de Alöise o que ela pensava sobre quem deveria servir a quem na sociedade americana. Ela era “racista”, segundo lembrou o irmão de Buckley, o escritor e educador Fergus Reid Buckley, porque “assumia que os brancos eram intelectualmente superiores aos negros”. Mas ele acrescentou que “ela realmente amava os negros e se sentia seguramente confortável com eles desde a suposição de sua superioridade em intelecto, caráter e posição.”

Essa dinâmica peculiar e paternalista pressagiava a própria ideologia de William, em que mãe e filho acreditavam em manter as barreiras entre negros e brancos americanos como parte da cultura sulista. Quando adulto, Buckley costumava escrever que a segregação era uma necessidade, porque os americanos negros “ainda não” eram avançados o suficiente para serem iguais aos brancos, o que implica, com uma condescendência que ele talvez considerasse edificante, que eles poderiam um dia estar no mesmo nível.

Baldwin no debate de 18 de fevereiro de 1965.

Baldwin, ao contrário de Buckley, sofreu muito antes de alcançar a fama como autor. Ele deixou Nova York em 1948, quase sem um tostão, para a França, depois de decidir que não poderia mais sobreviver ao traumatizante racismo dos Estados Unidos — tanto nos estados do norte quanto do sul. Embora tenha encontrado algum descanso em Paris, ele ainda quase cometeu suicídio lá depois de ser preso pela polícia por suspeita de ter roubado o lençol de um hotel (o que não aconteceu). E ele continuou voltando para a seu país, tanto em seus livros quanto em suas viagens. Baldwin nunca se escondeu; em vez disso se colocou na linha de frente de uma batalha pelos direitos civis por nada menos que a alma dos Estados Unidos.

Pedra de Torque

Se não fosse o debate de 1965, Baldwin poderia nunca ter conhecido Buckley. Na verdade, Baldwin quase teve outro oponente. Antes de a Cambridge Union convidar Buckley, ela havia procurado políticos firmemente segregacionistas, que recusaram. Buckley parecia uma alternativa ideal: um crítico sociopolítico articulado e proeminente que evitava os epítetos racistas dos supremacistas brancos mais vocais do conservadorismo, mas que, no entanto, apoiava a segregação. Buckley viu o debate como uma chance de derrotar um de seus arqui-inimigos ideológicos em um palco público.

William F. Buckley no debate.

Para irritação de Buckley, embora não totalmente para sua surpresa, Baldwin fez uma performance empolgante. 

Baldwin declarou durante o debate que era “um grande choque por volta dos 5, 6 ou 7 anos de idade, descobrir que a bandeira à qual você jurou lealdade, junto com todos os outros, não prometeu lealdade a você.” Baldwin argumentou que os males da escravidão dificilmente haviam sido exorcizados após a abolição, mas que, em vez disso, o país ainda era essencialmente o mesmo para os negros americanos como era durante os dias da escravidão legal. 

Depois que Baldwin encerrou, ele foi aplaudido de pé, em uma rara manifestação da Cambridge Union. Nas imagens desse debate no YouTube, é nítido como James Baldwin fica até mesmo desconcertado diante da plateia.

Apresentação dos debatedores.

Quando chegou a sua vez, Buckley argumentou que Baldwin estava sendo tratado com luvas de pelica, por assim dizer, porque alegava ser uma vítima. “O fato de sua pele ser negra”, ele asseverou, “é totalmente irrelevante para os argumentos que você levanta”. Baldwin, disse ele lentamente e cheio de uma raiva silenciosa, era um inimigo violento do modo de vida sulista que proferiu “flagelações de nossa civilização” e da América como um todo. Forçar o sul americano a abandonar seu modo de vida e aceitar a integração imposta pelo governo, insistiu, seria imoral. 

Em última análise, o público discordou e Baldwin venceu o debate por 540 a 160 votos.

É difícil falar sobre Baldwin ou Buckley sem fazer referência a este encontro; tornou-se uma pedra de toque na vida de ambos os homens.

Segue a transcrição da fala de James Baldwin.

Auditório lotado.

Boa noite,

Encontro-me, não pela primeira vez, na posição de uma espécie de Jeremias. Por exemplo, não discordo do Sr. Burford de que a desigualdade sofrida pela população negra americana dos Estados Unidos atrapalhou o sonho americano. Na verdade, tem. 

Discordo com algumas outras coisas que ele tem a dizer. O outro elemento, mais profundo, de uma certa estranheza que sinto tem a ver com o ponto de vista de alguém. Tenho que colocar dessa maneira – o sentido, o sistema de realidade de alguém. Parece-me que a proposição perante a Câmara, e eu colocaria dessa forma, é o sonho americano às custas do negro americano, ou o sonho americano * é* às custas do negro americano. 

A questão está terrivelmente carregada, e então a resposta de alguém a essa questão – a reação de alguém a essa questão – tem que depender do efeito e, com efeito, de onde você se encontra no mundo, qual é o seu senso de realidade, qual é o seu sistema de realidade é. Isto é, depende de suposições que sustentamos tão profundamente que mal temos consciência delas.

Sejam brancos sul-africanos ou meeiros do Mississippi, ou xerifes do Mississippi, ou um francês expulso da Argélia, todos têm, no fundo, um sistema de realidade que os obriga a, por exemplo, no caso do exílio francês da Argélia, ofender razões francesas para ter governado a Argélia. 

O xerife do Mississippi ou do Alabama, que realmente acredita, quando se depara com um menino ou uma menina negra, que essa mulher, esse homem, essa criança devem ser loucos para atacar o sistema ao qual ele deve toda a sua identidade. Claro, para tal pessoa, a proposição que estamos tentando discutir aqui esta noite não existe. 

E, por outro lado, devo falar como uma das pessoas mais atacadas pelo que agora devemos chamar de sistema de realidade ocidental ou europeu. Que pessoas brancas no mundo, o que chamamos de supremacia branca – odeio dizer isso aqui – vem da Europa. Foi assim que chegou à América. Abaixo, então, qualquer que seja a reação de alguém a esta proposição, tem que ser a questão de se as civilizações podem ou não ser consideradas, como tais, iguais, ou se a civilização de alguém tem o direito de dominar e subjugar, e, de fato, de destruir outra. 

John F. Kennedy e sua esposa Jackie desfilando na Broadway em carro aberto em Nova York. Quando foi Presidente dos Estados Unidos e até a sua morte em 1963, John Kennedy desejava que a pauta dos direitos civis e do direito ao voto livre se tornasse realidade.

