QUANDO O EXÉRCITO BRASILEIRO FOI DERROTADO NO SERTÃO NORDESTINO

Em 1955 Um Oficial do Exército Brasileiro Escreveu em Uma Revista Ligada ao Meio Militar um Contundente Texto Sobre a Dura Realidade das Derrotas Sofridas Pelo Exército Brasileiro em Momentos da Guerra de Canudos. Esse Texto Foi em Parte Baseado Nas Experiências e Memórias do Pai do Autor, o General Leandro José da Costa, Ex-Combatente Daquele Cruel Conflito.

A EPOPEIA DE CANUDOS

Autor – Major Orosimbo Costa

Fonte – Revista do Clube Militar, Nº 135, Janeiro/Fevereiro de 1955, Págs. 33 a 39.

Segundo uma reportagem da revista O Cruzeiro, de 5 de dezembro de 1953, pretende o Serviço de Obras Contra as Secas transformar, dentro de pouco tempo, o antigo arraial de Canudos, em um açude.

“Um desaparecimento que não há de ser muito sentido”. “Canudos indo, vai fazendo pouca falta, ninguém há de chorar”. Assim se expressa o repórter.

Palpita-nos não ser este o sentir de muitos brasileiros, que considerarão tal ato, caso se execute e sejam quais forem as razões de ordem técnica invocadas pelos engenheiros encarregados dessa tarefa, como mais um atentado ao nosso já precário patrimônio histórico.

A Campanha de Canudos, como muitos outros episódios da nossa história, é desconhecida da maioria dos brasileiros. (1)

Razão teve o sr. Viriato Corrêa quando disse que “a não ser a tão falada viagem de Cabral, a restauração pernambucana, o martírio de Tiradentes, a transmigração da família real portuguesa, o 7 de setembro, a Guerra do Paraguai, o 13 de maio, a Proclamação da República, mais uma ou outra data culminante, e isso mesmo mal e muito mal, tudo mais se desconhece, quando não seja totalmente, de tal maneira que é o mesmo que desconhecer” (2).

Entretanto, essa memorável Campanha ainda não foi definitivamente escrita nem está instalada no lugar de realce que merece na História. Mais de meio século faz que teve fim tão cruenta luta, já sendo possível, portanto, imparcialmente, estabelecer a sua verdadeira significação. Ainda há (em 1955) remanescentes, integrantes das tropas do governo (3), cujos depoimentos poderiam ser aproveitados para a total reconstituição dessa guerra horrenda. das mais ferozes que se tem notícia, sendo impossível determinar de que lado havia mais intrepidez e energia: se o jagunço obstinado, fanático, indiferente à sua sorte, ou a soldadesca desvairada, infrene, com um só pensamento: matar, destruir aquele reduto sinistro!

Euclides da Cunha assim retratou o defensor do arraial (Canudos — Diário de uma expedição — pág. 95): “Tem a mais sólida, a mais robusta têmpera essa gente indomável! Os prisioneiros feitos revelam-na de uma maneira expressiva.

Ainda não consegui lobrigar a mais breve sombra do desânimo em seus rostos, onde se desenham privações de toda a sorte, a miséria mais funda; não tremem, não se acobardam e não negam as crenças mantidas pelo evangelizador fatal e sinistro (4) que os arrastou a uma desgraça incalculável.

Mulheres aprisionadas na ocasião em que os maridos caíam mortos na refrega e a prole espavorida desaparecia na fuga, aqui têm chegado — numa transição brusca do lar mais ou menos feliz para uma praça de guerra, perdendo tudo numa hora — e não lhes diviso no olhar o mais leve espanto e em algumas mesmo o rosto bronzeado de linhas firmes é iluminado por um olhar de altivez estranha e quase ameaçadora”. (5)

As dúvidas e enigmas dessa Campanha, precisam ser elucidados.

O fracasso da expedição Moreira César repercutiu em todo o Brasil como um desastre nacional. Divulgou-se insistente boato de que Antônio Conselheiro era um insurreto político monarquista. Espíritos exaltados depredaram a redação dos jornais restauradores e assassinaram o proprietário de um deles, o coronel Gentil de Castro.

Enquanto tais rumores eram propalados pela nação, no teatro de operações considerava o citado escritor (6): “Não é possível que a munição de guerra daquela gente seja só devida à deixada pelas expedições anteriores. A nossa esgota-se todos os dias; todos os dias entram comboios carregados e, no entanto, já nos falta às vezes.

Como explicar essa prodigalidade enorme dos jagunços?

Não nos iludamos. Há em toda esta luta uma feição misteriosa que deve ser desvendada”.

E mais adiante (pág. 101):

“O general Artur Oscar, restabelecido agora de ligeira enfermidade, acaba de mostrar-me alguns tipos de balas caídas nos tiroteios da noite. São de aço, semelhantes às das Manulicher, algumas, outras completamente desconhecidas. São inegavelmente projetis de armas modernas que não possuímos. Como as possuem os ” jagunços “?

Mas, o que mais espanta e impressiona, é o elevado grau de instrução militar que possuíam aqueles sertanejos. A disciplina era rígida, utilizavam com perícia as suas armas, eram mestres na camuflagem, sabiam aproveitar o terreno para observar e atirar seus movimentos eram coordenados, construíam abrigos que cercavam com obstáculos (7), e também empregaram minas!

