CARTOLA – O POETA DO MORRO

Cartola, um dos mais importantes sambistas brasileiros - Fonte - lounge.obviousmag.org
Cartola, um dos mais importantes sambistas brasileiros – Fonte – lounge.obviousmag.org

Cartola teve uma vida de altos e baixos, trabalhou como pedreiro, contínuo e lavador de carros. Gravou seu primeiro disco aos 65 anos. Conheceu um pouco de popularidade (mas não dinheiro). Suas melodias e versos são simplesmente incríveis. Compositor de “As Rosas Não Falam”, música e letra de sua autoria, um clássico do samba.

A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade
Perdida

Música – O sol Nascerá / Autor – Cartola

Angenor de Oliveira, ou simplesmente Cartola – apelido que ganhou dos colegas de ofício de servente em virtude de um chapéu-coco que usava para se proteger do cimento que caia – nasceu em 11 de outubro de 1908, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, porém toda a sua infância foi vivida no bairro de Laranjeiras.

Angenor de Oliveira. Sim: com N depois do A, e não Agenor, como é, quase invariavelmente, publicado em jornais, livros e revistas por alguns desavisados ou mesmo por alguns que se pensam avisados

A vida do cantor não constituiu um mar de rosas, de acordo com o que se pode observar lendo estas informações: aos 15 anos de idade, Cartola perde a mãe; aos 17 anos, rompe com o pai, voltando a encontrá-lo 30 anos depois, quando a necessidade o faz voltar a morar com ele, em Bento Ribeiro.

A família foi atingida por uma série de dificuldades financeiras e, se viu obrigada a trocar de ares, agora para o morro da Mangueira, onde uma simples favela começava a ser construída. Foi neste ambiente que Cartola aprendeu a tocar cavaquinho e violão com o pai ainda moleque, tomando gosto pela música e pelo samba.

Com o amigo Carlos Cachaça, compõem muitos sambas desde os 14 anos de idade. Ainda na companhia de Cachaça e de outros amigos, fundaram o bloco dos Arenqueiros e depois a Estação Primeira de Mangueira. Foi Cartola quem sugeriu o nome e as cores verde e rosa, que consagraram a tradicional escola de samba carioca. Ele também foi compositor do primeiro samba-enredo da escola, intitulado “Chega de Demanda”. No campo da composição musical, Cartola compôs mais de 500 canções, várias delas foram vendidas, por bem dizer, a preço de bananas. Além do mais, nesse aspecto, é preciso considerar que inúmeros intérpretes compravam suas canções e as assinavam como sendo seus reais compositores.

Fonte - jadetambemehcultura.wordpress.com
Fonte – jadetambemehcultura.wordpress.com

Para fazer uma ideia aproximada da popularidade alcançada por Cartola, bem como da qualidade inquestionável e duradoura de suas composições, vale dizer que uma de suas músicas, “O sol nascerá”, foi regravada mais de 600 vezes, Nara Leão (1942 – 1989) foi uma das primeiras a gravar o samba, constituindo-se, por tal motivo, na peça musical que mais lhe rendeu dinheiro.

Embora tenha sido muito elogiado por seu círculo de compositores, colegas e admiradores, Cartola só recebeu todos os créditos por sua contribuição à história da música brasileira após sua morte, aos 72 anos, de câncer, quando então já era considerado um dos estetas geniais da música brasileira.

Apesar de ter um determinado reconhecimento dos jornais cariocas das décadas de 1940 e 1950, isso pouco contribuiu para o famoso sambista ter uma melhor condição de vida.
Apesar de ter um determinado reconhecimento dos jornais cariocas das décadas de 1940 e 1950, isso pouco contribuiu para o famoso sambista ter uma melhor condição de vida.

É digno de registro que o compositor ainda é a maior referência para quem quer conhecer a história do samba e compreender muitas das sonoridades presentes no samba contemporâneo.

1930 foi a época de ouro da música brasileira, e Cartola se saiu bem nesse contexto. Isso porque, em 1932, o samba estava valorizado devido ao surgimento da rádio comercial. Com efeito, foi nessa época que Cartola se consagrou como compositor, que Francisco Alves gravou “Divina dama” e que, em decorrência dessa música, que o jornalista Lúcio Rangel lhe deu o apelido de “Divino” Cartola.

