CAICÓ DOS PRIMEIROS TEMPOS

MATERIAL DA REVISTA “RN/ECONÔMICO”, Nº 124, JUNHO/JULHO 1981, PÁGS. 12 a 16.

Segundo o pesquisador da história de Caicó, Benedito Alves dos Santos, o povoamento inicial da cidade está íntima e inseparavelmente ligado à de toda a região seridoense e à de alguns municípios do Estado da Paraíba. Entretanto, é de crer-se que os fundamentos iniciais da colonização tenham sido lançados por volta de 1700, pelos batedores paraibanos, que chegaram à região para darem caça aos índios caicós que habitavam nas proximidades da confluência do Rio Barra Nova com o Seridó.

Com a expulsão dos indígenas, vieram os plantadores de fazendas, ajudados pelo negro, continuar a obra de desbravamento, esquadrinhando o território e fazendo surgir os primeiros núcleos demográficos, fundamentalmente ligados à criação de gado bovino. A povoação era conhecida em 1748, conforme é citada através de uma carta dirigida a Dom José Tomáz de Melo, governador de Pernambuco, datada de 1787 e subscrita pelo desembargador Antônio Felipe Soares de Andrade Brederodes, defendendo a elevação da povoação ao predicamento de vila. A região pertencia à freguesia de Piancó, Paraíba.

Catedral de Santana, Caicó, em 1981.

A esse tempo já a povoação era sede de distrito administrativo, criado por alvará de 1748 e também freguesia que fora criada em 15 de abril de 1748. De par com a denominação de Seridó existia também o topónimo Caicó, que vem citado em um documento atinente à instalação da freguesia, de 1748, registrado no Livro de Tombo da Catedral de Caicó e também mencionado em uma concessão de sesmaria feita em 7 de setembro de 1736, ao capitão Inácio Gomes da Câmara.

LENDAS

São várias as lendas que se conta sobre o nascimento do município, todas de uma beleza infinita, mas a mais interessante e a mais bela de todas é a colhida por Manuel Dantas: “Quando o sertão era virgem, a tribo dos Caicós, célebre pela sua ferocidade, julgava-se invencível, porque Tupan vivia ali, incarnado num touro bravio que habitava um intrincado mufumbal, existente num local onde está hoje edificada a cidade de Caicó. Destroçada a tribo, permaneceu intacto o misterioso mufumba, morada de um Deus, mesmo selvagem.

Sertão do Seridó – Foto – Liberanilson Martins da Costa, de São José do Seridó-RN.

Certo dia, um vaqueiro inexperto, penetrando no mufumbal, viu-se de repente, atacado pelo touro sagrado, que iria, indubitavelmente, matá-lo. Rapidamente inspirado, o vaqueiro fez o voto a Nossa Senhora Santana de construir ali uma capela, se o livrasse de tamanho perigo. Como por encanto, o touro desapareceu. O vaqueiro destruiu a mata e iniciou, logo, a construção da capela. O ano era seco e a única aguada existente era a de um poço do rio Seridó. O vaqueiro fez novo voto a Santana para o poço não secar antes de concluída a construção da capela. O poço de Santana, como ficou desde então denominado, nunca mais secou.

Reza a lenda que o espírito do Deus índio, expulso do mufumbal, foi se abrigar no poço, encarnando-se no corpo de uma serpente enorme que destruirá a cidade, ou quando o poço secar, ou quando as águas do rio, numa cheia pavorosa, chegarem até o altar-mor da matriz (hoje catedral) de Caicó onde se venera a imagem da mãe de Nossa Senhora.

ORIGENS

Belezas naturais da região do seridó – Foto – Liberanilson Martins da Costa, de São José do Seridó-RN.

O conhecimento do território ou município só pôde ser feito após os índios Caicós se dispersarem pelo Seridó. Disso resultou o propósito de colonização por parte dos primeiros desbravadores. Existem algumas crônicas escritas que dão conta da existência de uma fazenda fundada em 1624 por José Francisco Rangel, porém é muito racional que se firme a data da primeira, entrada um pouco antes de 1700, já que os batedores paraibanos conquistaram definitivamente com a expulsão dos índios. Aos primeiros descobridores do Seridó não passou despercebida a riqueza da terra em pastagens e aguadas, surgindo daí a ideia das primeiras fazendas.

Requeridas as primeiras datas e espalhada a notícia da “limpeza” (o índio era empecilho ao domínio dos povoadores) de uma nova paragem propícia à criação, acorrem os caçadores de terras paraibanos, pernambucanos e até mesmo alguns portugueses de nascimento, a fim de situarem seus gados nas novas áreas dominadas. Daí surgem as primeiras fazendas e a multiplicação dos núcleos demográficos por toda a ribeira, registrando-se os nomes do capitão Inácio Gomes da Câmara, Manoel de Souza Forte, tenente José Gomes Pereira como os mais antigos povoadores conhecidos.

O Seridó – Foto – Liberanilson Martins da Costa, de São José do Seridó-RN.

O RECONHECIMENTO

predominância da antiga povoação do Seridó. que se manifestava principalmente pela opulência das fazendas de gado da região seridoense, começou a ser reconhecida pelos poderes políticos e eclesiásticos a partir de 1748, ano em que foi constituída em sede de distrito administrativo e da freguesia. A criação do município veio um pouco depois, por alvará

ou ordem governamental de 28 de abril de 1788. elevando-se a aludida povoação ao predicamento de vila, isso, ao tempo em que o Estado era governado pelo Senado da Câmara de Natal, presidido por João Barbosa de Gouveia. A instalação do município teve lugar a 31 de julho de 1788.

Centro de Caicó em 1981.

Nos primeiros tempos a região do Seridó, Caicó, inclusive, esteve sujeita ou ligada ao Estado da Paraíba, pelo menos no que se relaciona com a vida religiosa, de onde se desligou em 1748. Dentro do Estado do Rio Grande do Norte, deve ter pertencido ao município de Natal. Primitivamente, Caicó esteve ligado à Comarca da Paraíba, até 1818 quando passou a pertencer ao Rio Grande do Norte, da qual se desligou para fazer parte da Comarca de Assu (Princesa), até a criação da Comarca do Seridó, pela Lei Provincial número 365, de 19 de julho de 1858.

A designação da Comarca foi mudada para Caicó, por Decreto número 33, de 7 do julho de 1890. O João Valentino Dantas Pinagé. No tocante à divisão eclesiástica, Caicó pertenceu algum tempo à Freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso, de Piancó (PB) de onde foi desmembrada em 15 de abril de 1748, por ato do visitador Manuel Machado Freire, de ordem do reverendíssimo Frei Luiz de Santa Tereza, Bispo de Pernambuco, para constituir-se Paróquia com a invocação de Nossa Senhora de Santana, na qual estavam abrangidos, além da Ribeira do Seridó, Patos e Cuité, na Paraíba. A Freguesia foi instalada pelo padre Francisco Alves Maia. cura da Freguesia, em 26 de julho do mesmo ano de 1748, abrange atualmente, apenas o município de Caicó.

FATOS MARCANTES

Uma pesquisa feita por alunos do CERES, Antônia Figueiredo, Maria Bernadete, Marly Medeiros, Francisca Neuza, Francisca Porfírio e Maria Sueli, mostra os primeiros fatos e acontecimentos importantes para a história do município.

Pórtico defronte a Catedral de Santana – Foto – Rostand Medeiros.

Segundo a pesquisa o movimento do “Quebra Quilo” aco9nteceu em 5 de dezembro de 1874 e foi contra a aceitação da introdução do novo Sistema Métrico Decimal. Caicó foi iluminada pela primeira vez em 1909, com lampiões a querosene, pelo dr. Jose Augusto Monteiro e a 21 de abril de 1925 foi inaugurada a luz elétrica, sendo na época prefeito o senhor Joel Damasceno.

Já o primeiro jornal nascido em Caicó chamou-se “O Povo” e o primeiro número circulou no dia 4 de março de 1889, pertencente a José Renaut. Tinha a direção do dr. Diógenes Santiago da Nóbrega e de Olegário Vale.

O primeiro rádio que chegou a Caicó foi em setembro de 1932 e pertencia a uma sociedade. Já o primeiro telegrama foi recebido pelo senhor Gedeão Delfino, então administrador da Mesa de Rendas. Na época as e encomendas dos Correios e Telégrafos era enviada de Natal a Caicó por meio de burros e cavalos. Mas em 1928, com a inauguração de uma linha rodoviária ligando Natal a Caicó, esse transporte passou a ser feito por ônibus de passageiros, conhecidos como “sopa”, e a agência dos Correios passou a receber a correspondência com maior rapidez e assiduidade.

