O FUSCA FARDADO – O CARRO POPULAR DE ADOLF HITLER

Festa Nazista e o
Festa Nazista e o “Carro do Povo” – Fonte – Tima/Life

A Kraft durch Freude , que pode ser traduzido como “Força pela Alegria”,  a organização para os tempos livres da DAF – Deutsche Arbeitsfront, a Frente Alemã do Trabalho, a grande organização corporativa do regime nazista, foi quem mandou construir a fábrica de Wolfsburg, onde foi produzido o “carro do povo”.

Tudo começou em 1934 quando o ditador Adolf Hitler encomendou ao engenheiro austríaco Ferdinand Porsche o desenvolvimento de um pequeno automóvel “para o povo”.

Porsche tinha sido diretor técnico da empresa Daimler-Benz, mas no começo dos anos 1930 tinha-se estabelecido por conta própria como designer de automóveis de competição, em Stutgart, no sul da Alemanha. Um dos seus projetos era o de desenvolver um carro pequeno que fosse, ao mesmo tempo, barato e económico; um «carro popular», que em alemão se dizia Volkswagen.

O primeiro estudo foi realizado em 1931 para a fabricante de motocicletas Zundapp, também conhecida como Zünder- und Apparatebaugesellschaft. O protótipo, com o nome de tipo 12, foi produzido no ano seguinte, mas logo foi abandonado. Em 1932, este projeto foi reaproveitado por outra fabricante de motocicletas, a NSU Motorenwerke AG, mas também acabou por ser abandonado.

Porsche apresentando a Hitler seu projeto
Porsche apresentando a Hitler seu projeto

Em 1933, Hitler abordou Porsche, que conhecia desde 1924, sobre a realização de um carro popular e pediu-lhe a apresentação de projetos. Porsche, entre outros, apresentou um trabalho com base numa plataforma com suspensão dianteira e traseira com barras de torção, com um motor de  4 cilindros, refrigerado a ar. A carroçaria baseava-se no carro Tropfenwagen, desenvolvido pelo austríaco Edmund Rumpler, um veículo em forma de gota de água. Foi este projeto que Hitler apoiou em 1934, e que foi formalmente contratado com a Reichverband der Automobilindustrie (RDA), a associação industrial da indústria automotiva.

O carro que foi encomendado tinha que ter como características um motor traseiro de 986 cilindradas, 26 cavalos, uma velocidade máxima de 100 km/hora, não pesar mais de 650 kg, ser refrigerado a ar, e consumir sete litros de gasolina a cada cem quilômetros. Imitando a solução encontrada pela Ford, com o seu modelo T,  o Volkswagen, também só seria fabricado numa única cor – um azul escuro acinzentado, quase preto. Certamente uma cor bem ao estilo da política alemã da época.

Hitler conhecendo os primeiros protótipos - Fonte - Time/Life
Hitler conhecendo os primeiros protótipos – Fonte – Time/Life

Os primeiros protótipos foram terminados em fins de 1935, sendo batizados com o código VW1 e VW2. Os primeiros ensaios em estrada foram realizados de Outubro a Dezembro de 1936, com base em três protótipos, e depois de estes serem analisados por uma comissão de admissão à produção, composta por representantes de todos os construtores de automóveis alemães, o projeto foi aceito.

Em 1937 e 1938 foram fabricados à mão,  pela Mercedes-Benz, por ordem expressa de Hitler, duas séries de protótipos, conhecidos pelo nome de VW38. Uma primeira série de 30 e posteriormente uma nova série de 60 unidades, que realizaram ensaios de avaliação em grande escala.

Foi em 1938 que se decidiu construir uma fábrica para produção dos Volkswagen. O local escolhido foi a propriedade do conde von Schulenburg, o castelo de Wolfsburg, em Fallersleben na Baixa-Saxónia, a 80 km da cidade de Hanover.

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A empresa que iria produzir o novo carro foi registada, em 28 de Maio de 1938, com o nome Gesellschaft zur Vorbereitung des Volkswagens (GEZUVOR) – Companhia para o desenvolvimento do Volkswagen, que foi mudado para Volkswagenwerk GmbH em outubro seguinte.

A fábrica foi lançada por Hitler em 26 de Maio de 1938, sendo aí apresentados os protótipos definitivos. O New York Times de 3 de Julho descrevia-o ironicamente dando-lhe o nome de «Beetle» – Besouro. A sua apresentação ao grande público ocorreu no Salão Automóvel de Berlim de 1939, com o nome de Kdf Wagen – o Carro Força pela Alegria ! Ao mesmo tempo em que se construía a fábrica para a produção do carrinho, criava-se uma cidade que teve o nome provisório de Stadt des KdF-Wagens – Cidade do carro Força pela Alegria.

Anúncio ao KDF-Wagen mostrando a caderneta de poupança para organizar o pagamento do carrinho.
Anúncio ao KDF-Wagen mostrando a caderneta de poupança para organizar o pagamento do carrinho.

O preço estabelecido foi de 990 Reich Mark’s, mais 200 marcos para o pagamento dos seguros, num total de quase 1.200 marcos, fantasticamente divididos em pagamentos semanais de 5 marcos. O contrato previa a possibilidade de rescisão, mas a empresa seria indemnizada com 20% do capital pago, não se obrigando a um prazo de entrega, mesmo que o carro já tivesse sido pago.

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Em finais de 1938 havia 150.000 contratos realizados, que chegaram, em Novembro de 1940, aos 300.000, mas nenhum “Volkswagen” foi entregue a particulares.  Entre Maio de 1938 e Setembro de 1939 foram fabricados, à mão, 215 exemplares, sendo que o primeiro destinado à venda saiu da fábrica em 15 de Agosto de 1939. Estes exemplares foram todos entregues a dignitários nazistas.

Hitler e seu carro popular - Fonte - Getty Images
Hitler e seu carro popular – Fonte – Getty Images

A produção em série só começou em Julho de 1941, sendo produzidos ao todo 41 modelos, basicamente militares. Quando em Agosto de 1944 a fábrica foi integrada na indústria de armamento alemã, sobretudo para produzir os foguetes V1, e a produção dos KdF-Wagen foi terminada, tinham sido produzidos, ao todo, 630 exemplares.

Um Waffen-SS KDF-Wagen (Volkswagen)
Um Waffen-SS KDF-Wagen (Volkswagen) “Käfer” (“besouro”). Observe a chapa de matrícula da SS.

O primeiro modelo militar, construído na fábrica  da Kdf, foi um carro para oficiais, com tração nas quatro rodas e um chassi mais elevado, que teve o nome de Kommandeurwagen e foram construídos 667 exemplares. O modelo tinha boas qualidades em todo-o-terreno, mas o seu desempenho na estrada era ruim pela falta de tração. Foi o carro que voltou a ser fabricado em 1946, quando a fábrica, destruído durante a guerra, voltou a produzir novamente.

Um Kommandeurwagen preservado
Um Kommandeurwagen preservado

O Kübelwagen, o modelo seguinte teve muito mais sucesso, tendo sido produzidos  50.788 exemplares. Foi, de fato, o Jeep alemão. Devido o motor refrigerado a ar, podia ser usado em qualquer região do mundo, tanto no Ártico como no Norte de África.

O Kübelwagen, o
O Kübelwagen, o “Jeep” alemão

Em 1944 o motor de 984 cilindradas foi substituído por um de 1.131, o mesmo motor que será usado nos primeiros Volkswagen produzido no pós-guerra. Este modelo voltou a ser produzido nos anos 60, tanto numa versão militar, como numa civil, sendo conhecido nos Estados Unidos por “The Thing” – A Coisa!

O Kübelwagen
O Kübelwagen

A outra versão militar, e a última, produzida durante a  Segunda Guerra Mundial foi o Schwimmwagen. Veículo anfíbio produzido a partir de 1942, com uma carroçaria completamente estanque, o Schwimmwagen era um bom veículo de reconhecimento e era tracionado para todo terreno.

O Schwimmwagen, usando o motor de 1.131 cilindradas que será utilizado depois no Kubelwagen, foi fabricado até 1944, tendo sido produzidos 14.283 veículos.

Um Schwimmwagen pronto para o combate
Um Schwimmwagen pronto para o combate

No fim da 2.ª Guerra Mundial a Volkswagenwerk estava destruída. Quando os soldados da 102.ª divisão de infantaria do exército americano avistaram a fábrica e a cidade da Volkswagen, em 11 de Abril de 1945, desconheciam a sua existência porque a localidade não vinha representada em nenhum mapa. Entretanto, as máquinas para produção dos automóveis estavam intactas, e havia material armazenado que permitia o recomeço da produção.

Mais tarde, com a divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação, a cidade passou a ser responsabilidade do exército britânico. Foi encarregado de reativar a fábrica o major Ivan Hirst, do Corpo de Engenheiros do exército britânico, pois carros pequenos eram necessários para as forças de ocupação britânicas.

A fábrica destruida
A fábrica destruida

Nos primeiros tempos a fábrica serviu para reparação de Jeeps do exército britânico, e produção de motores. Logo dois KdF-Wagens foram montados à mão, para uso do Quartel General do exército britânico. Os britânicos fizeram uma encomenda de 20.000 automóveis à Volkswagen e até ao fim de 1945 foram produzidos 1.785 automóveis, e no ano seguinte chegou-se aos 10.000 veículos. O preço unitário era de 5.000 marcos, sendo entregues à Comissão aliada de Controle da Alemanha, e distribuídos aos Correios, à Cruz Vermelha e a outras instituições nascentes no país em reconstrução. Não foram vendidos exemplares a particulares.

No dia 2 de Janeiro de 1948 o exército britânico entregou a Heinz Heinrich Nordhoff, um antigo engenheiro da empresa Opel, a direção da fábrica. Em 1949 os Aliados entregaram o controle dos bens públicos do estado alemão ao governo federal, entre estes a fábrica da Volkswagen.

Heinz Heinrich Nordhoff e os novos
Heinz Heinrich Nordhoff e os novos “Carros do Povo”

Apesar de tudo que havia ocorrido, a empresa entregue à Alemanha foi um sucesso. Empregava quase 10.000 pessoas, produziria 46.154 veículos até ao fim de 1949, dos quais 23% seriam exportados para nove países. Uma produção que aumentava rapidamente. O Volkswagen era o carro mais vendido na Alemanha, tendo 50% do mercado. A empresa estava criando uma rede de vendas e de serviço na Alemanha e no exterior, e tinha inovado ao criar um seguro especificamente para os compradores de Volkswagens.

Fonte - vwboxerpatos.blogspot.com
Fonte – vwboxerpatos.blogspot.com

Logo estes veículos cruzariam a linha do equador e desembarcariam em um grande país tropical, onde seriam eternamente conhecidos como “Fusca”.

Baseado em texto encontrado no site – http://www.arqnet.pt

ARTISTAS OU AGIOTAS?

Historiadora lançou recentemente um blog, onde quer estreitar a relação com entusiastas da história [Foto: Divulgação]
Historiadora lançou recentemente um blog, onde quer estreitar a relação com entusiastas da história [Foto: Divulgação]
Autora de biografias de grande sucesso, Mary del Priore fala em entrevista sobre a história das narrativas sobre a vida de figuras públicas, o fim da privacidade e critica duramente o grupo Procure saber.

Ronaldo Pelli

Ela já escreveu biografias de amantes de imperadores, mostrou bastidores do poder, revelou segredos de príncipes para o grande público, abriu as portas da vida privada do brasileiro de séculos passados, contou segredos de grandes nomes da cultura nacional. Isso só para ficar em alguns dos exemplos da sua longa lista de obras históricas publicadas. A professora Mary del Priore tem, portanto, experiência no tema para opinar sobre a recente polêmica das biografias. Para ela, entre todas as questões levantadas pelo grupo formado por artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Roberto Carlos, Djavan, a pior acusação seria a de que biógrafos ganhariam muito dinheiro com as obras de pessoas famosas – e que esse valor deveria ser dividido entre os biografados.

“A ênfase do grupo Procure saber em transformar biógrafos em ‘gente que ganha dinheiro’ é chocante! Uma tal visão das coisas só revela a ganância dos membros deste grupo. Somos jornalistas, historiadores, escritores, apenas interessados em fazer nosso trabalho pelo qual somos pagos proporcionalmente ao mercado de livros que no Brasil ainda é muito pequeno. O que querem de nós, que paguemos ‘dízimo’? E chamar essa gente de ‘artistas’? Melhor seria: agiotas ou comerciantes”, diz ela, em conversa por e-mail.

A intenção da professora da pós-graduação de Historia da Universidade Salgado de Oliveira nesta discussão é, em vez de diminuir as produções de cunho histórico, divulgar o conhecimento sobre o assunto. Mais biografias, e sem autorização de ninguém. Se houver calúnia ou exageros, que a Justiça seja chamada para resolver a questão. Herdeiros impedindo a publicação de qualquer texto? Um absurdo. Imagine ter que atender todos os descendentes dos cerca de 40 filhos bastardos de D. Pedro I?

Novo livro da historiadora aborda a trajetória masculina no Brasil [Foto: Divulgação]
Novo livro da historiadora aborda a trajetória masculina no Brasil [Foto: Divulgação]
Confirmando esse interesse na difusão, recentemente ela lançou o blog “História Hoje”, para dialogar com os entusiastas do tema. Além disso, após estudar as crianças e as mulheres em separado, acaba de publicar a História dos homens no Brasil, nada menos que seu 37º livro, segundo o seu site oficial (http://marydelpriore.com.br/). Seu interesse pelas biografias vem desde o início de sua carreira. Em entrevista para a Revista de História da Biblioteca Nacional, em 2010, ela já explicava como começou a escrevê-las:

“Quando me mudei para o Rio de Janeiro, descobri o riquíssimo arquivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e percebi quantos filões poderiam nascer dali. E, nesse momento, houve uma ruptura naquilo que eu considerava que poderia ser uma carreira, como historiadora, e não como professora. Nunca me senti professora de nada e nem de ninguém. Então, naquele período, vislumbrei a possibilidade de fazer livros de divulgação que chamassem atenção para a questão da História do Brasil. Escrever sobre personagens que fossem desconhecidos, usando-os como janelas para o passado. E aí o meu trabalho deu uma guinada, e comecei a focar nas biografias, onde tenho tido bastante sucesso.”

Agora, em entrevista por email, ela reforça que os textos sobre a história de homens – ilustres ou não -, inclusive, não devem ficar restritos ao ambiente universitário, mas ser tratado como uma das vertentes da literatura, como “romances, thrillers policiais, auto-ajuda”.

“Considerado um gênero menor, paradoxalmente ele atrai milhões de leitores e tem autores desde a Antiguidade. O pioneiro Plutarco em sua obra Vidas paralelas tratou da biografia de Rômulo, Cesar entre outros personagens históricos”, explica a professora, que vai participar de um evento na Estação das letras, no Flamengo, Zona Sul do Rio, no dia 28 de novembro, discutindo exatamente “Literatura e História: Limites Ilimitados”.

Mary del Priore, em foto para a entrevista publicada na RHBN em abril de 2010 [Foto: Fernando Rabelo]
Mary del Priore, em foto para a entrevista publicada na RHBN em abril de 2010 [Foto: Fernando Rabelo]
“Outra característica que se esquece é que a biografia é filha de seu tempo. Ela reflete as formas de pensar de uma época. Na Antiguidade, a biografia fabricava heróis, na Idade Média, santos e personagens de vida espiritual irreprochável, na Idade Moderna, obras como a de Vasari ou Brantome procuravam personagens moralizantes, capazes de transmitir ideais por meio de seu comportamento.”

A professora recorda que “no século XIX, biografias de reis e generais serviram a consolidar a ideia de nação, com seus heróis e feitos”. Já no seguinte, autores famosos como Stefan Zweig e Marguerite Yourcenar escreveram romances históricos, ao abordar personagens famosos como Maria Antonieta ou o imperador romano Adriano, respectivamente. Já no atual século, o grande tema é a intimidade, “objeto de estudos das ciências humanas, através da história, da psicanálise e da antropologia e é natural que essas questões se transfiram para as biografias”, escreve ela.

“Some-se a isso o fato de que vivemos numa sociedade do espetáculo que aprecia o voyeurismo através da internet, de programas como Big Brother, de sex texts. Como impedir que essas questões que emanam da sociedade não contaminem o trabalho literário?”, questiona.

Segundo Mary, em nossa sociedade pós-burguesa, os valores do exibicionismo se tornaram mais fortes do que os da discrição e do pudor. Assuntos que frequentam as páginas de revistas de fofocas vão necessariamente aparecer na obra de biografados.

“Figuras públicas são públicas. Então que tenham coerência entre o que dizem e o que fazem”, opina, lembrando que os limites entre o que é público e o privado está ficando cada vez mais difícil de se perceber. “Em meu livro, Historias Intimas, demonstrei que a privacidade, um fenômeno cultural que foi lentamente construído pela burguesia entre os séculos XVIII e XIX está sendo desmontado.”

A professora argumenta que o estudo da vida privada, em vez de ser um problema, deve ser encarado como uma qualidade das biografias. Ela já comentava essa proposta na entrevista em 2010 para a Revista de História da Biblioteca Nacional, quando afirmou que um dos principais pontos quando se escreve sobre a vida de alguém é exatamente o detalhe.

“Isto é absolutamente inquestionável. A possibilidade de o leitor ver aquilo que você está contando. O escritor deve estar menos interessado em interpretar ou justificar determinados fatos e mais preocupado em recuperar a atmosfera de um período e descrever certos acontecimentos. E, para isso, é preciso estudar sobre a vida privada.”

Basta, agora, os biografados concordarem.

