A FAZENDA RIBEIRO DE SÃO JOSÉ DE MIPIBU E SUAS HISTÓRIAS

Rostand Medeiros – https://pt.wikipedia.org/wiki/Rostand_Medeiros

Muitas das antigas e tradicionais fazendas do interior do Nordeste vem sofrendo de intenso abandono e destruição, fazendo com que suas histórias caiam no puro e simples esquecimento.

Alguns acham que isso é até uma coisa boa, pois muitos desses locais foram antros de intensas opressões, iniquidades, perseguições, mortes e outras mazelas. O problema dessa ideia é que várias dessas antigas estruturas possuem enorme importância histórica, com informações que ampliam o conhecimento sobre o passado da nossa região e a perda destes locais é algo bastante complicado e irreversível. 

Casa Grande da Fazeneda Ribeiro, em São José de Mipibu – Foto – Rostand Medeiros

Por isso é sempre positivo encontrar uma antiga propriedade rural bem preservada e com muitas histórias. Esse é o caso da Fazenda Ribeiro, a cerca de seis quilômetros da cidade potiguar de São José de Mipibu.

A casa sede está, pelo menos para que a vê de fora, muito bem conservada, pintada de branco e detalhes azuis.

Foto – Rostand Medeiros

Segundo o pesquisador e blogueiro Daltro Emerenciano, em um artigo sobre a história da Fazenda Ribeiro (https://www.blogdedaltroemerenciano.com.br/2012/10/pedacos-do-nosso-rio-grande-do-norte/), informou que o agricultor Francisco Sales e Silva foi o patriarca da família Ribeiro Dantas e Duarte e teria construído uma primeira casa grande na área da propriedade Ribeiro entre o final do século XVIII e o início do seguinte. Nesse mesmo período foi “erguida uma capela em estilo colonial barroco, em homenagem a São João e também montada em separado uma primitiva engenhoca movida à tração animal e destinada a fabricação de açúcar bruto e seus derivados e, por conseguinte, aquele local passou a ser a primeira sede da Fazenda Ribeiro”.

Foto – Rostand Medeiros

Emerenciano comentou que essa propriedade esteve envolvida nos acontecimentos ligados a chamada Revolução Pernambucana de 1817. Ele publicou que “Pelo relato que se tem daqueles que pesquisaram sobre o movimento em prol da independência do Brasil e que culminou com a eclosão da revolução de 1817, as reuniões para a divulgação das ideias liberais e adesão do maior número de simpatizantes, eram realizadas em pontos afastados da capital, inclusive na cômoda e espaçosa Casa Grande do SÍTIO RIBEIRO. Ali o Coronel de Milícias, André de Albuquerque, mentor do movimento em nossa província, conferenciava com os homens de influência de Natal e vilas do interior, ocasião em que era oferecido aos convivas um farto banquete servido em baixelas de prata”.

Necrológico de Horácio Cândido Sales e Silva, publicado em 28 de setembro de 1903.

Foi um neto de Francisco Sales e Silva, chamado Horácio Cândido Sales e Silva (26/09/1838 – 27/09/1903), bacharel em direito, que transferiu a sede da propriedade para um local mais apropriado, onde construiu a nova sede, a casa destinada ao engenho e uma capela, cujos padroeiros são Santa Ana e São Joaquim. Infelizmente não conseguimos apurar as datas dessas construções, mas soubemos que Horácio Sales importou da Europa o maquinário e acessórios necessários a montagem da moenda do engenho movida a vapor, em substituição a antiga engenhoca movida à tração animal.

Capela da Fazenda Ribeiro – Foto – Rostand Medeiros.

Sobre a capela existente ela tem uma característica muito interessante que é o seu alpendre, algo que não vejo com frequência nas antigas capelas do Rio Grande do Norte.

Horácio casou duas vezes. A sua primeira esposa, Anna Vivina de Sales e Silva, nasceu em 17 de dezembro de 1845, teve oito filhos e faleceu em 6 de junho de 1877. Já a segunda, Joaquina Marcolina Ribeiro Dantas (27/01/1854 – 27/02/1941), teve cinco filhos, sendo o terceiro um menino que se chamou Celso Dantas Sales e nasceu na Fazenda Ribeiro em 4 de julho de 1884.