O primeiro telegrafista foi José Antunes Torres, que exerceu o cargo, ininterruptamente, desde 19 de março de 1917 a 15 de agosto de 1932. O primeiro avião que sobrevoou Caicó era pilotado pelo francês André Depecker e trazia como passageiro o dr. Juvenal Lamartine, Governador do Estado e George Piron. O campo de aviação, situado no sítio “Baixa do Arroz” foi inaugurado em 19 de março de 1917. O primeiro automóvel que chegou à cidade foi durante o carnaval de 1919 e a primeira pessoa a avistar o auto foi Daniel Diniz. O proprietário era Coriolano de Medeiros, natural de Natal.

Interessante texto do historiador Luís da Câmara Cascudo escreve sobre Caicó no jornal natalense “A República” em 26 de março de 1929.

Manuel Batista Pereira foi o construtor do primeiro Mercado Público, mais ou menos em 1860, no local onde hoje está edificada a Praça da Liberdade. Na falta de uma estação de rádio, o primeiro alto-falante a transmitir informações em Caicó pertenceu ao Cel. Celso Dantas tendo sido ouvido pela primeira vez a 8 de julho de 1938. Em 1876 a cidade teve sua primeira banda de música, que foi organizada pelo maestro Tertuliano, mas a primeira retreta, realizada na avenida Seridó, realizou-se a primeiro de janeiro de 1908 e foi organizada pelo professor Manuel Fernandes.

A 24 de dezembro de 1938 chegava à cidade o primeiro “Snooker”(sinuca), trazido pelo cel. Celso Dantas. Em 1906 chegava mais uma diversão à Caicó: era o carrossel de Francisco Azevedo. Na Festa de Santana de 1910, no prédio da Prefeitura Municipal, funcionou a primeira sessão de cinema mudo. Só no dia 27 de dezembro do ano de 1936 o cel. Celso Dantas inaugurava o cinema falado moderno. No dia 22 de janeiro de 1922 acontecia o primeiro jogo oficial de futebol entre as equipes do Caicó Futebol Clube e Brasil Esporte Clube e só três anos mais tarde, a 21 de abril de 1925, jogava pela primeira vez na cidade, um time de fora.

Primeira turma de seminaristas do Seminário Diocesano de Caicó.

O dr. Washington Luiz foi o primeiro presidente a visitar a cidade. Isso aconteceu no dia 6 de agosto de 1926 e o dr. Pedro Velho foi o primeiro governador, exatamente a 5 de julho de 1901.

VILA DO PRÍNCIPE

A sede municipal teve inicialmente o nome de Seridó, passou, quando da criação do município, à denominação de Vila Nova do Príncipe, conservada pela Lei número 612, de 1868, que elevou à categoria de cidade. A velha denominação de Seridó, voltou a ser imposta pelo decreto número 12, de 1 de fevereiro de 1890 e, só em 7 de julho do mesmo ano é que recebeu o nome atual.

Castelo de Engady em foto de 2015 – Foto – Rostand Medeiros.

Caicó está edificada entre os rios Barra Nova e Seridó, que correm bem próximos, sendo caracterizados pelas seguintes coordenadas geográficas: Latitude Sul 6o 27′ 00″; Longitude W. Gr. 37° 02′ 00″. Rumo (em relação a capital) 030. Distância da Capital do Estado, em linha reta,

218 quilômetros e altitude de 157 metros e limita-se com algumas cidades desse Estado e com uma da Paraíba. São seus limites: ao Norte, Jucurutu; a Leste, Florânia, Cruzeta, Jardim do Seridó e Ouro Branco; ao Sul, Santa Luzia (PB), São João do Sabugi, e Serra Negra do Norte; a Oeste com Timbaúba dos Batistas, Jardim de Piranhas e São Fernando.

Antigo jornal de Caicó informando sobre o ataque de Lampião a Mossoró em junho de 1927.

Nenhum plano urbanístico orientou a construção da cidade e, nem tampouco existe qualquer trabalho de sistematização, a não ser o relativo cuidado com que a administração municipal orienta as novas construções. Entretanto o traçado das ruas é mais ou menos regular, apesar do acidentado terreno. As construções são na maioria do tipo colonial e de um meio termo entre colonial e moderno. Nota-se, entretanto, nas construções recentes, uma predominância

de linhas tipicamente modernas.

LIDERANÇAS

A população de Caicó, pelos seus líderes, nunca deixou de tomar parte nos acontecimentos que empolgaram a vida nacional. Em fins de 1831, formou-se em Caicó uma expedição guerreira para dar combate ao coronel de milícias Joaquim Pinto Madeira, que havia se assenhorado da Província da Paraíba.

1955 – Visita a Caicó do candidato a Presidente da República Juscelino Kubitschek.

O comando que foi composto de figuras da maior representação da zona, deu mostras de grande heroísmo, batendo-se valentemente em diversos encontros, sob a chefia do cel. José Teixeira, destacando-se pela bravura de que deram mostras o Alferes Canuto e os soldados Firmeza, Zuza da Cachoeira e Tomaz Cazumba. Quando da “Guerra do Paraguai”, formou-se também em Caicó um corpo de voluntários, a fim de combater em defesa da dignidade nacional, tendo por chefes José Bernardo e Manuel Basílio de Araújo. Esses voluntários, chegando ao Rio de Janeiro, foram dispensados de combater, regressando em seguida a terra natal. Também na Revolução Comunista, em 1935, Caicó armou um contingente de paisanos sob as ordens do senador Dinarte Mariz, Monsenhor Walfredo Gurgel e Eduardo Gurgel de Araújo, a fim de dar combate aos comunistas que haviam ingressado no interior. Esse contingente, no encontro da Serra do Doutor, conseguiu bater valentemente os revoltosos, numa emboscada estratégica, saindo plenamente vitorioso.

Governador Lavoisier Maia descerra uma placa na inauguração do 1º Batalhão de Engenharia e Construção (1º BEC) de Caicó..

Na política, floresceram vários partidos em Caicó, tanto monarquistas como republicanos, sobressaindo-se os chefes políticos locais pela preponderância que sempre exerceram no estado. Entre os grandes chefes políticos históricos, citam-se o padre Francisco Brito Guerra, José Bernardo de Medeiros, Joaquim Martiniano Pereira e Gorgônio Ambrósio da Nóbrega, José Augusto Bezerra de Medeiros e Dinarte de Medeiros Mariz.

Quando a luta pela libertação dos escravos ecoou pelo Brasil inteiro, organizou-se em Caicó uma comissão libertadora, dirigida por José Bernardo de Medeiros, Olegário Gonçalves de Medeiros Vale, Manuel Augusto Bezerra de Araújo, José Batista dos Santos Lula, padre Amaro Castor, Lindolfo Adolfo de Araújo, Salviano Batista de Araújo e outros. Esse comitê, empreendeu festas públicas em prol do movimento libertador e solenizava as cerimônias de alforria. Diz-se que ao ser decretada a Lei da Abolição da escravatura, já existiam poucos escravos em Caicó.

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SERIDÓ – A REGIÃO DA FÉ E DAS TRADIÇÕES

Desde às suas origens, a microrregião do Seridó caracteriza-se pela fé dos seus pioneiros, a coragem e a disposição de superar muitos obstáculos. A tradição tem sido mantida. Toda a história do Seridó tem essa marca de coragem, que nem as secas mais inclementes conseguiram arrefecer — ou as injustiças. No clima árido e seco, foi forjada a têmpera de grandes homens. A luta áspera com a terra tem resultado numa sobrevivência heroica. Por isso a paisagem humana do Seridó é mais rica do que a física.

Publicado originalmente na Revista RN/ECONÔMICO – Junho/Julho/1981...

Serra da Rajada, Seridó Potiguar.

São 22 municípios, abrangendo uma área de 9.372 quilômetros quadrados e uma população fixa — segundo o último censo — de 211 mil 936 habitantes. Geograficamente é qualificada como microrregião do Seridó. Seca, pobre de chuvas, é uma das áreas mais sofridas, heroicas e marcadas por contradições do Rio Grande do Norte. Na origem de sua história estão os brutais massacres da população indígena; na trajetória da sua colonização e desenvolvimento estão inúmeros homens que, temperados pelas árduas lutas, demonstraram grandeza suficiente para que seu trabalho também servisse ao Rio Grande do Norte e ao Brasil.

