DIA D – O MAIS LONGO DOS DIAS

Agosto de 1942. Um homem governa a Europa. De Berlim, ele controla um império que além da Alemanha inclui a Áustria, Tchecoslováquia, Polónia, Dinamarca, Noruega, Luxemburgo, Holanda, Bélgica, França, Lituânia, Letônia, Estônia, Hungria, Roménia, Bulgária, Iugoslávia, Albânia, Grécia, várias ilhas mediterrâneas, quase toda a costa setentrional da África e 2.000.000 de km² da antiga União Soviética.

A Itália de Mussolini é sua aliada. A Espanha de Francisco Franco e Portugal de Antônio de Oliveira Salazar, são seus simpatizantes. Na Europa só restam neutras a Suécia, a Suíça e a Turquia. A Europa está nas mãos de Adolf Hitler.

No entanto, a expansão do nazismo havia atingido seu ponto crítico. Do outro lado do Mediterrâneo, na África, os contra-ataques dos exércitos britânicos haviam detido o avanço dos alemães. A leste, o Terceiro Reich encontrara um obstáculo intransponível: a cidade russa de Stalingrado.

Lentamente, mudavam os ventos da fortuna.

Mulheres atuando na artilharia anti aerea na Inglaterra – Fonte – Office official photographer

Em fevereiro de 1943, as tropas alemãs que assediavam Stalingrado (atual Volgogrado) rendiam-se ao marechal russo Zhukov. Em maio, o famoso general alemão Rommel era definitivamente derrotado na África, e em julho o general americano Mark Clark conduzia as forças americanas e aliadas, invadindo a Itália. Não obstante, o avanço soviético a leste e anglo-americano ao sul era penoso. Embora os aliados mantivessem a hegemonia no Atlântico e aumentassem sistematicamente sua vantagem aérea, em terra o poderio alemão parecia invencível, apesar de algumas derrotas.

Praias na França semanas antes do Dia D – Fonte – Bundesarchiv_Bild_101I-719-0240-05,_Pas_de_Calais,_Atlantikwall,_Panzersperren

Através do canal da Mancha, o exército alemão de ocupação na França e as tropas aliadas acantonadas na Inglaterra entreolhavam-se ferozmente. Mas a guerra poderia arrastar-se sem fim, a menos que fosse aberta uma terceira frente que levasse diretamente ao coração da Alemanha. O caminho para lá atravessava a França. Era preciso invadi-la partindo da Inglaterra.

O Afiar das Garras

Em maio de 1944, é a invasão. Concentram-se na Inglaterra dezessete divisões britânicas e vinte divisões americanas. Havia ainda tropas remanescentes que escaparam dos territórios ocupados: uma divisão polonesa, sob o comando do General Sikorski, e outra francesa, sob a liderança de um homem muito alto, cujo nome estava popularizando-se rapidamente: Charles de Gaulle, que nos anos anteriores organizara um governo livre na Argélia.

Bombardeio quadrimotor norte americano B-24, do 376th Bombardment Group.

Os aliados contavam com 16 mil aviões, dos quais 3.467 bombardeiros pesados e 5.407 caças. Mais de 6 mil navios de todo tipo esperavam ao largo da costa o dia do desembarque. Ao todo, quase três milhões de homens prontos para o combate. (ATENÇÃO – Um dos pilotos da Real Força Aérea Inglesa, que inclusive morreu em combate no Dia D, nasceu em Recife, Pernambuco e pilotava um caça Mustang P-51 – VEJA EM – https://tokdehistoria.com.br/2022/11/04/exclusivo-quem-foi-o-brasileiro-que-morreu-no-dia-d-pilotando-um-caca-mustang/ )

Sir Leigh Mallory, comandante-chefe da força aérea, ordenava incursões diárias sobre o território ocupado, despejando milhares de toneladas de bombas. Os clandestinos maquis da Resistência Francesa intensificavam seus ataques contra as linhas de comunicação e suprimento inimigas.

Os alemães também estavam prontos. Conheciam os preparativos maciços que se faziam na Inglaterra e ignoravam somente o ponto exato da invasão. Hitler jactava-se da “Muralha Atlântica”, descrevendo-a como “um cinturão de fortalezas e gigantescas fortificações, desde a Noruega aos Pireneus”.

Típico oficial alemão durante a Segunda Guerra Mundial.