O arraial surpreendeu ao observador esteta (8):

“Nada que recorde o mais breve, o mais simples plano na sucessão de humílimos e desajeitados casebres. Ausência quase completa de ruas, em grande parte substituídas por um dédalo desesperador de becos estreitíssimos, mal permitindo, muitos, a passagem de um homem. As vezes cinco ou seis casas alinham-se como que numa tentativa de arruamento, mas logo adiante em ângulo reto com direção daquelas, alinham-se outras, formando martelo e dando ao conjunto uma feição indefinível… “

Poucas ruas e estreitíssimas, simples passagens muitas vezes sem saída, casas sem alinhamento, quintais de umas confinando com frentes de outras, cumieiras para todas as direções, um verdadeiro labirinto. Dava a impressão de que os casebres haviam sido construídos ao acaso, segundo a fantasia de cada um.

Fatal engano! Nos primeiros assaltos à cidadela, os invasores foram exterminados. Desnorteados naquele estranho dédalo, eram inexoravelmente eliminados, sem que o defensor se expusesse.

E então compreendeu-se o porquê de tão fantástico traçado: obedecia a um meticuloso plano de defesa. Cada casa era um reduto. Cavada no interior desta e junto à parede, a moderníssima “toca de raposa”; rente ao chão, uma seteira facilitava ao ocupante da “toca ” tiros precisos. Os tetos eram uma maciça camada de cerca de 20 centímetros de argila e ramos de icó, à prova de estilhaços e talvez tiros de pequeno calibre de artilharia.

Nas elevações que circundavam o arraial, um traçado de trincheiras com excelentes posições para atiradores, enfiavam as vias de acesso.

Um sistema de postos avançados bem organizados, constante movimento de patrulhas e eficiente serviço de espionagem, completam o quadro de conhecimentos que possuíam os jagunços.

Simplesmente espantoso!

Mas, perguntamos nós, quem os instruiu?

Quem os ensinou a utilizar o armamento de repetição (Comblains e Manulichers) abandonado pela expedição Moreira César e que não lhes era familiar? (9) Quem os adestrou nos exercícios de maneabilidade, no aproveitamento do terreno, na ocupação de uma posição e seu abandono no momento preciso, na organização de um plano de fogos? Monarquistas, como se propalou? Militares egressos das Forças Armadas, como alguns alvitram? Estrangeiros? Ou os próprios chefes jagunços? (10)

Estes eram muitos, notáveis, e com funções bem definidas: João Abade, comandante em chefe; Pajeú, subcomandante; Chico Ema, chefe do serviço de espionagem; Macambira, especialista em emboscadas; Joaquim Tranca pés, mestre em golpes de mão; Chiquinho, João da Mota, Pedrão, Estevão, comandantes de setores de vigilância: e mais, Vilanova, Joaquim .Macambira, Manoel Quadrado, José Felix, José Venâncio, Lalau, Raimundo Boca-Torta, Norberto, Quimquim de Coiqui, Antônio Fogueteiro, José Gamo, Fabricio de Cocobocó (ou Cocorobó), António Beato (11).

Enquanto aqueles rudes sertanejos revelavam modelar organização, o que constitui mistério profundo, as forças regulares, em deplorável contraste, demonstravam evidente incapacidade para fazer a campanha.

Uma lástima: quadros sem preparação profissional, tropa completamente bisonha, ausência absoluta do que hoje chamamos apoio logístico.

A organização militar no Brasil era, na época, deficientíssima.

Canhão Whitworth 32 ou “Matadeira”, como se encontrava na região de Canudos na décxada de 1940.

Aliás, para sermos mais precisos, as Forças Armadas do país nunca mereceram, no passado, a devida atenção dos governos. As nossas guerras externas foram feitas com Exércitos improvisados. Assim foi em 1851 contra Oribe e Rosas, em 1864 contra o Uruguai e em 1865 contra o Paraguai.

Após esta última campanha, as Forças Armadas caíram em franca depressão e profunda apatia. Tudo foi feito liara se esquecer aqueles anos de sofrimento.

A época da proclamação da República, o efetivo do Exército era de pouco mais de 12.000 homens!

 Com o advento das ideias positivistas, o ensino militar tornou-se científico-filosófico. Foi a época dos oficiais “bacharéis em ciência”.

Floriano Peixoto, para enfrentar a revolta de Custódio de Melo, em 1893, viu-se na contingência de organizar os célebres “batalhões patrióticos”.

É fácil, pois, imaginarmos a constituição das expedições que foram lançadas contra Canudos.

O comandante da quarta expedição, general Artur Oscar de Andrade Guimarães, ainda considerava ato vergonhoso o combater-se abrigado (12).

No terreno da tática foi um desastre: operações sem planejamento, marchas desordenadas, sem segurança e informações, processos antiquados de combate.

Habitante de Canudos na década de 1940.

No terreno dos serviços, uma miséria; tudo faltou: víveres, munições, transportes. O estado de penúria chegou a tal ponto que foram obrigados a abater os bois de tração de um célebre canhão Calibre 32 (material de artilharia de costa), inútil trambolho. Certo dia só havia farinha e sal, para os doentes. Ficou estabelecida a “defesa individual”: penetravam os soldados na caatinga à procura da caça exígua e raízes dos vegetais da região. “Uma raiz de umbu era um regalo raro, de epicurista”. E para completar tal quadro, até água faltou.

