VOO VARIG 967 – UMA ETERNA INCÓGNITA DA AVIAÇÃO BRASILEIRA

O Boeing 707-323 cargueiro (PP-VLU), desaparecido misteriosamente em 1979
O Boeing 707-323 cargueiro (PP-VLU), desaparecido misteriosamente em 1979

Semelhante ao atual desaparecimento do Boeing da Malaysia Airlines, sumiço do avião brasileiro é o maior mistério da aviação nacional e era pilotado por um paraibano com mais de 23.000 horas de voo

Por Filipe Rosenbrock

Um Boeing 777-200 desaparece sem dar sinal na Ásia. O avião era propriedade da Malaysia Airlines, uma das maiores companhias aéreas da Ásia. A bordo estavam 239 pessoas, sendo 227 passageiros, duas crianças e 12 membros da tripulação. A aeronave decolou por volta das 20h30 (horário de Brasília) do aeroporto de Kuala Lumpur – capital da Malásia – rumo a Pequim, na China. O sumiço foi registrado quando o vôo passava pelo golfo do Vietnã, duas horas depois de deixar o país de origem, já na madrugada de sábado.

Notícia como esta não é a única na história da aviação mundial. Apesar de não tão corriqueiras, sempre surpreendem a quem as acompanha pelos requintes de mistério que as cercam. Uma destas crônicas, motivada pela situação do vôo desaparecido, faz lembrar o que até hoje persiste como a maior incógnita da aviação brasileira e uma das maiores do mundo: O desaparecimento do Boeing 707-323 cargueiro da Varig (PP-VLU) no Oceano Pacífico, há 34 anos.

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Até hoje nada trouxe uma solução exata sobre o que aconteceu naquela noite de 30 de janeiro de 1979. Na ocasião, o vôo 967 decolara do aeroporto de Narita, em Tóquio, com destino ao Rio de Janeiro. A rota previa ainda uma escala em Los Angeles (EUA) para a troca da tripulação. Entre os tripulantes da aeronave um nome merecia destaque; o comandante Gilberto Araujo da Silva, experiente piloto da companhia com mais de 23 mil horas de voo.

Gilberto era conhecidíssimo entre os integrantes do quadro de funcionários da Varig. Além da sua experiência reconhecida, ele também era detentor da Ordem do Mérito Aeronáutico e fora condecorado na França pela sua perícia em evitar um acidente maior em outro vôo com um Boeing 707 da Varig em 1973. O comandante havia impedido que o avião em chamas caísse sobre várias casas nas imediações do aeroporto de Orly, próximo de Paris, pousando numa plantação de cebolas daquela região. Foram 112 mortos, número que podia ter sido maior se não fosse a sua habilidade nos ares.

Comandante Gilberto Araújo da Silva nasceu em Santa Luzia, Paraíba, em 12 de novembro de 1923
Comandante Gilberto Araújo da Silva nasceu em Santa Luzia, Paraíba, em 12 de novembro de 1923

Além de Gilberto, o avião era tripulado pelo co-piloto Erni Peixoto Millyus, pelos oficiais Evan Braga Saunders e Antônio Brasileiro da Silva Neto e pelos engenheiros de voo Nicola Espósito e José Severino de Gusmão Araujo. 

Passaram-se um pouco mais de meia-hora quando a torre de controle em Tóquio esperava o contato programado com o voo que rumava a Los Angeles, sem resposta. Assim se foram nas várias tentativas sem nenhum resultado obtido. O desaparecimento era evidente e logo, autoridades japonesas e americanas começaram as buscas atrás de vestígios da aeronave no mar do pacífico.

Entre as 20 toneladas de carga, como equipamentos eletrônicos, estavam 53 quadros do pintor nipo-brasileiro Manabu Mabe (1924-1997). Naquele ano, o artista completava seus 50 anos de vida e as obras, avaliadas perto dos US$ 1,2 milhão, voltaram de uma de suas exposições no Japão.

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Várias teorias foram lançadas para tentar explicar o sumiço do avião. Uma das mais plausíveis seria a de que o Boeing 707 sofrera uma despressurização da cabine, o que teria deixado a tripulação inconsciente. Sem os comandos, o avião teria voado por algumas horas em piloto automático até cair em um ponto isolado do Oceano Pacífico, muito além da área de busca estabelecida. No entanto, uma vertente aponta também para um abatimento da aeronave por caças MiG 25 soviéticos. Segundo esta hipótese, o voo teria invadido o perigoso espaço aéreo da URSS e fora então interceptado pela artilharia russa.

Até hoje, permanece o mistério nos ares brasileiros. Muito depois da falência da Varig nos anos 2000, as perguntas e dúvidas surgidas após o sumiço do voo 967 perduram até hoje, sempre mantidas com esperança pelos parentes e amigos de seus tripulantes. O desespero dos familiares do voo MH370 não é único, e o Boeing da Malaysia Airlines é mais uma das estatísticas de desaparecimentos misteriosos nos ares asiáticos.