Lápides de Horácio Sales e suas esposas – Foto – https://www.familysearch.org/

Esse jovem ingressou na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 10 de dezembro de 1904. Um ano depois foi nomeado promotor público de Acari, onde conheceu Josefa Leonila de Araújo (16/04/1903 – 22/11/1959), conhecida como Teca, com quem casaria no ano de 1918. Essa jovem era filha dos acarienses Manoel Ubaldo da Silva Neto e Leonila Sérvulo de Araújo.

Celso Dantas Sales, pai de Dom Eugênio, em 1904 – Foto – Fundação Joaqiuim Nabuco.

Depois o Doutor Celso foi transferido para o estado Amazonas, onde exerceu o cargo de juiz de direito nas cidades de Lábrea, Benjamin Constant e outros municípios. Voltando ao Rio Grande do Norte em 1914, atuou como juiz em Acari. Em 8 de novembro de 1920, ainda em Acari, nasceu o segundo filho do juiz Celso e Dona Teca, que foi batizado como Eugênio de Araújo Sales.

No mesmo ano do nascimento do segundo filho, o juiz Celso foi designado para a cidade potiguar de Nova Cruz, sendo depois transferido, a pedido, para a Comarca de São José do Mipibu. Nessa cidade nasceram outros filhos do casal, inclusive Dom Heitor de Araújo Sales.

O pequeno Eugênio, ao centro, com os pais e o irmão Sílvio – Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%AAnio_Sales

Na sequência veio trabalhar em Natal, onde foi membro das Juntas de Sanções, depois foi nomeado desembargador por decreto em 30 de novembro de 1926 e atuou como Procurador Geral do Estado, conforme está descrito em seu necrológico no jornal natalense “A República”, publicado em 16 de outubro de 1934, quatro dias após o seu falecimento em Fortaleza, Ceará, devido a tuberculose.

Infelizmente sobre a vivência e convivência da família do Doutor Celso, Dona Teca e seus filhos na Fazenda Ribeiro eu não consegui maiores informações, mas seguramente o jovem Eugênio se tornou o potiguar com a mais expressiva história de atuação na Igreja Católica.

Depois de fazer estudos humanísticos no Colégio Santo Antônio em Natal, ingressou no seminário em 1937. Foi ordenado por Dom Marcolino Dantas sacerdote em 21 de novembro de 1943. Em seguida passou a exercer o ministério pastoral em Nova Cruz e na sequência foi chamado ao Seminário de Natal, onde atuou como encarregado de suprimentos, professor e diretor espiritual. Entre muitas outras atividades, o Padre Eugênio foi capelão da Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte, no posto de Capitão.

Sino da capela da Fazenda Ribeiro – Foto – Rostand Medeiros.

Em 1 de junho de 1954, aos 33 anos, foi nomeado bispo auxiliar de Natal pelo Papa Pio XII e ordenado bispo no dia 15 de agosto de 1954, pelas mãos de Dom José de Medeiros Delgado, Dom Eliseu Simões Mendes e de Dom José Adelino Dantas. Posteriormente, em outubro de 1962, foi designado administrador apostólico da Arquidiocese de Natal. Aqui promoveu uma série de iniciativas que rapidamente se espalharam por todo o Nordeste do Brasil: fundou o serviço de assistência social aos trabalhadores rurais, centros educacionais e transmissões de rádio para ensino fundamental e médio.

Região rural da Fazenda Ribeiro – Foto – Rostand Medeiros.

Em 6 de julho de 1964 foi nomeado Administrador Apostólico em Salvador, Bahia, e em 29 de outubro de 1968 tornou-se Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, pelo Papa Paulo VI. Nesta Arquidiocese iniciou novas iniciativas pastorais e promoções sociais para os menos favorecidos. Também dirigiu o departamento de ação social do Conselho Episcopal Latino-Americano e participou do Concílio Vaticano II.