NOTA DO TOK DE HISTÓRIA – Em 1989, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dividiu o Seridó em Oriental e Ocidental, abrangendo uma superfície de 6.970,60 Km², o que representa 13,08 por cento do território estadual.

Vaqueiros do sertão, Acari / RN – Região do Seridó. Foto: Carla Belke – Paisagens do Seridó – OpenBrasil.org

Homens como Tomás de Araújo Pereira, o primeiro Presidente da Província; Padre Francisco de Brito Guerra, político e fundador da Imprensa do Rio Grande do Norte, José Bernardo de Medeiros, José Augusto Bezerra de Medeiros, Juvenal Lamartine de Faria — introdutor do voto feminino e da aviação no Rio Grande do Norte — padre João Maria, Dinarte de Medeiros Mariz. Monsenhor Walfredo Gurgel, José Cortez Pereira, entre outros.

O Seridó é rico em paisagem humana. Talvez como uma compensação da natureza para suprir a agressividade e a pobreza de sua paisagem física.

A FORMAÇÃO  

Localizada na parte meridional do Rio Grande do Norte, no reverso da Borborema, a microrregião do Seridó não teve uma formação uniforme, segundo os historiadores.

Fazenda Caiçara, Acari, do Coronel Antônio Galdino de Medeiros, zona rural de Acari.

Conta M. Rodrigues de Melo que as vilas e povoados tiveram origens diferentes.

— Umas — diz ele — tiveram origem nas fazendas de criação de gado, outras no espírito religioso da sua população, outras no ciclo do algodão, enquanto outras mais recentes nasceram à sombra do ciclo da mineração.

As referências oficiais — inclusive as pesquisas de José Augusto — indicam que o povoamento daquela região teve início no fim do século XVII. Para que o processo de colonização começasse foi preciso dobrar a resistência dos habitantes originais — os índios. E as crônicas falam de massacres e guerras violentas, que se estenderam pelas margens do rio Açu e seus afluentes, um dos quais o Seridó. Em seus estudos, José Augusto diz: — Um dos encontros mais sangrentos e cruéis ocorreu no lugar Acauã, localizado no atual município de Acari.

Centro de Caicó,década de 20 do século passado. Foto – José Ezelino

Ainda segundo esse autor, são de 1676 os primeiros registros de terras nessa região, assinalados nos livros da Capitania do Rio Grande do Norte. Contudo, o Seridó só conseguiu a sua emancipação administrativa em 31 de julho de 1788. Ele estava totalmente englobado num amplo “município” que recebeu a denominação de Vila Nova do Príncipe.

Àquela altura, a divisão geográfica e política era completamente diversa da atual. Uma ampla área entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba ficou dividida em três grandes Vilas: Cariris, Seridó e Açu. Que, com a emancipação —autorizada pelo Governador de Pernambuco — passaram a se chamar Vila Nova da Rainha, Vila Nova do Príncipe e Vila Nova da Princesa.

Até março de 1818 o Seridó e o Rio Grande do Norte estavam jurisdicionados à Comarca da Paraíba. O alvará de 18 de março daquele ano criou a Comarca do Rio Grande do Norte. A Vila do Príncipe saiu da órbita da Paraíba, embora esse ato desse margem à muitas reclamações da parte dos paraibanos de Pombal e muitas disputas parlamentares.

Casa típica do sertão de Acari, localizada próximo ao canteiro de obras de gargalheiras na década de 1920.

A TRAJETÓRIA

Com o desenvolvimento da região e o crescimento da sua população foram se formando vários núcleos populacionais mais ou menos distintos. O primeiro município a se desmembrar do núcleo original foi Acari. Ainda no período da Monarquia brasileira ocorreu o desmembramento de mais dois: Jardim o Seridó e Serra Negra do Norte. Depois da proclamação da República, seguiram os desmembramentos de Currais Novos, Flores (atualmente Florânia), Parelhas e Jucurutu. No momento (1981), o Seridó é composto, além desses municípios, por Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Cruzeta, Equador, lpueira, Jardim de Piranhas, Lagoa Nova, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi, São José do Seridó, São Vicente e Timbaúba dos Batistas.

NOTA DO TOK DE HISTÓRIASegundo classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), oficialmente integram a região do Seridó Potiguar em 2024 os seguintes municípios: Acari, Carnaúba dos Dantas, Caicó, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi, São José do Seridó, Serra Negra do Norte e Timbaúba dos Batistas. No entanto, social e historicamente, são ainda integrados ao Seridó os municípios de Bodó, Cerro Corá, Florânia, Jucurutu, Lagoa Nova, Santana do Matos, São Vicente e Tenente Laurentino Cruz.

Pelos caminhos do sertão potiguar…

Em 1782, data do primeiro censo, a população do Seridó era de 3.630 habitantes. Por seis censos consecutivos — até o de 1920 — a população praticamente dobrou de um para o outro, pois, naquele ano, já estava em 85.840. A partir daí houve uma redução nesse processo. E, já no outro censo — 20 anos depois, em 1940 — a população do Seridó chegou a 127.027. É importante verificar a redução nesse índice de natalidade, quando os outros censos tinham um intervalo de 12 anos. José Augusto já havia notado que ” o seridoense é muito prolífero”. Diz. — O comum é o casal de 10 a 12 filhos e não são raros os que atingem a 15, 20 e até mais. O aumento da população do Seridó, nas suas primeiras etapas, pode ser melhor avaliado, em toda a sua intensidade, se se levar em conta o fato que em muitos períodos de seca ter ocorrido o êxodo dos homens mais produtivos para outras áreas do Estado ou do País. Se não houvesse o fenômeno da seca sistemática é até possível que, hoje, a população do Seridó fosse muito superior ao que é.

AS CONTRADIÇÕES

A região tem sido marcada por contradições curiosas em sua trajetória econômica. A principal atividade econômica do Seridó, nos primórdios de sua história, foi a pecuária, a criação do gado de corte. Muitas famílias foram atraídas para o Seridó — principalmente de Pernambuco — pelas perspectivas da criação de gado. Só num certo estágio é que os seridoenses se deram conta de serem possuidores de uma riqueza tão ou mais preciosa do que o gado e, de qualquer forma, mais resistente às secas constantes: o algodão.

A produção do algodão era muito importante no aspecto econômico no Rio Grande do Norte r movimentava as principais cidades das áreas de produção. Na foto vemos a escolha da “Rainha do Algodão”, na cidade de Currais Novos, em 1954, durante um congresso. Da esquerda para direita vemos Maria Lourdes Medeiros (Representando a cidade de Jardim do Seridó), Deise Trindade (De Caicó e vencedora do concurso) e Nazareth Cortez (Currais Novos).

E não simplesmente algodão. Mas o algodão “mocó”, de fibra longa, nobre da melhor qualidade.

Sempre observador das coisas do Seridó, José Augusto observa, a esse respeito: — Pode assim ser dito com segurança: O gado levou o homem civilizado para o Seridó e o algodão expulsou o gado e fixou o homem à região. Esse é todo o drama econômico do Seridó

Contam outros estudiosos que por muito tempo não foi notada a verdadeira importância do algodão “mocó”. Aliás, a própria procedência e a maneira como o algodão “mocó” chegou ao Seridó são incertas. Há muitas divergências. José Augusto, por exemplo, não atinou com uma fonte precisa, nem outros autores. De todo modo, há uma forte corrente que defende a opinião de ser o “mocó” nativo, tendo sido a sua fonte original os chamados serrotes pedregosos da serra da Formiga, em Caicó. Mas não há concordância. Outra corrente acha mais sensato afirmar que ele procedeu do Egito, através da Paraíba. E há, ainda, quem sustente a tese da espécie híbrida. No caso, o “mocó” teria surgido como uma variedade, a partir da mistura da semente selvagem original.

Usina de beneficiamento de algodão. Foto meramente ilustrativa.

O fato é que o algodão “mocó” do Seridó e admirável. De fibra longa, é perene, arbóreo e, sobretudo, resiste bem às estiagens. E aí está outro detalhe: é o clima seco do Seridó que facilita as propriedades especiais do seu algodão. Por um estratagema da natureza, suas raízes vão fundo na terra à procura da areia mais úmida, com que se nutre. Também as reservas de salitre (nitrato de potássio) favorece o algodão com os minerais necessários ao seu robustecimento.