Entretanto, o comandante Artur Oscar estabeleceu postos de suprimentos em Queimadas, Monte Santo, mas os comboios chegavam com irregularidade e reduzidíssimo e as rações, muitas vezes, não deram nem para um dia. Eram os jagunços os responsáveis… (13)

Quanto aos feridos, não sendo possível mantê-los na frente, urgia evacuá-los; mas, como? De que jeito transportá-los?

Defensor de Canudos, capturado por soldados.

Seguiram de qualquer maneira para Monte Santo e desta localidade para Queimadas, ponto terminal da estrada de ferro. Uns, montados em muares ou cavalos, outros, os mais graves, conduzidos em redes, a maioria a pé, arrastando-se miseravelmente pela estrada.

Era um desfile macabro; cada um por si, nada de cooperação; se algum infeliz caía extenuado, ali ficava, estirado na margem do caminho implorando, em vão, por auxílio; e ali morria, ficando insepulto.

E essas levas se transformavam em feras odiosas: maculavam a água das cacimbas que seria forçosamente utilizada por outros companheiros, atacavam sertanejos indefesos, saqueavam e destruíam os miseráveis casebres.

Região de Canudos na década de 1940.

Para completar este quadro moral, verificaram-se vários pedidos de reforma, e Unidades chegavam desfalcadas, bem desfalcadas, na Zona de operações, Brigada Girard. por exemplo, que iria reforçar as tropas de Artur Oscar, chegou em Canudos sob o comando de um major! (14)

Finalmente, no setor técnico, a mesma deficiência: o general Artur Oscar foi obrigado a organizar, em Queimadas e Monte Santo, campos de instrução, linhas de tiro, para instruir os seus soldados, em sua quase sua totalidade, recrutas. Mas, foi mesmo em Canudos, no duro embate com os jagunços, que eles se adestraram, apreenderam os duros processos do combate que, afinal, eram certos.

Quando se resolveu atacar o arraial de Canudos, comandava o 3° distrito militar (Salvador), o General Frederico Sólon. Tendo recebido ordem do governo central para auxiliar o governador do Estado naquela empresa, propôs a este, doutor Luiz Viana, após cuidadoso exame da situação, que se enviasse a Canudos uma forte expedição O governador discordou; considerava o movimento um simples motim, facilmente sufocável por qualquer elemento armado. (15)

É provável que tenha havido entre as duas autoridades acalorada discursão; o fato é que o general Sólon, pouco tempo depois, era transferido…

A política, pois, saiu vencedora dessa polêmica e, sem mais delonga, tratou-se de enviar ao arraial sublevado, um destacamento de 100 homens que, sob o comando do tenente Manoel da Silva Pires Ferreira, partiu de Juazeiro na noite de 12 de novembro de 1896; mas não passaram de Uauá, vilarejo distante de Canudos cerca de 40 quilômetros, onde na madrugada de 21 foram atacados.

Protegidos pelas casas, os soldados resistiram; seu armamento mais moderno, enquanto os jagunços utilizavam armas antiquadas de carregar pela boca, que logo abandonaram, preferindo a arma branca.

Após quatro horas de luta, os jagunços abandonaram o arraial.

Artilharia na Guerra de Canudos.

Fosse seguido o alvitre do general Sólon e a história de Canudos se encerraria com esta expedição. Os jagunços estavam praticamente desarmados e não resistiriam à perseguição que o tenente não pôde realizar, por falta de homens e meios, sendo obrigado a retroceder para Juazeiro, onde chegou após quatro dias de marchas forçadas.

Nova expedição foi organizada; compõe se de 560 homens, inclusive 14 oficiais e 3 médicos. Seu comando foi confiado ao major Febrônio de Brito e, além do armamento individual, conduziram duas metralhadoras Nordenfelt e dois canhões Krupp.

Febrônio de Brito seguiu pelo eixo Queimadas — Monte Santo — Estrada do Cambaio, lutando com toda sorte de dificuldades.

Região de Canudos na década de 1940.

Na travessia do Cambaio tiveram o primeiro combate com os jagunços. Vencedores, progrediram até às orlas de Canudos, onde estacionaram extenuados. Ao amanhecer do dia seguinte, 19 de janeiro de 1897, foram violentamente atacados pelos conselheiristas que, à noite, sorrateiramente, haviam ocupado suas posições. Na primeira trégua o comandante Brito examinou a situação e concluiu não poder prosseguir na luta por falta de munição. Dada a precariedade de transporte, deixara em Queimadas e Monte Santo, grande parte dela.

Exposta a situação aos oficiais, decidiu-se pela retirada, mas em boa ordem. Não a conseguiram. Obrigados a atravessar uma garganta, aí foram intensamente hostilizados com pedras! E durante quase todo o percurso a Monte Santo, sofreram pertinaz perseguição do inimigo.

Tal remate aguçou a cólera das autoridades. Ninguém acreditava que umas duas dezenas de miseráveis jagunços pudessem derrotar uma tropa federal. Consequência: Febrônio de Brito foi submetido a Conselho de Guerra e condenado (16).