Agora, o que acontece quando isso acontece. Deixando de lado todos os fatos físicos que se podem citar. Deixando de lado estupro ou assassinato. Deixando de lado o catálogo sangrento da opressão, com o qual de certa forma já estamos familiarizados, o que isso faz ao subjugado, o mais privado, a coisa mais séria que isso faz ao subjugado, é destruir seu senso de realidade. Isso destrói, por exemplo, a autoridade de seu pai sobre ele. Seu pai não pode mais dizer nada a ele, porque o passado desapareceu, e seu pai não tem poder no mundo. Isso significa, no caso de um negro americano, nascido naquela república resplandecente, e no momento em que você nasce, já que não conhece nada melhor, todo pau e pedra e todo rosto são brancos.

E como você ainda não viu um espelho, supõe que também o é. É um grande choque, por volta dos 5, 6 ou 7 anos de idade, descobrir que a bandeira à qual você jurou fidelidade, junto com todas as outras pessoas, não jurou fidelidade a você. É um grande choque descobrir que Gary Cooper matou os índios, quando você estava torcendo por Gary Cooper, que os índios eram você. É um grande choque descobrir que o país que é o seu lugar de nascimento e ao qual você deve sua vida e sua identidade, não evoluiu, em todo o seu sistema de realidade, nenhum lugar para você. 

O descontentamento, a desmoralização e a distância entre uma pessoa e outra apenas com base na cor de sua pele, começa aí e acelera – acelera ao longo de uma vida inteira – até o presente quando você percebe que tem trinta anos e está passando por maus bocados para confiar em seus conterrâneos. Quando você tem trinta anos, já passou por um certo tipo de moinho. E o efeito mais sério do moinho pelo qual você passou é, de novo, não o catálogo do desastre, os policiais, os motoristas de táxi, os garçons, a senhoria, o senhorio, os bancos, as seguradoras, os milhões de detalhes, vinte e quatro horas por dia, o que significa que você é um ser humano sem valor. Não é isso. 

É nessa época que você começa a ver isso acontecendo, em sua filha ou em seu filho, ou em sua sobrinha ou sobrinho. E o efeito mais sério do moinho pelo qual você passou é, de novo, não o catálogo do desastre, os policiais, os motoristas de táxi, os garçons, a senhoria, o senhorio, os bancos, as seguradoras, os milhões de detalhes, vinte e quatro horas por dia, o que significa que você é um ser humano sem valor. 

Você já tem trinta anos e nada do que fez ajudou a escapar da armadilha. Mas o que é pior do que isso, é que nada do que você fez e, pelo que você pode dizer, nada do que você pode fazer, salvará seu filho ou sua filha de enfrentar o mesmo desastre e não impossivelmente chegar ao mesmo fim. 

Agora, estamos falando sobre despesas. Suponho que haja várias maneiras de nos dirigirmos a alguma tentativa de descobrir o que essa palavra significa aqui. Deixe-me colocar desta forma, que de um ponto de vista muito literal, os portos e os portos e as ferrovias do país – a economia, especialmente dos estados do Sul – não poderiam ser o que se tornou, se tivessem não teve, e ainda não tem, na verdade por muito tempo, por muitas gerações, mão de obra barata. Estou afirmando muito a sério, e isso não é um exagero: * Eu* colhi o algodão, * eu * levei-o para o mercado e * eu * construí as ferrovias sob o chicote de outra pessoa por nada. Por nada.

A oligarquia do Sul, que ainda hoje tem tanto poder em Washington, e, portanto, algum poder no mundo, foi criada pelo meu trabalho e meu suor, e pela violação de minhas mulheres e o assassinato de meus filhos. Isso, na terra dos livres e na casa dos bravos. E ninguém pode contestar essa afirmação. É uma questão de registro histórico.

De outra forma, esse sonho, e vamos chegar ao sonho em um momento, está às custas do negro americano. Você assistiu a isso no Deep South[3] com grande alívio. Mas não apenas no Deep South. No Deep South, você está lidando com um xerife ou um senhorio, ou uma senhoria ou uma garota do balcão da Western Union, e ela não sabe exatamente com quem está lidando, com isso quero dizer, se você não uma parte da cidade, e se você é um negro do norte, isso se mostra de milhões de maneiras. Então ela simplesmente sabe que é uma quantidade desconhecida, e ela não quer ter nada a ver com isso porque ela não quer falar com você, você tem que esperar um pouco para receber o seu telegrama. OK, todos nós sabemos disso. Todos nós já passamos por isso e, quando você se torna um homem, é muito fácil de lidar. Mas o que está acontecendo com a pobre mulher, a mente do pobre é o seguinte:

Bem, sugiro que, de todas as coisas terríveis que podem acontecer a um ser humano, essa é uma das piores. Eu sugiro que o que aconteceu com os sulistas brancos é, de certa forma, afinal, muito pior do que o que aconteceu com os negros lá porque o xerife Clark em Selma, Alabama, não pode ser considerado – você sabe, ninguém pode ser considerado um monstro total[4]. Tenho certeza que ele ama sua esposa, seus filhos. Tenho certeza, você sabe, ele gosta de ficar bêbado. Afinal, é preciso presumir que ele é visivelmente um homem como eu. 

Xerife Jim Clark – Fonte – Wikipédia.

Mas ele não sabe o que o leva a usar o porrete, a ameaçar com a arma e a usar o aguilhão. Algo terrível deve ter acontecido a um ser humano para poder colocar um aguilhão no peito de uma mulher, por exemplo. O que acontece com a mulher é horrível. O que acontece ao homem que o faz é, de certa forma, muito pior. Afinal, isso está sendo feito não há cem anos, mas em 1965, em um país que é abençoado com o que chamamos de prosperidade, uma palavra que não examinaremos muito de perto; com um certo tipo de coerência social, que se autodenomina uma nação civilizada e que defende a noção da liberdade do mundo. E é perfeitamente verdade do ponto de vista agora simplesmente de um negro americano. 

Qualquer negro americano que assista a isso, não importa onde esteja, do ponto de vista do Harlem, que é outro lugar terrível, tem que dizer a si mesmo, apesar do que o governo diz – o governo diz que não podemos fazer nada a respeito – mas se aquelas pessoas fossem brancas sendo assassinadas nas fazendas de trabalho do Mississippi, sendo levadas para a prisão, se aquelas fossem crianças brancas correndo para cima e para baixo nas ruas, o governo encontraria alguma maneira de fazer algo a respeito. 