Foi proclamado Cardeal pelo Papa Paulo VI no consistório de 28 de abril de 1969. Em 29 de outubro de 1971, Paulo VI nomeou-o Arcebispo do Rio de Janeiro. Dom Eugênio de Araújo Sales faleceu em 9 de julho de 2012.

O RESGATE DE NAPOLEÃO (E COMO O RIO GRANDE DO NORTE SE METEU NESTA HISTÓRIA)

Animados pela Revolução Pernambucana de 1817, um grupo de emigrados franceses nos Estados Unidos elaborou um plano para resgatar o imperador em Santa Helena e trazê-lo para a América usando o Brasil como base de operações

Autor – Vasco Mariz

http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/o_resgate_de_napoleao.html

A fama e o fascínio por Napoleão estiveram bem presentes no Brasil nos primeiros 20 anos do século XIX. Em 1801 o futuro imperador francês poderia ter sido o patrono do primeiro movimento pernambucano para fundar uma república no país, a frustrada conspiração dos Suassunas. A influência de sua figura e das idéias liberais da Revolução Francesa e da independência dos Estados Unidos da América esteve muito presente entre os revolucionários pernambucanos do século XIX, desde a conspiração de 1801 até o triunfo da Revolução de 6 de março de 1817 no Recife, que proclamou a República no Nordeste. Tais ligações se tornariam ainda mais estreitas quando militares bonapartistas exilados nos Estados Unidos, animados com o sucesso da Revolução Pernambucana, elaboraram um plano para resgatar Napoleão de seu cativeiro em Santa Helena, levá-lo a Pernambuco e depois a Nova Orleans.

Recife em 1817 - Fonte - http://imagenshistoricas.blogspot.com

O elo entre os franceses e o Brasil era Antonio Gonçalves da Cruz, o Cabugá, homem enviado pelos revolucionários nordestinos como seu representante junto ao governo dos Estados Unidos no intuito de obter o reconhecimento formal da independência de Pernambuco. Os bonapartistas estiveram em contato permanente com Cabugá, que era um entusiasta do plano dos exilados franceses.

Cena da Batalha de Woterloo - Fonte - http://meucanoneocidental.blogspot.com

A queda do império napoleônico, em 1815, significou para a quase totalidade dos oficiais dos exércitos franceses uma verdadeira catástrofe. Com o imperador nas mãos dos ingleses, os generais e coronéis que haviam combatido em Iena, Marengo, Leipzig, na Rússia e em Waterloo encontravam-se em situação muito difícil, pois ou prestavam juramento de fidelidade a Luís XVIII, ou se contentavam em receber meio soldo apenas. Por isso, numerosos oficiais preferiram o exílio nos Estados Unidos, onde havia oportunidades para “soldados de fortuna”. Assim, poucos meses depois da queda do império, já estavam nos EUA cerca de mil oficiais franceses de várias patentes, cujo único pensamento era libertar o imperador que definhava no clima severo da ilha de Santa Helena, em pleno oceano Atlântico, na altura de Pernambuco.

José Bonaparte - http://blog.educastur.es

O chefe da conspiração francesa nos EUA era o irmão do imperador, José Bonaparte, que fora rei da Espanha. Por meio do contato com Cabugá viram no Brasil uma possibilidade de colocar em prática seus planos, e numerosos militares franceses começaram a se deslocar para Pernambuco a fim de preparar a cabeça-de-ponte da operação. Durante os três meses de vida da República de Pernambuco, Cabugá adquiriu armamentos e munições e os enviou ao Brasil. Mesmo após a derrota da revolução, ele continuou ajudando os franceses exilados que planejavam o rapto de Napoleão e conseguiu articular a vinda para o Brasil de dois navios corsários, o Parangon e o Penguin.

Outro fator que contribuiu para os planos dos franceses foi a decisão do Departamento de Estado americano de designar um representante permanente em Recife, o cônsul Joseph Ray, que desempenharia papel significativo no decorrer da Revolução de 1817, abrigando em sua casa cidadãos franceses que chegavam para incorporar-se à expedição que iria seqüestrar Napoleão.