Ruínas da igreja de Canudos em 1893 – Fonte – http://osertanejosdecanudos.blogspot.com.br

Uma terceira expedição foi organizada: quatro batalhões de infantaria, uma bateria de artilharia, um esquadrão de cavalaria e um contingente da polícia baiana, num total de 1.500 homens aproximadamente, bem armados e municiados. Escolheu-se para comandá-la, o nome militar mais em evidência na época: o coronel António Moreira César, uma figura que, no governo de Floriano Peixoto se notabilizara pelas mais condenáveis e odiosas violências contra mulheres, crianças c cidadãos indefesos.

Este comandante escolheu o itinerário Queimadas — Monte Santo — Cumbe — Rosário — Rancho do Vigário — Angico — Morro da Favela. Estabeleceu-se em Queimadas a primeira base de operações e em Monte Santo, a segunda, sob o comando do coronel Souza Meneses.

Sem um reajustamento, sem um plano, sem uma ideia, e após marchas forçadas, Moreira César lançou toda a sua infantaria contra Canudos, atacando por dois lados opostos. Os batalhões se defrontaram no arraial e então foi a confusão, a balbúrdia, o pandemônio. O comandante tentou retomar sua tropa e expondo-se foi ferido, vindo a falecer no dia seguinte. Seu substituto, o coronel Tamarindo, tentou executar uma retirada, mas foi mal sucedido. Ninguém obedecia mais. A soldadesca estava alucinada, apavorada!

Antigo cruzeiro de Canudos na década de 1940.

Foi uma fuga desordenada. Abandonaram tudo; armamento, material, munições, feridos, até o cadáver do comandante!

Os que chegaram em Monte Santo, não encontraram ninguém; todos havia fugido, abandonando o posto. O sargento auxiliar não pudera reter ninguém para ajudá-lo a transportar os mantimentos para um local seguro. O farmacêutico da povoação, um civil, foi quem destruiu parte da munição, deixando alguma, para não despertar suspeita aos jagunços.

Assim, esta terceira expedição só teve um fito: armar e municiar o inimigo.

Cerimônia na Canudos de 1940.

Sob o comando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães foi, finalmente, organizada uma expedição poderosa; chegou a ter efetivo de 10.000 homens, e dela participaram quatro generais, 20 batalhões de infantaria, 1 regimento e 2 destacamentos de artilharia 1 regimento e parte de outro de cavalaria, além de elementos das policias da Bahia, São Paulo, Pará e Amazonas.

Não cabe aqui a descrição das ações desta expedição, feita com todos os detalhes por Euclides da Cunha, que a acompanhou como repórter de um jornal paulista.

No dia 5 de outubro de 1897, após quase um ano de lutas, caiu a cidadela de Canudos cujos defensores resistiram “até o esgotamento completo”, “Fato raro na História: o reduto de Canudos não se rendeu”.

A antiga Canudos.

O aspecto atual de Canudos é contristador — miséria e desolação completas. E naquela cidadela, palco de um drama de extraordinário heroísmo, naquele chão, muda testemunha de um poema de bravura que estarrece, de uma insana resistência que nos deixa atônitos, naquele pedaço de terra brasileira onde foi vivido o trágico episódio que ” é a afirmação eloquente da prodigiosa energia da nossa raça”, nem um monumento, nem um bronze comemorativo, nem mesmo uma simples placa a lembrar a ocorrência. E, dentro de pouco, um lençol de água cobrirá os vestígios — se os houver — do famoso arraial, e depois — o esquecimento. Breves referências ficarão nos livros escolares — e nada mais.

Enquanto os brasileiros demonstram essa indiferença pelo seu passado, os americanos, num excesso de senso histórico, transformaram a casa do assassino de um chefe de Estado em museu (17).

A guerra de Canudos teve a feição de um cataclisma nacional; movimentou tropas de norte a sul do país, e na última expedição estiveram empenhados dez mil homens, talvez mais.

É um episódio que deverá ser colocado no devido plano; seus despojos, se ainda houver, deverão ir para os mostruários dos nossos museus; o local onde outrora se erigiu o célebre arraial, deverá merecer a atenção da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, atualmente empenhada num plano de restauração, conservação e proteção do seu acervo.

NOTAS

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(1) Entretanto, teve um cronista do quilate de um Euclides da Cunha, cujo livro “Os Sertões”, já na sua 22ª edição (em 1955), foi traduzido para o espanhol, para o alemão, para o sueco e para o dinamarquês. É, pois, uma obra de repercussão internacional e ocupa limar de destaque em todas as bibliotecas públicas e particulares, mas que, acreditamos, muito pouca gente leu.

(2) Balaiada.

(3) Um deles é o meu pai, o general reformado Leandro José da Costa, possivelmente o único sobrevivente do 16º Batalhão de Infantaria, que me relatou passagens inéditas da expedição Artur Oscar.

(4) Refere-se a Antônio Conselheiro.

(5) Observação registrada nove dias antes do aniquilamento total do arraial, após quase um ano de luta!

(6) Obra citada — pág. 98.

(7) A falta de arame farpado, utilizavam material muito melhor e abundante na região: xique-xique, mandacarus, juremas, palmatória, macambiras, etc., que transformavam numa espécie de redes extensíveis.

(8) Obra citada – pág. 107.

(9) As suspeitas do gen. Artur Oscar eram infundadas; nenhum armamento especial foi encontrado em poder dos conselheiristas: na verdade, antes da apreensão do material de Moreira César, eles utilizavam velhas espingardas, bacamartes, garruchas, clavinas, armas brancas, e mesmo bestas. Quem os armou foi mesmo o governo, por intermédio do cel. Moreira César.  