A outra grande fonte de riqueza do Seridó — os minérios — também teve um descobrimento tardio em sua história. Mais ainda do que o algodão. A exploração em escala industrial ainda não tem 40 anos. Todo o potencial das reservas de scheelita só foi levantado cm época relativamente recente. Mas além da scheelita, o Seridó tem ainda a tantalita, o berilo, e a cassiterita, entre outros.

OS PROBLEMAS

O principal problema do Seridó é a água. A sua densidade pluviométrica é uma das mais baixas do Estado e do Nordeste. Por ironia, esse clima seco favorece à saúde da sua população, pouco afetada pelas verminoses e doenças típicas dos climas úmidos.

Açude sangrando.

Muitas das figuras políticas do Seridó lutaram e lutam por uma política de armazenamento d’água. As preocupações com o problema são de tal forma que Oswaldo Lamartine de Faria escreveu um livro exclusivamente abordando o tema “Os açudes dos Sertões do Seridó”, no qual pesquisa antigos documentos para descrever como surgiu a ideia, como eram construídos os primeiros açudes da Região, os homens que trabalharam, etc.

A propósito da necessidade do açude no Seridó, diz José Augusto, num dos seus estudos: — E o homem governando a água e levando-a, na hora oportuna, e nas quantidades necessárias à germinação das sementes e à manutenção da lavoura. Todos os povos em que a agricultura é feita racionalmente, se socorrem da irrigação.

Mas o Seridó tem o problema da evaporação e o da salinização, segundo mostra Garibaldi Dantas. A solução para os açudes na região tem sido a drenagem, uma das saídas básicas para escapar ao problema.

SERIDÓ - A REGIÃO DA FÉ E DAS TRADIÇÕES - Desde às suas origens, a microrregião do Seridó caracteriza-se pela fé dos seus pioneiros, a coragem e a disposição de superar muitos obstáculos. A tradição tem sido mantida. Toda a história do Seridó tem essa marca de coragem, que nem as secas mais inclementes conseguiram arrefecer — ou as injustiças. No clima árido e seco, foi forjada a têmpera de grandes homens. A luta áspera com a terra tem resultado numa sobrevivência heroica. Por isso a paisagem humana do Seridó é mais rica do que a física.
Longos períodos de seca afetam a economia do Seridó- Fonte – http://vereadorgilsondejesus.blogspot.com.br

O Seridó tem se valido dos seus açudes. Garibaldi Dantas diz em “O Problema da Água no Nordeste Brasileiro” que já em 1915 havia na região 710 açudes. Posteriormente, foram construídos os grandes açudes como Itans, Mundo Novo, Cruzeta, Totoró, Gargalheiras, Boqueirão e outros.

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QUEM FOI CONFÚCIO? – AS VIRTUDES DA SABEDORIA

Fonte de inspiração – Canal Corvo Seco (Youtube) – https://www.youtube.com/watch?v=44o6MYyOfrc

“O caminho do Mestre consiste em dar o melhor de si e usar a si próprio como medida para julgar os outros. Isso é tudo”. 

– Zengzi (discípulo de Confúcio).

Pode-se explicar coisas grandes para quem quer ser grande, mas não para pessoas pequenas. 

Veja o rio: tudo flui sem cessar, dia e noite. 

Aos quinze anos, dediquei-me de coração a aprender; aos trinta, tomei uma posição; aos quarenta, livrei-me das dúvidas; aos cinquenta, entendi o Decreto do Céu; aos sessenta, meus ouvidos foram sintonizados; aos setenta, segui o meu coração, sem passar dos limites. 

Essas são as coisas que me causam preocupação: não consegui cultivar a virtude, não conseguir ir mais fundo naquilo que aprendi, incapacidade de, quando me é dito o que é certo, tomar uma atitude e incapacidade de me reformar quando apresenta defeitos. 

Aqueles que nascem com conhecimento são os mais elevados. A seguir vêm aqueles que atingiram conhecimento por meio do estudo. A seguir vem aqueles que se voltam para o estudo depois de terem passado por dificuldades. No nível mais baixo estão as pessoas comuns, por não fazerem esforço algum para estudar mesmo depois de terem passado por dificuldades. 

Não nasci com o conhecimento, mas por gostar do que antigo, apressei-me em buscá-lo. Eu transmito, mas não inovo; sou verdadeiro no que digo e devotado à antiguidade. 

Pode ser que existam pessoas que consigam algo sem saber nada, mas não sou uma delas. Ouvir muito, selecionar o melhor, testemunhar e registrar, esse ainda é o melhor meio de estudar sem nascer sabendo. 

Não sou sábio e nem perfeito; mas como eu deixaria de buscar isso.

Nunca me canso de ensinar essas coisas. Vou lhe contar o que há para saber.

As virtudes da sabedoria (Confúcio)

Ren, humanidade (altruísmo). Li, ou cortesia ritual. Zhi, ou conhecimento ou sabedoria moral. Xin, integridade. Zhing, fidelidade. Yi, justiça, retidão, honradez.

Vencer-se a si mesmo e restaurar as relações sociais, é o que se chama humanidade. Se dia-a-dia nos vencermos a nós mesmos e assegurarmos as relações sociais, o mundo todo se retornará ao humano.

Trazemos uma natureza ferida, para se alcançar a plenitude da condição humana, é nos imposto grandes exigências éticas. Ninguém as possuem, mas todas a podem, e devem alcançar.

Cenário do templo de Confúcio em Nanjing, China.

Aja antes de falar e, portanto, fale de acordo com seus atos. A sinceridade é o princípio e o fim de todas as coisas, sem sinceridade nada seria possível. Estabeleça como princípio norteador dar o melhor de si mesmo pelos outros e ser coerente com aquilo que diz, e vá onde a retidão, então você estará exaltando a virtude.

Quando cometer um erro não tenha medo de corrigi-lo. Não corrigir as próprias falhas é cometer a pior delas. 

Os homens de antigamente estudavam para aprimorar a si próprios. Os homens de hoje estudam para impressionar os outros.

A três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; terceiro, por experiência, que é o mais amargo. 

É preciso que o discípulo da sabedoria tenha o coração grande e corajoso. O fardo é pesado e a viagem é longa.

Não importa o quanto você vá devagar, desde que não pare. Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha.

Onde quer que você vá, siga com todo o coração. A maior Glória não é ficar de pé, mas levantar-se cada vez que se cai. Quem pretende ter felicidade e sabedoria ao mesmo tempo, deve se acostumar com as mudanças frequentes.

Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer. A pedra preciosa não pode ser polida sem fricção e nenhum homem aperfeiçoado sem provação.

É durante as trevas que podemos enxergar se a nossa luz é verdadeira, nas adversidades é que nossa virtude é provada e conhecemos a verdade de quem nos tornamos. Lembre-se de como você agiu nos tempos difíceis, para descobrir em que grau sua raiz é virtuosa.

Uma estátua de Confúcio de 72 metros de altura fica no topo da Terra Sagrada de NiShan Foto: Shan Jie – Global Times.

O homem virtuoso não deixa de praticar o bem em nenhuma circunstância. Ele é virtuoso quando tudo o favorece e o é também quando tudo é obstáculo.

Há homens que perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente e nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido. O homem pequeno pensa que pequenos atos de bondade não trazem nenhum benefício e não os pratica. Pensa também que as pequenas ações do mal não fazem mal e não se abstém delas. Consequentemente, sua maldade se torna tão grande, que não pode ser escondida, e sua culpa tão grande, que não pode ser perdoada.

A virtude da humanidade consiste em amar os homens; a prudência em conhecê-los. Veja os meios que um homem emprega, observe o caminho que ele toma e examine as circunstâncias em que ele se sente confortável. Como poderia o verdadeiro caráter de um homem esconder-se?

Quando conhecer alguém melhor do que você, dirija seus pensamentos para torna-se igual a essa pessoa. Quando conhecer alguém tão bom quanto você, olhe para dentro e examine a si próprio.

Estátua de Confúcio na Alemanha.

Dizer que você sabe quando você sabe, e dizer que não sabe quando não sabe: isso é conhecimento. Conhecimento real é saber a extensão da própria ignorância.

A humildade é a única base sólida de todas as virtudes. 