No entanto, havia pontos fracos na defesa germânica. A “Muralha Atlântica” era menos poderosa do que o próprio Hitler acreditava. As comunicações alemãs, sob contínua pressão de bombardeiros e ações de sabotagem, começavam a se tornar deficientes. A Luftwaffe (força aérea alemã) tornava-se impotente para, ao mesmo tempo, bombardear os territórios aliados e defender as áreas ocupadas.

Na verdade, os alemães contavam com duas armas: nas praias os canhões camuflados com as cercas de arame farpado da “Muralha Atlântica” e 60 divisões de exército distribuídas pela Europa ocidental. O problema que se apresentava aos estrategistas do Eixo era a tática a adotada. Hitler e Rommel confiavam nas fortificações costeiras e pretendiam destruir os invasores nas praias atacadas. O Marechal von Rundstedt, comandante do exército, preferia confiar em seus soldados. Seu plano era permitir o desembarque e depois proceder a um contra-ataque organizado.

O grosso das tropas, equipamentosa e armamentos seguiu a bordo de centenas de navios de transporte.

A controvérsia era importante. O projeto de Hitler pressupunha uma superioridade de fogo alemã em qualquer ponto que os aliados atacassem. Nas praias seria jogado o sucesso ou fracasso da invasão. Se as forças anglo-americanas conquistassem as praias, a Alemanha se veria obrigada a recair na defensiva. O plano de Rundstedt era mais cauteloso e se baseava na superior mobilidade das tropas alemãs. Sua ideia era proceder a uma ação de retardamento, permitindo o desembarque enquanto concentrava forças para contra golpear. Esse plano tinha duas vantagens: afastaria o combate principal das praias, eliminando o fator surpresa e impediria que as linhas fossem rompidas ao primeiro impacto do ataque. Mas prevaleceu, naturalmente, o plano de Hitler. Entretanto nenhum dos planos tomou em consideração um problema sério e básico: o apoio da população local aos aliados.

Hora, Dia e Lugar

Os soldados de infantaria dos Estados Unidos atravessam as ondas ao desembarcarem na Normandia, no Dia D. (Foto AP)

O lugar aparentemente mais lógico para a realização da invasão era o passo de Calais, onde o mar se estreita e poucos quilômetros separam Calais, na França, de Dover, na Inglaterra. De fato, na região acotovelavam-se milhares de soldados e grandes quantidades de armas e equipamentos. Os observadores alemães davam conta de grande movimentação de tropas. Parecia certo que a qualquer momento os aliados atacariam Calais.

No entanto, tudo era falso. Os aviões e tanques que os espias alemães viam concentrar-se eram de madeira, borracha e papelão. A atividade das tropas era feita de maneira a fazer supor que seu efetivo era muitas vezes superior à realidade. O local do ataque não era Calais, mas as costas da Normandia, mais ao sul.

Rotas de desembarque no Dia D na Normandia – Fonte – Wikipedia

O objetivo eram cinco praias na baía do Rio Sena, que receberam nome em código: Utah e Omaha a oeste, cuja captura estaria a cargo do I Exército americano, chefiado pelo general Omar Bradley. Gold, June e Sword, a leste, seriam alvos das tropas anglo-canadenses do II Exército britânico. Na França o comando geral pertenceria ao general inglês Bernard Law Montgomery. O comandante em chefe de toda a operação era o então general Dwight D. Eisenhower.

O dia marcado precisava ser suficientemente claro para permitir o lançamento de para quedistas durante a noite e facilitar as missões de apoio aéreo. Também era necessário que a maré fosse baixa, para evitar os obstáculos colocados à beira-mar, e que o oceano estivesse tranquilo, para os navios de assalto efetuarem a travessia sem contratempos. Escolheu-se 5 de junho. E a notícia foi transmitida em código à Resistência Francesa, para preparar o auxílio em terra.

Navios de desembarque descarregando tanques e suprimentos na Praia de Omaha na Normandia- Fonte – Wikipedia

Operação Overlord

O dia 5 de junho chegou e passou. Nada aconteceu. O mau tempo fizera com que que a data fosse transferida. A Eisenhower cabia uma importante decisão: o tempo não melhoraria antes de 7 de junho, quando terminaria a fase das marés favoráveis. Condições ideais só existiriam meses depois. Competia-lhe adiar a invasão por tempo indeterminado ou arriscar-se a atacar sob condições atmosféricas desfavoráveis. A decisão era: atacar.