Fonte – http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/artistas-ou-agiotas

PROJETO QUE LIBERA BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS PODE SER VOTADO NESTA SEMANA

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O Projeto de Lei 393/2011, mais conhecido como Lei das Biografias, poderá ser votado já nesta quarta-feira (22) na Câmara dos Deputados caso os líderes partidários decidam pelo tratamento de urgência, o que garante prioridade na pauta. A decisão de antecipar a votação saiu da reunião que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), teve nesta terça-feira (23)  com os líderes.

“Há consenso para a urgência e, se sobrar um tempinho, podemos votar também, mas ainda precisamos fazer ajustes”, disse o líder do PT, deputado José Guimarães (CE). Ele informou que os deputados querem votar a proposta antes do dia 28 de outubro, quando a pauta passa a ser trancada pelo projeto do marco civil da internet. “Se não votarmos até lá, essa questão ficará entregue ao Supremo Tribunal Federal”, disse.

A proposta, criada pelo deputado Newton Lima (PT-SP), autoriza a publicação de biografias sem autorização prévia da pessoa retratada ou de sua família. A pressa para decidir sobre a questão pode comprometer a comissão geral anunciada nesta terça pelo presidente da Câmara. Pouco antes do encontro, Alves anunciou que vai realizar uma comissão geral para discutir o assunto.

Em Brasília será decidida esta questão
Em Brasília será decidida esta questão

O líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO), defende que seja incluído na proposta que, em caso de difamação, os autores enfrentem processo judicial em rito sumário. Caiado entrou, há oito anos, na Justiça contra o escritor Fernando Moraes, que incluiu no livro “A Toca dos Leões” uma fala atribuída a Caiado e contestada pelo deputado. “Há oito anos luto contra uma mentira. Assim, não é possível que um processo que avilta ou denigre a imagem de alguém possa demorar em média 15 anos”, disse.

Polêmica entre artistas

Após o debate acalorado sobre o tema exceder os corredores de Brasília –principalmente depois de artistas de renome, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, se declararem a favor da autorização prévia para a publicação de uma biografia–, o projeto, de autoria do deputado Newton Lima (PT-SP), recebeu atenção especial entre os mais 1,5 mil temas a serem votados.

“Meu projeto seria arquivado porque é um assunto que raramente entra em pauta, estava em último em uma lista de 1,5 mil projetos. O presidente da Casa costuma decidir emendas constitucionais e outras questões mais importantes, mas agora os artistas entraram na pauta”, afirmou ao UOL o deputado Newton Lima (PT-SP), autor original do projeto e um dos parlamentares que encaminharam ao presidente da Casa o pedido para que o tema fosse debatido.

Cartunista - Alpino - Fonte - http://br.noticias.yahoo.com/blogs/alpino/lan%C3%A7ada-biografia-n%C3%A3o-autorizada-jos%C3%A9-dirceu-153755754.html
Cartunista – Alpino – Fonte – http://br.noticias.yahoo.com/blogs/alpino/lan%C3%A7ada-biografia-n%C3%A3o-autorizada-jos%C3%A9-dirceu-153755754.html

O projeto de lei pede a modificação do artigo 20 do Código Civil, que prevê autorização prévia para a divulgação de imagens, escritos e informações biográficas. O artigo possibilitou que Roberto Carlos proibisse a comercialização de sua biografia não autorizada, “Roberto Carlos em Detalhes”, lançada pelo jornalista Paulo Roberto de Araújo, em 1997.

Aprovado em abril na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, em caráter conclusivo, o projeto estava pronto para ser votado no Senado. O próximo passo seria a assinatura da presidente Dilma Rousseff. No entanto, o assunto voltou para o final da fila quando 74 deputados federais –entre eles os três líderes partidários Antony Garotinho (PR-RJ), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e André Figueiredo (PDT-CE)– entraram com um recurso para que o projeto fosse debatido novamente na Câmara.

Com o tema em voga em veículos da imprensa –onde escritores, biógrafos e artistas se posicionaram contra ou a favor da publicação de biografias não autorizadas– e redes sociais, os parlamentares começaram a prestar mais atenção nas discussões. “Os artistas ajudaram a colocar luz ao assunto. Eles já tinham ajudado no caso do Ecad [Escritório Central de Arrecadação e Distribuição], mas dessa vez eles acabaram entrando em uma linha do raciocínio que colabora para a censura prévia”, afirmou o deputado Newton.

Grato pela repercussão, o petista não esconde certa decepção com os artistas dos quais admira. “Eu sou fã de todos eles, não só como artistas, mas como políticos. Eles foram essenciais para a reconstrução política. Não esperava essa posição, fiquei decepcionado”.

Assinaturas

Nos últimos dias, alguns parlamentares retiraram suas assinaturas do recurso, entre eles, o deputado Garotinho. Ao comentar que também é fã de Caetano e Djavan, Garotinho fez discurso na tribuna da Câmara, na semana passada, mudando de lado: “O trabalho do pesquisador e do jornalista não pode sofrer censura”. Na lista ainda constam a rubrica de Paulo Maluf (PP-SP), Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Pastor Marco Feliciano (PSC-SP). “Se houver uma retirada em massa e o requerimento ficar com menos de 51 assinaturas ele perde a validade e o projeto segue direto para o Senado”, disse Garotinho.

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O deputado Alessandro Molon (PT-RJ), último relator do projeto na Câmara, enxerga ainda a possibilidade do assunto ir para votação do Senado em breve. Molon também defende que pessoas públicas precisam ter a privacidade resguardada, mas de maneira relativa. “Esse é um dos ônus de alguém que tem vida pública. Eu compreendo por um lado a preocupação com a publicação de aspectos de sua vida privada. Mas eu entendo que é um erro imaginar que a solução seja a proibição”.

A Ministra da Cultura, Marta Suplicy, também já se posicionou a favor do projeto. “Minha opinião caminha para o apoio à liberdade de expressão, com multas mais vultosas aos autores que infringirem a verdade e a imagem do biografado”, afirmou em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” publicada na segunda-feira (21).

Cartum - Cau Gomez - Fonte - http://oferrao.atarde.uol.com.br/
Cartum – Cau Gomez – Fonte – http://oferrao.atarde.uol.com.br/

Molon avalia que a indecisão de hoje é culpa do Congresso no passado. “Nós que erramos ao aprovar o Código Civil na época do FHC [Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente], com esses dois artigos que abriam uma brecha para a família do Mané Garrincha processar o biógrafo Ruy Castro. O Roberto Carlos, do qual sempre fui fã, teve o descabimento de tirar o livro das prateleiras, um trabalho de pesquisa que levou 15 anos e que não o desmoralizava”, avaliou.

“Felizmente, o debate publico fez o parlamento despertar parta tomar a decisão”, comemorou. O deputado Newton Lima demonstra preocupação que o STF (Supremo Tribunal Federal) decida a questão antes do Congresso, o que geraria uma crise de poderes. “Precisamos votar, pelo sim ou pelo não, mas precisamos votar. Esse é um assunto político, não jurídico”. 

Cartum - Simanca - Fonte - http://oferrao.atarde.uol.com.br/?p=10574
Cartum – Simanca – Fonte – http://oferrao.atarde.uol.com.br/?p=10574

O STF anunciou no último dia 14 que vai realizar audiência pública para discutir o tema das biografias não autorizadas. A ministra Cármen Lúcia, relatora da Ação Direta de Inconstitucionalidade inciada pela Anel (Associação Nacional dos Editores de Livros), que questiona a validade dos artigos 20 e 21 do Código Civil, anunciou audiência pública para discutir o assunto nos dias 20 e 21 de novembro.

O presidente do STF, Joaquim Barbosa, e o ministro Marco Aurélio Mello já deram entrevistas sinalizando que são a favor da publicação de biografias sem autorização prévia.

Escritores e biógrafos como Ruy Castro e Lira Neto já mandaram o recado. “Caso o código civil brasileiro não seja alterado, como queremos, extinguindo a autorização obrigatória, as biografias vão entrar em extinção no Brasil. Minha carreira de biógrafo estará encerrada”, afirmou Lira. 

AUTOR – Tiago Dias* – Do UOL, em São Paulo – 22/10/2013

* Com informações da Agência da Câmara

* O AUTOR DESTE BLOG, IGUALMENTE AUTOR DE TRÊS BIOGRAFIAS, QUER DEIXAR PÚBLICA SUA OPINIÃO – Pessoalmente sou totalmente contrário a quem escreve biografias de forma irresponsavelmente, de maneira mentirosa, criminosa, muitas visando somente criar a polêmica com o intuito de ampliar a venda. Mas não posso aceitar a censura prévia. Se o biografado se sentiu prejudicado, a justiça está aí.  Mas como bem aponta o jornalista Mário Magalhães, autor da biografia de Carlos Marighella, “O conhecimento da história consagra-se como direito humano”.

FONTE – http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2013/10/22/apos-polemica-de-biografias-projeto-podera-ser-votado-ainda-nesta-semana.htm#fotoNav=21

BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS QUE MUDARAM A FORMA DE MUITA GENTE VER O MUNDO

ENQUANTO NO BRASIL ESQUENTA A POLÊMICA SOBRE A QUESTÃO DAS BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS, PROIBIR ESTE TIPO DE PUBLICAÇÃO LÁ FORA É FORA DE QUESTÃO E ESTE É UM GRANDE FILÃO DO MERCADO EDITORIAL. MAS O BIÓGRAFO TEM DE TER MUITO CUIDADO COM O QUE ESCREVE

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“The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice” (1995, Twelve), de Christopher Hitchens

Quando questionado sobre o título de duplo sentido (“missionary position”, em inglês, pode ser uma gíria para a posição “papai e mamãe”), o autor respondeu: “Era ou isso ou “Vaca Sagrada”, o que teria sido de mau gosto”. Trata-se de uma crítica feroz à Madre Teresa, que é retratada como uma oportunista política e dogmática que, em vez de tentar acabar com a pobreza, preferia ensinar como suportá-la. Segundo Hitchens, ela desviava fundos de suas obras de caridade para uma rede global de conventos. Jornais como o “The New York Times” consideraram a obra convincente (Carlos Messias) Reprodução.

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“Che Guevara, Uma Biografia” (1997, Objetiva), de John Lee Anderson

Com mais de 800 páginas (dependendo da edição), trata-se da mais completa biografia já publicada sobre o revolucionário argentino. Além de narrar a trajetória de Che de cabo a rabo, o livro ajudou a desmitificar a sua imagem de idealista, retratando-o mais como um guerrilheiro extremista, disposto a sacrificar a própria vida e a de quem mais ficasse no caminho dos seus objetivos. Mais do que isso, a pesquisa do autor alterou para sempre os próprios autos da história, revelando que os restos mortais do marxista estavam enterrados em uma vala no aeroporto de Vallegrande, na Bolívia. A obra foi considerada livro daquele ano pelo “The New York Times” (Carlos Messias).

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“Barack H. Obama: The Unauthorized Biography” (2008, Progressive Press), de Webster G. Tarpley

Também autor de “George Bush: The Unauthorized Biography”, Tarpley retrata o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos como um fascista pós-moderno, insistindo em propagar o nome do meio do político, que é Hussein. Segundo Tarpley, Obama não passaria de um rosto carismático –e narcisista– a serviço do estrategista político Zbigniew Brzezinski, que serviu como conselheiro de segurança durante a administração Carter. O livro foi publicado no ano da campanha para eleição do primeiro mandato do político, mas, segundo os seus fiéis opositores, conseguiram fazer com que a obra fosse varrida para debaixo do tapete (Carlos Messias)

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“Hitler” (2010, Penguin/Companhia das Letras), de Ian Kershaw

Condensando dois volumes em um, a edição brasileira é mais enxuta. No entanto, preserva a descrição detalhada da intimidade do ditador antes e durante a Segunda Guerra Mundial. O autor enfatiza os aspectos sociais da Alemanha pós-Primeira Guerra que levaram ao nazismo, sem abrir mão dos traços da personalidade da figura mais sinistra da história do século 20. “É o tipo de biografia magistral que somente um historiador de primeira linha é capaz de escrever?, disse a resenha do “The Observer” (Carlos Messias)

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“Princess Diana: Her Life Story, 1961-1997” (1997, Publications International), de Richard Buskin

Originalmente publicado em 1992, este livro ganhou 32 páginas cobrindo a morte e o velório, que foi transmitido mundialmente, da Princesa de Gales. Mesmo sendo não autorizada, a obra tem mais credibilidade do que a biografia com a qual Diana chegou a contribuir, “Diana – Her True Story”, do jornalista de celebridades Andrew Morton, quem, segundo ela e outros membros da realeza britânica, distorceu os fatos e depoimentos que lhe foram amplamente concedidos (Carlos Messias)

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“A Woman Named Jackie: An Intimate Biography of Jacqueline Bouvier Kennedy Onassis” (2000, Lyle Stuart), de C. David Heymann

Depois de encorajar John F. Kennedy a escrever “Profiles in Courage”, que retrata a história do senado norte-americano e que ganhou o Pulitzer de melhor biografia em 1957, a primeira-dama mais fascinante dos Estados Unidos foi tema de dezenas de biografias. No entanto, nenhuma delas foi tão completa (com 715 páginas) e controversa quanto esta, que se atreve a enxergá-la além do objeto de fascínio e, em vez de desmerecê-la, procura compreendê-la na intimidade, expondo toda sua complexidade (Carlos Messias)

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“The Unauthorized Look at Steve Jobs 101 Genius Ideas to Success” (2013, 202 Press), de Xander Christoph

Lançada em junho, esta biografia tenta identificar e traduzir para a prática os componentes que formavam o gênio criativo Steve Jobs (1955-2011). Elementos como a mente inquisitiva, a arrogância, a determinação, a fase hippie e a formação cultural são analisados com lupa. Diferentemente da biografia autorizada, de Walter Isaacson, esta obra também lança luz, sem filtros, sobre características menos elogiosas do cofundador da Apple, como suas práticas selvagens de capitalismo, exploração de mão de obra e delírios de grandeza (Carlos Messias)

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“Elvis” (1981, McGraw-Hill Book Co.), de Albert Goldman

Poucas biografias renderam tanta revolta quanto esta, chegando a fazer com que o autor fosse insultado em rede nacional. Em vez do glamuroso pop star, aqui o Rei do Rock é retratado como um caipira ignorante, infantil e incongruente, capaz de torrar US$ 100 em picolés em uma noite, que, mesmo se declarando publicamente contra as drogas, usava fraldas por incontinência, devido ao abuso de substâncias controladas. Sem contar as narrativas de orgias com garotas adolescentes (as quais ameaçava fisicamente) e a descrição pouco enaltecedora do seu membro (o “Little Elvis”), que teria sido motivo de vergonha para o galã. Não é leitura para fã (Carlos Messias)

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“Get Back: The Unauthorized Chronicle of the Beatles” “Let It Be” Disaster” (1999, St. Martin”s Griffin), de Doug Sulpy e Ray Schweighardt

Um dos registros mais completos do rompimento da maior banda de rock da história. A obra narra em detalhes o dia a dia das gravações do disco “Let it Be”, entre os dias 2 e 31 de janeiro de 1969, quando se formou um atrito irreparável entre os “fab four”, levando à dissolução do grupo. O autor se baseou nos sigilosos rolos de fita dos bastidores da gravação do filme “Let it Be”, que foram roubados após a conclusão do documentário e apreendidos pela polícia três décadas depois (Carlos Messias)

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“His Way: The Unauthorized Biography of Frank Sinatra” (1987, Bantam), de Kitty Kelley

Antes mesmo da publicação desta obra, o “Sr. Olhos Azuis” em pessoa ameaçou processar a autora em US$ 2 milhões, ideia que logo abandonou. Entre as principais acusações –aparentemente, realistas–, o Voz de Veludo seria um mulherengo crônico, teria histórico de violência doméstica sob efeito de doses cavalares de álcool e ligações com a máfia italiana. A autora declarou ter tido acesso a grampos da polícia de Nova York, arquivos de mafiosos e horas de entrevista com o ator Peter Lawford, um dos melhores amigos de Sinatra, enquanto ele estava no leito de morte (Carlos Messias)

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“Madonna: Unauthorized” (1992, Island Books), de Christopher Andersen

Apesar de não ter revelações lá muito surpreendentes, esta biografia remonta em detalhes escândalos já bem conhecidos da Rainha do Pop, como a criação rígida por uma família católica, as primeiras experiências sexuais, envolvimentos com drogas no início do estrelato e o conturbado casamento com o ator Sean Penn, à época um alcoolatra, que praticava violência doméstica (Carlos Messias)

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“Michael Jackson: The Magic, The Madness, The Whole Story, 1958-2009” (2009, Grand Central Publishing), de J. Randy Taraborrelli

Originalmente publicado em 1991, o livro ganhou uma edição revisada e ampliada em 2004, e outra em 2009, logo após a morte do Rei do Pop. Portanto, envolve 30 anos de pesquisas, contendo citações reveladoras de diversos membros da família do mito. A obra traz o pacote completo: a infância traumatizante no Jackson 5, o vitiligo, a infantilidade, os hábitos estranhos, o casamento de aparência com Lisa Marie Presley, os processos por pedofilia e insinuações de homossexualidade. Caso raro de biografia que não consegue separar o homem do mito (Carlos Messias)

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“Brando: An Unauthorized Biography” (1987, Dutton Adult), de Charles Higham

Espécie de biógrafo das estrelas, Higham já perfilou Katharine Hepburn, Howard Hughes, Cary Grant, Orson Welles, Errol Flynn, entre outros. Ao tratar de Marlon Brando (1924-2004), o autor relata em detalhes a vida do astro, desde a infância difícil em Omaha (EUA) aos bastidores do início da carreira, no teatro, e das filmagens de longas como “Um Bonde Chamado Desejo” (1951). Contando com depoimentos de velhos amigos e ex-amantes do ator, o biógrafo remonta situações cômicas do seu passado e fundamenta a sua reputação de destemido (Carlos Messias)