Temos um projeto de lei de direitos civis agora em que uma emenda, a décima quinta emenda, quase cem anos atrás – odeio soar novamente como um profeta do Velho Testamento – mas se a emenda não fosse honrada então, eu teria qualquer razão para acreditar no projeto de lei de direitos civis será honrado agora. E depois de todos estarem lá, desde antes, sabe, muitas outras pessoas chegaram lá. Se é preciso provar o título de propriedade da terra, quatrocentos anos não bastam? Quatrocentos anos? Pelo menos três guerras? O solo americano está cheio de cadáveres de meus ancestrais. Por que é minha liberdade ou minha cidadania, ou meu direito de viver lá, como isso é concebivelmente uma questão agora? E eu sugiro ainda, e da mesma forma, a vida moral dos xerifes do Alabama e das pobres senhoras do Alabama – senhoras brancas – suas vidas morais foram destruídas pela praga chamada cor.

Correndo o risco de soar excessivo, o que sempre senti, quando finalmente deixei o país, e me encontrei no exterior, em outros lugares, e observei os americanos no exterior – e esses são meus compatriotas – e me preocupo com eles, e até mesmo se eu não fiz, há algo entre nós. Temos a mesma abreviatura, eu sei, se eu olhar para um menino ou uma menina do Tennessee, de onde eles vieram no Tennessee e o que isso significa. 

Nenhum inglês sabe disso. Nenhum francês, ninguém no mundo sabe disso, exceto outro homem negro que vem do mesmo lugar. Observamos essas pessoas solitárias negando o único parente que possuem. Falamos sobre integração na América como se fosse um grande enigma novo. 

O problema na América é que estamos integrados há muito tempo. Coloque-me ao lado de qualquer africano e você verá o que quero dizer. Minha avó não era uma estupradora. O que não enfrentamos é o resultado do que fizemos. O que se leva o povo americano a fazer por todos nós é simplesmente aceitar nossa história. Eu estava lá não apenas como escrava, mas também como concubina. Afinal, conhece-se o poder que pode ser usado contra outra pessoa se você tiver poder absoluto sobre essa pessoa.

Ao observar os americanos na Europa, pareceu-me que o que eles não sabiam sobre os europeus era o que não sabiam sobre mim. Eles não estavam tentando, por exemplo, ser desagradáveis ​​com a garota francesa ou rudes com o garçom francês. Eles não sabiam que feriam seus sentimentos. Eles não tinham nenhum senso de que essa mulher em particular, este homem em particular, embora falassem outra língua e tivessem maneiras e maneiras diferentes, era um ser humano. 

E eles andaram por cima deles, o mesmo tipo de ignorância branda, condescendência, charme e alegria com que sempre me deram tapinhas na cabeça e me chamaram de Shine e ficavam chateados quando eu ficava chateado. O que é relevante nisso é que enquanto há quarenta anos, quando nasci, a questão de ter que lidar com o que não é dito pelo subjugado, o que nunca é dito ao mestre, de ter que lidar com essa realidade era uma possibilidade muito remota. Não estava na mente de ninguém. 

Quando eu era criança, aprendi nos livros de história americanos que a África não tinha história, nem eu. Que eu era um selvagem de quem quanto menos falava melhor, que fora salvo pela Europa e trazido para a América. E, claro, eu acreditei. Eu não tive muita escolha. Esses eram os únicos livros que existiam. Todos os outros pareciam concordar.

Se você sair do Harlem, sair do Harlem, no centro da cidade, o mundo concorda que o que você vê é muito maior, mais limpo, mais branco, mais rico e mais seguro do que onde você está. Eles recolhem o lixo. Obviamente, as pessoas podem pagar seu seguro de vida. Seus filhos parecem felizes e seguros. Você não é. E você volta para casa, e parece que, é claro, que é um ato de Deus que isso seja verdade! Que você pertence ao lugar onde os brancos o colocaram.

Somente a partir da Segunda Guerra Mundial que existe uma contra imagem no mundo. E essa imagem não surgiu por meio de qualquer legislação ou parte de qualquer governo americano, mas pelo fato de que a África de repente estava no palco do mundo, e os africanos tinham que ser tratados de uma forma que nunca haviam sido tratados antes. Isso deu a um negro americano, pela primeira vez, uma sensação de si mesmo além do selvagem ou do palhaço. Ele criou e criará muitos enigmas. 

Uma das grandes coisas que o mundo branco não sabe, mas acho que sei, é que os negros são como todo mundo. Utilizou-se o mito do negro e o mito da cor para fingir e supor que se tratava, essencialmente, de algo exótico, bizarro e praticamente, segundo as leis humanas, desconhecido. Infelizmente, isso não é verdade. Também somos mercenários, ditadores, assassinos, mentirosos. Nós também somos humanos.

O que é crucial aqui é que, a menos que consigamos aceitar, estabelecer algum tipo de diálogo entre aquelas pessoas que eu finjo que pagaram pelo sonho americano e aquelas outras pessoas que não o realizaram, estaremos em apuros terríveis. 

Quero dizer, enfim, o último, é isso que mais me preocupa. Estamos sentados nesta sala, e todos nós somos, pelo menos eu gostaria de pensar que somos relativamente civilizados, e podemos conversar uns com os outros. Pelo menos em certos níveis para que possamos sair daqui presumindo que a medida de nossa iluminação, ou pelo menos, nossa polidez, tem algum efeito no mundo. Pode não ser.

Foto da visita de Bobby Kennedy a Natal, junto a com a sua esposa Ethel, em 1965.

Lembro-me, por exemplo, quando o ex-procurador-geral, senhor Robert Kennedy, disse que era concebível que em quarenta anos, na América, pudéssemos ter um presidente negro. Isso soou como uma declaração muito emancipada, suponho, para os brancos. Eles não estavam no Harlem quando essa declaração foi ouvida pela primeira vez. E eles não estão aqui, e possivelmente nunca ouvirão as risadas e a amargura e o desprezo com que esta declaração foi saudada. 

Do ponto de vista do homem da barbearia do Harlem, Bobby Kennedy[5] só chegou aqui ontem e já está a caminho da presidência. Estamos aqui há quatrocentos anos e agora ele nos diz que talvez daqui a quarenta anos, se você for bom, podemos deixá-lo se tornar presidente.

O que é perigoso aqui é se afastar de – se afastar de – qualquer coisa que qualquer americano branco diga. O motivo da hesitação política, apesar do deslizamento de terra de Johnson, é que um foi traído por políticos americanos por muito tempo. E eu sou um homem adulto e talvez eu possa argumentar com isso. Eu certamente espero que possa ser. 

Martin Luther King em Washington – Fonte – Wikipédia.