À zero hora de 6 de junho, a Real Força Aérea britânica começou a despejar 6.000 toneladas de bombas sobre objetivos militares entre Cherburgo e Le Havre. Começara a Operação Overlord. Chegara o Dia D.

Tanques M4 Sherman do Exército dos Estados Unidos em uma embarcação de desembarque (LCT), pronto para a invasão da França, final de maio ou início de junho de 1944 – Fonte – Wikipedia

À 01h30, os paraquedistas ingleses da 6.ª Divisão eram lançados sobre Breville. Sua missão era capturar o local e proteger os movimentos da ala esquerda britânica em Sword. Ao mesmo tempo, os homens da 82ª e 101ª divisões aerotransportadas dos Estados Unidos saltavam à retaguarda da praia de Utah, no rumo da localidade de Sainte-Mère-Eglise. Deveriam estabelecer uma cabeça de ponte e aguardar a chegada do 7º Corpo do Exército, que desembarcaria em Utah e desviaria para oeste, a fim de isolar a península de Cotentin. Os aliados precisavam de um porto, e o escolhido foi o de Cherburgo. Essa ação destinava-se a tomá-lo.

Ao alvorecer, os bombardeiros americanos atiraram mais de 3.000 toneladas de bombas sobre as defesas da costa. Às 06h30, com a cobertura cerrada da artilharia naval, começava a invasão.

Poderio aéreo aliado era enorme durante o Dia D – Fonte – NARA.

Na Normandia, o VII Exército alemão, com quinze divisões, foi colhido de surpresa. Confiando no mau tempo, o Comandante Dollman se ausentara, assim, como seu superior, Rommel. Rundstedt, ante a gravidade da situação, pediu imediatamente permissão ao Quarte General para colocar em combate as reservas mecanizadas.

A 352ª Divisão alemã conseguiu criar muitos problemas para os americanos em Omaha, infligindo pesadas perdas. A direita inglesa também foi paralisada. Mas, em Utah, as tropas dos Estados Unidos penetraram nove quilômetros, conectando com as forças da 101ª Divisão Aerotransportada. Do outro lado, em Juno, os canadenses avançavam onze quilômetros. E, na esquerda, Breville e Ouistreham eram capturadas pelos ingleses.

Praia Gold – Fonte – Wikipedia

O único contra-ataque violento sobre os ingleses foi desferido pela 21ª Divisão Panzer durante a tarde, pois só às 15h30 o Quartel General alemão resolvera permitir a Rundstedt que lançasse mão das reservas blindadas. No entanto, era muito tarde para impedir o desembarque. Correndo o risco de se verem isolados, os defensores da costa foram forçados a retroceder.

Ao cair da noite, os aliados haviam rompido a “Muralha Atlântica” entre os rios Vire e Orne, estabelecendo uma frente de 48 quilômetros. Terminara o Dia D.

O Terceiro Reich: Princípio do Fim

Prisioneiros de guerra alemães em 19 de agosto de 1944 às 14h00. Eles renderam-se ao grupo de batalha da 4ª Divisão Blindada Canadense – Fonte -http://archives.cbc.ca/war_conflict/second_world_war/clips/1303/ Aujourd’hui: http://www.flickr.com/photos/mlq/4431414623/

Os dias posteriores foram dramáticos. Rundstedt lançava contragolpes desesperados em toda a frente. Enquanto isso, o XVº Exército alemão, com dezessete divisões, permanecia inútil em Calais, aguardando uma invasão que jamais viria. Em 13 de junho, os aliados já haviam desembarcado 326 mil homens, 54 mil veículos e 104 mil toneladas de provisões.

Com incontestável supremacia aeronaval, os aliados firmavam suas cabeças de praia e iniciavam o avanço para o interior. A 19 de junho, uma tempestade causou-lhes sério revés, destruindo o porto artificial americano em Saint-Laurent-sur-Mer e avariando seriamente o dos ingleses em Arromanches. Mas, a 27 de junho, Cherburgo rendia-se e os aliados conquistavam um porto definitivo.