(10) Essa Informação e quo os supostos ex-jagunços Ciriaco e Pedrão deviam fornecer ao autor da reportagem a que aludimos no começo destas linhas.

(11) “Os Sertões” — 22. ª edição — pág. 177.

(12) Chegamos à Favela a 27 do mês de junho, tendo antes, no lugar Pitombas, sofrido dos jagunços cobardes que nunca souberam se bater a peito nus como os soldados leais… (Parte do gen. Artur Oscar ao ministro da guerra).

(13) Chegou a tais extremos essa situação que o ministro da guerra, marechal Carlos machado Bittencourt decidiu pessoalmente dirigir esses serviços, seguindo para a zona de guerra.

(14) Na Campanha do Contestado observou-se o mesmo “fenômeno”. Conta-nos Crivelaro Marcial o caso de um Regimento que em vez de um coronel era comandado por um major, cujo batalhão fora conduzido por um tenente.

(15) Uma das curiosas características desse episódio da nossa História éque do começo no fim da Campanha não se deu ao jagunço o seu devido valor; sempre o subestimaram.

(16) Só em revisão de processo da 3.ª expedição é que consegui ser absolvido.

WHISKY EM NATAL

Quando Essa Bebida Chegou ao Brasil – Chegou Com os Britânicos – As Primeiras Informações do Whisky em Natal – Vendas em Recife – Marcas Vendidas – Famosos e o Whisky

Rostand Medeiros – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

Basicamente o whisky é um licor alcoólico destilado de um mosto fermentado de grãos, como cevada, centeio ou milho, geralmente contendo de 43 a 50 % de álcool. Mas independente do que ele é, ou de suas regras de produção, se você bebe whisky, seja muito ou pouco, então você está na companhia de algumas das melhores mentes e personagens do mundo. Gente importante e influente que admirava a bebida, ou desfrutou de um trago ao longo de suas vidas e não tiveram reservas em falar publicamente sobre o assunto.

Mas antes de comentar sobre quando o whisky e Natal interagem, é interessante saber desde quando essa bebida chega ao Brasil…

Chegou No Brasil Com os Britânicos

Basta pesquisar na internet para logo encontrar a informação que foi em 1850 que pela primeira vez alguém bebeu whisky em terras tupiniquins e o felizardo foi ninguém menos que o Imperador Pedro II.

Isso é pura lorota!

Vai ver que quem criou essa afirmação já tinha passado da oitava dose, ou não sabe pesquisar, ou apenas quis dar um ar de “superioridade” a essa bebida, colocando o primeiro copo de whisky nos nobres lábios de Sua Alteza Real.

Provavelmente essa história começa 42 anos antes, mais precisamente na cidade de Salvador, Bahia, no dia 28 de janeiro de 1808.

Em quadro de 1802, de Domingos Sequeira, vemos Dom João de Bragança, futuro Dom João VI – Fonte – https://readtiger.com/wkp/en/John_VI_of_Portugal

Nessa data o príncipe regente de Portugal, Dom João de Bragança, futuro rei Dom João VI, assinou o Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas, que literalmente abriu a grande colônia portuguesa do Brasil para o comércio exterior. Mas a verdade é que esse comércio ficou basicamente restrito aos britânicos e houve uma forte razão para isso. Apenas oito dias antes de assinar esse documento, praticamente toda a corte portuguesa havia desembarcado na capital baiana, fugindo das tropas francesas de Napoleão Bonaparte, que em 19 de novembro do ano anterior haviam invadido Portugal. E foram os britânicos que apoiaram a fuga dos nobres portugueses para sua enorme colônia. Após a entrada dos franceses em território luso, Dom João de Bragança assinou uma convenção secreta com os britãnicos, onde ficou estabelecido que esse país recorreria a ação da Royal Navy, a Marinha Real Britânica, para a Família Real e membros do governo português chegarem sãos e salvos no Brasil. O Reino de Portugal por sua vez “compensaria” largamente os britânicos com a abertura do comércio no Brasil.

E o que tem isso com o whisky?

Como os britânicos estavam com passe livre em terras brasileiras, é difícil de acreditar que já no primeiro dia que eles aqui desembarcaram, não trouxeram seus barris e garrafas de gim, brandy, whisky ou outra bebida qualquer.

Se apenas temos uma ideia de quando se iniciou o consumo de whisky no Brasil, na Hemeroteca da Biblioteca Nacional encontramos um interessante registro do comércio e do consumo dessa bebida.

Na segunda página do exemplar do Jornal do Commércio publicado no Rio de Janeiro, edição de sexta-feira, 21 de agosto de 1835 (15 anos antes de 1850), podemos ler na coluna intitulada “Parte Comercial”, que no dia 17 daquele mês um cidadão estrangeiro chamado “Diego Birckhead”, manifestou oficialmente junto a Alfândega do Rio que a galera norte-americana “Nova Orleans”, registrada no porto de Nova York, trazia várias mercadorias em seus porões, entre estas “145 barris de whisky”.

Mesmo sem termos a ideia do tamanho e de quantos litros caberia nesses barris, evidentemente que ninguém desembarcaria tal quantidade de bebidas em algum lugar que não tivesse quem as consumisse. 