Matéria da Revista Semana, 27 de novembro de 1941, quando o pianista e compositor norte-americano Aaron Copland, esteve no Morro da Mangueira visitando Cartola. Ele era membro da equipe de Leopold Stokowki e estava na comunidade na companhia do maestro brasileiro Villa Lobos.
Matéria da Revista Semana, 27 de novembro de 1941, quando o pianista e compositor norte-americano Aaron Copland, esteve no Morro da Mangueira visitando Cartola. Ele era membro da equipe de Leopold Stokowki e estava na comunidade na companhia do maestro brasileiro Villa Lobos.

Outro episódio interessante na vida de Cartola foi quando o maestro Villa-Lobos lhe levou a um navio em que estava Leopold Stokowki (1882 – 1977), famoso regente de orquestra inglês, que assistiu às apresentações de compositores brasileiros. Como resultado desse curioso episódio, Cartola foi escolhido para gravar quatro canções no disco “Columbia Presents”.

A despeito desse relativo reconhecimento, não consegue se sustentar continuando a comercializar seus sambas por quantias irrisórias, se comparadas à sua visível genialidade. Nessa ordem de fatos, Tudo piora em 1946, quando contrai meningite. Nesse período de sua vida, sua então esposa Deolinda cuidou-lhe da saúde, mas, no mesmo ano, ela morre vitimada de infarto.

Em 1942 Cartola chegou a se apresentar em programas de rádio.
Em 1942 Cartola chegou a se apresentar em programas de rádio.

Extremamente entristecido, Cartola se entrega a uma paixão destrutiva por Donária. Com efeito, deixa a Mangueira e o violão, mudando-se para Caju. No final dos anos 40, ocorreu o que pode ser simbolicamente qualificado como a “morte” de Cartola. Ele afastou-se dos amigos, da Mangueira, afogando-se no álcool e na mágoa de um amor não correspondido. Acrescente-se a isso a doença que lhe deixou sequelas pelo resto da vida. Uma delas no nariz. Ele foi acometido de rosácea, ou acne rosácea, que atinge o rosto, e provoca infecções e abcessos. Por consequência, ficou muito magro, perdendo os dentes. Quanto à rosácea, se agravou ainda mais, deixando o nariz feito uma couve-flor negra. Nessa época, quase não aparecia no morro da mangueira e muitos pessoas já nem se lembravam mais dele. Só o amigo Carlos Cachaça continuava a visitá-lo.

Cartola e Dona Zica - Fonte - acervo.estadao.com.br
Cartola e Dona Zica – Fonte – acervo.estadao.com.br

Mas foi Euzébia Silva, Dona Zica, que conquista seu coração e o trás de volta à Mangueira.

Em 1950 o samba perde espaço no mercado e Cartola vai trabalhar em um posto de gasolina. Segundo informações do Portal Palmares, Cartola passou anos esquecido e foi dado como morto, até ser encontrado, por acaso, pelo jornalista Sérgio Porto, em 1956, trabalhando como lavador e guardador de carros, em Ipanema.

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Na sequência trabalha como zelador na Associação de Escolas de Samba. Depois, junto com Dona Zica, abrem o Zicartola em um casarão da Associação que estava prestes a ser demolido. O lugar serviu de palco para as primeiras apresentações de Paulinho da Viola. Nelson Cavaquinho entre outros sambistas também se apresentavam por lá. Apesar do sucesso só funcionou entre 1963 a 1965. Mas foi devido ao sucesso do Zicartola que trouxe o nome de Cartola de volta e em 1974 ele grava seu primeiro LP, que faz grande sucesso. Logo em seguida lança o segundo de igual sucesso, que traz suas composições“As rosas não falam.” E “O mundo é um moinho”. Ao todo Cartola lançou quatro discos-solos.

acervo.estadao.com.br
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Depois disso pode viver com certo conforto ao lado de dona Zica e sua família. Deixou a Mangueira e foi morar em Jacarepaguá.