Mas eu não sei, e nem Martin Luther King[6], nenhum de nós sabe como lidar com aquelas outras pessoas que o mundo branco ignorou por tanto tempo, que não acreditam em nada que o mundo branco diz e não acreditam inteiramente qualquer coisa que eu ou Martin estivermos dizendo. E não se pode culpá-los. Você observa o que aconteceu com eles em menos de vinte anos.

Parece-me que a cidade de Nova York, por exemplo – este é o meu último ponto – há muito tempo tem negros nela. Se a cidade de Nova York foi capaz, como de fato tem sido capaz, nos últimos quinze anos de se reconstruir, demolir prédios e levantar outros novos, no centro da cidade e por dinheiro, e não fez nada exceto construir conjuntos habitacionais no gueto para os negros. E, claro, os negros odeiam. 

Atualmente, a propriedade realmente se deteriora porque as crianças não podem suportá-la. Eles querem sair do gueto. Se as pretensões americanas estivessem baseadas em uma avaliação mais sólida e honesta da vida e de si mesmos, não significaria para os negros quando alguém disser “renovação urbana” que os negros podem simplesmente ser jogados na rua. Isso é exatamente o que significa agora. Este não é um ato de Deus. 

Estamos lidando com uma sociedade feita e governada por homens. Se o negro americano não estivesse presente na América, estou convencido de que a história do movimento operário americano seria muito mais edificante do que é. É uma coisa terrível para um povo inteiro se render à noção de que um nono de sua população está abaixo deles. 

E até aquele momento, até que chegue o momento em que nós, os americanos, nós, o povo americano, possamos aceitar o fato, que eu tenho que aceitar, por exemplo, que meus ancestrais são brancos e negros. Que naquele continente estamos tentando forjar uma nova identidade para a qual precisamos uns dos outros e que não estou sob a tutela da América. 

Não sou objeto de caridade missionária. Eu sou uma das pessoas que construiu o país – até o momento, quase não há esperança para o sonho americano, porque as pessoas a quem é negada a participação nele, por sua própria presença, irão destruí-lo. E se isso acontecer, é um momento muito grave para o Ocidente.

Obrigado.

NOTAS

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[1] Escritor e dramaturgo, é considerado um dos maiores escritores nascido nos Estados Unidos no século XX, Baldwin abriu novos caminhos literários com a exploração de questões raciais e sociais em suas muitas obras. Ele era especialmente conhecido por seus ensaios sobre a experiência negra na América.

[2] Escritor, intelectual e comentarista político americano. Fundou a revista National Review em 1955, tendo grande impacto no estímulo ao pensamento conservador nos Estados Unidos. Ele apresentou 1.429 edições do programa de televisão “Firing Line” entre 1966 e 1999, onde ficou conhecido por seu sotaque distinto e amplo vocabulário. Ele escreveu colunas para vários jornais e vários romances de espionagem. Seu estilo de escrita era conhecido pela eloquência e sagacidade.

[3] O Deep South é uma sub-região cultural e geográfica no sul dos Estados Unidos. O termo foi usado pela primeira vez para descrever os estados daquele país mais dependentes de plantações e escravidão durante o período inicial da história dos Estados Unidos. A região sofreu dificuldades econômicas após a Guerra Civil Americana e foi (e ainda é) um importante local de tensão racial. O Movimento dos Direitos Civis nas décadas de 1950 e 1960 ajudou a inaugurar uma nova era, às vezes chamada de Novo Sul.

[4] Baldwin se refere ao xerife Jim Clark, da cidade de Selma, Alabama, que entre 7 e 25 de março de 1965 usou de extrema violência contra os participantes de três marchas pacíficas, organizadas pelos manifestantes pelos direitos civis, na Estrada 54, que liga a cidade de Selma a Montgomery, capital do Alabama. Após as cenas das ações por ele comandada terem sido divulgadas em cadeia nacional de TV, Lyndon B. Johnson, o então presidente dos Estados Unidos, emitiu uma declaração imediata “deplorando a brutalidade com que vários cidadãos negros do Alabama foram tratados”.

[5] Robert Francis Kennedy, apelidado de Bobby e também RFK, foi procurador-geral dos Estados Unidos de 1961 até 1964 tendo sido um dos primeiros a combater a Máfia, e Senador por Nova Iorque de 1965 até seu assassinato em junho de 1968. Ele foi um dos dois irmãos mais novos do presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy.

[6] Martin Luther King Jr. foi um pastor batista e ativista político estadunidense que se tornou a figura mais proeminente e líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos de 1955 até seu assassinato em 1968.

A TUMULTUADA CHEGADA DO ROCK AND ROLL A NATAL

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Fonte – crandall1950syoungculture.files.wordpress.com

Rostand Medeiros – Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte 

Sabemos que durante a Segunda Guerra Mundial a cidade de Natal sofreu muitas mudanças com a presença das tropas estadunidenses e suas bases militares. Ocorreram, além da visível mudança demográfica da cidade, muitas alterações no quesito de comportamento, o acesso a novos meios de informações e novos padrões econômicos.

Estilos, sons e acessórios comuns aos militares americanos foram incorporados ao dia a dia dos jovens natalenses e, aparentemente, esse desejo de absolver o que vinha da nação considerada na época “o grande irmão do norte” continuou nos anos seguintes e não parou mais.

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Militares norte-americanos em Parnamirim Field – Fonte – Getty Images

Mas nem tudo que veio dos “States” foi aceito de forma tranquila em Natal!

E  uma dessas rejeições foi com o Rock and roll.

Mas quando ele desembarcou na capital potiguar?

Música De Origem Negra Em Uma Terra Racista

Se as origens do Rock and roll têm sido até hoje ferozmente debatido por comentaristas e historiadores de música, existe o consenso que o rock surgiu no sul dos Estados Unidos. E foi através da reunião de várias influências e de uma combinação de diversos gêneros musicais populares que incorporaram principalmente a fusão da tradição musical africana com a instrumentação europeia. E tudo começou basicamente em julho de 1951. 

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Alan Freed – Fonte – http://www.wikipedia.org

Alan Freed era o disck-jockey de um programa de rádio na cidade de Cleveland, no estado de Ohio (EUA), e um dia percebeu em uma loja de discos alguns jovens que dançavam freneticamente ao som de uma música alucinante, que até então ele nunca havia parado para ouvir.

Era o Rhythm and blues, ou R&B, um som muito mais conhecido entre a comunidade negra dos Estados Unidos na época e distante dos brancos anglos saxões pelo peso do racismo existente naquele país.

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Cartaz do Moondog Coronation Ball – Fonte – http://www.wikipedia.org

Por sugestão de Leo Mintz, o dono da loja, Freed passou a divulgar aquele ritmo na rádio WJW-AM, onde trabalhava. Logo, encantado com o som frenético, Freed criou um programa chamado Moondog Rock Roll Party, inspirado na velha canção “My Daddy he Rocks me With a Steady Roll”.