“Minha Esperança”  

Eu não consegui descobrir quando o whisky chegou em Natal. Mas ao menos descobri uma notícia de quem aparentemente foi o primeiro vendedor dessa bebida por aqui, ou pelo menos quem primeiro anunciou sua venda para os papudinhos da capital potiguar.

Antiga Rua 13 de maio, atual Frei Miguelinho – Fonte – Coleção Eduardo Alexandre Garcia

No tradicional bairro da Ribeira existe a Rua Frei Miguelinho, paralela à Rua Chile, sendo uma das mais antigas ruas do mais tradicional bairro de Natal. No ano de 1891 essa rua se chamava 13 de maio, em homenagem a data que a princesa Isabel assinou a lei Áurea que aboliu a escravidão no Brasil, e no número 26 existiu uma loja chamada “Minha Esperança”.

Para os olhos de hoje podemos dizer que esse estabelecimento comercial tem algo que mistura aquelas bodegas do interior que vendem todo tipo de bugigangas, misturado com muitos produtos importados de qualidade e materiais importantes para a realização de uma boa festa – instrumentos musicais e bebidas. 

Para facilitar para você leitor, coloco aqui alguns anúncios da loja “Minha Esperança” e assim vocês poderão conhecer a variedade de produtos que ali eram comercializados em 1891. 

Temos um outro anúncio que é bem específico sobre as bebidas vendidas nesta loja, onde podemos ver que a rapaziada de Natal apreciava produtos de primeira qualidade.

De saída vemos que a “Minha Esperança” tinha garrafas de Fernet Branca. Esse é um aperitivo amargo e aromático, feito com mais de 40 ervas e especiarias, incluindo mirra, ruibarbo, camomila, cardamomo e açafrão, com uma base de álcool de uva. A receita é um segredo e foi criada como um remédio no ano de 1845, na cidade italiana de Milão. A Fernet Branca ainda é produzida em Milão pela empresa Fratelli Branca, que atribuiu a invenção ao farmacêutico Bernardino Branca e ao seu colaborador, um médico sueco chamado Fernet e cujos sobrenomes batizaram a bebida. Ela é geralmente servida como digestivo após uma refeição, mas também pode ser degustada com café, ou puro à temperatura ambiente e ainda com gelo. É muito popular na Argentina, onde eles bebem com Coca-Cola e é uma das bebidas mais apreciadas pelos nossos vizinhos.

Outras bebidas que se encontravam na “Minha Esperança” eram vermutes, vinhos da região francesa de Bordeaux, o fortíssimo absinto, conhaques, os “vinhos de cheiro de uva pura” e whisky. Talvez em razão do nosso clima eu não vi entre as bebidas a cerveja. Em todo caso a rapaziada de Natal naquele final de Século XIX estava até que bem equipada para cair na farra.

Apesar da simplicidade da urbe natalense, os jornais daquele período trazem várias referências de festas, soirées, quermesses, eventos de sociedades organizadas, grêmios literários e clubes de encontros sociais, entre eles o “Club dos Quatorze”, “Club Carlos Gomes, o “26 de maio”, ou o “Grêmio Literário Le Monde Marche”. Ou seja, não faltavam locais organizados para deleitar a elite local, nem momentos para que esses natalenses adquirissem as bebidas oferecidas pela loja “Minha Esperança” e certamente “encherem o caneco”.

Podemos vislumbrar um exemplo desses momentos na primeira página do semanário O Santelmo, que nas edições de 14 e 30 de junho de 1891 informavam que na sede social do “Club dos Quatorze” ocorreu a sua “4ª soirée” na tarde de 23 de junho, uma terça-feira, véspera de São João.

Em resumo houve muita animação e tudo começou com a queima de fogos dos tipos “chineses, de bengala, electricos & Sorvête”. muita música tocada por uma orquestra, onde as principais serviram para animar as quadrilhas juninas no salão. O curioso é que a maioria dessas músicas possuíam títulos em francês.

Também dançaram valsas como “Ondas do Danúbio”, do romeno Ivan Ivanovici, além de polcas como “Cecy”, de Chiquinha Gonzaga, e “Brilhantina”, de Anacleto de Medeiros. Alguns sócios do “Club” formaram um grupo de piano, flauta, violão e violino e tocaram uma cavatina chamada “Sonâmbula”, que creio ser da ópera italiana “La Sonnambula”, de Vincenzo Bellini. Executarem também uma parte da ópera “O Trovador”, que certamente é “Il Trovatore”, de Giuseppe Verdi, cujo momento principal foi tocado por um músico chamado de “A. Barbosa”, que foi muito aplaudido e recebeu um buquê de flores de uma jovem sócia da agremiação, algo que chamou bastante atenção.

Não foi informado a que horas iniciou o arrasta-pé, mas ele terminou às cinco da manhã do dia seguinte, com a última quadrilha sendo animada pela música “Riso d’alvorada”. 

Mesmo sem a nota de O Santelmo comentar sobre o consumo de bebidas na festa, fica difícil de acreditar que em um evento com tanta dança e que durou tanto tempo, não tenha sido consumido bebidas e, talvez, um uisquinho. Até porque o lugar para comprar existia!

Deixados na Alfândega 

O tempo vai passando na pequena e provinciana Natal, onde reinava a tranquilidade para os seus pouco mais de 20.000 habitantes. Então, em uma quinta-feira, 11 de março de 1909, um navio cargueiro inglês adentra o tranquilo Rio Potengi.

SS Orator em 1912.