Estava se apresentando no projeto Pixinguinha, percebeu que havia um caroço na garganta, procurou um médico e foi então que descobriu que a carreira não iria longe, estava com câncer. Compôs a música Autonomia, que retrata exatamente o que ele estava sentindo “Se eu pudesse gritaria, não vou não quero”.

Lutou dois anos contra a doença. Já internado manifestou o desejo a família uma semana antes de sua morte “Quando eu morrer, eu quero que Waldomiro (ritmista da Mangueira) toque bumbo.” Carlos Drummond de Andrade lhe prestou uma homenagem “Cartola, no moinho do mundo”.

Cartola em seus raros momentos de lucidez no hospital conseguiu lê-la, morreu três dias depois. E em 30 de Novembro de 1980 o mundo do samba chorou. Aos 72 anos o poeta silenciou. Seu corpo foi sepultado no cemitério do Caju. Atendendo ao seu último pedido, Waldomiro marcava o ritmo para o coro de “As rosas não falam”, cantado por uma pequena multidão.

“Bate outra vez com esperança o meu coração…”

Fonte - http://acervo.estadao.com.br/
Fonte – http://acervo.estadao.com.br/

Cartola costumava comparar sua vida a um filme de faroeste, no qual era o mocinho e só vencia no final. Apesar do grande sucesso de seus sambas, Cartola morre pobre, morando numa casa doada pela prefeitura do Rio de Janeiro.

Fontes – http://lounge.obviousmag.org/de_dentro_da_cartola/2013/08/cartola-o-divino-poeta-das-rosas.html – PUBLICADO EM MUSICA POR

http://www.informacoesemfoco.com/2015/06/personalidades-negras-que-mudaram-o_6.html#.VXWV589Viko

QUANDO LAMPIÃO VEIO PARA A FESTA

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A FIGURA DO TEMIDO CANGACEIRO EM UMA PEÇA DO TEATRO

DE REVISTA DO RIO DE JANEIRO

 Autor – Rostand Medeiros

Era uma época onde o rádio se popularizava, mas os cariocas ainda sabiam dos acontecimentos do seu país e do mundo pelas várias edições diárias dos inúmeros periódicos que circulavam pela então Capital Federal. Já a distração era ocupada em grande parte pelo crescente futebol pré-Maracanã, pelos cinemas e os inúmeros teatros, onde os espetáculos do chamado teatro de revista eram muito populares[1].

No início do século XX este tipo de apresentação teatral apresentava entre outras coisas aquilo que era considerado picante ou obsceno. Tinha a intenção de agradar o público de maneira abrangente, a que preço fosse. Nessa época o teatro popular era a maior diversão e o teatro de revista era o principal polo da cultura popular.

Típica cena de teatro de revista no Rio de Janeiro - Fonte - http://cifrantiga3.blogspot.com.br/
Típica cena de teatro de revista no Rio de Janeiro – Fonte – http://cifrantiga3.blogspot.com.br/

Com a Primeira Guerra Mundial o Brasil ficou separado do resto do mundo, sem receber influências do estrangeiro, e cada vez mais o teatro de revista nacionalizava-se, entrelaçando a música popular de forma estreita e indissolúvel. Afastando-se do modelo luso-francês surgiu uma nova fórmula onde a melodia passou a ser parte integrante do conjunto. O teatro popular havia adquirido um perfil tipicamente nacional iniciando uma nova fase na História Social da cultura brasileira. Havia neste contexto espaço para as criações regionais, colocando no palco personagens sertanejos.

No Rio de Janeiro a dupla Jararaca e Ratinho passa a fazer teatro de revista em 1929. Estes artistas faziam números mistos de músicas e piadas, explorando canções sertanejas, o humor, melodias, o trocadilho, as adivinhações, as críticas e sátiras políticas[2].

Renascendo das Cinzas

O imigrante italiano Pascoal Segreto, um descobridor de talentos, portador de uma visão empresarial extraordinária, mantinha várias companhias. Ele investiu no teatro de revista, sendo chamado pelo ator Procópio Ferreira de “papa do teatro brasileiro“. O seu principal empreendimento teatral foi a Companhia de Operetas, Mágicas e Revistas do Teatro São José, este também de sua propriedade[3].