Não se preocupe por não ter um cargo oficial, preocupe-se com as suas qualificações. Não receie em ser desconhecido, receie ser incompetente. Não se preocupe porque ninguém aprecia suas qualidades, procure ser merecedor de apreço. Não se preocupe se os outros não o compreendem; preocupe-se com fato de você não compreender os outros. Não é quando os outros falham em apreciar as suas habilidades que você deveria ficar incomodado, mas, antes, quando você falha em apreciar as habilidades dos outros.

A melhor maneira de ser feliz e contribuir para a felicidade dos outros. Ame a todos, sem distinção.

Firmeza, devoção, simplicidade e silêncio – isso nos aproxima do humanismo.

Não imponha aos outros aquilo que você não deseja para si próprio. Exija muito de si e pouco dos outros, e isso lhe trará sossego. 

Estátua de Confúcio, o grande filósofo chinês, no templo de Confúcio, em Pequim, China.

Quando natureza de alguém prevalece sobre a educação recebida, o resultado será uma pessoa intratável. Quando a educação prevalece sobre a natureza, o resultado será uma pessoa pedante. Apenas uma mistura bem equilibrada das duas resultará em cavalheirismo. 

Nas suas relações com o mundo o cavaleiro não é rigidamente contra ou a favor de nada. Ele fica do lado daquilo que é justo. Enquanto o cavaleiro acalenta o bom governo, o homem vulgar acalenta sua terra natal. Enquanto o cavaleiro acalenta respeito pela lei, o homem vulgar acalenta um tratamento generoso.

O cavaleiro entende o que é moral e o vulgar entende o que é lucrativo. O cavaleiro tem a mente tranquila, enquanto o homem vulgar está sempre tomado de ansiedade. O cavaleiro ajuda os outros a perceberem o que é de bom neles; não os ajuda a perceber o que há de ruim. O homem vulgar faz o contrário.

O cavaleiro fica à vontade sem ser arrogante; o homem vulgar é arrogante sem ficar à vontade. O cavaleiro come sem exagero, mora em um lugar simples, dedica-se ao trabalho, fala com cuidado e busca boas companhias. Uma pessoa assim gosta mesmo de aprender. 

Um cavalheiro coloca todo seu coração no Caminho. Se ele se envergonha das roupas, ou da comida, ele não é sério. Um cavaleiro que é apegado ao conforto, não merece ser chamado de cavaleiro. O cavaleiro não fica triste nem assustado. Ele tem a consciência livre; por que deveria ter tristeza ou medo?

Seja fiel, leal, estudioso ande no Caminho. Não vá aonde há desordem; não more onde há tumulto. Apareça quando o Caminho vier para ficar; oculte-se quando o caminho for perdido.

O progresso do cavaleiro é para cima; o progresso do homem vulgar é para baixo. O cavaleiro vê o todo; o homem vulgar vê as partes. Aquilo que um cavaleiro procura, ele procura dentro de si próprio; aquilo que um homem vulgar procura, ele procura nos outros.

O cavaleiro teme três coisas. Teme o Decreto do Céu. Teme grandes homens. Teme as palavras dos sábios. O homem vulgar, sendo ignorante do Decreto do Céu, não teme. Trata grandes homens com insolência e as palavras dos sábios com ironia.

Há nove coisas as quais o cavaleiro deve dedicar o seu pensamento: enxergar claramente ao usar os olhos, escutar acuradamente ao usar os ouvidos, ter uma atitude cordial, ter um comportamento respeitoso, ser consciencioso ao falar, ser reverente ao cumprir seus deveres, buscar em conselho quando estiver em dúvida, prever as consequências ao ficar com raiva e à vista de uma vantagem a ser obtida, saber o que é correto. 

Não se pode senão concordar com palavras exemplares, mas o importante é retificar assim mesmo. Nada posso fazer com um homem que concorda com esses preceitos, mas que não retífica a si próprio, ou com o homem que fica lisonjeado, mas que não reforma si próprio. Não se pode senão ficar satisfeito com palavras elogiosos, mas o importante é reformar a si próprio.

Aprende a viver bem, e bem saberás morrer. Quem de manhã compreendeu bem os ensinamentos da sabedoria, à noite pode morrer contente.

O céu é o autor da virtude que há em mim. Se não se respeita o sagrado, não se tem nada em que fixar a conduta. 

Se eu pudesse em uma frase resumir todos os meus ensinamentos eu diria: Nunca deixe o mal dominar seus pensamentos. Quem se modera raramente se perde. 

O homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está perto da virtude.

Na Paz e tranquilidade do seu ser encontra as respostas para todas as suas dúvidas e inquietações. 

O silêncio é um amigo que nunca trai.

Uma outra estátua de Confúcio na Alemanha.

QUEM FOI CONFÚCIO?

Confúcio nasceu em 551 a.C. como membro de uma antiga família nobre no estado de Lu, na Península de Shandong, leste da China.  Seu local de nascimento é atualmente a cidade de Jining.
Muitas das informações biográficas de Confúcio são incertas. Afirma-se que ele perdeu o pai quando tinha apenas três anos, com sua educação exclusivamente nas mãos da sua mãe e ele cresceu em circunstâncias modestas. 

De 539 a 533 ele foi ensinado por seu avô. A partir dos 15 anos aprendeu as seis artes do arco e flecha, condução de carruagens, escrita, aritmética, dança e música. Aos 19 anos casou-se e um ano depois gerou seu filho Li, que significa carpa. 

O próprio nome Confúcio é latinizado e significa “mestre da família Kung”. No início, Confúcio trabalhou como supervisor de um celeiro público e em outros empregos para sustentar sua família. Em 530 a.C. fundou sua própria escola, onde ensinou poética, música e ritos tradicionais. Além disso, ele ensinou histórias antigas de reis do Livro de Documentos Shu-jing. Mais tarde, ele anexou a este trabalho suas próprias histórias intituladas “Primavera e Outono”.

O forte senso de tradição de Confúcio foi revelado já em seus primeiros trabalhos, o que também se reflete em seus próprios ensinamentos. Em 518 a.C. Confúcio viajou para o principado Chou, onde, entre outras coisas, aperfeiçoou seus estudos de música e costumes antigos. Durante este tempo ele conheceu Lao Tse, outro dos filósofos mais importantes da China antiga. 

Em 516 a.C. Confúcio foi exilado, mas continuou a estudar história e tradição. Em 509 a.C., após a morte do príncipe, ele teria retornado ao estado de Lu, onde tornou-se administrador. 

A partir do ano 501 a.C., ele inicialmente ocupou o cargo de governador em uma cidade chinesa e a partir do ano 498 a.C. exerceu um ofício ministerial. Suas atividades administrativas lhe deram a oportunidade de implementar politicamente suas ideias de tradição e ordem. Mas tendo sido desacreditado por intrigas, desistiu de todos os cargos e deixou o país. No período de 497 a 483 levou uma vida conturbada. Confúcio estava constantemente em movimento. Confúcio era cosmopolita e, no entanto, mantinha os valores tradicionais.

Depois disso ele voltou a China, mas a sua concepção da virtude do Estado e do comportamento moral era radical demais para os governantes, de modo que Confúcio não era mais empregado em nenhuma função pública. 

Confúcio então dedicou-se a escrever e editar velhas tradições até sua morte. Ele fez a ordem, que ele acreditava ser alcançável através do respeito por outras pessoas e culto aos ancestrais, o tema central de seus ensinamentos. O status social era irrelevante. O ideal “nobre” de Confúcio era um ser humano moralmente impecável e mais elevado. Ele difundiu a ideia que “o homem pode ser nobre quando está em harmonia com o mundo e como um todo. Encontrar o pivô que une nossa natureza moral, com a ordem abrangente, é a harmonia central”.

Seus ensinamentos foram transmitidos apenas por seus discípulos no “Livro das Conversações” (Lunyu). Ele mesmo publicou os cinco clássicos “Shu Jing”, “Shi Jing”, “Yi Jing”, “Li Jing” e a obra “Chunqui”, que contém a história do estado de Lu no período de 722 a 481 a.C. Em seus ensinamentos, Confúcio representava o princípio da medida e da média. Ele orientou-se para a prática e comportamento moral.

Confúcio morreu em 479 a.C. com a idade de setenta e nove anos.

O confucionismo mais tarde se desenvolveu a partir de seus ensinamentos, que, no entanto, só foi desenvolvido e sistematizado em um corpo de ensino no século II a.C. O confucionismo então tornou-se a doutrina estatal chinesa. 