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“Tom Cruise: An Unauthorized Biography” (2008, St. Martin”s Press), de Andrew Morton

Este best-seller, que teve tiragem inicial de 400 mil exemplares, causou na vida do astro. Primeiro por abordar a separação de Mimi Rogers e de Nicole Kidman, o namoro com Penélope Cruz e com a modelo Sofia Vergara, e o conturbado início de relacionamento com Katie Holmes, que teria tido de se submeter a um teste para se tornar a namorada de Tom Cruise, e precisaria aceitar servir como garota-propaganda da Cientologia. Segundo, por mergulhar pesado no envolvimento do ator com esta instituição. De acordo com a autora, Nicole teria tido atritos com a igreja, que ameaçou tirar a guarda dos seus filhos, durante a separação (Carlos Messias)

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“Angelina” (2010, St. Martin”s Press), de Andrew Morton

Controversa, esta biografía sobre Angelina Jolie foi acusada pelo “New York Times” de ser imprecisa, mas fez a festa dos leitores de tablóides com revelações picantes. Segundo o livro, ela teria tomado banho com Leonardo Di Caprio após a premiação do Globo de Ouro de 1998, os motivos que a levaram a se livrar oficialmente do sobrenome do pai, John Voight, de sua documentação; os espancamentos que sofreu do primeiro marido, Jonny Lee Miller; e a intimidade “caliente” com o segundo, Billy Bob Thornton. Além, claro, da relação com Brad Pitt (Carlos Messias)

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“Mr. Playboy: Hugh Hefner and the Fantasy Life of Modern America” (2009, Wiley), de Steven Watts

Mais do que se apegar a quantas coelhinhas o criador da revista “Playboy” levou para a hidromassagem, esta biografia conta a trajetória de Hugh Hefner apontando como ele se tornou um ideal masculino na cultura de consumo após a Segunda Guerra Mundial. Mas claro que Watts, professor de história da Universidade de Missouri, não deixou de fora algumas curiosidades, como que, na Mansão de Playboy, todos os banheiros são equipados com aspirina, loção de amêndoas para o corpo e preservativos (Carlos Messias)

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“Superhero: An Unauthorized Biography of Christopher Reeve” (1999, Bt Bound), de Chris Nickson

Uma história tocante e rica em detalhes contando como o protagonista de “Super-Homem” (1952-2004) foi de astro de Hollywood a ativista social em diversas frentes, passando, claro, pelo acidente que lhe deixou tetraplégico. Mesmo sem puxar muita sardinha para o lado do biografado, a obra procura mostrar a motivação interna do astro, que sempre teria tido um espírito lutador, que manteria durante ao longo de sua reabilitação, sempre em busca de uma possível cura para sua paralisia (Carlos Messias)

Fonte – http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2013/10/22/apos-polemica-de-biografias-projeto-podera-ser-votado-ainda-nesta-semana.htm#fotoNav=18

26 DE SETEMBRO DE 1983 – O DIA EM QUE O MUNDO QUASE ACABOU!

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A HISTÓRIA DE UM HOMEM SIMPLES QUE SALVOU
A HUMANIDADE DA GUERRA NUCLEAR

Em 1983, a tensão entre a União Soviética e os Estados Unidos ainda estava em vigor, portanto, ambas as superpotências se monitoravam intensamente. A estratégia de dissuasão nuclear era perturbadora. Foi baseada principalmente no fato de que ambos os arsenais poderia destruir ambos os lados e, portanto, se alguém disparasse primeiro, a outra nação teria margem de manobra suficiente para disparar seu arsenal e aniquilar o oponente (completa autodestruição). Portanto, qualquer sinal ou detecção de ataque era o gatilho para ativar o sistema de resposta completa.

A situação entre os Estados Unidos e seus aliados contra a União Soviética sempre foi muito tensa durante a chamada Guerra Fria. Mas em setembro de 1983, a temperatura estava ainda mais elevada, pois um avião de passageiros Boeing 747, da Korean Air Lines, denominado pelo sistema aéreo como voo 007, havia sido abatido por entrar no espaço aéreo soviético por engano, com 269 passageiros a bordo. Logo a Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN, braço armado que unia americanos e seus aliados europeus, tinha organizado manobras de grandes proporções. Para completar a rede de espiões soviéticos da temida KGB, informaram a Moscou que os Estados Unidos e seus aliados estavam se preparando para atacar a União Soviética.

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Com todo este pré-alarme como pano de fundo, o tenente-coronel Stanislav Yevgrafovich Petrov estava como um oficial de serviço em 26 de setembro 1983, em Serpukhov-15, um poderoso bunker em Moscou, onde se controlava o sistema de alerta antecipado de mísseis. O sistema de alerta utilizado pela União Soviética era baseado em satélites que apontavam suas lentes de observação para os principais locais de lançamento de mísseis.

Aquela noite para Petrov deveria ter sido de folga, mas outro militar estava doente e ele tinha sido convocado na última hora.

Tudo parecia normal, sem maiores alterações. Até que as 00:14, horário de Moscou, vários alarmes começaram a tocar quando um dos satélites detectou o que parecia ser um lançamento de um míssil a partir da base de Malmstrom, no estado de Montana, nordeste dos Estados Unidos. O tempo de impacto esperado entre 20 e 30 20 minutos. De acordo com o protocolo estabelecido, o coronel Petrov teria que iniciar uma sequência de atos programados e avisar seus superiores. No entanto, Petrov não agiu como ele tinha sido treinado. Do seu posto Petrov deveria passar a informação aos seus superiores na cadeia de comando, mas este tenente-coronel decidiu esperar. E por qual razão? Segundo ele porque sentiu que o sistema estava errado (e aquele foi o primeiro erro deste sistema de alerta) e ordenou o cancelamento do alarme.

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Logo depois, com a equipe ainda em estado de choque, novos alarmes mostraram um segundo míssil e depois surgiram mais outros três artefatos que teoricamente foram disparados de Malmstrom. Nada menos que um possível grupo de cinco mísseis balísticos intercontinentais, cada um deles com várias ogivas atômicas, estavam no ar em direção a sua pátria.

Escutavam-se muitos gritos por todos os lados. Os consoles e mapas eletrônicos piscavam. Os colegas de Petrov afirmavam o lançamento de um ou dois mísseis podiam ser erros do computador, mas não um bombardeio de cinco mísseis. Sem dúvida, tratava-se do pior cenário possível. Era preciso fazer algo!

Quando o destino da espécie humana está – literalmente – em suas mãos, a última coisa que se quer é entrar em pânico. E, no meio dessa situação terrível, Petrov fez algo que um militar não deve. Tal como fez Vassíli Arkhipov, o herói da crise dos mísseis cubanos de 1962 que se recusou a lançar torpedos nucleares contra embarcações americanas, Petrov não seguiu o protocolo e decidiu não autorizar um início da sequência de informações que culminariam em grande ataque.

Stanislav Yevgrafovich Petrov
Stanislav Yevgrafovich Petrov

Mesmo levando em conta que o Kremlin precisaria de 15 minutos para começar o lançamento, os funcionários do bunker precisavam agir em cerca de 10 minutos, ou perderiam a oportunidade de um contra-ataque para sempre. Entretanto Petrov percebeu que era um tanto óbvio que os americanos, que possuíam milhares de misseis, começarem um ataque nuclear ao grande território soviético com apenas cinco mísseis. Pois a resposta soviética seria gigantesca.

Petrov quis esperar a confirmação do ataque daqueles supostos cinco misseis através do sistema de radar de solo, onde teve que aguardar alguns minutos extremamente tensos e cruéis. Logo o radar de solo confirmou a Petrov que ele estava certo. Era uma falha do sistema soviético. Os sensores dos satélites de alerta tinha experimentado uma situação estranha, que fez a luz solar refletida por nuvens em elevadas altitudes, parecerem disparos de misseis, ativando a rede de alarme.

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Todas as decisões e os dados coletados por Petrov foram passados para o seu superior, o general Yuri Votintsev. Informado do “alarme falso” e após terminar o incidente, o general prometeu que Petrov seria honrado por “Ter salvado o mundo da guerra nuclear”.

Mas o tenente-coronel Petrov passou bem longe de ser honrado (ou considerado Herói da União Soviética, a mais alta condecoração do seu país). Ele foi investigado pelas altas autoridades militares, que concluíram que ele fora “indisciplinado”. Alegaram também que Petrov deveria ter seguido a cadeia de comando e informado a seus superiores, para que eles tomassem suas decisões.

Há certa confusão quanto ao papel militar do Petrov neste incidente. Petrov, como um indivíduo, não estava em uma posição em que poderia sozinho, ter lançado qualquer míssel do arsenal soviético. Seu único dever era monitorar os equipamentos de vigilância por satélite e relatar a seus superiores sobre algum aviso de ataque. Seguindo uma cadeia de comando, só os altos dirigentes soviéticos teriam poder para decidir lançar um ataque de retaliação contra os Estados Unidos. Mas o papel de Petrov era crucial no fornecimento de informações para a tomada de decisão neste caso.

Até hoje o governo russo afirma que o coronel Petrov não poderia ter começado uma guerra nuclear simplesmente relatando o lançamento de um míssil. Eles afirmam que a confirmação teria que vir de outras fontes para as ordens de lançamento serem efetivadas. Embora isso possa ser verdade, também é verdade que as forças soviéticas estavam em constante estado de alerta durante a primeira metade da década de 1980. Yuri Andropov, então chefe da União Soviética, tinha uma forte desconfiança dos norte-americanos, especialmente do presidente estadunidense Ronald Reagan. Por sua parte, Reagan era contundente ao afirmar que sua intenção era retirar os comunistas de Moscou do poder. Em meio a este clima de tensão, analistas militares têm teorizado que se Petrov tivesse seguido o padrão operacional para qual havia sido treinado e relatado um possível ataque com mísseis, é muito possível que os protocolos normais não tivessem sido seguidos.

Em uma entrevista concedida em 2013, Petrov disse que apesar de sua decisão, ele reconheceu que nunca teve total certeza de que o alarme estava errado. Ele sentiu que a sua formação civil ajudou a tomar a decisão certa. Seus colegas eram todos soldados profissionais, com formação puramente militar e, seguindo as instruções, teriam relatado aos superiores que um ataque com mísseis estava em curso e a retaliação nuclear teria acontecido.

Petrov depois disse: “Eu, obviamente, nunca tinha sonhado que um dia eu iria enfrentar essa situação. Foi a primeira e, até onde eu sei, também a última vez que tal coisa tinha acontecido, exceto para cenários de prática simulada “.

Independente desta questão, naquele dia Petrov salvou o planeta, mas expôs as falhas de um sistema caríssimo. Naquele tempo, ele não podia ser premiado por isso, o que seria um soco no estômago da liderança soviética. Petrov não foi julgado ou punido pelo incidente, nunca mais foi promovido até sua aposentadoria, o que afetou drasticamente em sua pensão. Foi transferido para posições sem maior prestígio e lhe foi ordenado manter segredo sobre o incidente.

O homem que verdadeiramente salvou o mundo
O homem que verdadeiramente salvou o mundo

Logo Petrov se aposentou do exército com a patente de tenente-coronel e, por vários anos, padeceu de problemas de ansiedade, como resultado daqueles 15 minutos de extrema tensão.

A sua história só veio a tona em 1998, quando o general Yuri Votintsev revelou tudo em suas memórias.

Stanislav Yevgrafovich Petrov salvou o planeta e a raça humana. Apesar de ter recebido em 2006 uma homenagem na sede da ONU, tendo recebido vários prêmios, de ter a sua vida (e aquela noite pavorosa) contada em um documentário, é engraçado como alguém como ele não muito reconhecido pelo público. Talvez por Petrov ser sempre muito modesto e apenas comenta que era “a pessoa certa no momento certo”. Petrov disse que não sabe que ele deve considerar-se como um herói pelo que ele fez naquele dia.

MITOS NA BERLINDA

O Brasil coleciona personalidades que inspiram liderança.
Mas os heróis de hoje podem não ser os de amanhã

Vivi Fernandes de Lima

O paulistano Benedito Eliseu dos Santos foi um dos mais de 25 mil brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial. Ele não ostentava as divisas dos oficiais militares em sua farda – era soldado – e não pôde ver a calorosa recepção que a população e o governo brasileiro prepararam para a chegada dos pracinhas, vindos da Itália em 1945. Benedito morreu na guerra, como outros 456 expedicionários, e é reconhecido como um herói pela Força Expedicionária Brasileira (FEB). Afinal, “é melhor morrer em combate do que ver ultrajada a nossa nação”, já dizia o primeiro-ministro britânico Winston Churchill.

Três pracinhas do 11.º RI. na FEB - ACERVO FAMÍLIA NALVO
Três pracinhas da FEB. A guerra é um ótimo palco para se criar heróis, que muitas vezes só desejavam voltar vivos e inteiros para suas casas – ACERVO FAMÍLIA NALVO

Hoje, Benedito dá nome à rua de um colégio que homenageia todos os combatentes da Segunda Guerra: a Escola Estadual Heróis da FEB, no Parque Novo Mundo, em São Paulo. A escola e seu endereço não estão sozinhos na homenagem a esses homens: o bairro inteiro tem ruas com nomes de expedicionários. Cristiane Matos, professora de História do colégio, levou o tema para a sala de aula: “Fizemos um projeto em que os alunos saíram à caça de documentos de ex-combatentes. Foi ótimo; eles buscaram a história de cada um que dá nome às ruas”.

A atividade fez com que os estudantes se interessassem pela guerra, o que nem sempre é fácil. “Normalmente, os alunos não têm facilidade em relacionar os heróis com os fatos históricos. Sobre Tiradentes, por exemplo, a maioria sabe que ele morreu enforcado e que se parecia com Jesus. Só isso”, diz a professora. A distância entre a figura do líder e a sua causa está presente até no caso de Che Guevara, apontado por professores como o personagem histórico mais popular para a juventude. Aqui, “muitos vestem a camisa com a foto do Che e não têm noção da história dele. O que atrai o interesse dos jovens é mais o poder de comando e de liderança do personagem do que a sua causa”, afirma Cristiane.

Em um primeiro olhar, todos sabem quem é o personagem da foto. Mas nem todos sabem que ele é seguramente o argentino mais famoso no Brasil, mais até do que Maradona, seus pais eram oriundos de famílias pertencentes a classe alta argentina, seu nome era Ernesto Guevara de la Serna e nasceu na cidade de Rosário, em 1928 - Fonte - http://www.havana-cultura.com/
Em um primeiro olhar, todos sabem quem é o famoso personagem da foto ligado a história cubana. Mas nem todos sabem que ele é seguramente o argentino mais famoso no Brasil (mais até do que Maradona), seus pais eram oriundos de famílias pertencentes a classe alta do seu país de origem e nasceu em 1928 na cidade de Rosário  – Fonte – http://www.havana-cultura.com/

O professor de História da Escola Estadual Tiradentes, em Umuarama (PR), Ângelo Alves, concorda com a colega de profissão paulista. Mesmo estudando no colégio que tem o nome do mais famoso inconfidente, muitos de seus alunos não reconhecem Tiradentes como um herói. “Atualmente, a historiografia vem desmitificando muitos nomes. O próprio Tiradentes se diluiu bastante. Já Che Guevara chama muito a atenção dos jovens. Eles se encantam com seu espírito aventureiro e por ter entrado numa luta que parecia impossível. E, claro, com o grande marketing que é feito com sua imagem”, explica o professor.

Mas, afinal, o que faz um personagem histórico ser reconhecido como herói? O poeta espanhol Reinaldo Ferreira (1922-1959), em sua “Receita para fazer um herói”, menciona alguns passos para a construção desse personagem mítico: “Tome-se um homem,/ feito de nada, como nós/ (…) Depois, perto do fim,/agite-se um pendão,/e toque-se um clarim”. Para arrematar a receita, uma dica fundamental: “Serve-se morto”.

Nesse ponto, as definições de herói e mártir se assemelham. Mas a permanência do heroísmo de quem sofreu por uma causa depende de muitas circunstâncias. “A construção de um herói é, ao mesmo tempo, um processo político e histórico. Ou seja, um protagonista da História delineia, simultaneamente à sua atuação, uma memória de si mesmo e de seus atos”, explica a historiadora Cecília Helena Lorenzini de Salles Oliveira, diretora do Museu Paulista da USP. A memória a que ela se refere pode ser enaltecida ou difamada, durante ou após sua vida. Isso depende dos objetos e documentos deixados, mas também da vontade de outras pessoas e de segmentos sociais que interpretem este protagonista como um representante do que desejam. “Assim, um protagonista que, para seus contemporâneos, não mereceu consideração pode vir a se tornar posteriormente uma referência na compreensão de certos eventos”, esclarece Cecília.

Já Tiradentes só foi reconhecido herói quase 100 anos após a sua morte
Já Tiradentes só foi reconhecido herói, com direito a um feriado, 100 anos após a sua morte

Esse reconhecimento pode demorar muitos anos, décadas e até séculos. No caso de Tiradentes, a primeira celebração do 21 de abril ocorreu em 1881, 89 anos após sua morte. A data só virou feriado nacional em 1890, no mesmo ano em que o 15 de novembro também passou a ser comemorado. Coincidência? Nem um pouco. Os republicanos estavam ávidos por lançar um herói para o novo regime. E esta era uma tarefa difícil, já que a Proclamação teve quase nenhuma participação popular e, como o historiador José Murilo de Carvalho escreveu, “a pequena densidade histórica do 15 de novembro (uma passeata militar) não fornecia terreno adequado para a germinação de mitos”.