Fonte – http://www.defesaaereanaval.com.br/?p=38717

UM MILAGRE DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

O “All American” resiste bravamente nos céus do Norte da África após choque com avião alemão: milagre (Foto: Cliff Cutforth)

Já se foram quase sete décadas após o fim da II Guerra Mundial (1939-1945), mas episódios incríveis ocorridos durante aqueles tristes anos continuam a ser revelados com o passar do tempo.

Um dos mais recentes é sobre a saga de um bombardeiro quadrimotor americano B-17 – conhecido também como “Fortaleza Voadora”, desenvolvido pela Boeing – que, mesmo atingido em cheio numa colisão aérea por um avião de guerra alemão sobre a região portuária de Túnis, capital da Tunísia, conseguiu a duras penas voar por duas horas e meia e aterrissar em uma base de emergência dos Aliados na Argélia sem que nenhum de seus dez tripulantes sequer se ferisse.

A carta enviada pelo navegador Harry C. Nuessle a autoridades militares americanas: juntamente à foto, ele pede ao “censor” que não a mostre à sua esposa caso haja alguma restrição a imagens fortes, e lhe solicita devolver a correspondência neste caso. Na parte inferior, a lista com os nomes de todos os tripulantes.

O caso gerou a fotografia que abre este post, uma das mais famosas entre as que registram a participação dos EUA na II Guerra, e que mostra a aeronave voando em frangalhos.

Pedaços de avião alemão

O choque aéreo ocorreu em 1º de fevereiro de 1943 nos céus da Tunísia,  no curso da ofensiva dos Aliados contra as forças do marechal-de-campo alemão Erwin Rommel atuando no Norte da África. Um avião alemão, cujo piloto provavelmente estava ferido, perdeu o controle e atingiu a fuselagem do B-17, apelidado All American e pilotado pelo tenente Kendrick R. Bragg, do 414º Esquadrão de Bombardeiros dos EUA. O avião alemão partiu-se em dois, e alguns de seus pedaços foram parar no B-17.

Estado da cauda após a aterrissagem do B-17

Naquele momento, justo após a colisão, o estabilizador esquerdo horizontal do avião se encontrava totalmente destruído, os dois motores direitos não funcionavam, litros de combustível vazavam, a fuselagem praticamente se cortara ao meio, os sistemas elétrico e de oxigênio se danificaram e, na parte de cima, havia um buraco de 5 metros de comprimento por 1,5 de largura.

Paraquedas improvisados

Sam T. Sarpolus, atirador posicionado na cauda, ficou preso porque a extremidade já não tinha mais uma ligação no solo com o resto da aeronave. Com a ajuda de outro atirador, Michael Zuk, ele utilizou partes do avião inimigo e dos paraquedas da tripulação para evitar que a cauda se desprendesse.

Mas, graças a um cabo que ainda funcionava e a cauda que ainda se inclinava, o All American continuou voando e bombardeando seus alvos alemães no Norte da África. Faltava, no entanto, conseguir retornar em direção à segurança da base aliada.

Aterrissagem

Milagrosamente, o B-17 voou, perdendo lentamente altitude, por quase 120 quilômetros até chegar à base na Argélia. No caminho, ainda foi atacado por outros dois aviões alemães, mas conseguiu responder abrindo fogo – com dois de seus atiradores mantendo a cabeça para fora do buraco, metralhadoras em punho – e escapar. Na parte final do trajeto, recebeu escolta de alguns P-51 aliados. Cliff Cutforth, tripulante de um destes aviões, tirou o famoso retrato que abre este texto.

Militares posam ao lado do que sobrou do “All American”

Havia ainda um último obstáculo: com cinco dos paraquedas utilizados improvisadamente para que o B-17 prosseguisse no ar, metade dos ocupantes não teria como saltar. Duas horas e meia após a “trombada” nos ares, o tenente Bragg conseguiu, assim, aterrissar o que sobrava do All American em uma base de emergência.

Inacreditavelmente, nenhum dos militares americanos estava ferido.

*A dica para este post veio do fiel leitor do blog José Carlos Bolognese, que sempre contribui com excelentes pautas.

FONTE –

KHL – IR DE NATAL PARA A EUROPA EM ALTO ESTILO

Rostand Medeiros – Escritor e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

Natal hoje tem voo internacional para a Europa, o que é uma maravilha. Mesmo este voo não alcançando muitas cidades do velho continente, ninguém discute a enorme vantagem de se pegar um avião Airbus ou Boeing, jatos de alto padrão de segurança e conforto, para depois desembarcar em oito ou dez horas no seu destino. Às vezes é necessário sair de Natal e “descer” para Recife, Salvador, São Paulo, pegar uma conexão e atravessar o Atlântico. Dá um pouco mais de trabalho, mas se chega com enormes vantagens.

Não se pode desprezar a evolução das coisas, mas nada impede dar uma olhada no passado, para saber como nas primeiras décadas do século XX  um abonado natalense seguia para a Europa. Esta pessoa poderia até pegar algum barco de carga em Natal e se virar com o que houvesse. Mas o melhor era seguir para Recife, onde navios de grandes empresas de navegação e as melhores rotas, estavam disponíveis.