O ensino contém valores religiosos, filosóficos e sócio-políticos, com ética social e política focada em normas comportamentais e um culto estrito dos ancestrais era praticado. O confucionismo também propagou os princípios da força masculina e feminina do yin e yang e em ação no universo. 

Somente com a Revolução Chinesa em 1912 o confucionismo foi superado como doutrina de Estado e desvalorizado durante a Revolução Cultural. Foi somente depois de 1976 que Confúcio foi reconhecido novamente como um espírito de preservação do Estado Chinês.

1862 – O ESTRANHO DESFILE DOS DEMÔNIOS NEGROS DA NOITE DE SÃO BARTOLOMEU

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Foliões no Bloco Carnavalesco Os Cão, na praia da Redinha,em Natal. Na foto, os foliões saem de dentro do mangue, onde se pintaram com a lama característica do local – FOTO ED FERREIRA/AE – Fonte – http://gilvandejacana.blogspot.com.br/2014/03/bloco-os-cao-completa-50-anos-pelas.html

Que Estranho Cortejo Percorria as Ruas da Cidade do Natal, Com Homens Pintados de Negro, Imitando Demônios e Realizando uma Comemoração? Teria algo Haver Com Um Moderno Bloco Carnavalesco da Redinha? 

Autor – Rostand Medeiros

Tradição é tradição e, quer você goste, ou não, uma das manifestações mais tradicionais, autênticas e originais do moderno carnaval de Natal é o irreverente bloco “Os Cão”.

Em 2016 “Os Cão” (no singular mesmo) comemorou 52 anos de tradição e muita folia na região da Praia da Redinha, na Zona Norte da capital potiguar. Segundo Francisco Ribamar de Brito, Seu Dodô, um dos criadores do bloco, tudo começou quando ele, Zé Lambreta, Chico Baé e mais dois amigos brincaram a festa de Momo de 1964 em um bloco chamado “Brasinhas”, que só saia nas ruas até a segunda-feira de carnaval. Eles resolveram esticar a festa até a terça, mas não tinham nenhuma fantasia para usar naquele último dia de folia!

Enquanto pensavam em como resolveriam esta questão, os rapazes resolveram pegar camarões para servir de tira gosto em um local conhecido como Porto D’água, na área de mangue do estuário do Rio Potengi. Quando lá estavam Chico Baé melou seus cabelos de lama, querendo estirar o cabelo crespo. Todos acharam idéia engraçada e igualmente melaram o corpo de lama. Completaram a fantasia com pedaços de galhos e saíram se divertindo pelo mercado e ruas da Redinha.

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Logo quem passava, ou se recusassem a dar cachaça ao grupo, eles assustavam e as pessoas diziam – “Lá vem os cão!”. Nos anos seguintes eles repetiram a brincadeira e o grupo foi crescendo.

É patente que o “Grand Monde” natalense jamais teve maiores simpatias por este bloco carnavalesco da Redinha. No máximo eles e sua lambuzada festa são vistos como “exóticos” e aturados, pois os políticos da cidade dos Reis Magos não podem ficar indiferentes a uma festa que arrasta mais de 2.000 pessoas para as ruas. Mesmo com pouco apoio os “Os Cão” vão resistindo com sua festa original. Sempre brincando pela Redinha, acompanhados por uma legião de demônios usando como fantasia basicamente a lama do mangue do Potengi, muitos portando tridentes, chifres de animais e galhos de árvores. Sempre pedindo cachaça nas terças-feiras de Momo e com muita irreverência.

O interessante é que descobri uma nota de jornal onde temos a informação que há quase um século e meio, de uma maneira diferenciada e bem distinta, já circulou pelas velhas ruas de Natal algumas pessoas que se fantasiaram de demônios enegrecidos em meio a um festejo religioso, mas que estranhamente parece possuir algumas similaridades com o moderno bloco “Os Cão”.

O Correspondente

Em setembro de 1862 o Brasil ainda era um imenso Império com vastas extensões de terras quase virgem, com forte economia agrícola, tocada pela mão de obra escrava, poucas modernidades e grande número de analfabetos. Apesar de todas as deficiências já existiam muitos jornais nas capitais das Províncias, que hoje chamamos de Estados.

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Antônio Carlos Mariz e Barros, comandante da corveta Belmonte em 1862, que visitou Natal e foi morto na Guerra do Paraguai.

Este era um dos principais meios de circulação de informações, onde os melhores jornais contratavam correspondentes nas Províncias vizinhas para reproduzirem notícias regionais. Este era o caso do “Jornal de Recife”, um dos principais jornais de Pernambuco na época, que em Natal tinha como correspondente Joaquim Ignácio Pereira Junior, um súdito português, que também era o Vice-Cônsul honorário de seu país no Rio Grande do Norte. Este informava de Natal, principalmente os eventos sociais e políticos. Notícias do interesse de uma pequena parcela de potiguares, membros da elite local, que tinham negócios, ou estudavam na capital pernambucana.

Há quase 154 anos, na edição do “Jornal de Recife” de quinta-feira, dia 17 de setembro de 1862, Joaquim Ignácio, como era de costume, iniciou sua coluna informando que na manhã do dia 24 de agosto, Pedro Leão Veloso, então Presidente da Província do Rio Grande do Norte, recebeu no Palácio do Governo o jovem primeiro tenente Antônio Carlos Mariz e Barros, comandante da corveta Belmonte, da Marinha do Brasil, que se encontrava no porto para concertar uma pequena avaria na hélice. O encontro protocolar ocorreu no sobrado localizado no bairro da Ribeira, na então Rua do Comércio, atual Rua Chile, a mais imponente e alta edificação (com apenas dois andares) existente em Natal na época[1].

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Nota da edição do “Jornal de Recife” de quinta-feira, dia 17 de setembro de 1862.

Então na sequência do seu informativo, até com certa surpresa, o correspondente Joaquim Ignácio apresentou uma outra notícia que não tinha nenhum caráter oficial.

O Estranho Cortejo

Cerca de vinte “marmanjões” haviam desfilado pelas ruas de terra da pequena Natal, trajando muito pouca roupa, pintados completamente de preto (seria de lama do mangue?) e figurando demônios. Durante o desfile estes homens eram “açoitados” por um figurante vestido de São Miguel, o santo guerreiro, que protegia uma pobre alma vestida de branco da ação dos pretensos membros da legião do mal.

Mesmo estando com a presença de São Miguel, aquele estranho cortejo fazia parte de uma comemoração pelo dia de São Bartolomeu, um dos doze primeiros apóstolos de Cristo.

Consta que São Bartolomeu nasceu em Caná, a quatorze quilômetros de Nazaré, na Galiléia, tendo sido apresentado a Jesus pelo apóstolo Filipe, seu maior amigo. Assim como o apóstolo Tomé, Bartolomeu foi um grande viajante e teria passado por locais no Irã, Síria, Índia, Armênia e por algum tempo na Grécia, com Filipe, especialmente na região da Frigia. Na Índia o apóstolo Bartolomeu pregou a verdade do Senhor Jesus, segundo o Evangelho de São Mateus, onde conseguiu converter muitas pessoas naquela região. Já na Armênia ele conseguiu converter o rei Polímio, sua esposa e muitas outras pessoas em mais de doze cidades. Essas conversões, no entanto, provocaram uma enorme inveja dos sacerdotes locais, que, por meio do irmão do rei Polímio, conseguiram a ordem de tirar a sua pele e depois decapitá-lo[2].

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Imagem de São Bartolomeu.

Apesar daquele cortejo em Natal glorifica a figura de um santo católico, percebemos na pequena e, para tristeza deste pesquisador, econômica nota, que aquele ato público causava estranheza em pessoas da comunidade. Tanto que o correspondente do “Jornal de Recife” apontou que ele estava na função de “transmitir factos, que demonstrem o progresso” e, após informar sobre este estranho evento religioso-teatral pelas ruas da urbe, completava afirmando em tom jocoso se aquilo “É, ou não, civilização!”.

Personagens Estranhos  

Segundo Luís da Câmara Cascudo, em seu livro “História da Cidade do Natal” (Edição do IHG-RN, 1999, páginas 122 a 124), ninguém soube lhe dizer como começou aquele estranho cortejo, mas soube que ele não era autorizado pela igreja católica, tinha um aspecto um tanto macabro e havia sido iniciado por pessoas do povo.

