REBOCADORES SÃO AFUNDADOS NA COSTA PERNAMBUCANA E AUMENTAM AS ATRAÇÕES DO TURISMO DE MERGULHO NA REGIÃO

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Fonte – http://www.pe.gov.br/blog/2017/02/08/rebocadores-sao-afundados-na-costa-pernambucana-e-aumentam-o-atrativo-do-programa-mergulhe-pernambuco/

 Um Projeto Semelhante No Rio Grande Do Norte Afundou na Burocracia!

Hoje, 8 de fevereiro de 2017, afundaram quatro rebocadores na costa pernambucana. Mas o que poderia ser entendido como um acidente, associado a uma possível tragédia, é na verdade uma ação turística.

Estes barcos agora fazem parte do Parque dos Naufrágios de Pernambuco e se juntam a outros 14 rebocadores já afundados. São diversos naufrágios dos mais variados tipos e épocas, e até recifes artificias, criados através de projetos entre operadoras de mergulho, empresas privadas e públicas.

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Foto: Divulgação/brasilmergulho.com.br

A área é considerada um dos melhores locais para prática de mergulho no Brasil e, além dos naufrágios propositais, o Parque dos Naufrágios conta com navios históricos em sua área. Alguns exemplares datam do período da Segunda Guerra Mundial. 

Hoje foram afundados quatro rebocadores: Bellatrix (30 metros de comprimento), Phoenix (30 metros), São José (24 metros) e Virgo (26 metros). Os três primeiros serão submersos de uma vez. O afundamento simultâneo de três embarcações é inédito. Eles ficarão a uma distância de 13 km da costa a uma profundidade de 28 metros. Já o rebocador Virgo será afundado a 11 km do Porto do Recife e ficará a 25 metros de profundidade.

Estava previsto que o processo deveria durar cerca de 10 horas, começando às 7h e terminando por volta das 17h. Os barcos deveriam sair para o mar juntos, puxados entre si com uma corda. Após serem preparadas com a eliminação de combustíveis, contaminantes e outros materiais perigosos; as embarcações serão naufragadas por meio da abertura das válvulas, que permite a inundação gradual.

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Foto: Divulgação/brasilmergulho.com.br

O afundamento de hoje foi destacado pelo deputado estadual Gustavo Negromonte (PMDB), na Reunião Plenária desta terça (7). A iniciativa faz parte do Programa Mergulha Pernambuco, da Secretaria Estadual de Turismo, Esportes e Lazer, em conjunto com empresas do setor. Segundo o deputado o afundamento custou apenas R$ 8 mil e vai incentivar um nicho da área de turismo que atraiu 500 mil turistas em todo o País, no ano passado. “Recife tem as melhores condições de mergulho no Brasil: a água mais limpa, a melhor temperatura e um Parque Marinho de Naufrágios, com 29 navios afundados na costa”, apontou. Para o deputado, o projeto é audacioso e uma prova de que, mesmo numa época de crise, é possível fazer mais e melhor.

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Foto: Divulgação/brasilmergulho.com.br

Embarcações afundadas são consideradas excelentes pontos de mergulho, atraindo turistas de todo o mundo. A expectativa da Secretaria de Turismo de Pernambuco, que apresentou o projeto Mergulhe Pernambuco na tarde de ontem, é de que o número de visitantes aumente neste ano. “Pernambuco já é considerado um dos principais destinos do Brasil e do mundo em relação a isso. Esses novos pontos vão promover ainda mais nosso turismo e aumentar nossa visibilidade como destino do turismo de aventura”, afirmou o secretário de Turismo do estado, Felipe Carreras.

O parque vem atraindo mergulhadores de todo o País. E graças à divulgação feita em países da América do Sul, Pernambuco passou a receber centenas de turistas argentinos interessados na atração. Em 2016, foram vendidos cerca de 450 pacotes turísticos para conhecer o parque dos naufrágios artificiais. Desses, 160 foram comprados por argentinos.

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Foto: Divulgação/brasilmergulho.com.br

Além da capital pernambucana, Fernando de Noronha, Abrolhos (Bahia) e Bombinhas (Santa Catarina) contam com parques de embarcações naufragadas. A criação de recifes artificiais começou na década de 1820, nos Estados Unidos.