Ilha de Santa Helena - http://www.superstock.co.uk/

A oportunidade era esplêndida para os emigrados franceses nos EUA, que se aproveitaram dos bons ofícios de Cabugá em Washington e da estratégica posição de Ray em Recife. Correspondência citada por Donatello Grieco em seu excelente livro Napoleão e o Brasil informa que os oficiais franceses convergiram para o porto de Baltimore e um grupo avançado de 32 homens chefiado pelo coronel Latapie viajou para Pernambuco. Foram adquiridas duas escunas que estavam em Baltimore e Anápolis. O ponto de reunião de toda a expedição era a ilha de Fernando de Noronha, onde Portugal mantinha uma prisão especial. Lá deveriam reunir-se 80 oficiais franceses, cerca de 700 americanos e outro navio com 800 marinheiros. Essas forças deveriam atacar Santa Helena visando a capital Jamestown, mas isso seria apenas uma manobra para atrair os defensores ingleses, deixando livres a Sandy Bay e a Prosperous Bay, onde desembarcaria a maioria das tropas da expedição. Um grupo se dirigiria à residência de Napoleão e o levaria para a Prosperous Bay. Seguiriam para Recife e viajariam depois para Nova Orleans.

Quadro que mostra o julgamento do potiguar Padre Miguelinho, após a derrocada da revolta de 1817

A bordo do navio Parangon chegaram ao Rio Grande do Norte em agosto de 1817 alguns dos principais personagens da expedição francesa. O mais importante deles era o conde de Pontécoulant, pitoresco personagem de vida aventureira, apesar de sua alta linhagem gaulesa. Ao desembarcar teve a má notícia de que a Revolução de 1817 fora afogada, mas o fato não era tão grave assim porque Joseph Ray, o cônsul americano em Recife, continuaria a dar-lhes plena cobertura. Em Natal não encontrou maiores dificuldades, pois conseguiu fazer boas relações de amizade com o secretário do governador. Decidiu passar-se por médico e botânico e partiu para a Paraíba, onde o Parangon havia desembarcado o general Raulet, o coronel Latapie e outros personagens franceses de patente mais baixa.

Na Paraíba, o conde não teria a mesma boa recepção, pois o governador local mandou prender todos os franceses encontrados, enviando-os depois para Pernambuco. Em Recife tiveram melhor sorte, pois o governador Luiz do Rego não encontrou em seus papéis nada de suspeito e os liberou. Foram hospedar-se na casa do cônsul Ray, que se tornaria o centro de todas as medidas para o êxito da expedição francesa a Santa Helena. Nesse momento aportou em Recife outra escuna americana carregada de armamentos, o que alarmou o governador pernambucano, que não sabia como controlar o cônsul Joseph Ray.

Cais da Rua do Trapiche, em Recife - Fonte - http://ven1.blogspot.com

Sucedeu então o imprevisto: o coronel Latapie solicitou audiência ao governador Luiz do Rego e resolveu relatar-lhe tudo sobre a expedição que estava sendo preparada. Contou-lhe o papel do ex-rei da Espanha, José Bonaparte, irmão de Napoleão, que deveria chegar a Pernambuco nos próximos dias e todas as implicações de uma delicada questão internacional. O governador afinal deu-se conta da importância dos fatos e decidiu encaminhar os franceses às autoridades portuguesas da capital.

No Rio de Janeiro ocorreu outra surpresa: um cidadão americano declarou ao presidente da Alçada que o cônsul Ray estava em contato direto com Cabugá e os líderes da expedição francesa. O cônsul acusava o governador de Pernambuco de prejudicar os interesses comerciais dos EUA. Afirmava Ray abertamente que seria muito fácil obter a independência do Brasil, porque o governo português do Rio de Janeiro ficaria reduzido à impotência pela intervenção armada dos Estados Unidos e a neutralidade da Inglaterra. O interrogatório de tripulantes do navio americano confirmou essas declarações alarmantes do diplomata.