O evento ocorria sempre pela tardinha do dia 24 de agosto, na medida que as ruas estreitas da cidade começavam a ficar no escuro[3].

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Entre hurros, gritos, risadas histéricas, pulos, guinchos e outras diabruras, os jovens surgiam pintados de preto, com chifres na cabeça, estirando suas línguas cobertas de tecidos vermelhos feitos de baeta e trazendo pequenas asas. Fico imaginando o choque dos natalenses daqueles tempos coloniais.

Mas o Mestre Cascudo aponta algumas diferenças entre o que ele registrou através da memória dos mais velhos que assistiram estes desfiles e o relato de Joaquim Ignácio. Entre estas estava a que existia uma pessoa fantasiada como o próprio demônio, comandando a sua legião de diabos negros e um homem vestido com um larguíssimo hábito de monge, com cordões de São Francisco na cintura, grande capuz que escondia seu rosto e afugentava os “filhos do cão” com chicotadas cênicas.

Outra diferença apontada e que fazia o medo se estampar tanto na cara dos pequenos, quanto dos marmanjões, era a figura da morte.

O ator que interpretava a figura que lembra o fim de todos os seres viventes apresentava-se andando em pernas de pau, com uma roupa alva, que arrastava pelo chão. Mas os textos nada trazem sobre alguma foice estilizada levada pelo pretenso ator.

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Uma outra representação da morte em um jornal carioca no fim do século XIX.

Independentemente disso ele parecia realizar sua função com esmero, pois a figura sinistra era temida e batiam-lhe portas e janelas na cara. Como resposta a afronta, a morte então riscava no ar uma cruz latina e bradava a plenos pulmões “Vá se preparando! Vá se preparando! Eu volto em breve para vim buscá-lo…” Daí a pouco o cortejo parava em frente a alguma outra casa e, se recebesse porta na cara, vinha nova praga rogada. Pelos escritos de Cascudo, essa era a parte mais “terrível” do cortejo[4].

Certamente aquele cortejo fazia muita criança natalense daquele tempo se mijar de medo e seria desaprovada pelas modernas técnicas e normas da psicologia infantil.

Não nós esqueçamos que esta era uma época de medicina limitadíssima, onde morrer por doenças variadas era algo comum e uma sentença dessas proferida na porta de casa, mesmo por brincadeira, certamente deixaria muitos se benzendo, se ajoelhando diante de seus oratórios e declamando benditos.[5]

Estranhamente o fim do cortejo acontecia diante da Igreja Matriz, na antiga Rua Grande, atual Praça André de Albuquerque, com todos os integrantes rezando uma solene ave maria.

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Antiga Rua Palha em festa – Fonte – http://mediocridade-plural.blogspot.com.br/2011/09/natal-antiga.html

Para Cascudo o fim desta estranha manifestação popular ocorreu com um fato pitoresco e bastante hilário…

Não sabemos a data exata, mas entre os anos de 1836 e 1838, o capitão Antônio José de Moura exercia o cargo de primeiro comandante do recém criado Corpo Policial, atual Polícia Militar, e tinha a sua residência na Rua da Palha (atual Rua Vigário Bartolomeu, no Centro). Durante um destes anos, quando o cortejo de 24 de agosto passou em frente à casa do policial, dois cachorros de sua propriedade ficaram extremamente agoniados com a gritaria, pularam a janela da residência e partiram para cima dos integrantes do desfile. Foi literalmente um Deus nos acuda, com satanás e sua legião de demônios fugindo para todos os lados, gente caindo no chão, o capitão Moura no meio da rua apenas vestido de chambre (um roupão caseiro comprido) e com muito trabalho para segurar os seus endiabrados mastins. Paradoxalmente quem mais sofreu foi à morte, pois o ator despencou das pernas de pau e foi mordido “na parte mais carnuda do corpo”.

Ainda segundo Câmara Cascudo o cortejo caiu em desgraça diante do escárnio pelo ocorrido, perdeu força e sumiu.

Eterna Estranheza

Mas diante da nota publicada pelo correspondente do “Jornal de Recife”, vinte anos depois do ataque dos cães do capitão Moura na Rua da Palha, mesmo sendo vistos com estranheza, como algo diferente e burlesco, o desfile do dia de São Bartolomeu em Natal resistiu e continuou de alguma forma.

Nada sabemos quem eram seus participantes, apenas que eram pessoas “conhecidas de todos”. Mas acredito que provavelmente não pertenciam as classes privilegiadas da provinciana cidadela e não existe nada sobre a presença feminina no desfile.

O desfile foi esquecido e São Bartolomeu em Natal é lembrado atualmente na comunidade de Vila Paraíso, na Zona Norte, por uma capela que inclusive desabou devido a chuvas em julho de 2013. Não sei se esta pouca lembrança nos dias atuais seria devido ao desfile do dia de São Bartolomeu no século XIX, mais que festejar o santo, servir para que uma parte da população, de maneira alegre e irreverente, afrontasse indiretamente a elite e as instituições da cidade?

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Fonte – http://www.substantivoplural.com.br/os-cao-baiacu-na-vara-outros-blocos-tradicionais-tem-48h-para-se-habilitarem-participar-carnaval-de-natal/

Em tempo – Nada encontrei que ligasse o desfile do dia de São Bartolomeu, com seus demônios pintados de negro, ao moderno bloco carnavalesco “Os Cão”.

A não ser uma estranheza da elite de outrora e atual, com tudo que é espontaneamente criado pelo povo de Natal, que parece nunca acabar e onde se percebe muito preconceito.

NOTAS


Fontes – http://www.nominuto.com/noticias/cultura-e-lazer/os-cao-bloco-segue-a-tradicao-de-52-anos-nesta-terca-feira/136643/

http://www.vntonline.com.br/2015/02/bloco-os-cao-reune-centenas-de-folioes.html

[1] Quatro anos depois este mesmo tenente Mariz e Barros se tornaria um dos grandes heróis da Marinha do Brasil, quando no comando do encouraçado Tamandaré em plena Guerra do Paraguai, morreu no combate travado contra o forte Itapiru.

[2] O dia de São Bartolomeu é bastante festejado em Portugal, possuindo extensa tradição. Em vários locais deste país este dia é dedicado àquele que é conhecido como padroeiro das crianças, fazendo reviver tradições que se misturam com a fé e devoção. Na foz do rio Douro, no Porto, norte de Portugal, ainda hoje se acredita que o banho de mar tomado no dia 24 de Agosto serve para a cura e prevenção contra o mal, sendo todo malefício exorcizado pela ação da água tornada miraculosa nesse dia por parte de São Bartolomeu. Nesta região além do banho ritual existe a tradição do cortejo de São Bartolomeu, também conhecido como Cortejo do Traje de Papel. Trata-se de um desfile, com centenas de figurantes com trajes feitos de papel crepe de diversas cores, onde ao final os participantes se juntam para um banho coletivo.

[3] Pesquisando nos jornais antigos eu descobri que o evento de 1862 ocorreu no início da lua nova do mês de agosto, quando provavelmente as velhas ruas natalenses, que não tinha mesmo muita iluminação pública, estavam bem escuras. 

[4] Provavelmente a propagação da sentença final ocorria defronte a casa de alguém que recusava dar aos integrantes do cortejo algum alimento, ou uma bebida.

[5] Joaquim Inácio, o correspondente do “Jornal de Recife”, na mesma nota sobre o cortejo do dia de São Bartolomeu, descreveu que naquele agosto de 1862 a cólera não apareceria em Natal, que havia se extinguido na Penha, atual Canguaretama, mas grassava no engenho “Estrella”, próximo à comunidade de Flores.

BRASIL, O PAÍS DOS “DOUTORES”

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Praga das pragas e indicativo severo do grau de subdesenvolvimento humano da nação, a utilização indiscriminada do “Doutor” para referir-se a outras pessoas é algo que deveria ser combatido diuturnamente.

Pra começar, “Doutor” não é pronome de tratamento. Pronome de tratamento é “Vossa Excelência”, “Vossa Senhoria”, “Vossa Santidade”, etc. “Doutor”é título. Designa a pessoa que concluiu, com sucesso, um curso de doutoramento, alcançando o mais alto grau acadêmico. A rigor, somente para essas pessoas se deveria conceder tal distinção. Mas, como todo mundo sabe, não é isso que acontece na prática.