Enquanto tentavam exaltar a imagem do marechal Deodoro, de Benjamim Constant e Floriano Peixoto – que sequer foram heróis militares –, Tiradentes vinha aparecendo na literatura e nas artes. O poeta Castro Alves chegou a se referir ao inconfidente como “o Cristo da multidão”. Sua simpatia pela república – nos moldes norte-americanos, e não nos da que foi implantada aqui – e a memória de seu martírio couberam como uma luva na vaga de herói daquele momento político. A proliferação de estudos sobre o personagem chegou a levantar a hipótese de que Tiradentes teria escapado da forca, teoria desmentida posteriormente.

Em 1965, quando o país estava novamente sob o regime militar, Tiradentes foi proclamado patrono cívico da nação brasileira. O mesmo governo também decretou que todas as repartições públicas do país afixassem o retrato do inconfidente, o que era impensável no Império, quando se aclamava D. Pedro I como herói da Independência, ou melhor, o neto da rainha que mandou executar Tiradentes. A divulgação da imagem do imperador estava fortemente ligada à atuação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado em 1838 para criar uma história nacional.

A figura de Luís Alves de Lima e Silva, dependendo do grupo que ocupa a liderança máxima do Brasil, pode ser cultuada como um grande herói nacional, a um cruel exterminador de membros de movimentos libertários
A figura de Luís Alves de Lima e Silva, dependendo do grupo que ocupa a liderança máxima do Brasil, pode ser cultuada como um grande herói nacional, a um cruel exterminador de paraguaios e de brasileiros membros de movimentos libertários

Outro exemplo de herói a serviço do governo é o duque de Caxias, que já era reconhecido pelos políticos do Partido Conservador, do qual fazia parte, durante a Guerra do Paraguai (1864-1870). “Ele havia tomado decisões em campo de batalha que dirigiram os combates a favor do Império. Foi essa situação que fez com que sua biografia se engrandecesse e que sua atuação anterior – no combate às revoluções que ocorreram no Brasil nas décadas de 1830 e 1840 – fosse interpretada de modo positivo”, explica Cecília Oliveira. Mas durante a ditadura, a historiografia marxista atacou o herói militar, considerando-o um assassino, por ter liderado o Brasil na guerra mais sangrenta da América Latina.

Essa discussão sobre quem são os heróis, expondo versões sobre “o outro lado” do senso comum, pode parecer uma tentativa de derrubar os grandes personagens. Mas a questão não é assim tão simplória. “Os estudos históricos, desde os anos 1920, têm procurado desmistificar os heróis para evidenciar como foram projetados. Para o historiador, o fundamental não é descobrir ou destruir  heróis, mas reconstituir uma época, um evento, uma situação, para entendê-los por inteiro, nas suas várias facetas e contradições”, elucida Cecília.

Já este personagem seguramente foi um grande líder para aqueles que o seguiam, estrategista e conhecer a sua história ajuda muito a compreender o nosso atual flagelo da violência no Brasil. Infelizmente se perde muito tempo na quase eterna discussão se ele foi herói ou bandido!
Seguramente este homem foi um grande líder para aqueles que o seguiam, um inteligente estrategista e muito valente. Conhecer a sua história ajuda muito a compreender o nosso atual flagelo da violência no Brasil. Infelizmente se perde muito tempo na quase eterna discussão se ele foi herói ou bandido!

E contradição é o que não falta quando ao assunto é um grande personagem. Além de suas biografias terem diferentes versões com o passar do tempo, há também casos em que o indivíduo é endeusado e demonizado num mesmo período. Assim é Lampião: alguns batem palmas para sua origem humilde e para o discurso de que ele entrou no cangaço para fazer justiça; outros têm repugnância por quem talvez tenha sido o mais cruel dos bandidos do Nordeste. Já o padre Cícero é ainda uma personalidade muito popular na região, onde nem sempre o senso comum está de acordo com a historiografia acadêmica. Sua biografia não deixa escapar uma possível aliança com o cangaço para combater a Coluna Prestes, liderada por outro herói nacional, Luiz Carlos Prestes.

Como se vê, há heróis para todos os lados. E se eles refletem, de certa forma, as transformações das sociedades, é natural que novos heróis surjam a cada época. Decretar um feriado em homenagem a Zumbi e à Consciência Negra, como ocorre hoje em mais de 200 cidades brasileiras, só foi possível quatro séculos depois do fim do Quilombo dos Palmares. Nesse caso, novamente a memória e a política se unem. Desta vez, como resultado do crescente movimento em defesa dos direitos dos negros.

Além de Zumbi, o quilombola Malunguinho foi bastante perseguido em Pernambuco no século XIX e é reverenciado como herói. “Hoje, este líder é muito comemorado no catimbó, no meio da mata, com festas”, conta o historiador pernambucano Marcus de Carvalho. Em 1827, tropas do governo enfrentaram o quilombo de Malunguinho, mas muitos negros conseguiram fugir, inclusive o líder. Uma recompensa de 100 mil-réis foi oferecida por sua captura ou morte. “Para se ter uma ideia do temor que ele provocava, foi a maior quantia proposta pela captura de alguém vivo ou morto em Pernambuco até a Cabanada (1832-1835)”, diz o historiador. Atualmente, o quilombola é, inclusive, nome de uma lei estadual que criou a Semana Estadual da Vivência e Prática da Cultura Afro Pernambucana, em 2007.

O marinheiro João Cândido
O marinheiro João Cândido

O líder da Revolta da Chibata, João Cândido, é outro personagem que foi ainda mais valorizado com o movimento negro. Sua vida não para de despertar a curiosidade de pesquisadores, que volta e meia encontram uma novidade sobre o Almirante Negro. Aliás, enquanto ainda se investiga esse mito, a historiografia recente traz a existência de outro líder da Revolta. Os historiadores Marco Morel e Sílvia Capanema de Almeida publicaram recentemente descobertas sobre Adalberto Ferreira Ribas (1891-1963), que provavelmente foi quem escreveu o manifesto com as reivindicações do movimento contra os castigos corporais aplicados aos marinheiros.

A descoberta de novos heróis e a revisão dos antigos pode estar também associada ao aumento de estudos biográficos. Durante muito tempo – aproximadamente até a década de 1970 –, a biografia não era considerada História por se tratar de uma investigação sobre um indivíduo, e não sobre acontecimentos coletivos. Mas o próprio Karl Marx, que é referência para a história social, já dizia que não via os indivíduos como elementos isolados… Se a historiografia muda, os heróis também podem mudar. Enquanto isso, a juventude brasileira veste camisetas com estampas do argentino Che Guevara.

Saiba Mais – Bibliografia

CARVALHO, José Murilo. A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

RÉMOND, René (org.). Por uma História política. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.

MALERBA, Jurandir (org.). A independência brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

Fonte – http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/mitos-na-berlinda

ESCRITOR CRITICA DESIGUALDADE NO BRASIL E DIVIDE OPINIÕES EM ABERTURA DA FEIRA DE FRANKFURT

Foto: Adriana Vichi
Luiz Ruffato – Foto: Adriana Vichi

Antes de embarcar para Frankfurt, o escritor Luiz Ruffato, um dos preferidos dos leitores alemães, já tinha dito que seu discurso de abertura da 65.ª edição da maior feira de livros do mundo incomodaria. E incomodou na mesma medida em que encantou o público ao fazer referências à história e à situação atual do País. Pouco depois, em sua fala, o vice-presidente Michel Temer acabou vaiado por parte da plateia que compareceu ao evento. Em seu discurso de abertura na Feira do Livro de Frankfurt, o escritor Luiz Ruffato fez uma pesada crítica as desigualdades sociais brasileiras. Entre outras questões, falou do passado escravagista, de violência, da população carcerária e de homofobia. Leia a íntegra do discurso a seguir:

“O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora? Para mim, escrever é compromisso. Não há como renunciar ao fato de habitar os limiares do século 21, de escrever em português, de viver em um território chamado Brasil. Fala-se em globalização, mas as fronteiras caíram para as mercadorias, não para o trânsito das pessoas. Proclamar nossa singularidade é uma forma de resistir à tentativa autoritária de aplainar as diferenças.

O maior dilema do ser humano em todos os tempos tem sido exatamente esse, o de lidar com a dicotomia eu-outro. Porque, embora a afirmação de nossa subjetividade se verifique através do reconhecimento do outro –é a alteridade que nos confere o sentido de existir–, o outro é também aquele que pode nos aniquilar… E se a Humanidade se edifica neste movimento pendular entre agregação e dispersão, a história do Brasil vem sendo alicerçada quase que exclusivamente na negação explícita do outro, por meio da violência e da indiferença.

Nascemos sob a égide do genocídio. Dos quatro milhões de índios que existiam em 1500, restam hoje cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades. Avoca-se sempre, como signo da tolerância nacional, a chamada democracia racial brasileira, mito corrente de que não teria havido dizimação, mas assimilação dos autóctones. Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um fato indiscutível: se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas – ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos.

Até meados do século XIX, cinco milhões de africanos negros foram aprisionados e levados à força para o Brasil. Quando, em 1888, foi abolida a escravatura, não houve qualquer esforço no sentido de possibilitar condições dignas aos ex-cativos. Assim, até hoje, 125 anos depois, a grande maioria dos afrodescendentes continua confinada à base da pirâmide social: raramente são vistos entre médicos, dentistas, advogados, engenheiros, executivos, artistas plásticos, cineastas, jornalistas, escritores.

Invisível, acuada por baixos salários e destituída das prerrogativas primárias da cidadania –moradia, transporte, lazer, educação e saúde de qualidade–, a maior parte dos brasileiros sempre foi peça descartável na engrenagem que movimenta a economia: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país. Historicamente habituados a termos apenas deveres, nunca direitos, sucumbimos numa estranha sensação de não pertencimento: no Brasil, o que é de todos não é de ninguém…

Convivendo com uma terrível sensação de impunidade, já que a cadeia só funciona para quem não tem dinheiro para pagar bons advogados, a intolerância emerge. Aquele que, no desamparo de uma vida à margem, não tem o estatuto de ser humano reconhecido pela sociedade, reage com relação ao outro recusando-lhe também esse estatuto. Como não enxergamos o outro, o outro não nos vê. E assim acumulamos nossos ódios –o semelhante torna-se o inimigo.

A taxa de homicídios no Brasil chega a 20 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes, o que equivale a 37 mil pessoas mortas por ano, número três vezes maior que a média mundial. E quem mais está exposto à violência não são os ricos que se enclausuram atrás dos muros altos de condomínios fechados, protegidos por cercas elétricas, segurança privada e vigilância eletrônica, mas os pobres confinados em favelas e bairros de periferia, à mercê de narcotraficantes e policiais corruptos.

Machistas, ocupamos o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas. Covardes, em 2012 acumulamos mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. E é sabido que, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, esses números são sempre subestimados.

O Brasil é o país homenageado em Franlfurt
O Brasil é o país homenageado em Franlfurt

Hipócritas, os casos de intolerância em relação à orientação sexual revelam, exemplarmente, a nossa natureza. O local onde se realiza a mais importante parada gay do mundo, que chega a reunir mais de três milhões de participantes, a Avenida Paulista, em São Paulo, é o mesmo que concentra o maior número de ataques homofóbicos da cidade.

E aqui tocamos num ponto nevrálgico: não é coincidência que a população carcerária brasileira, cerca de 550 mil pessoas, seja formada primordialmente por jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa instrução.

O sistema de ensino vem sendo ao longo da história um dos mecanismos mais eficazes de manutenção do abismo entre ricos e pobres. Ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo: cerca de 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais –ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.

A perpetuação da ignorância como instrumento de dominação, marca registrada da elite que permaneceu no poder até muito recentemente, pode ser mensurada. O mercado editorial brasileiro movimenta anualmente em torno de 2,2 bilhões de dólares, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas a alimentar bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.

Mas, temos avançado.

A maior vitória da minha geração foi o restabelecimento da democracia – são 28 anos ininterruptos, pouco, é verdade, mas trata-se do período mais extenso de vigência do estado de direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. Inegável, ainda, a importância da implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas.

Infelizmente, no entanto, apesar de todos os esforços, é imenso o peso do nosso legado de 500 anos de desmandos. Continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.

Nós somos um país paradoxal.

Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas edênicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza. Ora festejado como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de protagonista no mundo –amplos recursos naturais, agricultura, pecuária e indústria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produção e consumo; ora destinado a um eterno papel acessório, de fornecedor de matéria-prima e produtos fabricados com mão de obra barata, por falta de competência para gerir a própria riqueza.

Logotipo da feira de Frankfurt
Logotipo da feira de Frankfurt

Agora, somos a sétima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos…

Volto, então, à pergunta inicial: o que significa habitar essa região situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida?

Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro –seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual– como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir. Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora.”

SOBRE LUIZ RUFFATO – http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Ruffato

FONTE – http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,leia-a-integra-do-discurso-de-luiz-ruffato-na-abertura-da-feira-do-livro-de-frankfurt,1083463,0.htm

AMORES ESCRAVOS E AMORES MESTIÇOS NO BRASIL DO SÉCULO XIX

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Há poucas referências de cronistas estrangeiros aos casamentos entre escravos. Sabe-se hoje que eles eram correntes. O livro do casal Agassiz, educadores que capitanearam uma expedição ao Brasil entre 1865 e 1866, tece, por exemplo, alguns comentários de índole moral em torno de cerimônias que eles mais consideram “irreligiosas”, tal a rispidez com que o padre tratava os nubentes. Segundo o relato,

“[…] se estas pobres criaturas refletissem, que estranha confusão não se faria em seu espírito! Ensinam-lhes que a união entre o homem e a mulher é um pecado, a menos que seja consagrada pelo santo sacramento do matrimônio. Vêm buscar este sacramento e ouvem um homem duro e mau resmungar palavras que eles não entendem, entremeadas de tolices e grosserias que eles entendem até demais. Aliás, com seus próprios filhos crescem crianças escravas de pele branca, que na prática, ensinam-lhes que o homem branco não respeita a lei que impõe aos negros.”

Provavelmente inspirado nos negros que trabalhavam para a empresa inglesa da Mina de Morro Velho, era Minas Gerais, Richard Burton dizia que “[…] o escravo tem no Brasil, por lei não escrita, muitos direitos de homem livre […] é legalmente casado e a castidade de sua esposa é defendida contra o senhor. Tem pouco receio de ser separado da família”.

downloadNo século XIX, para efetivar seus casamentos os escravos continuavam precisando da anuência de seus senhores que, muitas vezes, decidiam levando em conta o número de filhos que nasceriam dessa união. Em propriedades grandes e médias havia a tendência em não separar os cônjuges, por venda ou herança. Nos plantéis pequenos, porém, os proprietários estavam mais sujeitos a contratempos econômicos, garantindo em menor escala o bem-estar conjugal dos escravos. Aos jovens, fortes candidatos a fugas, dizia um senhor da região de Campinas, no interior paulista: “E preciso casar este negro, dar-lhe um pedaço de terra para assentar a vida e tomar juízo”.

A presença da escravidão e da mestiçagem trouxe muitos reflexos para as relações afetivas. No Brasil, a fidelidade do marido não apenas era considerada utópica, segundo os viajantes, mas até ridicularizada. E a manutenção de amantes — a julgar pela marquesa de Santos, exemplo vindo de cima — um verdadeiro segredo de polichinelo. Tal vida não se tornava, no dizer de um desses cronistas, “uma ignomínia para um homem, em vez disso era como a ordem natural das coisas”. Eram comuns, particularmente no interior do Brasil, famílias constituídas por um homem branco cuja companheira — mais ou menos permanente, segundo o caso — era uma escrava ou uma mestiça. Somava-se a isso a desproporção entre homens — em maior número — e mulheres — poucas — estudada por demógrafos historiadores. As marcas do sofrimento ficaram na documentação e nas observações de uma viajante estrangeira. Conta-nos ela:

escravidao2“Na noite anterior eu notara uma jovem mulher branca, ou antes amarela, de grandes olhos com olheiras, de cabelos mal penteados, que andava descalça, vestida com uma saia malfeita, uma criança pela mão e outra no colo, e supusera que bem poderia ser a mulher do administrador que, no entanto, tinha roupa fina, um traje decente e um verniz de letras e de ciência […] resolvi, então, satisfazer minha curiosidade, notando em seu rosto traços de profundo sofrimento:

— Pareces triste, senhora, disse-lhe.
— Sou bem infeliz, senhora, respondeu-me ela.
— Não é a mulher do administrador?
— Para minha desgraça.
— Como assim?
— Ele me trata indignamente. Aquelas mulatas, acrescentou ela, apontando-me uma, é que são as verdadeiras senhoras da fazenda. Por elas, meu marido me cobre de ultrajes.
— Por que suporta isso?
— Meu marido me força a receber essas criaturas até em minha cama; e é lá, debaixo dos meus olhos, que lhes dá suas carícias.
— Ê horrível!
— Quando me recuso a isso, ele me bate e suas amantes me insultam.
— Como continua com ele? Abandone-o.
Ela olhou-me com profundo espanto, replicando.
[…] — Isso é bom para as francesas que sabem ganhar seu pão; mas nós, a quem não se ensinou nada, somos obrigadas a ser como criadas de nossos maridos.”

Na cultura popular, as modinhas ensinavam as mulheres a desconfiar seus maridos. Veja-se esta coligida na Bahia em 1843:

Astuciosos os homens são
Enganadores
Por condição
Os homens querem sempre enganar
Nós nos devemos
Acautelar
Juram constância
Até morrer
Mas enganar
É seu prazer
[…]
Quando dependem
São uns cordeiros
Logo se tornam
Lobos matreiros
[…]
Quando da noite
O sol raiar
Então firmeza
Lhes hão de achar
Já nem ao menos vergonha tem:
Quando isto ouvem
Riem-se bem.