Fonte - http://oriodeantigamente.blogspot.com.br/
Fonte – http://oriodeantigamente.blogspot.com.br/

Em 12 de setembro de 1931, com o São José funcionando como cine-teatro, após a apresentação de “Amores e Modas”, de Mauro de Almeida, quando tinha início o filme “A minha noite de núpcias”, de Leopoldo Fróes, o prédio pegou fogo, só ficando de pé a fachada e as escadas laterais da sala de espera.

Intentando criar a casa da canção nacional, o dançarino e produtor Duque, em parceria com Segretto, aproveitou a parte não incendiada do teatro e instalou a Casa de Caboclo, reproduzindo a morada do nosso tabaréu: o madeiramento rústico, de paus toscos, coberturas de sapé, formando frisas e camarotes; palco e uma varanda de casa da roça, ao fundo[4].

Pascoal Segretto - Fonte - Wikipidea.org
Pascoal Segretto – Fonte – Wikipidea.org

No periódico carioca “Correio da manhã”, de 10 de setembro de 1932, as impressões da nova companhia de revista do Rio de Janeiro foi de certo espanto com o fato que tudo ali apresentado era “brasileiro”. Comentaram que “tudo é nosso: toadas, a suavidade das modinhas, desafios”. A apresentação de espetáculos tipicamente brasileiros não era novidade no Rio, mas a Casa do Caboclo chamou a atenção de maneira positiva da imprensa e do público.

Atores e Músicos de Primeira Qualidade

Dentro da estrutura clássica, entre quadros cômicos, sambas e marchinhas carnavalescas, a tônica dominante incidia no humor caipira, como por exemplo, as famosas imitações que Jararaca e Ratinho faziam de Getúlio Vargas e Washington Luís.

Em 1922 os Turunas Pernambucanos desembarcavam no Rio de Janeiro. Entre eles, Jararaca (o terceiro senatado à direita) e Ratinho (de pé, à esquerda, com o clarinete). pela foto podemos ver que o carioca conheceu a roupa e o imaginário dos cangaceiros ainda no início da década de 1920  - Fonte - http://mpbantiga.blogspot.com.br/
Em 1922 os Turunas Pernambucanos desembarcavam no Rio de Janeiro. Entre eles, Jararaca (o terceiro sentado à direita) e Ratinho (de pé, à esquerda, com o clarinete). Pela foto podemos ver que o carioca conheceu a roupa e o imaginário dos cangaceiros ainda no início da década de 1920 – Fonte – http://mpbantiga.blogspot.com.br/

Certamente que uma das razões deste êxito estava nos atores, atrizes e músicos que ali se apresentavam. Muitos destes fazem parte de qualquer trabalho referencial sobre as artes no Brasil. Além de Alvarenga e Ranchinho estava na companhia uma jovem atriz de 25 anos, chamada Dolores Gonçalves Costa, mas que ficou conhecida como Dercy Gonçalves. No grupo de músicos um negro forte, que era flautista, saxofonista, compositor, arranjador e se chamava Alfredo da Rocha Vianna Filho, mas já era conhecido como Pixinguinha. Dois anos depois da companhia inaugurada foi contratada uma jovem de apenas 16 anos, chamada Vicentina de Paula Oliveira, mas que já se apresentava artisticamente como Dalva de Oliveira. Neste mesmo ano Francisco José Freire Júnior, mais conhecido como Freire Júnior, estreou na Casa de Caboclo com a revista “Carnaval do sertão”, de autoria de Duque.

O Nordestino Mais Comentado no Rio

Em uma entrevista ao jornal “Diário da Noite” (Ed. de 5/7/1933, pág. 3), Duque comentou que seu sucesso em terras estrangeiras se devia muito ao nosso folclore, as características das raízes do Brasil, mas que para ele era muito pouco conhecido pelo público brasileiro em geral. Por isso a razão de criar aquela companhia teatral. Para Duque, tudo que fosse regional e chamasse atenção deveria ser apresentado na Casa do Caboclo. E se havia algo que vinha do Nordeste e repercutia com força nos jornais cariocas, eram as ações do cangaceiro Lampião e seu bando.