Esse era o “Orator”, da Harrison Line and Steamers, que em Natal era representada pela firma de importação e exportação de Julius Von Söhsten. Aquela era uma nave de 3.563 toneladas, construída apenas quatro anos antes, que procedia da cidade inglesa de Liverpool. Após atracar foram descarregados no cais do porto 3.825 volumes com produtos diversos, que serviriam para abastecer o comércio natalense, sempre carente de produtos manufaturados. Vale recordar que a industrialização em massa no Brasil ainda era um sonho distante e muito do que nossos antepassados consumiam vinha do exterior. Além desses volumes, o “Orator” também trouxe para Natal 700 toneladas de carvão inglês, destinado a movimentar as locomotivas da Estrada de Ferro Central. No outro dia o navio de cargas partiu com peles de gado e peles de animais da fauna selvagem potiguar, além de fardos de borracha de maniçoba.

Antiga Alfândega de Natal – Fonte – Coleção de Eduardo Alexandre Garcia

Mesmo não havendo maiores restrições à importação de produtos manufaturados, evidentemente que o Governo Federal cobrava impostos pela sua entrada em território nacional. Então, todas as mercadorias foram levadas para o prédio antigo da Alfândega, para que seus proprietários pagassem os impostos e retirassem os produtos.

Os jornais da época mostram que quando chegava um desses navios de carga, sempre havia uma certa movimentação no cais do porto, principalmente dos comerciantes, carroceiros e carregadores que eram contratados para levar os produtos. Logo as dependências da Alfândega foram se esvaziando, mas em um canto permaneceram sem serem retiradas quinze caixas de whisky escocês da marca J & B, a mesma que se pode comprar hoje em dia em supermercados de Natal, com a diferença do estilo das garrafas e rótulos. Então só voltamos a ter notícias sobre essas quinze caixas de whisky J & B quase seis meses depois.

No jornal natalense A República, edição de 10 de dezembro de 1909, na sua segunda página, encontramos a publicação de uma nota assinada por José A. de Viveiros, segundo escriturário da Alfândega de Natal, que informava ao cidadão que havia importado as quinze caixas que ele viesse pagar os impostos devidos para retirar as bebidas, ou em trinta dias elas seriam vendidas pela repartição em hasta pública. Procurei bastante nos jornais natalenses de 1909 para saber se os impostos foram pagos e quem desfrutou dessa bebida em Natal, mas nada encontrei. Em um exemplar de A República de 28 de janeiro de 1902, na segunda página, encontrei um edital oriundo da mesma Alfândega de Natal, onde um importador tinha de pagar $480 (quatrocentos e oitenta réis) por cada litro de whisky vindo da Escócia. Mas eu fiquei sem saber se o valor desse imposto ainda era o mesmo em 1909.

Antigas garrafas de whisky J & B.

O whisky J & B foi criado em Londres, destilado na Escócia, sendo o resultado original da mistura de 42 dos melhores whiskies produzidos pelos escoceses desde 1749. E essa marca tem a orgulhosa distinção de receber uma autorização real desde o rei George III, em 1761.

Trazido e Comercializado por Diplomatas

Se nada sei do estoque que ficou na Alfândega de Natal naquele distante ano de 1909, descobri quem provavelmente poderia fornecer boas garrafas de whisky para o comércio natalense.

Naquele tempo o principal entreposto comercial do Nordeste do Brasil era a cidade de Recife e ao observar nos velhos jornais o seu movimento comercial, vi que as vendas dessa bebida na capital pernambucana eram feitas por comerciantes estrangeiros, que também atuavam como representantes diplomáticos de suas nações e eram pessoas muito respeitadas na sociedade local.

Rua do Apolo, em Recife – Fonte – http://www.pernambuco.com

Um deles foi a empresa Griffith Williams & Johnson, comandadas pelos britânicos Arthur Llewellyn Griffith Williams e M. Johnson, cuja sede ficava na antiga Rua Visconde de Itaparica, número 1, atual Rua do Apolo, provavelmente na esquina com a Avenida Rio Branco, no Bairro do Recife.

A empresa foi organizada em 1904, onde atuavam como agentes das firmas de navegação da Royal Mail & Pacific Steam Navigation Co. e da Houston Line. Esses investidores também possuíam serviços de estiva, uma frota de 22 saveiros e um rebocador. Entre as empresas com as quais eles tinham contrato para a prestação de serviços estavam a Great Western of Brazil Railway Co. Ltd., a Companhia das Obras do Porto e a Repartição de Esgotos. Para completar o quadro Mister A. L. Griffith Williams era o Vice-cônsul britânico em Pernambuco.  

Certamente que para aliviar a pressão na luta para ganhar dinheiro e resolver pendências diplomáticas, só tomando umas boas doses do bom e velho néctar dos deuses das Highlands escocesas. E talvez esses dois súditos de Sua Majestade, cuja a colônia de estrangeiros era na época uma das maiores e mais influentes em Recife, podem ter sabiamente pensado “porque não vender whisky para os brasileiros?”

Não sei se para essa empresa a venda desse produto funcionou, mas justamente no ano de 1909 eu encontrei nos jornais que Griffith Williams & Johnson realizaram uma forte campanha entre os jornalistas recifenses para chamar atenção sobre a bebida. Esses profissionais, que sempre adoraram mimos, receberam nas suas redações algumas garrafas de um whisky chamado The Gaelic Old Smuggler, cuja mistura original data de 1835, sendo fabricado até nossos dias com a denominação simplificada para Old Smuggler.