O concubinato corrente entre homens brancos e mulheres afrodescendentes provocou uma reação: mulheres brancas deviam casar com homens brancos. Embora já houvesse muitas uniões entre brancas e mulatos, como descreveu Freyre para o Nordeste, nas capitais todo o cuidado era pouco. Tão pouco, que a Folhinha Laemmertz de 1871 admoestava: “com a Lei do Ventre Livre algumas moças que não querem ficar para tias, casam-se com negros”. Ao fundo, a imagem de um casal misto, ela, uma pintura, ele, caricaturizado.

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No litoral, procuravam-se genros nascidos no Velho Mundo. O “mendigo de mais alto nascimento era preferido aos mais ricos nativos”. Mas nas províncias do interior não havia tanta fartura de brancos e, na conclusão do observador estrangeiro Burton, “o mulatismo tornou-se um mal necessário”. Maria Graham repete as mesmas palavras: os portugueses “preferem dar suas filhas e fortuna ao mais humilde caixeiro de nascimento europeu do que aos mais ricos e meritórios brasileiros”, leia-se, mestiços. Ela acreditava que “os portugueses europeus ficavam extremamente ansiosos para evitar o casamento com os naturais do Brasil”, demonstrando, dessa forma, já estarem “convencidos das prodigiosas dificuldades, se não malefícios que fizeram a si próprios com a importação de africanos”. Mas a solidão em que viviam muitos brancos, isolados em um deserto e não tendo qualquer restrição das opiniões da sociedade possibilitava, no entender da professora inglesa, que eles se “acomodassem” com as mulheres a seu alcance. Escapa-lhe o potencial afetivo de muitas dessas relações. Completava-se, assim, o binômio que induzia “muitos no país a prescindirem de uma esposa”, nesse caso, de uma moça branca para casar legalmente. Desse “desregramento” nem os ingleses escapavam, observa um norte-americano, mencionando o caso de certo Mister Fox, comerciante solteiro que já sexagenário desfrutava, em sua casa, da companhia de uma senhora negra e viçosa, de pouco mais de 35 anos, que atendia à mesa, desincumbindo-se, também, de outras tarefas domésticas.

Nosso conhecido viajante Schlichthorst fazia à corte, a sua maneira, a uma mestiça que encontrara nas ruas do Rio de Janeiro. A aproximação entre o estrangeiro e a nativa é direta. Não há rodeios; há trocas. Comida por companhia. As clivagens de raça e classe ficam claramente visíveis, sobretudo, quando ele titubeia em beijar a mão da linda jovem cuja visão o deleitava. Orgulho e preconceito se misturam. Vejamos como ele relata essa experiência:

“A moça de aparência decente, estava desacompanhada. Ofereci-lhe o braço e levei-a para sua casa. Algumas escravas nos seguiam. A esse feliz acaso fiquei devendo minhas horas mais agradáveis no Rio de Janeiro. Beata Lucrécia da Conceição não era, em verdade de sangue puro como a Europa exige para sua pretensa fidalguia racial,” mas era uma moça boa e simples, de dezessete anos, que vivia com decente liberdade em companhia de sua mãe, uma crioula gorda. A riqueza dessa gente modesta constava de uma casinha e de alguns negros que trabalhavam na alfândega. O capital crescia com um bando de moleques, de tempos em tempos, aumentado pela extraordinária fertilidade das negras ou, como dizia a velha — pela benção do céu. D. Luiza, mãe de D. Beata, era viúva. A filha, solteira, tinha um amigo tropeiro, que andava com sua tropa de mulas por Minas Gerais e vivia com ela quando vinha ao Rio de Janeiro. Uma encantadora menina nascera desta união.”

casamentodenegrosO jovem estrangeiro deixa-se encantar pelo ambiente simples e acolhedor de uma casa onde podia chegar à hora que quisesse. De certa feita, resolve ir às compras para, o que considera, uma refeição modesta.

“Como sei que é dia de jejum e conheço o gosto das senhoras, compro caranguejos, palmitos, macarrão para a sopa, algumas sardinhas e batatas, cebolas, agrião para a salada e um pouco de alho às escondidas. Não me esqueço das passas, das amêndoas, dos abacaxis, das laranjas, das bananas e, para completar, a sobremesa, de ostras, de queijo e algumas garrafas de excelente vinho do Porto, que nenhuma senhora desdenha. Chego assim carregado com o negro à casa de D. Luiza e me convido para jantar. A boa mulher sente-se muito honrada com a minha visita e sua amável filha me recebe com toda a sua graça natural.”

Mas logo sobrevêm considerações que misturam preconceito e prazer, sentimentos complexos que deviam viver não poucos dos que vinham fazer a América:

“Quase sou tentado a beijara mão que me estende. Contra isso, porém, rebela-se o nobre sangue europeu, ao pensar que a tinge leve cor africana. Enquanto a velha vai em pessoa para a cozinha, a fim de dirigir o preparo da refeição, aprendo com a minha bela mestra, em poucas horas, mais português do que me ensinaria em seis semanas um rabugento professor. Se nesta convivência íntima, um sentimento melhor não vence o orgulho ridículo a que venho de me referir, fico indeciso, porque sei respeitar os direitos alheios, mesmo que sejam de um simples tropeiro de Minas. Após a refeição, as senhoras que se serviram de talheres em consideração à visita vão dormir. Acendo um cigarro, me embalo numa rede até o sono me fechar às pálpebras. Um sonho me conduz à Europa, na qual, quando acordado raras vezes penso, e me concede gozos a que devo renunciar no Brasil […]. A noite cega depressa. Quando se acendem os lampiões ofereço o braço à dama mais moça e, seguidos por uma escrava preta, damos uma volta pelas ruas da cidade, que a essa hora têm a maior animação.”

E o comentário: “D. Luiza que de bom grado teria vindo conosco fica em casa pela delicada modéstia de sentir sua diferença de cor. Sua filha com um quarto de sangue africano, à noite pode passar como branca de sangue puríssimo”.

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Apesar de consideradas indignas de casar de papel passado, laços de convívio diário com escravas acabavam por tornar-se tão respeitados como em qualquer país da Europa e elas assumiam, sem maiores obstáculos, a honrosa posição de esposas. No caso em que tais relações se prolongassem, adentrando a velhice do parceiro, este não se decidindo por providenciar um casamento com uma mulher branca, acabava por fazer de seus filhos mulatos os únicos herdeiros de seus bens. Durante uma visita a Bertioga, no litoral paulista, o reverendo Walsh defrontou-se com “uma negra”, que, diz ele, “veio e sentou-se para olhar para nós. Ela era a companheira de nosso pequeno anfitrião e mãe de algumas crianças mulatas que possuíam toda a propriedade de seus pais”.

Estudando a vida privada na Província de São Paulo, o historiador Robert Sleenes esmiuçou documentos em que essas afirmações ganham carne e sangue. Filhos mulatos nascidos dessas uniões herdam bens, escravos e negócios, dando origem a uma pequena camada média, mestiça, como já observara, à mesma época, o reverendo Walsh. O fenômeno não era comum, havendo o pai que alforriar seus filhos que, por seu turno, muitas vezes, tinham seus herdeiros nas mesmas condições: com escravas. As dificuldades de mobilidade social foram grandes até meados do século, mas não faltavam senhores que, literalmente apaixonados, ameaçavam a vida de casal de escravos. Um exemplo, em São Paulo? Um senhor que perseguia violentamente Romana, sua escrava, dizendo a seu marido que “o havia de matar porque precisa da crioula para sua manceba”. Ou, em Vassouras, no Rio de Janeiro, em que uma esposa traída apresenta ao juiz uma carta de seu marido à amante, uma ex-mucama: “Marcelina, você como tem passado, meu bem? Estou com muita saudade de você e ainda não fui dar-lhe um abraço porque estou na roça feitorando outra vez […]”. E se despede:

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“Adeus, minha negra, recebe um abraço muito e muito saudoso, e até breve. O frio já está apertando, e faz-me lembrar das noites da barraca com uma saudade que me põe fora de mim; está bom, não quero dizer mais nada por hoje, se começo a me lembrar de certas coisas, em vez desta carta vou eu mesmo, e hoje não posso sair. Outra vez adeus e até lá.”

Na corte, Marcelina deixava-se fotografar com acessórios considerados de fino trato: leques e lindo vestido de tafetá pregueado com o laço à marrequinha.

Não é esse o caso de Marcelina, mas na maioria dos exemplos que extraímos da documentação tem-se a impressão de que era mais fácil, se não econômico, para o homem branco, aproveitar-se das mulheres que não podiam exigir dele compromissos formais, mas lhe ofereciam os mesmos serviços que uma esposa branca e legalmente casada. Segundo observação de um viajante estrangeiro, até os homens acabavam por sentir “uma estranha aversão pelo casamento”, passando a não gostar de se casar para sempre e, uma vez que “a humana lei latina facilita o reconhecimento dos filhos ilegítimos”, são eliminados os atrativos que restam ao matrimônio. Ficavam assim justificadas em favor do homem, segundo Tânia Quintaneiro, as ligações à margem da legislação com negras e mestiças e a desproteção a muitos filhos que, apesar da “humana lei latina”, nem sempre eram legalmente reconhecidos.

Texto de Mary Del Priore in “História do Amor no Brasil”, Contexto, São Paulo, 2006, excertos p. 188-195. A partir de http://stravaganzastravaganza.blogspot.com.br/2013/04/amores-escravos-e-amores-mesticos-no.html?q=Nordeste

1997 – NO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ – PROJETO DO POLO DE ECOTURISMO DO SERTÃO

AGOSTO DE 1997 – ESTE FOI UM DOS MELHORES PROJETOS QUE PARTICIPEI. FOI O MAPEAMENTO DA REGIÃO DO POLO DO SERTÃO CENTRAL, PARA UTILIZAÇÃO ECOTURÍSTICA, NOS MUNICÍPIO DE QUIXADÁ E QUIXERAMOBIM, NO CEARÁ. FORAM 20 DIAS BEM PROVEITOSOS E ESPECIAIS. COM OS AMIGOS ADEILTON RIGAUD E JOAQUIM DAS VIRGENS NETO

Autor – Rostand Medeiros

Os monólitos da Região Central do Ceará. Bela paisagem. Em Quixadá.
Os monólitos da Região Central do Ceará. Bela paisagem. Em Quixadá, Ceará.
Subida da Serra dos Macacos. Só no lombo de animal.
Subida da Serra dos Macacos. Belo local, mas a subida só no lombo de animal.
Açude da Faz. Logradouro
Açude da Faz. Logradouro
Eu e o velho Joaca tentando mostrar aos caçadores, sem muito sucesso, o erro de caçarem mocós. Não havia seca na época, mas as condições de vida deste pessoal não dava margem para debater sobre preservacionismo em meio a fome.
Eu e o velho Joaca tentando mostrar aos caçadores, sem muito sucesso, o erro de caçarem mocós. Não havia uma seca muito pesada nesta na época, mas as condições de vida deste pessoal não dava margem para debater muito sobre preservacionismo em meio ao espectro da fome.
Depois de trocar o pneu do Troller, em meio aos monólitos
Depois de trocar o pneu do Troller, em meio aos monólitos, com o guia Dagoberto, gente muito fina.  No Troller com motor VW 2.0 e caixa de marcha de D-20. Era uma máquina e tanto na época.
As perneiras que utilizávamos não era para aparecer bonito nas fotos, mas para proteger das picadas de cascavéis.
As perneiras que utilizávamos não era para aparecer bonito nas fotos, mas para proteger das picadas de cascavéis.
No alto da serra dos Cacos, horas a cavalo.
No alto da serra dos Cacos, horas a cavalo.
Com o pessoal da Secretária de Turismo do Estado do Ceará, transmitindo os dados de vinte dias de campo.
Com o pessoal da Secretária de Turismo do Estado do Ceará, transmitindo os dados de vinte dias de campo. Ao meu lado direito os amigos Adeilton Rigaud (sentado), atualmente na Petrobrás do Espirito Santo e Joaquim das Virgens Neto (em pé), atualmente no CPRM do Piauí

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AS PEGADAS DOS DINOUSSAUROS EM SOUSA-PB – UM LOCAL FANTÁSTICO

Trilha fossilizada no Vale dos Dinossauros, no município de Sousa - Fonte - Fabio Colombini
Trilha fossilizada no Vale dos Dinossauros, no município de Sousa – Fonte – Fabio Colombini
REGISTROS DO CRETÁCEO – ALGAS AJUDARAM A PRESERVAR
PEGADAS DE DINOSSAURO NA PARAÍBA 

IGOR ZOLNERKEVIC | Edição 209 – Julho de 2013 – Revista de Pesquisa da FAPESP

Para quem quiser deixar uma marca duradoura de sua existência na Terra, fica a dica: caminhe à beira de um lago, onde houver lama ou areia fina e molhada, coberta de limo. Centenas de dinossauros fizeram isso, e suas pegadas permanecem intactas, gravadas nas rochas do sertão nordestino, no município de Sousa, interior da Paraíba, graças à ação das algas verdes e azuis do limo onde pisaram há mais de 100 milhões de anos.

A conclusão é dos paleontólogos Ismar Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Giuseppe Leonardi, do Instituto Cavanis, em Kinshasa-Ngaliema, na República Democrática do Congo. Em parceria com o geólogo Leonardo Borghi, da UFRJ, eles apresentaram, em artigo publicado em maio deste ano na revista Cretaceous R  esearch, a primeira prova material da importância do limo na preservação de pegadas fósseis. O filme gelatinoso criado pelos microrganismos crescendo sobre a lama pisada teria impedido que as pegadas fossem apagadas pelo vento e pela chuva, antes que ela endurecesse e fosse recoberta por uma nova camada de sedimento que a protegeria da erosão.

“É incrível como microrganismos ajudaram a registrar a vida de alguns dos maiores animais que já viveram”, comenta Leonardi, considerado um dos principais especialistas em icnologia, o estudo de marcas deixadas por animais extintos, os chamados icnofósseis, para determinar sua postura e comportamento. Foi por meio de pegadas, por exemplo, que os paleontólogos deixaram de montar incorretamente os esqueletos fósseis nos museus.

Foto realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1994
Foto realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1994

Antigamente achava-se que os dinossauros andavam como os crocodilos, arrastando o ventre e a cauda no chão. As pegadas, no entanto, mostram que as criaturas andavam com a cauda e corpo suspensos, com seu peso distribuído igualmente sobre as patas.

As pegadas de Sousa foram descritas pela primeira vez em 1924, pelo engenheiro de minas Luciano Jacques de Moraes. O estudo dessas marcas, entretanto, só começou em 1975, quando Leonardi passou um ano explorando a região. Nascido na Itália em uma família de geólogos e paleontólogos, Leonardi, 74 anos, sempre dividiu seu tempo entre a carreira de pesquisador e a de padre católico. Ele se prepara para lançar um livro sobre Sousa, escrito em colaboração com Carvalho, ao mesmo tempo que atua na educação de crianças no Congo.

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As rochas de Sousa se formaram a partir de sedimentos acumulados em um vale aberto no início da separação entre a América do Sul e a África, no começo do chamado período Cretáceo. Entre 142 milhões e 130 milhões de anos atrás, o vale abrigava rios e lagos, atraindo a fauna da região. Sua lama transformada em rocha registrou a passagem de quase 400 indivíduos — dinossauros, crocodilos, sapos e tartarugas. Também há marcas de ondulações produzidas por água corrente e até pequenos buracos criados por gotas de chuva.

Cenas do passado

Não há, porém, ossadas fósseis em Sousa, ao contrário do que ocorre na bacia sedimentar vizinha do Araripe, no Ceará, local da descoberta de muitos dinossauros do Cretáceo. Leonardi explica que os sedimentos e o ambiente das bacias eram distintos. O ambiente mais ácido de Sousa corroía os ossos, enquanto no Araripe enxurradas arrastavam e soterravam rapidamente as carcaças dos animais, mantendo os ossos em condições favoráveis à petrificação.

“Em geral, os fósseis são registros da morte, enquanto as pegadas são registros da vida”, afirma Carvalho. Dificilmente as pegadas permitirão identificar a espécie do animal que as produziu. Mesmo assim, os pesquisadores conseguem classificá-las de acordo com certos grupos de dinossauros e, em locais onde há muitas delas, podem reconstruir cenas do passado.

Fonte - ARIEL MILANI MARTINE
Fonte – ARIEL MILANI MARTINE

O cotidiano dos dinossauros de Sousa lembra a vida dos grandes mamíferos das savanas africanas de hoje. Há trilhas feitas por bandos numerosos de saurópodes, imensos herbívoros quadrúpedes, semelhantes aos brontossauros. Em certo local é possível notar que um saurópode adulto diminuiu sua marcha para acompanhar o passo de um filhote. Em outros pontos, esses bandos são perseguidos por pequenos grupos de terópodes, carnívoros bípedes parecidos com tiranossauros ou velocirraptores. Mais ativos que os herbívoros, os terópodes deixaram mais pegadas registradas, apesar de provavelmente terem sido em menor número.

“Essas marcas são estruturas tão delicadas, tão fáceis de serem apagadas pelas intempéries”, diz Carvalho. “Queríamos entender como foram preservadas.” Segundo ele, os pesquisadores costumavam concordar que, para as pegadas serem preservadas, bastava que o sedimento onde estavam impressas tivesse certas características especiais. Ele deveria ser fino, úmido e plástico na medida certa, como a argila. Todos os estudos experimentais feitos até agora, porém, demonstram que isso muitas vezes não é o suficiente.