De acordo com o biólogo Henrique Maranhão, da UFPE, além das vantagens econômicas, pelo incremento no turismo, a ação traz benefícios ao meio ambiente. “Os naufrágios atraem organismos, que ficam aderidos à superfície. Com isso, peixes começam a se interessar pela área e chegam procurando abrigo e alimentação”, frisou o pesquisador. Tudo isso permite o estabelecimento de uma cadeia alimentar e de relações ecológicas no entorno do recife.

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Foto: Divulgação/brasilmergulho.com.br

O projeto de criação do Parque Estadual Marinho dos Naufrágios de Pernambuco reuniu na sua criação entidades como Ibama, UFRPE, UFPE, Iphan, Setur, Diretoria de Turismo de Ipojuca e Secretaria de Meio Ambiente de Olinda, além de representantes de hotéis e de empresas que trabalham com mergulho.

Na sequência de sua criação foi oficializado um grupo de trabalho que deu prosseguimento as etapas legais necessárias para implantar a primeira unidade de conservação deste tipo no Estado.

Os recursos para o Parque Marinho foram oriundos do fundo de compensação ambiental, disponíveis para serem investidos em unidades de conservação.

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Os rebocadores afundados – Fonte https://www.mercadoeeventos.com.br/noticias/destinos/parque-de-naufragios-de-pernambuco-ganha-novas-atracoes-para-mergulho/

A imprensa pernambucana comentou que o Rio Grande do Norte estuda a implantação de um projeto semelhante.

Realmente em outubro de 2013 a imprensa natalense vinculou reportagens com este tema, onde existia a ideia de serem utilizados barcos abandonados que se encontravam às margens do rio Potengi e no porto de Areia Branca para a existência desta área de mergulho. A imprensa informou também que na época chegou a ocorrer uma reunião com a participação de representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), Marinha do Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Secretaria Municipal de Turismo (Seturde) e empresas operadoras de mergulho.

Ficou definido que A Seturde e a UFRN ficariam responsáveis por apresentar um projeto conjunto para a criação do Parque dos Naufrágios. Com essa proposta, o Ibama abriria um pedido de licenciamento ambiental e disponibilizaria uma equipe composta por três oceanógrafos, três engenheiros de pesca e um biólogo especialista em peixes recifais para conduzir o licenciamento.

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Fonte – http://melhoresdestinosdobrasil.com.br/os-melhores-destinos/olinda-pe/mergulhar-nos-naufragios-de-olinda/

Mas morremos na praia!!!

Informações de pessoas ligadas ao meio dão conta que dois navios foram doados e preparados, existindo todas as autorizações da Marinha, inclusive com a indicação do ponto que seria o Parque de Naufrágios de Natal, mas demorou muito a autorização dos órgãos ligados a área ambiental federal e ambos os navios se deterioraram no estaleiro… Uma lástima pra Natal e para o Rio Grande do Norte, sempre tão pobre!

O triste é que estas alternativas ao Turismo, de custo relativamente baixo até onde entendo, são sempre desprezadas aqui em detrimento a obras muito caras, com muita engenharia e de retorno prático duvidoso.  Mas que são ótimas para a canalização de dinheiro Federal, principalmente em períodos pré eleitorais.

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Imagem ilustrativa – Crédito: Fernando Clark/Cortesia

FONTES

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/suplementos/tur/online/parque-dos-naufragios-em-pernambuco-ganha-novos-atrativos-1.1700606

http://www.brasilmergulho.com/bellatrix/

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2013/04/23/estado-tera-parque-marinho-de-naufragios-80671.php

https://pedesenvolvimento.com/2013/04/29/pernambuco-tera-parque-estadual-marinho-dos-naufragios/

http://www.alepe.pe.gov.br/2017/02/07/gustavo-negromonte-destaca-acao-que-vai-incrementar-o-mergulho-de-naufragios-no-recife/

http://www.nominuto.com/airtonbulhoes/barcos-abandonados-na-redinha-podem-abrigar-a-zica-marinheiro/15897/

http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2013/10/criacao-de-parque-dos-naufragios-e-retomada-por-orgaos-no-rn.html

RECIFE DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Hangar de manutenção em Recife. Salvo engano o monomotor da foto é um Grumman F6F Hellcat, caça típico dos porta-aviões americanos que patrulhavam o Atlântico Sul na caça de submarinos do eixo.