O whisky The Gaelic Old Sumggler, em uma garrafa do início do Século XX.

Pesquisando mais a fundo nos jornais, acho que os jornalistas que provaram o The Gaelic Old Smuggler detestaram o gosto, pois não publicaram mais uma linha sequer sobre essa bebida…

Outro que trabalhava com a importação de whisky em Recife em 1909 era o Senhor Constantino Barza, um comerciante oriundo do finado Império Austro-húngaro, que representava diplomaticamente seu país na capital pernambucana e se dedicava com afinco ao ramo da fotografia.

Sua empresa, a Barza & Companhia, ficava na Avenida Marquês de Olinda, número 2, a poucas quadras da sede da Griffith Williams & Johnson, o que facilitava para os papudinhos de plantão a aquisição de diferentes tipos de whisky. Só que no caso de Barza ele trabalhava com o conhecido Black & White, aquele que traz no rótulo dois cachorrinhos.

Barza, sua esposa Helena Cristiane e filhos – Fonte – digitalizacao.fundaj.gov.br

O Black & White é uma bebida muito popular em vários países do mundo, devido à sua qualidade robusta e preços competitivos, dois fatores que combinam e ajudam a marca a conquistar a lealdade dos bebedores de uísque. Tal é a longevidade e popularidade da mistura, que o Black & White foi referenciado muitas vezes na cultura popular. Conta a lenda que James Buchanan, proprietário da James Buchanan & Co Ltd, visitou uma exposição de cães e teve a ideia de utilizar a imagem de um West Highland Terrier branco e de um Scottish Terrier preto como mascotes em suas garrafas. Obviamente que esses dois animaizinhos são originários da Escócia.

O whisky Black & White, em uma garrafa do início do Século XX.

Sobre o Constantino Barza, sua loja e a venda de whisky Black & White, eu não consegui muitas informações. Só posso comentar que ele chegou ao Brasil com dez anos de idade e aqui viveu até seu falecimento em 4 de março de 1934, aos 74 anos. Em nosso país ele se casou com a Senhora Helena Cristiane Barza, que teve vários filhos e, conforme comentei anteriormente, sua memória é muito mais importante no contexto do desenvolvimento da fotografia no Brasil, sendo ele considerado um dos pioneiros estrangeiros que ajudaram a desenvolver essa atividade em nosso país.

Na Companhia de Algumas das Melhores Mentes e Personagens do Mundo  

Ainda sobre essa complexa, sofisticada e aromática bebida, lembram que no começo desse texto eu escrevi que gente importante e influente admirava esse típico produto escocês? Agora vamos conhecer o que muitos deles comentaram sobre o whisky.

Até hoje não se sabe se Abraham Lincoln, o 16º presidente dos Estados Unidos, gostava de whisky, mas quando ele descobriu que o seu bem sucedido general Ulysses S. Grant, grande vencedor da União na Guerra Civil Americana, era um entusiasmado bebedor de whisky, Lincoln teria dito: “Você pode me dizer onde ele consegue seu whisky? Porque, se eu descobrir, enviarei um barril dessa bebida maravilhosa para todos os generais do nosso exército”.

Winston Churchill – Fonte – https://pt.wikipedia.org

O Primeiro Ministro britânico Winston Churchill, o homem que fez sua nação suportar os momentos mais complicados durante a Segunda Guerra Mundial, comentou que: “A água não era própria para beber. Para torná-lo palatável, tivemos que adicionar uísque. Com esforço diligente, aprendi a gostar.”

O dramaturgo irlandês George Bernard Shaw afirmou: “Whisky é sol líquido”.

William Faulkner, renomado escritor nascido no sul dos Estados Unidos, assim comentou sobre essa bebida: “Minha própria experiência diz que as ferramentas de que preciso para o meu ofício são papel, tabaco, comida e um pouco de whisky”.

Alexander Fleming, o descobridor da penicilina, que era escocês e sabia apreciar a bebida que tornou ainda mais famosa a sua região de nascimento, disse certa vez: “Um bom gole de uísque quente na hora de dormir – não é muito científico, mas ajuda.” 

Humphrey Bogart – Fonte -https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Humphrey_Bogart_1940.jpg

Os atores de Hollywood adoravam whisky. Um que comentou sobre essa bebida foi Errol Flynn, que afirmou: “Gosto do meu whisky velho e das minhas mulheres jovens”. 

Dizem que as últimas palavras de Humphrey Bogart, outro astro hollywoodiano, foram de um profundo arrependimento: “Eu nunca deveria ter trocado de whisky por Martini”.

Já Ava Gardner, colega de profissão de Flynn e Bogart, teria dito:” Quero viver até os 150 anos, mas no dia em que morrer, desejo que seja com um cigarro em uma mão e um copo de whisky na outra”.

O whisky para o estrategista de comunicações americano-israelense Joel C. Rosenberg é o seguinte: “Sou um homem simples. Tudo o que quero é dormir o suficiente para dois homens normais, whisky suficiente para três e mulheres suficientes para quatro.

Já o apresentador de TV americano Johnny Carson comentou assim sobre a bebida: “Felicidade é ter um bife mal passado, uma garrafa de whisky e um cachorro para comer o bife”.

Salute!!!