No ano seguinte, Freed, Mintz e o promotor Lew Platt decidiram produzir um concerto com os artistas e bandas de R&B. No dia 21 de março de 1952 foi realizado no Cleveland Arena, um local com capacidade para 10 mil pessoas, o Moondog Coronation Ball, que é considerado o primeiro show de Rock and Roll da História. O show foi um sucesso e com casa cheia.

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Show do dia 21 de março de 1952 no Cleveland Arena, o primeiro show de Rock and Roll da História – Fonte – http://www.wikipedia.org

Um ano depois uma música denominada “Rock Around the Clock” e interpretada pela banda Bill Haley and his comets alucinou os jovens norte-americanos e tocou fogo no país. Devido ao rápido sucesso de “Rock Around The Clock”, que foi aclamado como o hino oficial do Rock and roll, outros artistas como Chuck Berry, Little Richard e Jerry Lee Lewis se juntaram a Bill Haley.

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Bill Haley and his comets – Fonte – obaudoedu.blogspot.com.br

Não demorou e um rapaz chamado Elvis Aaron Presley entra em cena com uma sensualidade em sua voz rouca e uma maneira inigualável de dançar. Mais que um símbolo sexual, Elvis cantava como um negro e transformou aquele suposto modismo numa verdadeira revolução cultural. Com o lançamento do disco “Heartbreaker Hotel”, em 1956, Elvis atingiu vendas extraordinárias e foi consagrado como o “Rei do Rock”.

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Elvis, o “Rei do Rock”

Grande parte do rápido e estrondoso sucesso do rock nos Estado Unidos aconteceu durante um período de forte prosperidade e isso não foi uma coincidência. 

No final da década de 1940 mais pessoas naquele país possuíam rádios e as televisões tornavam-se um objeto comum no dia a dia. Além das mudanças tecnológicas, aquela prosperidade do pós-guerra de muitas famílias de classe média significou que os adolescentes tinham dinheiro para gastar. Consequentemente por esta época a indústria fonográfica avançou aos saltos, permitindo que a música pudesse ser distribuída em massa.

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Chuck Berry

Não podemos também esquecer que os primeiros rumores do movimento de direitos civis, que visava combater o forte racismo reinante naquele país, estavam na pauta do dia e tornava as músicas de origem afro americana mais acessíveis.

O som e todo o estilo ligado ao Rock and roll sintetizou o conceito de cultura juvenil de uma forma surpreendente e sem precedentes nos Estado Unidos pós-Segunda Guerra Mundial e desempenharia um importante papel na definição desse conceito para grande parte do mundo durante a segunda metade do século XX. Influenciando desde a moda, atitudes, estilo de vida e linguagem.

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Jerry Lee Lewis – Fonte – http://www.wikipedia.org

Mas aonde este som chegou causou polêmicas e acaloradas discussões. No Brasil não foi diferente!

Filme Com Música Para Balançar As Estruturas

Em 21 de março de 1956 a empresa Columbia Pictures lançou um filme de baixo orçamento, segmentado diretamente para o público adolescente e que certamente não prometia grande coisa. Mas a película tinha a participação da banda Bill Haley and his comets, cuja música “Rock Around the Clock” batizou a obra nos Estados Unidos. Inesperadamente o filme se tornou um grande sucesso e logo começaram os problemas.

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A geração mais velha não aceitou gentilmente essa nova e barulhenta música. O filme começou a encontrar problemas em certas comunidades norte-americanas, onde líderes religiosos pediram um boicote. Outras controvérsias logo sugiram quando o filme foi distribuído internacionalmente. 

Em Londres o público adolescente ficou tão agitado dançando, batendo os pés, quebrando cadeiras e gritando durante a sessão, que o gerente do cinema onde era exibido teve que parar o filme e apelar para que eles se sentassem. Por causa de sua recepção estridente em Londres o filme foi banido das pequenas cidades inglesas. Em outubro de 1956, após as primeiras exibições da película na Noruega, adolescentes invadiram as ruas de Oslo gritando “mais rock!” 

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O filme “Rock Around the Clock” em cartaz na capital da Inglaterra – Fonte – http://www.zoomerradio.ca

O filme estreou no Brasil no final daquele ano, primeiramente nas grandes cidades do centro sul, e trazia o título de Ao Balanço das Horas. Logo as alegres músicas do novo estilo causaram problemas.

Em São Paulo, no dia 20 de dezembro de 1956, com medo que algo parecido ao que aconteceu na Inglaterra e na Noruega se repetisse por aqui, a exibição do filme no chique Cine Paulista, na Rua Augusta, foi vigilantemente acompanhada pela polícia e pelo Juizado de Menores. Este foi o antigo setor do judiciário especializado em questões ligadas a menores e que hoje é conhecido como Vara da Infância.

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Policiamento na exibição de “Ao balanço das horas” na capital paulista – Fonte – CinePaulista.acervo.estadao

Segundo reportagem do jornal O Estado de São Paulo, o filme Ao Balanço das Horas “provocou manifestações histéricas de adolescentes”, com a primeira sessão sendo interrompidas duas vezes por causa dos jovens que gritavam e xingavam os guardas que os proibiam de dançar na sala. Ainda segundo o jornal, o então governador Jânio Quadros pediu ao chefe de polícia que tomasse “providências drásticas” contra os bagunceiros. “Se forem menores, entregá-los ao honrado juiz”, ordenou.

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Agitação nos cinemas paulistas – Fonte – CinePaulista.acervo.estadao

Mas não ficou apenas nisso – O jornal O Estado de São Paulo aponta que entidades como o Movimento de Arregimentação Feminina e a Comissão de Moral e Costumes da Confederação das Famílias Cristãs, representando 10 mil famílias paulistas, se posicionaram contra a fita Ao Balanço das Horas. Sob uma forte pressão, Aldo de Assis Dias, juiz de menores na cidade de São Paulo, ampliou a proibição etária do filme de 14 para 18 anos.

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Como foi noticiado em um jornal natalense o tumulto em apresentação do filme Ao balanço das horas em São Paulo

No Rio de Janeiro a confusão ao redor de Ao Balanço das Horas não foi menor. Quase um mês depois das exibições em São Paulo, o periódico Diário de Natal (Ed. de 17/01/1957) publicou uma extensa reportagem sobre a briga envolvendo policiais e amantes do Rock and roll na saída de um cinema na então Capital Federal. Houve interrupção do tráfego e ocorreram prisões. Logo, tal como ocorreu em São Paulo, o juiz de menores do Rio, o Dr. Rocha Lagoa, alterou a classificação do filme de 14 para 18 anos. 