Soldados canadenses com uma bandeira nazista capturada – Wikipedia

Depois disso, a ofensiva foi lenta, mas inexorável. Os soviéticos avançavam a leste. E Hitler conhecia o terrível significado da guerra em todas as frentes. O rumo dos aliados era Paris, mas não puderam tomá-la. Essa glória coube à infatigável Resistência Francesa, que organizou um levante popular a 25 de agosto. No mesmo mês há um novo desembarque aliado, desta vez ao sul da França. A Alemanha recua em todas as frentes. Em novembro, o persistente von Rundstedt engendra um contra-ataque nas Ardenas, para chegar à Bélgica e cortar as linhas de comunicação aliadas. Mas o ataque fracassa e o Terceiro Reich agoniza. As forças aliadas atravessavam as fronteiras do mundo concentracionário nazista, para varrê-lo do mapa e da história.

Cemitério militar canadense de Beny-sur-Mer – Fonte – Wikipedia.

Fonte – Enciclopédia Conhecer, Abril S.A, Cultural e Industrial, São Paulo-SP, 1974 – Volume VII – páginas 1558 e 1559.

ECOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – NAZISMO É FONTE INESGOTÁVEL PARA FILMES

'Operação Valquíria' foi estrelado por Cruise e rodado na Alemanha
‘Operação Valquíria’ foi estrelado por Tom Cruise e rodado na Alemanha

Período nazista ainda inspira enredos de produções europeias e hollywoodianas. Mas abordagens e meios estilísticos se adaptam a cada época. Tendências atuais são o espetacular e o superficial.

 

Chegou a vez de a segunda e terceira gerações serem abordadas no mundo do cinema. Não são mais muitos os que vivenciaram conscientemente os terrores do nazismo. As testemunhas da época, os que eram adultos entre os anos 1933 e 1945, são cada vez mais raros.

Mas aí estão os seus filhos e netos, cujas vivências os cineastas da atualidade evocam com frequência crescente. Tanto as histórias dos descendentes dos criminosos quanto as dos filhos das vítimas judias são tema de numerosas produções.

História sem fim?

Em Lore – prêmio do público no Festival de Locarno 2012 – a diretora australiana Cate Shortland fala de uma garota de 15 anos que, entre os destroços da Alemanha do pós-Guerra, tenta se libertar da imagem de mundo de sua mãe, ex-adepta da ideologia nazista. O filme foi produzido por uma equipe internacional, cabendo o papel-título à estreante alemã Saskia Rosendahl.

300x

Em Der deutsche Freund (O amigo alemão), a teuto-argentina Jeanine Meerapfel ocupa-se da difícil relação entre uma filha de imigrantes judeus e o filho de um oficial nazista refugiado, na Argentina.

O nazismo e o Holocausto tornaram-se temas eternos para o cinema? Ao que tudo indica, a resposta é um decidido “sim”. E com boa razão, já que ainda são tantas as histórias a serem contadas.

“De fato, a geração diretamente afetada está se extinguindo agora. Mas não os seus filhos e os filhos dos filhos”, afirma, em entrevista à Deutsche Welle, a especialista em cinema Sonja Schultz, que há vários anos estuda o tema. “Esses filmes abordam repetidamente questões como ‘afinal, o que foi mesmo que aconteceu com o vovô?’.”

O fator Holocausto

Além disso, avança uma nova geração de realizadores que, ao tratar do tema, coloca novas questões e emprega meios estilísticos diferentes. A autora Schultz distingue sucessivas tendências na forma de abordar cinematograficamente o nazismo. Logo após a Segunda Guerra Mundial, eram os atingidos, os cineastas judeus ou comunistas, a colocar os fatos na tela. Uma década mais tarde, a moda era o cinema militar. Os realizadores tentavam aliviar a culpa dos simples soldados ao postularem: “A Wehrmacht era inocente”. Somente com o advento do Novo Cinema Alemão, nas décadas de 60 e 70, estabeleceu-se uma visão mais pessoal e condizente com o veículo cinematográfico.

Cena de "A Lista de Schindler"
Cena de “A Lista de Schindler”

A série televisiva norte-americana Holocausto, de 1978, e mais tarde a produção de Steven Spielberg A lista de Schindler (1993) abriram as portas para filmes com alto grau de emocionalidade. A partir do épico de Spielberg também se redefiniu o grau de dureza e crueldade admissível na grande tela ao se tratar do tema, explica Schultz.

E, de súbito, também no cinema e na TV da Alemanha as formas melodramáticas passaram a ser permitidas ao se falar do nazismo – até então, no “país dos criminosos”, extremos de emoção eram tabu. Mais um pouco e ficou até possível tratar do assunto de forma humorística, como Dani Levy em Mein Führer (2007).