TEXTO – FRANCISCO MIRANDA – BLOG DO FRANCISCO MIRANDA
-http://chicomiranda.wordpress.com/2011/07/25/recife-e-a-segunda-guerra-mundial/

Em 1939 Recife sediava o III Congresso Eucarístico Nacional, que seria inaugurado no local o Parque 13 de maio. Neste local foram levantadas apressadamente arquibancadas e todo local foi preparado para o evento. Peregrinos de todo o país e do mundo chegavam para um dos maiores eventos religiosos da Igreja Católica do mundo.

Os rumores de guerra já batiam às portas da cidade e isso ficou mais evidente quando a embarcação britânica Amanzora, que trouxe à cidade os participantes do congresso, foi chamada as pressas para retornar à Inglaterra. E de fato, durante a própria abertura do congresso os alto-falantes comunicavam aos pernambucanos e a todos os peregrinos, a invasão da Polônia pela Alemanha.  Recife ainda não sabia, mas ela seria uma das cidades mais impactadas com o alvorecer dessa nova ordem mundial.

Recife, a Veneza Brasileira.

Ainda em 1941, os EUA iniciou a política de envio de observadores navais para vários portos brasileiros. O primeiro a chegar foi o capitão aposentado da US Navy W.A. Hodgman. Ele chegou ao Recife em 26 de fevereiro, sob as ordens do Escritório de Inteligência Naval. O observador foi instalado inicialmente em um escritório no consulado americano e posteriormente no terceiro andar do prédio do Banco de Londres, na Rua do Bom Jesus, próximo ao Porto do Recife, com isso ele poderia acompanhar as atividades portuárias.

Quadrimotor de patrulha naval e caça de submarinos Consolidated PB4Y-1 Liberator, variante naval do famoso bombardeiro B-24. Foto realizada em Ibura Field, outubro de 1943.

Recife era a terceira cidade do Brasil, com uma população estimada à época de 400 mil pessoas.  O porto, apesar do quebra-mar, era pequeno e estreito e necessitava de atracadores e rebocadores para atracar e desatracar. Armazéns estavam disponíveis com todo o tipo de loja. Instalações de abastecimento eram excelentes.

Hidroavião Catalina em Ibura Field

Com a declaração de guerra contra as potências do Eixo, e a cessão de bases no litoral brasileiro combinada com as operações de defesa do atlântico sul, Recife passa a ser uma cidade estratégica para as pretensões americanas, e com o apoio do então interventor do Estado Agamenon Magalhães, Recife terá a Sede da Quarta Frota Naval e será a base das operações marítimas com raio de atuação do Canal do Panamá até o extremo sul das Américas, além de um campo de pouso construído pelos americanos e chamado de Ibura Field, que atualmente é o Aeroporto Internacional dos Guararapes.

Torre de controle de Ibura Field

O governo do Estado fez enormes esforços para disponibilizar toda a infraestrutura para a acomodação da Quarta Frota. Foi disponibilizado um prédio inteiro para o Quartel-General além de outros prédios auxiliares no centro do Recife e alguns quilômetros de distância do Porto.

Militares americanos baseados em Recife.

Além disso, em conjunto com os Estado Unidos, foram construídos Hospitais de Campanha para serem utilizados como apoio de feridos no front africano, centros de treinamento de tropas, estruturação de defesas antiaéreas em toda a costa, alocação de unidades militares para atender a possível defesa em caso de invasão, também foi criado um centro de comunicação Aliada que tinha como principal objetivo estabelecer uma comunicação direta com a África, chamada Rádio Pina, que foi mantida em atividade pela Marinha Brasileira até 1992.

Marujo junto a um bombardeiro bimotor B-26.