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LP com a trilha sonora do filme – Fonte – clubedosentasdecatanduva.blogspot.com.br

Brilhantina, Casacos e Lambrettas

Nesse tempo na provinciana Natal, então com pouco mais que 150.000 habitantes, ainda não tinha emissoras de televisão atuando localmente. Era o rádio que fazia o papel de grande transmissor para as massa.

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Natal década de 1950

Por uma interessante razão que desconheço as causas técnicas, já ouvi de várias pessoas que viveram naquela época que se captava bem melhor as emissoras de rádio do Rio de Janeiro do que as de São Paulo na capital potiguar. Logo as notícias dos conflitos por causa de Ao Balanço das Horas era comentário geral entre os jovens locais.

Mas antes de adentrarmos sobre as apresentações desta película em Natal, é bom que fique registrado que, sobre aspectos estéticos, a cena do Rock and roll já estava presente na cidade, principalmente com a utilização de uma pequena motoneta de origem italiana.

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Propaganda da Lambretta – Fonte – http://www.propagandashistoricas.com.br

Com o fim da Segunda Guerra Mundial na Itália o proprietário de uma fábrica de tubos de aço chamado Ferdinando Innocenti decidiu reconstruir seu negócio em Lambratte, Milão. Percebendo a necessidade de prover os italianos com um meio de transporte barato e seguro, o proprietário se uniu ao engenheiro Pierluigi Torre e projetaram uma motocicleta modelo “scooter”, de baixo custo de produção e manutenção. Esse veículo foi a icônica Lambretta.

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1957 Lambretta L

As primeiras foram construídas em 1947, com um motor de dois tempos provido de um único cilindro, com 123 cc de volume de deslocamento e rodava até 33 quilômetros com um litro de gasolina, algo importante em uma Itália com escassez de combustível. Um dos pontos fortes da Lambretta era a boa estabilidade devido ao baixo centro de gravidade proporcionado pelo motor próximo à roda traseira. Logo a pequena “scooter” se tornou um sucesso na Europa e no resto do mundo. Coube a Lambretta desenvolver no Brasil a primeira fábrica de veículos do país em 1955. Chamada Lambretta do Brasil S.A. tinha sede no bairro da Lapa em São Paulo e sua produção entre 1958 e 1960 superou a quantidade de 50.000 unidades ao ano.

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Em fins de 1956 e início de 1957 chegaram as primeiras Lambrettas em Natal. Eram comercializadas na firma Paulirmãos, uma sociedade dos empresários Camilo de Paula e José Rezende Filho, com matriz em Mossoró e filial na capital potiguar, na Praça Augusto Severo, 260, na Ribeira. A pequena máquina caiu no gosto dos filhos da elite natalense e vendeu muito. Meu pai, Calabar Medeiros, então com apenas 16 anos, trabalhou em Paulirmãos e testemunhou o sucesso daquela motoneta por aqui.

Mas a Lambretta não era apenas um meio de transporte, era um veículo com forte atitude e estilo. Os jovens da cidade circulavam em suas máquinas em grupos, todos com brilhantinas nos cabelos (sempre sem capacetes) e envergando casacos pretos de couro. Gostavam de se reunir na área do Grande Ponto, no centro da cidade, onde passavam ruidosamente com seus canos de escape abertos e fazendo muito barulho.

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As pequenas máquinas fizeram tanto sucesso que até mesmo corridas de Lambrettas ocorreram em Natal, em um circuito improvisado no bairro de Petrópolis, cujo grande campeão foi Roberto Eider Lira. Alguns dos “Lambretistas” natalenses ficaram famosos por suas proezas em suas motonetas, como Beto Pires, que utilizava nafta no tanque de combustível para ampliar a potência da sua pequena máquina.

Toda aquela movimentação, todo aquele barulho, todos aqueles casacos escuros misturados com cabelos alisados a brilhantina, começaram a incomodar alguns membros da elite local, que ficariam ainda mais incomodados quando descobriram que seus filhos estavam escutando uma música tão barulhenta quanto as suas Lambrettas de escape aberto.

Encontro e Filmes Polêmicos

Mesmo sem o filme Ao Balanço das Horas ainda ter desembarcado nos cinemas locais, mesmo com a galera local escutando Rock and roll através dos poucos discos existentes na cidade, ou através das ondas curtas, médias e tropicais dos grandes rádios valvulados, aquele som contagiante chegou causando alvoroço em Natal.

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Em uma sexta feira da primeira semana de março de 1957, quando os jornais da cidade informaram com letras garrafais que existiam rumores que estava sendo arquitetado pelos “Lambretistas” natalenses uma apresentação do “tristemente famoso” Rock and roll no cruzamento das ruas João Pessoa e Princesa Isabel. Com medo que os distúrbios ocorridos em São Paulo e no Rio se repetissem em Natal, os jornais pediram veementemente a presença da polícia para coibir a tal apresentação. 

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Logo o Dr. Claudionor de Andrade, então Secretário de Segurança, informou que não havia sido solicitado o devido alvará para a dita apresentação e que os policiais estariam presentes em seus Jipes de patrulha no cruzamento da João Pessoa e Princesa Isabel para coibir a exibição pública dos “Lambretistas”. O Dr. Claudionor expressou claramente que “não permitiria que se introduzisse em nossa terra uma dança tão prejudicial aos bons costumes como o Rock and roll” (Diário de Natal, Ed. de 8/3/1957).

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Enquanto a elite e as autoridades se ouriçavam contra o Rock and roll e uma parte da população de Natal aguardava Ao Balanço das Horas com ganas de queimar o rolo de exibição em frente à Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, espertamente os proprietários do extinto Cinema Rio Grande aproveitaram a controvérsia e lançaram o filme Ritmo Alucinante para o público jovem de Natal.

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Cena do filme “Ritmo Alucinante”, que ficou em cartaz apenas por quatro dias em Natal.

Este era um musical fraquíssimo de enredo, produzido em preto e branco e intitulado originalmente em inglês “Rock, Rock, Rock!”. Mas trazia aquilo que a galera queria – Rock and roll. O filme tinha como ator principal o radialista Alan Freed e vinha com uma interessante performance de Chuck Berry com a música  “You Can’t Catch Me” (Diário de Natal, Ed. de 29/4/1957). Mesmo Ritmo Alucinante tendo sido exibido sem maiores alterações, estranhamente essa película ficou em cartaz no Cine Rio Grande por exíguos quatro dias, quando o normal era no mínimo uma semana.