Propaganda do Lloyd Holandês publicada em Natal no ano de 1914.

No passado, os navios de passageiros brasileiros, os conhecidos “Navios de Linha”, ou “Paquetes de Cabotagem”, pertencentes principalmente a Companhia Costeira e do Lloyd Brasileiro, serviam como o principal elo entre as capitais localizadas na costa do Brasil e os rios da região amazônica. Quem daqui seguia para a escala em Recife, pegava um destes barcos e na capital pernambucana fazia uma transferência para navios que impressionavam pelo tamanho, qualidade, conforto e detalhes.

Uma destas empresas que ligavam a região Nordeste com a Europa, era conhecida como Lloyd Holandês, ou Koninklijke Hollandsche Lloyd, que tinha a sigla KHL. Esta empresa era representada em Recife pelo pernambucano de descendência holandesa Julius von Sohsten, que tinha fortes ligações com o Rio Grande do Norte, já tendo possuído na nossa cidade uma casa de comércio no bairro da Ribeira.

A KHL foi fundada em 1899, destinada a levar gado e outras mercadorias entre Amsterdam e a América do Sul, principalmente a Argentina. Devido à proliferação da febre aftosa no vizinho platino, a empresa passou a trabalhar com transporte de passageiros e carga. Seus navios levavam desde passageiros de alto poder financeiro, a pobres imigrantes desejosos de tentar uma nova vida no hemisfério sul.

Viajar de navio, com a brisa soprando, a paisagem mudando como um filme, era uma situação bem interessante. Mas as viagens eram bem demoradas, bem ao estilo da velocidade em que o mundo vivia na época.Naqueles tempos a quantidade de passageiros transportadas dentro de um navio destes mal chegavam a 1.500 pessoas. As naves eram decoradas com extremo luxo e bom gosto, tinha em seus salões obras de artistas famosos e muito requinte.

A empresa KHL chegou a criar em Amsterdam um local de hospedagem exclusivo para seus passageiros, e não apenas os mais ricos utilizavam este serviço. Este era o Lloyd Hotel, que foi concluído em 1921 e que custou oito vezes mais do que o planejado.

De certa forma este hotel foi utilizado como alojamento temporário para imigrantes, cuja a maioria era formada por judeus pobres da Europa Oriental, que fugiam de perseguições tanto na Alemanha, como na União Soviética. Estas naves partiam em média a cada vinte dias da Holanda e, enquanto aguardavam o momento do embarque, os passageiros ficavam no hotel.

Entre os navios da KHL, que faziam a escala de Recife, estavam o SS Frisia, o SS Gelria, o SS Zaanland e o SS Tubantia.

O SS Zaanland tinha 7.995 toneladas de peso, quase 135 metros de comprimento, foi lançado em 1910 e continuou em serviço na KHL até março de 1918. Durante a Primeira Guerra Mundial os norte-americanos o arrendaram e ele foi transformado em transporte de tropas. Voltou a servir a KHL até 1935.

O SS Frisia tinha um porte de 7.400 toneladas, divididos em quase 130 metros de comprimento, com uma velocidade de até 13 nós e transportava 1.000 passageiros. Foi construído em 1909 e sua viagem inaugural começou em Amsterdan, depois seguiu para Boulogne, Plymouth, La Coruña, Lisboa, Las Palmas, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu.

Já o SS Gelria foi construído em 1913, deslocando 13.868 toneladas de porte bruto, em um comprimento de 170 metros. Tinha alojamentos para quase 1.500 pessoas. Foi vendido em 1935 a uma empresa italiana e foi utilizado como navio transporte de tropas na guerra da Abissínia e, ocasionalmente, como um navio hospital. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi tomada pelos alemães quando a Itália se rendeu e usado como um navio-hospital. Acabou sendo capturado por um submarino britânico em 1944 e levado para Alexandria, no Egito.

Mas de todos estes navio que aportavam no Nordeste, o que teve a pior sorte foi o SS Tubantia. Era uma nave  com dimensões e características semelhantes ao SS Gelria. Foi lançado ao mar em 1913, mas na madrugada do dia 16 de março de 1915,  na costa holandesa,  foi atingido por torpedos do submarino alemão UB-13 e afundou. Três navios responderam aos pedidos de socorro e todos a bordo foram salvos. Durante a Primeira Guerra Mundial a Holanda ficou neutra e seu serviço de transporte de passageiros e carga continuou, mas não para este navio. Foi a maior nave de um país neutro torpedeada e destruída neste grande conflito.

Devido às consequências do conhecido crash da bolsa de Nova York, em 1929, associada ao alto custo do Hotel Royal, fez com que a KHL fechasse suas portas e uma nova empresa de navegação foi criada.

Não tenho maiores dados relativo a frequência com que os membros da sociedade potiguar utilizavam estes navios em viagens a Europa. Mas é normal vermos notas nos antigos jornais natalenses, onde pessoas da elite local faziam questão de anunciar que partiam, ou retornavam da Europa em naves da KHL.

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