De uma década para cá, começaram a aparecer evidências de que as pegadas menos erodidas são aquelas cobertas por limo. Em 2009, por exemplo, um grupo de arqueólogos suíços observou exatamente isso ao estudar o endurecimento de pegadas humanas impressas há poucos anos na beira de lagos no Caribe e no Oriente Médio. Carvalho notou algo semelhante na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Outros paleontólogos começaram a suspeitar de que as chamadas esteiras microbianas que compõem o limo funcionariam como uma cola entre os grãos do sedimento, preservando os traços das pegadas, além de os protegerem contra o vento e a chuva. Os microrganismos ajudariam ainda na petrificação, acumulando o cálcio que endurece o sedimento.

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Carvalho e seus colegas descobriram a primeira evidência material do fenômeno ao analisarem ao microscópio as lâminas de rochas extraídas de um poço na Fazenda Cedro, em Sousa. Encontraram várias camadas de microbialitos, um tipo de rocha formado a partir dos restos de esteiras microbianas do Cretáceo.

Outra evidência indireta é a presença em Sousa de fósseis de conchostráceos, um crustáceo protegido por duas conchas, aparentado de caranguejos e camarões. Os conchostráceos existem até hoje e quase nunca ultrapassam meio centímetro de comprimento. Uma das espécies de Sousa, porém, atinge 4,5 centímetros. Carvalho acredita que os conchostráceos de Sousa cresceram tanto por conta do ambiente de águas quentes, calmas e ricas em nutrientes que favoreceram a proliferação das esteiras microbianas nas margens dos lagos onde os dinossauros pisavam.

Foto de uma reprodução de um dinossauro. Realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1999
Foto de uma reprodução de um dinossauro. Realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1999

Mais limo, mais detalhes

As pegadas mais ricas em detalhes, que vistas bem de perto revelam de marcas de unhas a ranhuras da planta das patas e dos dedos, seriam aquelas formadas onde as esteiras teriam crescido mais. O limo teria ajudado a preservar também as rebordas que aparecem em volta de algumas pegadas. As rebordas são feitas da lama espirrada quando o animal pisou e podem informar seu peso.

Além do sedimento argiloso e das esteiras microbianas, os ciclos de deposição dos sedimentos seguindo as estações secas e chuvosas também ajudou a preservar as pegadas em Sousa. Pegadas eram gravadas e endurecidas durante a estação seca, para então serem enterradas por uma nova camada de sedimento trazida pelas chuvas. A nova camada serviria então de substrato para gravar mais pegadas na estação seca seguinte. Em um local conhecido como Passagem das Pedras, em Sousa, Leonardi escavou 25 dessas camadas com pegadas, produzidas por variações cíclicas na borda de um lago.

Carvalho, cuja pesquisa tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), espera agora examinar lâminas de rochas de outros lugares do mundo com pegadas fósseis. O maior deles fica em Sucre, na Bolívia. “Tenho quase certeza de que os microbialitos estão presentes lá”, diz.

Foto de uma das trilhas feitas pelos dinossauros em Sousa, realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1994
Foto de uma das trilhas feitas pelos dinossauros em Sousa, realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1994

“As esteiras microbianas estão na moda”, comenta o paleontólogo Marcelo Adorna Fernandes, da Universidade Federal de São Carlos, cujo laboratório possui a maior coleção de icnofósseis do país, muitos deles coletados no interior paulista, principalmente em Araraquara, onde foram descobertas pegadas até em rochas das calçadas da cidade. Fernandes conta que espera analisar em breve o que ele acredita ser rastros deixados por invertebrados ao rasgarem esteiras microbianas crescendo no fundo dos lagos glaciais, que deram origem às rochas sedimentares conhecidas como os varvitos de Itu.

Artigo científico

CARVALHO, I. et alPreservation of dinosaur tracks induced by microbial mats in the Sousa Basin (Lower Cretaceous), BrazilCretaceous Research. Publicado on-line. 10 mai. 2013.

Fonte – http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/07/12/registros-do-cretaceo/

DITADOS POPULARES E SEUS SIGNIFICADOS II

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CURIOSIDADES SOBRE EXPRESSÕES POPULARES

Todos nós usamos expressões idiomáticas curiosas para descrever situações ou comentar fatos do cotidiano. Mas, como quase ninguém sabe como essas expressões surgiram, o “Você Sabia?” resolveu explicar. Confira:

 ACABAR EM PIZZA

Uma das expressões mais usadas no meio político é “tudo acabou em pizza”, empregada quando algo errado é julgado sem que ninguém seja punido. O termo surgiu no futebol. Na década de 60, alguns cartolas palmeirenses se reuniram para resolver alguns problemas e, depois de 14 horas seguidas de brigas e discussões, estavam com muita fome. Assim, todos foram a uma pizzaria, tomaram muito chope e pediram 18 pizzas grandes. Depois disso, simplesmente esqueceram o assunto, foram para casa e a paz reinou. Depois desse episódio, Milton Peruzzi, que trabalhava no jornal Gazeta Esportiva, publicou a seguinte manchete: “Crise Do Palmeiras Termina Em Pizza”. Daí em diante, a expressão pegou.

fONTE - http://www.elo7.com.br/capacho-casa-da-mae-joana/dp/35A5F4
fONTE – http://www.elo7.com.br/capacho-casa-da-mae-joana/dp/35A5F4

CASA DA MÃE JOANA

A expressão se deve a Joana, rainha de Nápoles e condessa de Provença, que viveu na Idade Média entre 1326 e 1382. Em 1346, ela se refugiou em Avignon, na França. Aos 21 anos, Joana regulamentou os bordéis da cidade  onde estava refugiada. Uma das normas dizia: “o lugar terá uma porta por onde todos possam entrar.” Transposta para Portugal, a expressão “paço-da-mãe-joana” virou sinônimo de prostíbulo. Trazida para o Brasil, a palavra “paço”, por não fazer parte da linguagem popular, foi substituído por “casa”. Assim, “casa-da-mãe-joana” passou a servir para indicar um lugar ou situação em que cada um faz o que quer, onde impera a desordem e a desorganização.

DAR COM OS BURROS N’ÁGUA

A expressão surgiu no período do Brasil Colonial, onde tropeiros que escoavam a produção de ouro, cacau e café precisavam ir da região Sul à Sudeste sobre burros e mulas. O fato era que muitas vezes esses burros, devido à falta de estradas adequadas, passavam por caminhos muito difíceis e regiões alagadas e muitos morriam afogados. Daí em diante o termo passou a ser usado para se referir a alguém que faz um grande esforço para conseguir alguma coisa e não obtém sucesso.

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DE MÃOS ABANANDO

Na época da intensa imigração no Brasil, os imigrantes tinham que ter suas próprias ferramentas. As “mãos abanando” eram um sinal de que aquele imigrante não estava disposto a trabalhar. A partir daí o termo passou a ser empregado para designar alguém que não traz nada consigo. Uma aplicação comum da expressão é quando alguém vai a uma festa de aniversário sem levar presente.

 ENTRAR COM O PÉ DIREITO

A tradição de entrar em algum lugar com o pé direito para dar sorte é de origem romana. Nas grandes celebrações dos romanos, os donos das festas acreditavam que, entrando com esse pé, evitariam má sorte na ocasião da festa. A palavra “esquerda”, em latim, é “sinistra”; daí fica evidente a crença no lado azarento dos inocentes pés esquerdos. Foi a partir daí que essa crença se espalhou por todo o mundo.

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FEITO NAS COXAS

Esta expressão surgiu na época da colonização brasileira. As telhas usadas nas construções da época, feitas de barro, eram moldadas nas coxas dos escravos. Assim, algumas vezes ficavam largas, outras vezes finas, mas nunca num tamanho uniforme. Foi desta forma que surgiu a expressão, utilizada para indicar algo mal feito.

FAZER UMA VAQUINHA

A expressão “fazer uma vaquinha” surgiu na década de 20 e tem sua origem relacionada com o jogo do bicho e o futebol. Nas décadas de 20 e 30, já que a maioria dos jogadores de futebol não tinha salário, a torcida do time se reunia e arrecadava entre si um prêmio para ser dado aos jogadores. Esses prêmios eram relacionados popularmente com o jogo do bicho. Assim, quando iam arrecadar cinco mil réis, chamavam a bolada de “cachorro”, pois o número cinco representava o cachorro no jogo do bicho. Como o prêmio máximo do jogo do bicho era vinte e cinco mil réis, e isso representava a vaca, surgiu o termo popular “fazer uma vaquinha”, ou seja, tentar reunir o máximo de dinheiro possível para um determinado fim.

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GUARDADO A SETE CHAVES

No século XIII, os reis de Portugal adotavam um sistema de arquivamento de jóias e documentos importantes: um baú que possuía quatro fechaduras. Cada uma destas chaves era distribuída a um alto funcionário do reino. Portanto, eram apenas quatro chaves. Mas o número sete passou a ser utilizado em razão de seu valor místico, desde a época das religiões primitivas. Assim, começou-se a utilizar o termo “guardar a sete chaves” para designar algo muito bem guardado.

JURAR DE PÉS JUNTOS

A expressão surgiu através das torturas executadas pela Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era torturado até dizer a verdade. Até hoje, o termo é empregado para expressar a veracidade de algo que uma pessoa diz.

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LÁGRIMAS DE CROCODILO 

Quando dizemos que uma pessoa está “chorando lágrimas de crocodilo”, queremos dizer que ela está fingindo, chorando de uma forma falsa. Tal expressão, utilizada no mundo inteiro, veio do fato de que o crocodilo, quando está devorando suas presas, faz uma pressão muito forte sobre o céu da boca e estimula suas glândulas lacrimais, dando a impressão  de que o animal está chorando. Obviamente, o animal não chora e por isso surgiu a expressão popular.

MOTORISTA BARBEIRO 

No século XIX, os barbeiros faziam, não somente os serviços de corte de cabelo e barba, mas também tiravam dentes, cortavam calos, entre outras coisas. Por não serem profissionais, seus serviços mal feitos eventualmente geravam consequências. A partir daí, desde o século XV, todo serviço ruim passou a ser atribuído ao barbeiro, por meio da expressão “coisa de barbeiro”. A expressão veio de Portugal. Contudo, a associação de “motorista barbeiro”, ou seja, um mau motorista, é tipicamente brasileira.

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ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS 

Esta expressão é usada para designar um lugar distante, desconhecido e inacessível. Existe uma história não comprovada que relata que, após trair Jesus, Judas enforcou-se descalço em uma árvore, porque havia posto o dinheiro que ganhara por entregar Jesus dentro de suas botas. Quando os soldados viram que Judas estava descalço, saíram em busca dos mesmos e do dinheiro da traição. Nunca ninguém ficou sabendo se as botas foram achadas. Acredita-se que foi assim que surgiu tal expressão.

PENSANDO NA MORTE DA BEZERRA 

A história mais aceitável para explicar a origem da expressão é proveniente das tradições hebraicas, nas quais os bezerros eram sacrificados para Deus como forma de redenção de pecados. Um filho do rei Absalão tinha grande apego a uma bezerra que foi sacrificada. Assim, após o animal morrer, ficou se lamentando e pensando na sua morte meses a fio. Foi desta forma que surgiu tal expressão.

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PRA INGLÊS VER

A expressão surgiu por volta de 1830, quando a Inglaterra exigiu que o Brasil aprovasse leis que impedissem o tráfico de escravos. No entanto, todos sabiam que essas leis não seriam cumpridas. Assim, elas teriam sido criadas apenas “para inglês ver”. Foi assim que surgiu a expressão.

RASGAR SEDA

Tal expressão, utilizada quando alguém elogia demais outra pessoa, surgiu através da peça de teatro do teatrólogo Luís Carlos Martins Pena. Nela, um vendedor de tecidos usa o pretexto de sua profissão para cortejar uma moça e começa a elogiar exageradamente sua beleza, até que a mulher percebe a intenção do rapaz e diz: “Não rasgue suas sedas, que se esfiapa.” Foi assim que surgiu a expressão.

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TIRAR O CAVALO DA CHUVA

No século XIX, quando uma visita iria ser breve, o visitante deixava o cavalo ao relento, em frente à casa do anfitrião. Caso a visita fosse demorar, colocavam o animal nos fundos da casa, em um lugar protegido da chuva e do sol. Contudo, o convidado só poderia colocar seu cavalo protegido da chuva se o anfitrião percebesse que a visita estava boa e dissesse: “pode tirar o cavalo da chuva”. Depois disso, a expressão passou a significar a desistência de alguma coisa. De gozação, dizem que Rui Barbosa, que gostava de falar difícil, dizia “retirar o equino da precipitação pluviométrica”… 

FONTE – http://www.vocesabia.net/curiosidades/curiosidades-sobre-expressoes-populares/

FLYING DUTCHMAN – O MAIS FAMOSO NAVIO FANTASMA

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Rostand Medeiros

A forma mais comum ao qual o grande público em geral imagina um navio fantasma, é aquele tipo de barco que vaga sobre as ondas quase flutuando, quase sempre sem tripulantes, que desaparece nos nevoeiros, navega assustando aqueles que os avistam e sempre surge na forma de um antigo veleiro (engraçado, mas nunca li nada sobre alguém ter visto um navio fantasma sem velas, que fosse movido a diesel e soltasse fumaça).

Bem, dentre todas as histórias envolvendo naves do além, sem dúvida a mais famosa é a do veleiro supostamente holandês chamado Flying Dutchman. Ele é temido pelos navegantes como um presságio de desastre.

Consta que em 1680 um veleiro mercante partiu de Amsterdã em direção a Batávia (atual Jacarta, na Indonésia) sob o comando de um capitão sem escrúpulos chamado Hendrick Van der Decken. Durante uma tempestade, ao contornar o famoso Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África, os fortes ventos acabaram levando o barco para fora do curso marcado e, em um acesso de raiva, diz-se que o capitão Van der Decken amaldiçoou a Deus e murmurou que preferia navegar até o Juízo Final. Por causa disso ele foi forçado a continuar navegando pelos mares do mundo para sempre. Já outros relatos dizem que o Flying Dutchman só pode ser visto na área do Cabo da Boa Esperança, pois a maldição não permitiu que ele alterasse o seu curso.

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Independente desta questão, afirmasse que se alguém avistar o Flying Dutchman, pode preparar os galhinhos de arruda, arrume lá da Bahia umas velas “sete dias e sete noites”, separe uma boa quantidade de sal grosso de Macau e se ponha a rezar com todo fervor, pois algo terrível vai acontecer.

Possivelmente quem primeiro relatou publicamente ter visto o Flying Dutchman foi a tripulação de um veleiro britânico em 1835. Estes informaram terem visualizado um “navio fantasma” velejando em meio a uma tempestade severa. A guarnição britânica disse que o barco parecia estar em rota de colisão, mas então repentinamente desapareceu. Logo o tal barco fantasma foi visto por outras tripulações, principalmente na região do sul da África.

Para muitos o Flying Dutchman seria apenas uma lenda, um mito, ou puro folclóre. Mas houve informações transmitidas por pessoas que eram tidas como gente séria, de confiança na sua época e muitos destes relatos foram corroborados por testemunhas.

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Um dos mais famosos encontros ocorreu em 1881, quando o barco de guerra HMS Bacchante, na companhia de outras três belonaves, realizava um grande cruzeiro de adestramento e patrulha naval de três anos ao redor do mundo. Entre os tripulantes estavam dois jovens cadetes navais bem especiais, eram os príncipes George e Albert, netos da rainha Vitória.

Uma noite fria, o príncipe George (futuro rei George V) estava de guarda no passadiço do navio, quando ouviu o grito de um marinheiro que estava no alto de mastro, informando a presença de um “barco estranho”. O príncipe e outro oficial também viram a nave. No outro dia a história se espalhou no HMS Bacchante e logo o Flying Dutchman cobrou seu preço. Mas parece que a maldição do navio fantasma era bem seletiva, pois o futuro rei e o oficial de serviço morreram idosos, mas o pobre coitado do marinheiro que o viu morreu poucos dias depois ao cair do mastro principal.

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Consta que ainda em 1881 outro navio passou no caminho do Flying Dutchman. Este era um navio mercante sueco e outro pobre marinheiro, ao avistar o navio fantasma, igualmente despencou do seu posto no alto do mastro e morreu, mas não antes de dizer que o navio visto era o Flying Dutchman. Dois dias depois um segundo vigia deste mesmo barco foi enviado até o alto do mastro, viu a nave maldita e também morreu de uma queda.

Poucos anos depois a tripulação do barco americano Relentless, ao contornar o perigoso Cabo da Boa Esperança, viu o Flying Dutchman com consequências funestras. O capitão do barco americano ordenou ao seu timoneiro que se aproximasse do navio do além para que ele pudesse dar uma olhada melhor, mas o piloto morreu ao timão. Nas mesma noite três outros tripulantes morreram misteriosamente.

Este tipo de relatos, fossem mentirosos, ou não, continuou alimentando a lenda e nos anos posteriores o Flying Dutchman foi visto novamente. Em 1911 o barco inglês Orkney Belle se deparou com o navio fantasma e em 1914 este foi um dos primeiros navios britânicos afundados na Primeira Guerra Mundial.

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Existe o relato que em 1939, na praia sul-africana de Glencairn, em Cape Town, mais de sessenta pessoas que estavam tranquilamente a beira mar tomando banho de sol, viram o Flying Dutchman seguir célere em direção à uma barreira de pedras. Logo depois a nave desapareceu diante de todos os presentes.

Mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, aqui e acolá o Flying Dutchman era visto pelos beligerantes de todos os lados do conflito. Em 1942, de acordo com o almirante alemão Karl Doenitz, algumas tripulações de submarinos sob seu comando, em patrulha na região do cabo da Boa Esperança, relataram o avistamento do Flying Dutchman.