Mas Ritmo Alucinante deve ter levado um bom público ao cinema, pois um mês depois duas outras películas com temáticas focadas nos problemas da juventude estadunidense da época, consideradas extremamente polêmicas e que tinham angariado um grande sucesso a nível mundial, foram exibidas para os natalenses.

Estou falando de O Selvagem (The Wild One) e Juventude Transviada (Rebel Without a Cause). O primeiro filme tinha como ator principal ninguém menos que Marlon Brando e foi exibido no Cine Rio Grande. Já o segundo filme, cujos atores principais eram James Dean e Natalie Wood, foi exibido no Cinema Rex. (Diário de Natal, Eds. de 22 e 27/5/1957)

É certo que nesse tempo os filmes demoravam meses para chegar à longínqua e provinciana Natal, mas O Selvagem era de 1953 e Juventude Transviada de 1955 e a muito já tinham sido exibidos no Rio, São Paulo e até em Recife. Aparentemente os proprietários dos cinemas natalenses já tinham os rolos destas películas em mãos, mas não as exibiram para evitar problemas com autoridades judiciais e religiosas.

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Imagem da rebeldia através de James Dean em “Juventude Transviada ” – Fonte –  Ellus

Mas, aparentemente, estes mesmos proprietários, em meio a toda polêmica gerada pelo Rock and roll e a juventude de Natal, não perderam a oportunidade de faturar algum lançando estes filmes polêmicos no final do mês de maio de 1957.

Ambas as películas, que se tornariam clássicos, foram liberadas para maiores de 18 anos e muitos “Lambretistas” foram com suas máquinas e seus casacos para os cinemas da cidade.

A Festa Que Mexeu Com Natal

Acredito então que naquele primeiro semestre de 1957 curtir o Rock and roll em Natal era algo que ficava restrito ao ambiente privado, principalmente aos existentes nas amplas e iluminadas residências do Tirol e Petrópolis, os bairros nobres da cidade. Mas aquele som alucinante logo seria tocado em um dos templos da elite local – Os salões da sede social do América Futebol Clube, no bairro de Petrópolis.

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Foram as jovens Inês Aranha e Márcia Santos, tidas como “finos ornamentos da nossa sociedade”, que estiveram a frente da organização do evento intitulado “1° Festival de Rock and roll”, que prometia “demonstrar com real valor e agrado a música difundida por Elvis Presley”. As notas de jornal informaram que o baile seria animado pelo prestigiado Conjunto Melódico de Paulo de Tarso. (Diário de Natal, Ed. de 5/6/1957). 

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Ocorreram cenas como esta na festa do América? Acredito que sim!

Não sei se alguém do grupo de Paulo de Tarso encarou ao vivo e a cores, na noite de sábado, 8 de junho de 1957, o público reunido no América munido de uma legitima guitarra Gibson ES-300. Ou se o pessoal presente foi animado ao som de Victrolas e discos de “velocidade” (frequência) de 78 rpm. Mas, mesmo com poucas informações, o certo é que houve a festa, com casa cheia e a presença de muitos “Lambretistas”. Consta que lá aconteceu a apresentação de três corajosos casais, que mandaram ver nos requebros e passos tidos como escandalosos desse “tal de Rock and roll”.

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Mesmo sem maiores informações eu tenho a certeza que a festa foi um sucesso e não tenho dúvidas que chamou a atenção da cidade. Pois a reação subsequente das autoridades para frear o ímpeto da garotada rebelde de Tirol e Petrópolis foi dura.

Umas semana depois, dia 15 de junho de 1957, um sábado, o então juiz titular da Vara de Menores, o Dr. Oscar Homem de Siqueira, baixou uma portaria determinando que os comissários de menores proibissem a entrada de jovens nas festas de Rock and roll em Natal.

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O magistrado, utilizando os termos do Artigo 131 do então Código de Menores, não proibiu expressamente a ocorrência de alguma festa que certamente deveria está programada para acontecer naquele fim de semana. Mas na prática o Dr. Oscar proibiu o público alvo de participar, pois nessa época eram considerados menores de idade aqueles que tinham menos de 21 anos.

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Dr. Oscar Homem de Siqueira – Fonte – jotamaria-america.blogspot.com.br

A portaria do juiz é interessante sobre alguns aspetos do entendimento do tradicionalismo vigente em Natal na época. Pois além de proibir o acesso e a permanência dos jovens menores de 21 anos nos locais de exibição do Rock and roll, textualmente o juiz ordenava que os comissários proibissem a garotada de “dançar” (Diário de Natal, Ed. de 18/6/1957).

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Parte da portaria determinando que os comissários de menores proibissem a entrada de menores nas festas de Rock and roll em Natal

Logo o magistrado foi ovacionado por vários setores da sociedade potiguar, chegando mesmo ao ponto de unir setores irreconciliáveis do cenário político e social local.

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Luiz Maranhão Filho

O jornalista Luiz Maranhão Filho, antigo membro do Partido Comunista do Brasil, que em 1958 seria eleito deputado estadual no legislativo potiguar pelo Partido Trabalhista Nacional e em 1974 seria morto de forma covarde pela Ditadura Militar, dedicou a decisão do titular da Vara de Menores um largo artigo em defesa de sua atitude. O artigo foi intitulado “Ainda há juízes” (Diário de Natal, Ed. de 21/6/1957).

Seguindo a mesma linha de pensamento do líder esquerdista, foi emitida uma nota de apoio ao Dr. Oscar Homem de Siqueira pelo Secretariado Arquidiocesano da Defesa da Fé e da Moral, representando a Igreja Católica (O Poti, Ed. de 26/6/1957).

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A vida do Rock and roll e de seus apreciadores não andava nada fácil em Natal, mas parece que outros setores da sociedade natalense pensavam contrários ao titular da Vara de Menores. Tanto assim que finalmente o tão esperado Ao Balanço das Horas finalmente foi exibido  nacidade.

O fato se deu somente na primeira quinzena de agosto de 1957 e a exibição no Cinema Rex foi cercada de todos os cuidados e de muita polícia. Mas estranhamente a faixa etária para exibição foi de 14 anos. Não houve nenhuma alteração! (O Poti, Ed. de 11/6/1957)

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O resto do ano de 1957 é possível ler nos velhos jornais natalenses diversos e contundentes ataques realizados por intelectuais locais contra o Rock and roll, mas logo um evento social, recheado de belas mulheres, mostraria a elite natalense que aquela musica não era esse bicho todo!

As Belas Estrangeiras Bailam Ao Som do Rock

Certamente não existiu na década de 1950 um tipo de celebridade meteórica que marcou mais essa época do que as misses e seus suntuosos desfiles de beleza.