Antônio Lopes de Amorim Diniz Miranda, o Duque.
Antônio Lopes de Amorim Diniz Miranda, o Duque.

Mesmo atuando em uma região onde a infraestrutura era quase nada, as comunicações precárias, o apoio do Governo Federal mínimo, as peripécias e façanhas de Lampião eram publicadas quase diariamente em alguns periódicos cariocas.

O nome de Lampião tomou outra dimensão no Rio quando, no primeiro semestre de 1931, o capitão do Exército Carlos Chevalier, piloto da Aviação Militar, decidiu criar uma expedição militar ao interior nordestino. Pensava em utilizar aviões e aparato bélico moderno para caçar e matar o “Rei dos Cangaceiros”. Esta pretensa ação militar causou muito estardalhaço na imprensa e no meio do povo. Logo voluntários esbravejando muita valentia apareciam nas páginas dos jornais querendo pegar em armas. O negócio teve tal alcance que o plano foi apresentado a Osvaldo Euclides de Sousa Aranha, então ministro da justiça. Homem inteligente e capaz, mas certamente por ser gaúcho de Alegrete e desconhecer o sertão nordestino, Aranha caiu como um verdadeiro pato nesta maluquice desenvolvida pela mente necessitada de holofotes de Carlos Chevalier[5].

O inusitado plano encheu as páginas dos jornais cariocas, mas jamais saiu do papel para a ação prática. O capitão se tornou motivo de piada e Lampião se tornava cada vez mais conhecido na Capital Federal. Com um nome tão popular entre os cariocas, logo Lampião e o cangaço seriam atrações na Casa do Caboclo.

Lampião Vem Para a Festa

A peça foi promovida e dirigida por Duque. No final de agosto de 1933 ele divulga na imprensa que em breve estrearia “Lampião chegou ao arraiá”.

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A primeira apresentação ocorreu no sábado, 26 de agosto. Segundo os jornais cariocas o autor e diretor buscou explorar “a popularidade trágica do célebre cangaceiro nordestino”, mas sem esquecer o lado cômico, reservando aos espectadores “uma surpresa engraçadíssima” durante as cenas. Infelizmente os jornais não detalharam como seria o enquadramento deste contraste entre “a popularidade trágica” envolvendo a figura de Lampião, com “uma surpresa engraçadíssima”. Mas pelo próprio nome da peça “Lampião chegou ao arraiá”, deveria ser uma cena que evocaria uma chegada inesperada do cangaceiro em meio a festejos juninos. Mas isso é pura especulação!

passeata

Para promover a peça a “troupe” da Casa do Caboclo decidiu realizar uma “passeata” pela Praça Tiradentes, onde se encontrava o Teatro São José, inclusive com os atores montados em alimárias. Pela foto (acima) existente deste evento, podemos ver que o nível de reprodução cenográfica das roupas e equipagens do grupo de cangaceiro de Lampião ficou muito a desejar.

Nesta época Lampião e outros cangaceiros já haviam sido fotografados e, aparentemente pelo sucesso da companhia teatral, o problema desta cenografia tão limitada não foi dinheiro. Provavelmente tinha mais haver com a ideia de “Lampião chegou ao arraiá” ser uma peça cômica, onde o detalhamento não merecia a devida atenção.

Conclusão

“Lampião chegou ao arraiá” foi, como a maioria do trabalho desenvolvido por Duque na Casa do Caboclo, um sucesso. Ela não sofre nenhum processo de censura e nem os jornais tratam das apresentações de forma negativa. Mas igualmente não trazem maiores detalhes.

Atores e atrizes da Casa do Caboclo.
Atores e atrizes da Casa do Caboclo.

Certamente este e outros espetáculos que tinham como figura central o “Rei do Cangaço” foram produzidos no Rio de Janeiro. Seguramente estas apresentações ajudaram a popularizar entre os cariocas (talvez de forma destorcida) a imagem de Lampião[6].