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Neste mesmo ano, próximo a mesma área onde o príncipe George viu o Flying Dutchman em 1881, o famoso barco fantasmas foi visto por um oficial da nave de guerra inglesa HMS Jubilee. O tripulante em questão foi o tenente Nicholas John Turney Monsarrat, membro da Royal Naval Volunter Reserve (RNVR), que uma noite estava de vigia e sinalizou com iluminação para um estranho veleiro, mas não recebeu resposta. Ele escreveu no diário de bordo do seu navio que havia visto uma escuna de uma classe desconhecida, que a mesma estava se movendo com suas velas cheias, mas não havia vento. Após a guerra o tenente se tornou o escrito Nicholas Monsarrat, autor de vários livros de sucesso na Inglaterra, como “The Cruel Sea” (1951).

Bem, Monsarrat poderia até gostar de escrever, mas em um navio, principalmente em uma nave de guerra, o que se escreve em um diário de bordo deve ser a letra da verdade, pois se não for gera severas punições. Ao relatar no diário de bordo o avistamento do Flying Dutchman, o tenente Monsarrat tornou o relato oficial. Não sei o que seus superiores acharam dele ter visto e escrito sobre este navio fantasma, mas aparentemente a sua carreira não foi afetada.

Em 1943, novamente na África do Sul, novamente em Cape Town, de uma de suas praias, quatro pessoas viram o Flying Dutchman navegando e desaparecendo atrás de uma ilha.

Em 1959, a tripulação do navio cargueiro Staat Magelhaen viu um veleiro aparecer na popa, em uma rota de colisão, era o Flying Dutchman. Assim que as duas naves estavam prestes a bater, o veleiro desapareceu. Mas foi possível avistar uma pessoa no timão, este seria o capitão Van der Decken cumprindo a sua sentença de condenação.

Comenta-se que o Flying Dutchman ainda é visto, mesmo nesta época de radares, GPS, orientação por imagens de satélite etc. Principalmente pelo pessoal de serviço no convés das modernas naves, quase sempre as três da manhã, quase sempre perto do cabo da Boa Esperança, de preferência em meio a uma tempestade.

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E então amigos do nosso “Tok de História”, as histórias envolvendo o Flying Dutchman seriam reais? Mentiras deslavadas? Miragens?  Ilusão de ótica? Efeitos da fadiga por ficar visualizando o escuro mar tanto tempo na madrugada e em meio a uma tempestade?

Real ou não, são relatos como estes que alimentam o interesse das pessoas por fatos históricos ligados aos oceanos.

Fotos – Coleção do autor.

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CIÊNCIA PARA CRIAR UMA NAÇÃO

Rondon com índios Paresi, em imagem de documentário do Major Thomaz (sem data) - Museu do Índio
Rondon com índios Paresi, em imagem de documentário do Major Thomaz (sem data) – Museu do Índio

PRESENÇA POUCO CONHECIDA DE NATURALISTAS NA COMISSÃO RONDON AJUDOU A INSTITUCIONALIZAR A PESQUISA CIENTÍFICA NO BRASIL

CARLOS HAAG | Revista de Pesquisa da FAPESP – Edição 195 – Maio de 2012

Há exatos 100 anos, a produção anual de filmes no Brasil, iniciada apenas em 1908, não passava de meia dúzia. Naquele mesmo ano, em 1912, o primeiro-tenente Cândido Rondon (1865-1958), desde 1907 nomeado pelo presidente Afonso Pena como chefe da Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas (CLTEMTA), que deveria construir uma linha telegráfica entre Cuiabá e Santo Antonio do Madeira (Porto Velho), cria a Secção de Cinematographia e Photographia, que coloca sob a direção do Major Thomaz Reis. Se na capital federal o cinema engatinhava, imagine a ousadia da criação de uma seção especializada em documentar a expedição em material fotossensível, que exigia altos investimentos e a apropriação e uso de uma tecnologia inexistente no país em péssimas condições ambientais, de alta umidade, com dificuldades de transporte por matas cheias de índios e doenças.

Esse esforço do sertanista só é compreendido ao se revelar um aspecto desconhecido da Comissão Rondon (1907-1915): a estreita relação com a ciência. Ou, nas palavras do antropólogo Roquette-Pinto, que acompanhou Rondon em 1912: “A construção da linha telegráfica foi o pretexto. A exploração científica foi tudo”. “Já se analisou a função de defesa das fronteiras e da ‘missão civilizatória’ da Comissão, mas quase nada das pesquisas científicas e do grupo de naturalistas, em sua maioria do Museu Nacional, feitas durante a expedição e que abriram um campo inédito para a ciência e para os pesquisadores brasileiros”, explica a historiadora Dominichi Miranda de Sá, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz e responsável pelo projeto Inventário da natureza do Brasil: as atividades científicas da Comissão Rondon. “A ciência, a partir da expedição, passou a ser vista como elemento fundamental na construção do Estado Nacional brasileiro, objetivo maior da República”, analisa Dominichi. 

Rondon sentado em acampamento, fotograma de documentário da comissão (sem data) - Museu do Índio
Rondon sentado em acampamento, fotograma de documentário da comissão (sem data) – Museu do Índio

A pesquisa concluiu que o propósito da Comissão Rondon era de que seus membros não estavam encarregados apenas da expansão da rede telegráfica nacional, mas da definição das distintas potencialidades do território da porção norte do país para a discriminação entre áreas de exploração e conservação de recursos naturais e humanos. O projeto, nesse contexto, traz à luz a importância da comissão na institucionalização das ciências no país e no papel crescente do Estado como fomentador das pesquisas científicas, em especial a ciência aplicada, pensada como instrumento de modernização nacional. “Enquanto estendiam fios telegráficos para efetivar as comunicações com a porção norte do Brasil, eram delimitadas as áreas de fronteira com outros países e demarcadas terras indígenas, mas também aquelas propícias ao povoamento, ao cultivo de lavouras e à expansão da pecuária”, conta a pesquisadora. “Ao lado disso, foram realizadas incursões de exploração científica para conhecimento e descoberta de rios, vistos como caminhos de escoamento da produção agrícola, marcos naturais de fronteiras e de orientação geográfica, bem como obstáculos à colonização por supostamente dificultarem a circulação e potencializarem a incidência de doenças, sobretudo a malária”, observa. Este último aspecto, aliás, nunca havia sido trabalhado pela historiografia da comissão, embora seja porta de entrada para discutir a história da apropriação de um objeto natural, os rios, por projetos estatais de conhecimento e ocupação territorial.

A ciência era, então, tão estratégica quanto os postos de telégrafo, defendidos pelo engenheiro Francisco Bhering, o autor do projeto telegráfico levado a cabo pela comissão, como “precursor do progresso” que deveria chegar à Amazônia, vista, ao lado de Mato Grosso e Goiás, como prioridade republicana, sob pena de esse trecho norte e suas populações “acabarem por se destacar e distanciar do território nacional”. O “clima intelectual” entre os oficiais da época, doutrinados pelo positivismo, não queria criar militares para a guerra, mas defendia um treinamento técnico e científico para formar “agentes do progresso”, não soldados. Para esse grupo, a dualidade sertão (atraso) e litoral (civilização), polêmica central no novo regime, era uma falácia. Segundo eles, o sertão era definido pela distância em relação ao poder central e aos projetos modernizadores.

Rondon com índios Paresi, imagem do Major Thomaz (sem data) - Museu do Índio
Rondon com índios Paresi, imagem do Major Thomaz (sem data) – Museu do Índio

“O sertão no Brasil começa onde termina a Avenida Central”, como disse o intelectual Afrânio Peixoton“A Amazônia era ‘sertão’ pelo abandono do poder central e sua ‘paisagem’ estava destinada a desaparecer. Era preciso ocupar, povoar e modernizar o ‘território vazio’, delimitar a ‘fronteira’ e domar a ‘floresta’ com seus animais, doenças e rios. A civilização, no entendimento dos membros da comissão, era resultado possível”, observa a socióloga Nísia Trindade, da Fiocruz e integrante do projeto. Afinal, segundo Rondon, “desbravar esses sertões, torná-los produtivos, submetê-los à nossa atividade, aproveitar a sua feracidade e suas riquezas é o mesmo que estender até os confins desta terra enorme a ação civilizadora do homem”. Estaria, assim, resolvida a dualidade com a inclusão do sertão nos projetos de construção da nacionalidade.

Quando, em 1906, o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (Maic) foi criado, as atividades e instituições científicas (entre elas o Museu Nacional e o Jardim Botânico) foram atreladas ao novo órgão e passaram a fazer parte das expedições de integração, como a Comissão Rondon, também ligada a um Ministério da Guerra positivista e pró-ciência. O levantamento científico do território, com o estudo de climas, incidência de doenças, rios, plantas, animais e capacidade de terras para agricultura, mineração e pecuária era indissociável dos projetos de diversificação produtiva, de modernização da agricultura, construção de caminhos para  o escoamento da produção e fixação de mão de obra no interior. A ênfase na ciência aplicada era imperativa, pois se tratava de colocar a natureza (vista como recurso natural), com destaque para a agricultura, a serviço do homem. Com o poder sobre as expedições nas mãos do Maic, ao lado dos fios, iriam os naturalistas e os próprios engenheiros militares para identificar as terras boas para lavoura que tivessem condições de salubridade para o povoamento pelos trabalhadores, integrando ao poder central as áreas isoladas. Acima de tudo, era preciso descobrir os rios para permitir a comunicação com os mercadores consumidores.

A isso se juntaram as demandas do Museu Nacional, em plena crise, achincalhado por Olavo Bilac como “instituição anquilosada”, paralisada. O diretor do museu, João Batista Lacerda, enfurecido, desde 1905 tentava sensibilizar as autoridades de que “se queremos tornar indiscutível a hegemonia do Brasil na América do Sul, devemos encarar essa política do ponto de vista de superioridade de nossos recursos intelectuais, e dos nossos institutos de ensino e ciência”. Como “condição essencial ao progresso e desenvolvimento científico do Museu, é preciso o restabelecimento do antigo cargo de naturalista-viajante”, criado no Império e extinto na República. Era preciso “criar conhecimentos por brasileiros sobre a natureza brasileira”, até então uma atividade monopolizada por naturalistas estrangeiros, como satirizado por Machado de Assis no conto Lição de botânica (1906).

Homem trabalhando em laboratório (sem data) - Museu do Índio
Homem trabalhando em laboratório (sem data) – Museu do Índio 

Os naturalistas que acompanharam Rondon, além de coletarem, classificarem e catalogarem o material coligido, redigiram relatórios científicos detalhados, deram conferências e publicaram textos de divulgação sobre as viagens. Entre eles destacavam-se: na zoologia, Alípio de Miranda, Arnaldo Blake Santana e José Geraldo Kuhlmann; na geologia, Cícero de Campos e Euzébio de Oliveira; na antropologia, Roquette-Pinto; e na botânica, Frederico Carlos Hoehne e João Geraldo Kuhlmann. Boa parte desses nomes estaria, no futuro, no panteão da ciência nacional. O Museu Nacional cresceu a passos largos: entre 1908 e 1916 a instituição recebeu 8.837 espécimes botânicos, 5.637 espécimes zoológicos, 42 exemplares geológicos, mineralógicos e paleontológicos e 3.380 peças antropológicas, tudo originado da Comissão Rondon, conforme assinalado pela pesquisadora Magali Romero Sá, da Fiocruz, outra integrante do projeto.

Miranda Ribeiro chegou a afirmar que “as coleções reunidas durante a Comissão Rondon fizeram em oito anos mais pelo Museu Nacional do que tudo o que tinha sido realizado em 100 anos de existência da instituição”. O zoólogo, aliás, não atuava apenas como coletor, mas seu entrosamento com as teorias evolucionistas, ainda polêmicas no país então, levava-o a estabelecer questões, observar as inter-relações dos animais como meio e outras observações ecológicas sobre os espécimes coletados.

Rondon com oficiais da Comissão de Linhas Telegráficas de Mato Grosso - Museu do Índio
Rondon com oficiais da Comissão de Linhas Telegráficas de Mato Grosso – Museu do Índio

Adolpho Lutz foi premiado com uma coleção de dípteros vindos do grupo de Rondon e publicou, em 1912, um trabalho sobre os 70 exemplares de tabanídeos coletados. O botânico Hoehne percorreu 7.350 quilômetros de campos e florestas de Mato Grosso e comentou mais tarde que mapear a região com Rondon equivaleria a desenvolver a economia de todo o Brasil.

“Para além da pesquisa científica, os membros da comissão demarcavam terras indígenas, discriminavam, em levantamentos médicos, a ‘selva’, onde grassaria a malária, da ‘floresta’, objeto que começava a ser discutido como área de ‘aproveitamento racional’”, observa Dominichi. A floresta amazônica virou foco da comissão entre 1915 e 1920, em especial no levantamento de rios, que, esperava-se, eram os caminhos, as estradas de penetração, esquadrinhamento e inventário, modernização e ocupação da fronteira noroeste do país. Os mapas eram sempre corrigidos e novos rios descobertos, como o Juruena ou o rio da Dúvida, afluente do Madeira, “descoberto” na célebre viagem feita por Rondon ao lado do ex-presidente americano Theodore Roosevelt, entre 1913 e 1914. Começava a surgir o novo “mito da Amazônia”.

Índios Apalaí do rio Jari dançando, em imagem do fotógrafo Harald Schultz (sem data) - Museu do Índio
Índios Apalaí do rio Jari dançando, em imagem do fotógrafo Harald Schultz (sem data) – Museu do Índio

O termo “Amazônia” foi usado como designação de uma região associada à prodigalidade pela primeira vez no livro O país das amazonas, de 1883, do barão de Santa-Anna Nery. Seu título, que convertia a província do Amazonas em Amazônia, era destinado a atrair imigrantes. “A Amazônia”, escreveu Nery, “confirmaria o destino de ‘terra de promissão’ apontado por cronistas e naturalistas, se povoada em favor do incremento da agricultura e da mineração; se desmentidas as ideias negativas sobre os malefícios do clima quente; se a floresta e matérias-primas exploráveis fossem usadas racionalmente e em detrimento da extração exclusiva da borracha; sobretudo se os elementos naturais fossem conhecidos em sua ‘harmoniosa unidade’”, explica a pesquisadora Nísia Trindade.

A República renovou, com maior intensidade, o interesse monárquico na região. Daí os investimentos do Estado em financiar uma política regular de conhecimento científico da diversidade natural e regional brasileira, em que a Amazônia tinha um lugar de destaque, objeto de análise das instituições científicas nacionais. Em especial, após o nascimento do Maic, que enviou grupos de naturalistas para estudar a região e que, na volta, divulgaram suas visões em publicações populares. Boa parte desses trabalhos veio de membros da Comissão Rondon. Mesmo o mapeamento dos rios ajudou a criar um novo mito moderno. “Da polissemia dos rios do norte se foi construindo a imagem da floresta amazônica pela comissão: região de chuvas intermitentes e clima quente; grandes extensões de terras opulentas, férteis e abundantes para serem cultivadas; solos perfeitos para agricultura e alternativa ao exclusivismo extrativista da borracha, cujo aumento da plantação dependia apenas da derrubada ‘racional da mata’, ocupação e povoamento por ‘lavradores operosos’ e criação de meios de transporte para o escoamento da produção”, conta Dominichi.

Era mesmo o “país das amazonas”. Miranda Ribeiro tinha razão ao elogiar a comissão por eliminar a palavra “desconhecido” dos mapas nacionais, o que iria, no futuro, transformar esse “país das amazonas” em Brasil. “A comissão forneceu material e imaginário para a consolidação da ‘Amazônia’: objeto de ciência, imaginação, turismo, disputas políticas, curiosidade e temário central dos debates sobre o uso sustentável de recursos naturais e preservação ecossistêmica.” Mas a utopia geográfica que via o país como uma imensa fronteira e que bastava abrir a picada mais adiante que o progresso faria o resto não se confirmou.

Índias Paresi em rede, registradas pelo Major Thomaz (sem data) - Museu do Índio
Índias Paresi em rede, registradas pelo Major Thomaz (sem data) – Museu do Índio

Rondon preocupava-se em registrar tudo em imagens e preparou vários álbuns fotográficos das atividades da comissão e os enviava para as autoridades mais importantes do governo brasileiro. “Os álbuns, os artigos publicados nos principais jornais do país e principalmente as apresentações dos filmes seguidas de conferências funcionavam como uma espécie demarketing pessoal e uma forma de persuasão para a continuidade das atividades da comissão. Visavam principalmente a elite urbana, sedenta de imagens e informações sobre o sertão brasileiro, e principal grupo formador de opinião”, observa o historiador Fernando Tacca, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor de A imagética da Comissão Rondon (1996). Assim, Rondon alimentava o espírito nacionalista construindo etnografias de um ponto de vista estratégico e simbólico: a ocupação do oeste brasileiro através da comunicação pelo telégrafo, pela visualidade da fotografia e do cinema mudo, com filmes do Major Thomaz, em especial Ao redor do Brasil (1932). “Todo esse período de produção de imagens pode ser considerado uma extensão das atividades da comissão”, avalia Tacca.

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“O cruzamento entre filmes e fotografias foi uma prática inovadora na produção da Comissão Rondon e a segunda categorização se dá no campo da pacificação, quando imagens demonstram um índio dócil e sujeito a mudanças pelo avanço civilizatório. Constrói-se assim uma imagem de sujeição, e não de impedimento à ocupação territorial da nação”, observa Tacca. Há uma construção imagética, “científica”, da existência de grupos tradicionais que aceitam a nacionalidade da bandeira e de outros símbolos da nação reconhecendo, em alguns casos, a fronteira nacional. É exemplar da condução para uma integração do índio pela ação civilizatória do Estado a imagem simbólica do índio fronteiriço ao lado da bandeira nacional, marcando a existência de um índio brasileiro, e não somente “índio”.