Contudo as mudanças não foram meramente militares, houve um impacto profundo na sociedade pernambucana e, em especial em Recife. Primeiramente o impacto foi econômico, já que no auge de suas atividades a Quarta Frota mantinha cerca de 4000 homens no Estado, todos recebendo integralmente seus soldos e gastando, principalmente com os atrativos da vida nos trópicos. Passou a circular no mercado local dólares americanos, e isso impulsionou consideravelmente a comércio local e as atividades de apoio.

Descontração nas praias pernambucanas. Percebam as rodas do jipe com correntes, para passar nos atoleiros próximo as praias.

Outros aspectos interferiram na vida do recifense, que teve que passar por um racionamento de combustível e apresentou inflação de bens e serviços locais.

Arquitetura tradicional do centro de Recife chamando a atenção dos americanos

Segue abaixo alguns exemplos:

  • Atualmente o edifício que serviu de base para a Quarta Frota ainda está em funcionamento e é utilizado por alguns órgãos do governo do Estado, mas observa-se até os dias de hoje um grupo organizado de engraxates nas calçadas da av. Guararapes, e a origem do ofício nesse local remota na implantação do Quartel General da Quarta Frota, já que havia uma concentração de militares transitando nessa região com seus sapatos e coturnos, ou seja, uma demanda em potencial. Vários engraxates tinham ali sua fonte de renda. Passados décadas o local ainda é o melhor lugar da cidade para se lustrar os sapatos.
  • O Restaurante Leite é considerado o mais antigo do Recife e um dos mais requintados também. Já na década de 40 recebeu vários marinheiros e militares que, com seu soldo faziam a alegria dos garçons, já que as gorjetas eram em dólares.
  • O governo de Agamenon Magalhães cedeu outro edifício para a implantação do Grêmio Recreativo, onde aconteciam bailes dançantes, contudo esses bailes eram privados para os americanos e mulheres pernambucanas tinha acesso livre. Como não poderia, isso causava revolta entre os homens pernambucanos. Não foram os poucos os casos de brigas entre militares e os naturais da cidade.
  • Durante a guerra, o Porto do Recife foi um dos mais movimentados do país, e não por acaso, o bairro do Recife (uma ilha portuária),  tinha uma vida noturna agitada, oferecendo aos marinheiros todos os atrativos festivos das mulheres da noite. Com o fim da guerra a região entrou em declínio e passou por um período de abandono, sendo considerado por muitas décadas o baixo meretrício, o local era evitado pela maioria das pessoas. Há alguns anos, houve um esforço para recuperação do bairro do Recife e, atualmente, o bairro abriga um polo tecnológico e é uma das principais atrações turísticas do Estado.
  • Com o receio de bombardeios a cidade, foi instituída pelo governo um apagão em toda a região metropolitana do Recife; viaturas do exército realizavam rondas noturnas pela cidade para identificar moradores que desrespeitavam o apagão. Várias baterias antiaéreas foram estrategicamente posicionadas por toda a cidade na eminência de um ataque aéreo.
  • Helena Roosevelt, no período em que o presidente americano visitou Natal, participou em Recife da inauguração do Cassino Americano que permaneceu em funcionamento até a década de 90 do século passado.
  • O Encouraçado São Paulo ficou permanentemente estacionado no litoral pernambucano a fim de realizar a proteção marítima do Estado.
  • O 200º Hospital Estação foi construído e depois transformado no Hospital da Aeronáutica
  • O Ibura Field recebeu vários bombardeios B-52, B-29 e outras aeronaves de passagem para a Europa e a Itália, suas pistas ocupavam uma área maior do que atualmente ocupa o Aeroporto Internacional dos Guararapes, uma dessas pistas é atualmente a Rua Barão de Souza Leão, uma das principais vias de acesso entre Boa Viagem e o atual aeroporto.

Oficial americano junto a um Catalina

O estilo de vida americano foi se enraizando na vida do povo do Recife, que passou a adotar o “OK” e a usar camisetas de manga curta no lugar dos ternos que eram tão tradicionais até os anos 30.

Troféu de guerra.

Observando tudo isso, o que mais impressiona é que apesar das evidências o povo de Pernambuco sabe muito pouco sobre esse choque de cultura causado por uma guerra que, aparentemente, parecia tão distante, e que proporcionou um intercâmbio que deixou marcas visíveis até hoje.