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A baiana Martha Rocha e a vencedora do concurso Miss Mundo de 1954 – Fonte – efemeridesdoefemello.com

Estes eram concursos que, da noite para o dia, tornavam belas desconhecidas em estrelas de primeira grandeza do imaginário nacional, sendo a mais famosa miss tupiniquim a linda Maria Martha Hacker Rocha, uma baiana de faiscantes olhos verdes, consagrada como Miss Brasil em 1954 e que ficou em segundo lugar no concurso Miss Mundo daquele ano.

No Rio Grande do Norte não era diferente. Este tipo de concurso movimentava muito a sociedade local, com jovens representando clubes de futebol, cidades e entidades. Havia torcidas organizadas, entrevistas nas rádios e jornais locais, além de muito glamour.

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As beldades que chegaram em Natal em 1958

Em maio de 1958, as vésperas da Copa do Mundo da Suécia e meio de supetão, Natal recebeu a visita da platinada finlandesa Marita Lindahl, a vencedora do concurso Miss Mundo de 1957, e de outras beldades a nível mundial. Além da campeã desembarcaram na terra de Poti, com mais de 600 quilos de bagagem, a segunda colocada Lillian Juul Madsen, da Dinamarca, Teresinha Gonçalves Morango, do Brasil (natural do Amazonas), e as representantes da França, Claude Navarro e da Suécia, Ellinor Ulla Eldin, além da modelo francesa Danielle Challier.

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Elas estavam a caminho do Rio para uma exposição sobre moda francesa e realizaram uma parada de 24 horas em Natal. A cidade meio que parou para apreciar as belas mulheres e elas foram acompanhadas por uma verdadeira multidão embasbacada.

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Em meio a idas e vindas, as belas foram almoçar na casa do empresário Rui Moreira Paiva.

Em um ambiente tranquilo e relaxante elas foram condignamente recebidas por Dona Carminha, esposa do empresário. Então alguém (talvez Izinha, a filha do casal), colocou na vitrola de alta fidelidade um disco de Rock and roll. Aí, para surpresa geral, as divas da beleza internacional deixaram de lado os anfitriões e quaisquer regras de etiqueta e se esbaldaram a dançar aquela música considerada maldita na capital potiguar.

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Não sei se as pessoas da casa ficaram incomodadas pela alegria das misses com aquela música tida como complicada pela sociedade local, mas o certo é que logo alguém tirou aquele ritmo alucinante da vitrola e sapecou um calypso caribenho, que foi aproveitado apenas pela modelo Danielle Challier. Depois a vitrola tocou um puro samba verde e amarelo, mas aí todas as belezas pararam de rebolar e ficaram apenas ouvindo.

Entretanto o episódio não passou despercebido para o então repórter social Wolden Madruga, que acompanhou os passos das belas mulheres por Natal. Além de comentado nos jornais locais, a dancinha das misses se tornou motivo de conversas no Grande Ponto, o local de formação de opinião na cidade. Para alguns era terrível saber que aquelas belas jovens gostavam daquela música maldita!

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Mas como nesta cidade tudo que vinha de fora era bom (menos o Rock)eu acredito que aquela pequena apresentação dançante, realizada por algumas das mulheres consideradas as mais belas no mundo naquele tempo, mesmo indiretamente fez com que algo mudasse na sociedade natalense em relação a percepção sobre o Rock and roll. (O Poti, Ed. de 9/5/1957)

Veio Para Ficar

Logo as lojas de discos em Natal começaram a vender com maior frequência discos de Rock and roll. Sabemos que em maio de 1958 chegou na cidade o disco de 78 rpm do cantor norte-americano Little Richard chamado “Volume 2”, que vinha com doze músicas e era produzido pela London Records. (O Poti, Ed. de 28/5/1958)

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Não demorou e Natal recebeu o primeiro grupo internacional a tocar Rock and roll.

Mas quem veio não foi nenhum grupo de jovens estadunidenses com cabelos bem aparados, banhados de brilhantina, realizando uma dancinha leve e todos trajando ternos iguais. Quem aqui tocou pela primeira vez o som perseguido foi um grupo de música caribenha.

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Chamados de “Guyana Caribbean Varieties” era formado por pessoas oriundas da então colônia britânica da Guiana e de outras partes do Caribe. Sabemos que haviam se apresentado em outros países, tinham realizado shows em Fortaleza e em Natal ficaram hospedados no bairro da Ribeira, no tradicional Grande Hotel. Eles se apresentaram na Rádio Poti e no Teatro Alberto Maranhão e foram bem avaliados. O foco do grupo de mais de 20 artistas era principalmente as músicas caribenhas, mas o guitarrista Reggie Simpson liderou na parte do Rock and roll.

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Conforme o tempo foi passando aquele ritmo musical que tanto encheu as páginas dos jornais natalenses com polêmicas foi paulatinamente desaparecendo dos periódicos. E quando comento isso é tanto pelo lado das polêmicas, como pelo lado da aceitação do Rock and roll. Pouco observamos referências sobre o Rock, mas certamente seus apreciadores passaram a curtir aquele som com mais tranquilidade.

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Entretanto a Rádio Poti parece ter percebido que uma mudança havia acontecido, pois encontrei na sua grade de programação que eles estavam transmitindo um programa radiofônico chamado “Hoje é dia de Rock”, o primeiro do gênero no rádio potiguar.

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Ele era diário, mas tinha parcos 15 minutos de duração, o que daria para tocar umas três músicas no máximo. Mas era transmitido às 11 e 15 da manhã, a hora que a maioria dos estudantes em Natal voltava para suas casas para almoçar e aproveitavam para escutar um rockzinho.

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Apesar de todo o movimento ocorrido, aparentemente o número de pessoas que abraçaram aquela música estrangeira continuou pequena, fato que mudaria radicalmente pouco tempo depois.

É a época do governo JK, do Brasil de “50 anos em 5”, da chegada maciça do rock produzido no Brasil, da venda facilitada de mais discos e de instrumentos musicais apropriados para tocar Rock, da criação de bandinhas locais, de shows e festivais….

Mas isso é outra História!


Fontes na internet

http://www.redegeek.com.br/2016/09/20/ultrageek-258-historia-do-rock-anos-50/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Rock_and_roll

http://anuncifacil.com.br/posts/detalhes/7814

https://en.wikipedia.org/wiki/Don’t_Knock_the_Rock

http://super.abril.com.br/cultura/a-hora-do-rock/

http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,o-rock-proibidao-do-ao-balanco-das-horas,11698,0.htm