Em 1915, o Mato Grosso tinha 4.502 quilômetros de linhas telegráficas, e os membros da expedição tinham realizado o que consideravam uma “epopeia”, a custo de muitas vidas e sacrifícios terríveis, fazendo o levantamento de uma área de 50 mil quilômetros entre os rios Juruena e Madeira. Apesar dos muitos equívocos, Rondon se esforçou em integrar os índios, de forma pacífica, ao Brasil. Como positivista, não desprezava os índios, só acreditava que viviam num estágio anterior da evolução social, numa época em que intelectuais urbanos como Silvio Romero escreviam sobre a inferioridade racial dos nativos. Era um otimista que via todos como parte de um Brasil só, que ele conseguiria reunir e modernizar.

Índios escutando música de vitrola (sem data) - Museu do Índio
Índios escutando música de vitrola (sem data) – Museu do Índio

“Em pouco tempo, porém, esse entusiasmo de que se conseguiria superar a natureza e fazer dela o ‘celeiro da terra’, como dizia Rondon, com um povoamento sem grandes problemas, bastando estradas e linhas telegráficas, deu de cara com barreiras nosológicas intransponíveis, doenças que dizimavam as expedições e cuja difícil erradicação vai transparecendo, de forma crescente, nos relatórios dos médicos da comissão”, observa Arthur Torres, mestre em história formado na Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. “Viu-se que era imprescindível estratégias de controle de moléstias como a malária para que a comissão pudesse concluir a linha telegráfica no noroeste do país e implantar a civilização desejada. Isso não aconteceu e a custosa e demorada transformação deixou os objetivos de Rondon distantes dos planos da sua comissão.”

Marechal Cândido Mariano Rondon, exemplo de inteligência, capacidade, dedicação e abnegação no meio militar brasileiro
Marechal Cândido Mariano Rondon, exemplo de inteligência, capacidade, dedicação e abnegação no meio militar brasileiro

Ao mesmo tempo que Rondon lutava para instalar seus fios, Oswaldo Cruz, a pedido da Mamoré Railway Company, tentava fazer a profilaxia da malária que matava os trabalhadores da estrada de ferro. As expedições feitas por ele e seus colegas de Manguinhos trouxeram um novo retrato, sanitarista, do Brasil, diverso do otimismo positivista do Estado e de Rondon, enfatizando que não era o clima, mas a doença a grande causa do atraso nacional. Vários dos membros da comissão, inclusive o próprio chefe, já integram as fileiras do movimento pelo saneamento dos sertões e o movimento sanitarista tornou público o debate. “O debate sobre identidade nacional no Brasil passou a se dar pela metáfora da doença. O sertão não é apenas distante do poder central, mas uma região que passa a ser caracterizada de vez pelo abandono e pelas moléstias”, nota Nísia, que analisou o tema, ao lado de Gilberto Hochman, na pesquisaBrasil imenso hospital (Fiocruz). 

Fonte – http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/05/11/ciencia-para-criar-uma-nacao/

O FENÔMENO DAS “COCA-COLAS” EM FORTALEZA DURANTE A SEGUNDA GUERRA

E os americanos vão desembarcando com seus produtos. Propaganda da Coca-Cola utilizando o Rio de Janeiro como cenário
Propaganda da Coca-Cola utilizando o Rio de Janeiro como cenário

Em meados de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, surgiu um fenômeno feminino na cidade de fortaleza chamado de “Coca-colas”. Eram moças jovens de famílias tradicionais, onde tinha de tudo na vida, mas não tinha o principal, agitação. A maioria dessas jovens estavam cansadas da monotonia da cidade, estavam cansadas de ver as mesmas caras, cansadas de ficar na mesma pracinha no centro e etc…

Com a chegada dos americanos para fazer o patrulhamentos das nossas costas e também para montar as bases aéreas onde se dava suporte as aeronaves que atravessavam o Atlântico, tudo mudou para essas moças e muitas delas se acharam a vontade com a situação e iam para as festas no Estoril e em outras casas de dança para fazer companhias aos visitantes.

Fonte - http://lavecchiahistoria.blogspot.com.br/2013/10/o-fenomeno-das-coca-colas-em-fortaleza.html
Fonte – http://lavecchiahistoria.blogspot.com.br/2013/10/o-fenomeno-das-coca-colas-em-fortaleza.html

Na Fortaleza dos anos 40 a população era de apenas 10% da atual, e não se tinha muito para fazer na cidade na época, e com a chegada dos americanos, se abriu um leque de possibilidades para as jovens. Muitas seriam taxadas de prostitutas, até mesmo após a guerra as lindas mulheres com seus vestidos curtos e saltos altos, passeavam pela cidade e as senhoras de mais idade as ofendiam e maltratavam, mas os homens ficavam de queixo caído com o desfile das beldades.

Fonte - http://lavecchiahistoria.blogspot.com.br/2013/10/o-fenomeno-das-coca-colas-em-fortaleza.html
Fonte – http://lavecchiahistoria.blogspot.com.br/2013/10/o-fenomeno-das-coca-colas-em-fortaleza.html

Sabemos que junto das guerras surgem muitas tragédias de inúmeras espécies, uma dessas tragédias é a prostituição, onde na maioria das vezes as mulheres se vendem por comida, mas em Fortaleza não foi esse o caso, pois a guerra em si não chegou ao Brasil, a não ser pelos ataques aos navios mercantes em alto mar e a paralisação de produtos vindo da Europa. Mas para as jovens era tudo que precisavam, os americanos com suas caras novas e sua alegria, trouxe festas e movimentação a cidade, e conseguiram tirar mudar a rotina das moças. Muitas moças namoravam os soldados, algumas os cadetes e tinha também outras que namoram os oficiais.

Fonte - http://lavecchiahistoria.blogspot.com.br/2013/10/o-fenomeno-das-coca-colas-em-fortaleza.html
Fonte – http://lavecchiahistoria.blogspot.com.br/2013/10/o-fenomeno-das-coca-colas-em-fortaleza.html
Esse apelido surgiu devido o próprio refrigerante muito consumido pelos americanos na cidade, e que hoje ainda todos nós consumimos.
 
Postagem original: Ecos da Segunda Guerra / http://lavecchiahistoria.blogspot.com.br/2013/10/o-fenomeno-das-coca-colas-em-fortaleza.html (Do nosso dileto amigo Ricardo Lavecchia, de São Paulo)

 

AS FRUTAS E AS SUAS HISTÓRIAS INCRÍVEIS PELO MUNDO AFORA

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MELANCIAS

As frutas favoritas do verão têm histórias suculentas para contar. Muitas delas fizeram longas viagens através da história até chegar às nossas fruteiras. No antigo Egito, as melancias matavam a sede tanto dos reis como de seus servos. O rei Tutankhamon levou sementes de melancia para sua sepultura, segundo o livro Domesticação das Plantas no Velho Mundo. Mas as melancias não eram privilégio dos faraós: os judeus também comiam melões, que são parecidos com as melancias, durante o cativeiro no Egito, segundo a Bíblia. (Números 11:5) Crédito: CORBIS

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PÊSSEGOS

As uvas vêm da Geórgia, a nação do Leste Europeu, mas o estado homônimo nos Estados Unidos gosta mesmo é de pêssegos. Os monges franciscanos introduziram a fruta nas ilhas St. Simons e Cumberland, no litoral da Geórgia, em 1571. O sul dos Estados Unidos aprecia o pêssego há séculos, mas a produção em larga escala só decolou quando o gorgulho arrasou as plantações de algodão. Os pêssegos que chegaram à Geórgia vieram do noroeste da China, onde a fruta era originalmente cultivada. Mercadores transportaram pêssegos pela Rota da Seda, e as árvores fincaram raízes no clima ameno do Mediterrâneo. Os espanhóis foram os primeiros a plantaram pêssegos na Flórida. Crédito: CORBIS

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UVAS

As uvas dividiam a mesa do rei Tut com a melancia. Frutas secas e odres de vinho acompanharam o jovem faraó em sua última morada. As uvas e seu suco fermentado já faziam parte do cardápio dos povos antigos: arqueólogos descobriram os primeiros indícios de cultivo de uvas e produção de vinhos há 8.000 anos, onde hoje se localiza a república da Geórgia. Do outro lado do Atlântico, outra variedade de uva passou a ser cultivada na América do Norte. Na história recente, as videiras norte-americanas salvaram os vinhos do Velho Mundo. Na década de 1860, um inseto conhecido como filoxera atacou as videiras da Europa. A produção de vinho da França, Alemanha e Itália foi interrompida, até que os cientistas descobriram que enxertar as videiras europeias em solo norte-americano as protegia da praga. Agora uma nova ameaça paira sobre a produção de vinhos: a mudança climática está empurrando a fronteira agrícola para o norte, tornando as regiões mais ao sul inadequadas à vinicultura. Crédito: ANDREAS PRAEFCKE

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TOMATES

Os tomates seguiram a rota oposta à dos pêssegos. Originários do México, foram trazidos para a Europa pelos espanhóis. Durante décadas, a fruta foi considerada venenosa. Hoje, o tomate é um ingrediente fundamental da cultura e da culinária europeias. Durante o festival anual La Tomatina, em Buñol, Espanha, milhares de tomates são atirados em uma guerra de comida. Crédito: CORBIS

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KIWI

Relativamente novo nos Estados Unidos, o kiwi tem o mesmo nome de uma pequena ave que não voa da Nova Zelândia – mas a fruta é originária da China. O kiwi começou a ser cultivado na Nova Zelândia em 1906, onde os soldados americanos o descobriram durante a Segunda Guerra. Depois de fazer sucesso entre os militares, os Estados Unidos começaram a importar a fruta na década de 50. Crédito: CORBIS

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DAMASCO

Assim como a dos pêssegos, a história do damasco no Ocidente se iniciou na Espanha. As colônias espanholas da Califórnia começaram a cultivar damascos, e a região se tornou a principal produtora da América do Norte. A verdadeira origem do damasco é desconhecida, mas muitos acreditam que ela começou a ser cultivada onde hoje é a Armênia. O general romano Lucius Lucullus (118 – 57/56 a.C.), conquistador de parte do Oriente Médio e Anatólia, teria levado os primeiros pés de damasco para Roma. Crédito: WIKIMEDIA COMMONS

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CEREJAS

As conquistas agrícolas do general Lucullus duraram mais que suas vitórias militares. Além dos damascos, que hoje são cultivados em muitos países do Mediterrâneo, o general também trouxe para Roma uma variedade de mais doce de cereja de Anatólia, onde hoje é a Turquia – mas não seria o primeiro. Sementes de cereja foram encontradas em sítios arqueológicos da Era do Bronze na Itália, datadas de 2077 a.C. Os ingleses trouxeram as cerejas para o Novo Mundo quando atravessaram o Atlântico. Atualmente, os Estados Unidos produzem mais cerejas do que qualquer outro país além da Turquia, a terra natal das cerejas. Crédito: JEFFREYW, WIKIMEDIA COMMONS

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MELÃO CANTALUPO

A origem provável do melão cantalupo, um tipo de melão almiscarado, é o Irã, mas as primeiras plantações teriam surgido na cidade italiana de Cantalupo. Os lobos eram comuns na região, o que explica seu nome em italiano, “lobo que canta”. O nome de um predador parece bastante apropriado. Afinal, esses melões mataram mais norte-americanos que os lobos que inspiraram seu nome. Em 2011, cantalupos infectados com a bactéria listeria mataram pelo menos 29 pessoas e adoeceram 139, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. Crédito: CORBIS

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BANANA

As primeiras evidências do cultivo da banana remontam a pelo menos 7.000 anos, na Papua Nova Guiné. A fruta de casca escorregadia foi cultivada de forma independente em várias regiões do Sudeste Asiático. Os mercadores islâmicos disseminaram a fruta pelo Mediterrâneo, e os espanhóis a levaram para o Ocidente, junto com o pêssego, o damasco e muitas outras frutas. As bananas só se tornaram comuns nas fruteiras dos Estados Unidos no século 20, quando os avanços no transporte marítimo permitiram o transporte de frutas de países tropicais. O cultivo extensivo da banana passou a ser controlado por corporações multinacionais, que manipulavam a economia e a política desses países, criando as chamadas “repúblicas das bananas”, sobretudo na América Central. Crédito: CORBIS

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MANGAS

As mangas são originárias do sul da Ásia. Nas regiões tropicais do mundo, são comuns na dieta da população e possuem um significado religioso. No hinduísmo, o deus Ganesha segura uma manga, como símbolo da realização da perfeição. Os supermercados dos Estados Unidos costumam vender uma única variedade de manga, de sabor adocicado e casca fina. Nos trópicos, algumas variedades são do tamanho de damascos, com casca comestível de sabor forte, ou do tamanho de melões, com polpa dura. Também são preparadas em conserva ou consumidas com sal e molho picante. Crédito: CORBIS

Fonte – http://noticias.discoverybrasil.uol.com.br/page/6/

401 FOTOS ANTIGAS DE NATAL

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Algum tempo atrás, aqui no nosso TOK DE HISTÓRIA, coloquei um post com 370 fotos antigas de Natal. Agora decidi ampliar a quantidade destas fotos no sentido de democratizar a informação, como sempre tenho feito neste nosso blog.

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A ideia é fazer com que as pessoas de nossa cidade conheçam um pouco mais da sua iconografia e sua história. Vale frisar que ao realizar este ato, eu não busquei e nem estou auferindo um único centavo com esta ação. Apenas levar a informação.  

Para mim, diante do crescimento de Natal e pela falta de ação de muitos atores políticos, cada vez mais percebo a perda da percepção histórica de nossa população em relação a Natal. Esta situação em minha opinião gera muita coisa negativa, principalmente a falta de identidade com o lugar que se vive, a indiferença pelo seu futuro e a passividade diante de muitos descasos que aqui acontecem. Diante deste quadro, decidi utilizar meu espaço, criado em 2010, para expor o que era a cidade de Natal através de fotos.

Americanos aproveitando Natal

Muitas fotos que aqui estão são oriundas dos livros do Prof. aposentado da UFRN, João Mauricio Fernandes de Miranda (mas não todas). Outras são do fotografo Jaeci Galvão, de seu filho Fred Galvão, outras são do IBGE, outras de livros editados pela Prefeitura de Natal, ou pelo Governo do Estado. Muitas estão na internet a anos. Outras são colocadas na internet pelo competente produtor cultural Dunga, outras são do grande amigo e Mestre Luiz G. M. Bezerra, outras são de Ricardo Sávio Trigueiro de Morais, do amigo fotógrafo Esdras Nobre e a maioria delas não tenho ideia de quem sejam os proprietários, ou melhor, os detentores dos direitos autorais. 

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Se houver qualquer dúvida sobre questões de referências, estou a disposição para ajudar. 

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Para aqueles que me pedem para informar o nome dos locais e as datas das fotos, informo que eu não o fiz anteriormente, e nem agora, pois a ideia ao estimular a visualização deste material fotográfico é a de igualmente estimular a pesquisa, estimular a memória.

Uma boa sugestão para aqueles jovens que desejam aprender mais sobre estas fotos de Natal, é trazer seus parentes mais velhos para a frente do computador e aprender com quem sabe!

Muitas vezes seus parentes mais idosos não sabem manusear um computador, notebook, palmtop, tablet ou outras destas maravilhas modernas. Mas certamente eles vão saber muito destas fotos. E você jovem internauta, vai conhecer muita coisa de uma Natal que não existe mais! 

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Vou contar dois casos que ocorreram comigo quando anteriormente coloquei um post similar no nosso TOK DE HISTÓRIA – Talvez a informação que vou passar não vá interessar, pode ser vista como piegas, mas pouco me importa – Tive a oportunidade de receber telefonemas e mensagens de professores de ensino fundamental e médio, de escolas da rede pública da Grande Natal, todos agradecendo a postagem das fotos. Estes professores me comentaram que estavam utilizando o material de forma extremamente positiva junto aos seus alunos. A maioria destes jovens humildes da nossa periferia, com poucas possibilidades de acesso a estes materiais e que estavam se encantando em conhecer a nossa História através destas fotos.

Em outra ocasião um cidadão me ligou para relatar que colocou estas fotos no seu computador e trouxe a sua idosa mãe para olhar. Ela é uma senhora com sérias debilidades provocadas pelo Mal de Alzheimer e seu filho imaginava assim lhe trazer boas recordações. O interessante é que ele me falou de algumas reações positivas de sua mãe diante das imagens antigas da sua cidade.

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Isto me deixou muito feliz, pois as vezes tenho a ideia que em Natal, a História desta cidade parece pertencer a uma elite. Uma elite carcomida, apoiada por uma classe política sem compromissos com a cultura, com a democratização do conhecimento e a preservação de nossa memória. É esse mesmo pessoal que se esconde atrás de uma série de titularidades, de cargos, de benesses e de outras coisas fúteis. Que muitas vezes destinam este conhecimento para uso exclusivo de grupos restritos.

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Esta mesma elite e essa despreparada classe política, sem nenhuma piedade, destrói uma das coisas mais belas que esta cidade possui; uma grande parte da sua história. Ideias desastradas de desenvolvimento sem planejamento, sem planos de trabalho corretos, sem pensar no futuro, estão acabando com esta linda cidade. A minha cidade.

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Para minha surpresa o nosso blog “bombou” com esta postagem, que já estava na net fazia um tempo e não chamou tanta atenção, mas aí o Facebook fez o resto. 

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Espero que ao trazer estas fotos eu possa contribuir, mesmo limitadamente, para ampliar este conhecimento, antes que ele se perca.
 
Rostand Medeiros – Escritor e pesquisador. (rostandmedeiros@gmail.com)

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