Necessidade de espetáculo

Gerhard Lüdeker, pesquisador da Universidade de Bremen, aponta um outro motivo para a tendência de filmes sobre o nazismo cada vez mais comerciais e espetaculares: ele constata, entre os estudantes de sua universidade, um interesse cada vez menor pelo tema nacional-socialismo.

“As reações de rejeição chegam a beirar a alergia”, exagera. Por isso hoje em dia os filmes precisam oferecer um espetáculo convincente caso pretendam atrair o público para a frente da televisão ou para as salas de exibição. “Hitler como velhote trêmulo, por exemplo, ou então como figura cômica”, seriam algumas receitas possíveis, diz o especialista.

Bruno Ganz como Hitler: história viva ou apelação?
Bruno Ganz como Hitler: história viva ou apelação?

Lüdeker aponta que, na escolha dos meios, não é mais possível se furtar aos recursos estilísticos de Hollywood. Tanto Bastardos inglórios (2009), de Quentin Tarantino, quanto Operação Valquíria (2008), de Bryan Singer, estrelado por Tom Cruise, foram exemplos especialmente espetaculares de cinema hollywoodiano, porém rodados na Alemanha. E o alemão A queda(2004), tendo Bruno Ganz no papel de Adolf Hitler, redundou em sucesso de bilheteria, não só em nível nacional.

Superficialidade e apelação na sala de estar

Nos dez últimos anos, deslocou-se a ênfase das narrativas cinematográficas sobre o nazismo, em especial na televisão alemã. Com seus documentários sobre esse período, o redator Guido Knopp definiu um estilo. Ele inaugurou um gênero de filme histórico de fácil compreensão, mas também superficial e apelativo, geralmente centrado nas figuras da elite da liderança nazista.

No campo da ficção, foram sobretudo o produtor Nico Hofmann e sua empresa Teamworx a escrever história na TV alemã nos últimos anos. Seus filmes, frequentemente descritos como “eventos televisivos” e transmitidos em duas partes, se caracterizam pela dramaturgia muito esquemática e a narrativa convencional, com ênfase no apelo emotivo.

Cena de "Die Flucht"
Cena de “Die Flucht”

A perspectiva temática também se modificou: agora os alemães são igualmente vistos como as vítimas, os expulsos, os desalojados (Die Flucht – A fuga, 2007), como gente massacrada pelos bombardeios e sofrendo pelos desmandos de sua própria liderança política (Dresden, 2006).

Passado concluído?

Na avaliação dos pesquisadores, hoje em dia ficou impossível idealizar a época nazista, como se fez em décadas passadas, diante das abundantes imagens do horror nazista, por demais conhecidas e ancoradas na memória coletiva.

No entanto, uma outra forma de recalque se insinuou, explica Lüdeker. “A questão sempre é, também, aplacar o presente. A ideia por trás é: ‘Nós conseguimos superar esse terrível capítulo. Nós superamos os nazistas. Nós escapamos dos russos e fundamos a nova Alemanha. Nós conseguimos isso tudo – então, por enquanto, basta”.

Segundo o estudioso de cinema, desse modo, aos olhos dos espectadores o passado é algo que se encerrou. E nada impede que se “dê sentido arbitrário e se reinterprete” uma história concluída. Com temas contemporâneos, isso é difícil, senão impossível.

Personagens “normais” ameaçam

Sonja Schultz também enfatiza que grande parte dos filmes sobre a época, a exemplo de Rommel, de 2012, gira em torno da elite dos líderes nazistas, e não de pessoas “perfeitamente normais”. Isso na verdade, deveria ser muito mais excitante, tocando os espectadores mais de perto. Pois cada um seria forçado a se perguntar: “Como eu teria agido numa situação como esta?”.

Ulrich Tukur no papel-titulo de 'Rommel'
Ulrich Tukur no papel-titulo de ‘Rommel’

Por outro lado, é bem mais confortável observar na televisão as maquinações da elite política. Por isso, os filmes sobre gente simples são produzidos com bem menos frequência e menos aparato. “Esses filmes doem mais”, pois exigem sempre que o público estabeleça uma ponte com o presente e com o próprio comportamento, diagnostica a autora.

Autoria: Jochen Kürten / Augusto Valente
Revisão: Mariana Santos

Fonte – http://www.dw.de/nazismo-%C3%A9-fonte-inesgot%C3%A1vel-para-filmes/a-16423565