Luiz do Rego - Fonte - http://www.arqnet.pt

Segundo o relato de Ferreira da Costa em seu A intervenção napoleônica no Brasil, o conde de Pontécoulant, assustado, preferiu regressar ao Rio Grande do Norte para obter proteção de seu amigo, o secretário do governador, mas nova complicação ocorreu com o aparecimento de outro navio americano, o Penguin. Procedente de Nova York, a embarcação trazia mais armamentos enviados por Cabugá, e seus tripulantes transmitiram notícias alarmantes, assegurando até que Napoleão já se evadira de Santa Helena. Em Recife, no início de 1818, o governador Luiz do Rego, convencido da cumplicidade do cônsul americano, pediu ao Rio de Janeiro autorização para efetuar uma busca na casa dele e lá encontrou três pernambucanos implicados na Revolução de 1817, além de alguns franceses, prova cabal de sua conivência.

Uma típica fragata francesa - Fonte - http://histoiremaritimebretagnenord.jimdo.com

A imunidade consular salvou Ray, mas seu secretário dinamarquês foi preso e relatou todos os pormenores da associação dos franceses com os revolucionários de 1817, do que resultou a prisão do general Raulet. Nesse ínterim, chegavam ao Ceará mais franceses ilustres a bordo da fragata Les Trois Frères. Os bonapartistas contavam que na França se falava com entusiasmo do sucesso da Revolução Pernambucana e vários franceses decidiram embarcar para o Brasil a fim de juntar-se à expedição destinada a Santa Helena.

As autoridades portuguesas começaram a preocupar-se seriamente com a chegada de dezenas de franceses de alta estirpe que não podiam trancafiar impunemente sem protesto do governo francês, com o qual Portugal mantinha agora excelentes relações. Por outro lado, o governo português não podia deixar de reagir ao imbróglio que aumentava com os protestos do governo inglês, seu aliado, interessado em manter Napoleão em segurança na sua ilha. Os juristas estavam confusos e afinal a corte portuguesa ordenou à polícia carioca “transportar para a Europa todos os emigrados franceses que se encontravam no Brasil”.

Sir Hudson Lowe - Fonte - http://www.nndb.com

Em Santa Helena o comandante inglês sir Hudson Lowe estava ao corrente de tudo o que acontecia no Brasil pelo ministro inglês no Rio de Janeiro e tomou diversas medidas para reforçar a defesa da ilha. Instalou telégrafos e novas baterias em Sandy Bay, em Prosperous Bay e na capital Jamestown, os três pontos mais vulneráveis.

Os planos dos bonapartistas nunca se concretizaram, mas os franceses dificilmente teriam tido sorte em sua iniciativa de raptar o imperador da ilha solitária. Não seria nada fácil, pois os ingleses sabiam dos planos dos franceses e tomaram precauções eficazes para resistir. Se ele tivesse aportado em Recife a caminho de Nova Orleans, durante a Revolução de 1817, certamente seus próceres tentariam retê-lo por algum tempo para homenageá-lo, mas isso dificilmente se realizaria.

Napoleão nos penhascos da Ilha de Santa Helena, de onde nunca mais saiu com vida - Fonte - http://the-rioblog.blogspot.com

É claro que se d. João VI tivesse conhecimento de que Napoleão estava em Recife, mandaria apresá-lo imediatamente para vingar-se de sua ignominiosa fuga de Lisboa em 1808, escapando às tropas do general Junot. Que magnifico refém seria Napoleão para d. João VI! Na época o monarca estava negociando com Luis XVIII a devolução da Guiana francesa, ocupada em 1809 por tropas da Amazônia. Por isso é natural que, se os exilados Franceses tivessem obtido sucesso no seqüestro de Napoleão, eles o teriam levado diretamente para os EUA, sem escala em Recife, que serviria apenas de cabeça-de-ponte inicial para a planejada operação de resgate.

Vasco Mariz  – Historiador e diplomata aposentado. Ex-embaixador do Brasil no Equador, Israel, Chipre, Peru e Alemanha, é autor de Villegagnon e a França Antártica (Nova Fronteira, 2000), entre outros livros.