Esta popularização só tendeu a crescer nos anos vindouros da década de 1930, principalmente com o trabalho de libanês Benjamin Abrahão Botto. As fotos e o filme por ele realizado, e censurado pelo Estado Novo, de um lado ajudaram a manter na mente de todos os brasileiros a imagem de Lampião, Maria Bonita e seus “cabras”. Mas esta exposição também contribuiu para que as autoridades do regime de força de Getúlio Vargas acentuasse junto às autoridades estaduais nordestinas a necessidade do fim deste cangaceiro. Como de fato ocorreu no dia 28 de julho de 1938.

Referências – Para compreender melhor como era A Casa de Caboclo, ver uma representação do especial da TV Globo “Dercy de verdade” – http://globotv.globo.com/rede-globo/dercy-de-verdade/v/dercy-se-apresenta-na-casa-de-caboclo-e-e-superaplaudida/1762999/

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-77042009000100005&script=sci_arttext#tx27

http://www.dicionariompb.com.br/freire-junior/dados-artisticos

www.mackenzie.br/…/O_teatro_popular_Rio_de_Janeiro__a_cidade_ polifonica__1930-1945_.pdf – Cadernos de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura, “O teatro popular: Rio de Janeiro, a cidade polifônica (1930-1945)”, artigo produzido sob a coordenação e organização de Arnaldo Daraya Contier (Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie.), com a participação de Andréa Cristina Primerano,  Andréa Rodrigues, Keila Haddad de Oliveira, Nívea Lopes (Alunas do Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie).

http://www.allaboutarts.com.br/default.aspx?PageCode=12&PageGrid=Bio&item=0801M2


[1] O que se chama teatro de revista é um género de teatro, de gosto marcadamente popular, que teve alguma importância na história das artes cênicas, tanto no Brasil como em Portugal, que tinha como caracteres principais a apresentação de números musicais, apelo à sensualidade e a comédia leve com críticas sociais e políticas, e que teve seu auge em meados do século XX.

[2] José Luís Rodrigues Calazans, o Jararaca, era natural de Maceió, Alagoas, e Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho. era paraibano da cidade de Itabaiana. Formaram uma dupla caipira, ou sertaneja, e fizeram as respectivas carreiras praticamente enfocando o gênero regional. Além de cantores foram compositores, atores e humoristas. Atuaram no teatro, rádio, cinema e televisão.

[3] O Almanak Laemmert aponta que o Teatro São José possuía em 1926 a lotação de 2 frisas, 28 camarotes, 840 poltronas, 57 balcões e 30 gerais.

[4] Duque, cujo nome verdadeiro era Antônio Lopes de Amorim Diniz Miranda, era protético dental de formação, mas dedicou-se à dança, criou coreografias, compôs canções que ficaram famosas. Excelente dançarino encontrou dificuldades e, em 1906, foi para Paris. Sua habilidade no maxixe foi fundamental para o sucesso na França. Maria Lino foi sua primeira parceira na Europa, mas a parceria mais longeva foi com a francesa Gaby. Logo, Duque abriu uma escola de dança em Paris e se apresentou com sucesso na América do Norte. De volta ao Brasil, escreveu e dirigiu revistas, ensinou no Conservatório Teatral e fundou a Casa de Caboclo. 

[5] Sabemos que Carlos Saldanha da Gama Chevalier é autor do livro “Os 18 do Forte”, uma coletânea sobre a vida do militar e revolucionário Siqueira Campos. Em 1 de outubro de 1927, o então 1º tenente Chevalier, realizou no Campo dos Afonsos (RJ) o primeiro salto de paraquedas no Brasil. Foi utilizado um avião Breguet 14 pilotado pelo 1º tenente Aroldo Borges Leitão e tendo como observador o capitão Átila Silveira de Oliveira.

[6] Provavelmente o teatro de revista deve ter produzido outros trabalhos com foco em Lampião e no cangaço. Sabemos que em outubro de 1938, após sua morte, foi encenada no Rio a peça “Lampeão, o caboclo máu”.

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