Por atenção a uma suposta “tradição”, costuma-se dispensar também o “tratamento” a bacharéis em medicina. Coloco entre aspas porque não faço idéia nem consegui achar a origem da tal “tradição”. Vá lá. Pode ser que haja alguma explicação histórica que justifique o uso.

Para os bacharéis em direito, a origem da “tradição” é legal. Havia uma Lei de 11 de agosto de 1827 a determinar que os bacharéis em direito adquirissem o título de doutor pelo tão-só fato de se formarem. Coisa de país escravocrata; uma forma sub-reptícia de legitimar a exclusão social. Apesar de a lei já ter sido revogada, seu uso ainda persiste na prática. Vira e mexe, encontram-se no endereçamento de petições judiciais referências ao “Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Fulano de Tal”.

Francamente, não sei o que o advogado pretende ganhar babando o ovo do juiz a esse ponto. Juiz não vai deixar de deferir ou indeferir um pedido porque foi chamado de “doutor”. Aliás, desconheço julgador que tenha por hábito ler endereçamento de peça. Vai-se normalmente direto ao pedido. Depois, se o caso exigir, lê-se o relato dos fatos. Por último, lê-se a fundamentação, quando não houver da parte do próprio julgador convicção formada sobre a matéria.

Esse hábito não é recomendado pelo Manual de Redação e Estilo da Presidência da República Brasileira. Segundo ele, “doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico. Evite usá-lo indiscriminadamente. Como regra geral, empregue-o apenas em comunicações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem concluído curso universitário de doutorado. É costume designar por doutor os bacharéis, especialmente os bacharéis em Direito e em Medicina. Nos demais casos, o tratamento Senhor confere a desejada formalidade às comunicações“(Wikipedia).

Por isso, no seu dia-a-dia, evite o uso indiscriminado da expressão. Restrinja seu uso àqueles que fizeram por merecer. O uso atual só desfavorece a civilidade e o respeito às boas maneiras.

Fonte – http://blogdomaximus.com/2011/06/28/brasil-o-pais-dos-doutores/

TRADICIONAL VAQUEIRO NORDESTINO-TIPO RARO

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Vaqueiro potiguar, sítio Gavião, Sítio Novo-RN – Foto – Rostand Medeiros.

“Bom vaqueiro nordestino
Morre sem deixar tostão
O seu nome é esquecido
Nas quebradas do sertão”     

A Morte do Vaqueiro – Luiz Gonzaga

Vemos na foto que abre este texto, produzida na metade do século passado, um encourado vaqueiro nordestino, uma visão cada vez mais rara nos sertões potiguares.

A roupa era feita para enfrentar os espinhos da mataria da caatinga nordestina. O vaqueiro corria célere pela mata, com a cabeça escorada no pescoço do seu animal, em busca de uma rês desgarrada.

Quem confeccionava estas peças eram verdadeiros mestres e no Rio Grande do Norte havia vários deles. Sobre isto tenho uma história interessante.

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Em 4 de abril 1921 desembarcava no Rio de Janeiro a chamada “Missão Internacional Algodoeira”, sob o comando do Secretário Geral da International Federacion of Máster Cotton Spinner’s & Manufacturers, o inglês Arno S. Pearce e mais dois técnicos.

Pearce desejava ver a maneira como o Brasil tratava esta malvácea e queria ir até os produtores. As visitas iniciaram-se pelo estado de São Paulo, depois foram de trem para Minas Gerais, seguindo no Rio São Francisco para a Bahia e depois em direção a Pernambuco, Paraíba e Rio grande do Norte. Sempre visualizando os tipos de fibras, os solos onde o algodão era plantado, as prensas, as fazendas.

A chegada a terras potiguares ocorre em 5 de julho de 1921, quando os integrantes desembarcam de trem na capital, às cinco da tarde, sendo recebidos pelo Delegado Regional do Serviço do Algodão no estado, Antídio Guerra, e ficando alojados na “Villa Cincinnato” ([1]).

No outro dia ocorreram visitas ao governado Antônio José de Melo e Sousa, a Escola Doméstica ([2]), a redação de “A Republica” e outros locais. Os jornais apontavam Pearce como uma “autoridade mundial em assuntos referente a algodão” e sua visita despertava vivo interesse nas classes dirigentes e econômicas do estado ([3]).

Mas como o gringo não estava para salamaleques, no dia 7 parte para o ressequido sertão potiguar, acompanhando de várias autoridades locais.

Vamos encontrá-los dias depois saindo de Mossoró por um tortuoso caminho, o grupo segue para o Brejo do Apodi, atualmente distrito do Brejo, zona rural do município de Felipe Guerra, onde os familiares maternos de Antídio, onde são regiamente recebidos pelo coronel Antônio Gurgel do Amaral ([4]).

Então os técnicos agrícolas suíços Max Syx e F. Genny, que acompanhavam Pearce na sua missão, acompanhados de Antídio Guerra e alguns de seus parentes, foram visitar a pequena vila de Pedra de Abelha, atual cidade de Felipe Guerra.

Os estrangeiros estavam desejosos de levar para Europa um souvenir da região, então lhes é mostrado a selaria de João Inácio. Consta que os europeus se mostram extremamente interessados na forma como o analfabeto João Inácio consegue lhes tomas as medidas para a confecção das roupas, utilizando métodos então em desuso na Europa de 1921. Eles se impressionam com a confecção utilizando couro de veado e se encantam com a beleza das peças. Max Syx encomenda por 350$000 réis, um traje completo de couro que será enviado pelos amigos brasileiros quando estivesse pronto. Já o artesão Inácio se impressiona com a estatura e as largas medidas que apura no suíço Syx, chamando a atenção de todos que moram no lugarejo ([5]).

Conheço bem Felipe Guerra e suas cavernas e sempre vou por lá. Ao descobrir este texto, em uma visita posterior que fiz a esta cidade eu procurei, melhor, pelejei para encontrar um Cristão que me desse o mínimo fiapo de notícia deste Mestre na arte da confecção do couro. Fui até no cemitério, mas não encontrei nada, nenhuma informação.

Realmente o seleiro João Inácio chamou a atenção dos estrangeiros, mas não de sua gente.

Mas este esquecimento não é restrito aquele município. É raro ver um vaqueiro encourado nos sertões potiguares da atualidade.

Além do mais, hoje em dia os vaqueiros do nosso estado não precisam usar esta roupa, pois quase não temos mais caatinga que justifique seu uso. Pois esta vegetação típica está sendo sistematicamente desmatada para abastecer olarias, caieiras e outros fins econômicos que utilizam lenha.

Como foi comentado, antigamente as peças que compunham este tradicional vestuário eram confeccionadas com pele de veado, pois tinham resistência e eram maleáveis. Hoje não dá. Se alguém matar um veado para arrancar o couro e fazer uma roupa de vaqueiro, o IBAMA vai tratar o vaqueiro e o artesão como bandidos. Se um vaqueiro quiser criar uma pequena quantidade destes cervídeos em um curralzinho, para também aproveitar a carne para sua família e fornecer as peles para a roupa de trabalho, se lascou de novo. Pois está criando sem autorização, sem papeis, sem seguir os mandamentos dos burocratas que vivem na cidade grande, que se acham superiores por serem “Federais” e possuírem títulos acadêmicos.

Mas vamos em frente…

Acredito que hoje, encontrar vaqueiros encourados nos sertões potiguares, como estão aqui apresentados nas fotos, só na festa da pega do boi da Fazenda Pitombeira, em Acari.

Fico feliz com o sucesso desta importante iniciativa. Recentemente vi e fiquei admirado com um documentário que mostra este evento. A produção teve a teve a narração forte e vibrante do batalhador jornalista e amigo Alex Gurgel, com filmagens realizadas pelo grande Hélio Galvão.

Ainda bem que na Pitombeira a tradição existe.

Autor – Rostand Medeiros

P.S. – Posso até estar errado e em muitas áreas do nosso Rio Grande do Norte os vaqueiros encourados estão correndo nas caatingas. Se assim for, tenho tido azar, mas não sou cego.

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[1] Então residência oficial do governo, localizada na Praça Pedro Velho. 

[2] Era prática comum na década de 1920, as autoridades locais agendarem visitas de pessoas ilustres que estivessem em Natal a Escola Doméstica. Localizada então na Praça Augusto Severo, esta escola era uma referência no ensino feminino no Brasil.

[3] Ver “A Republica”, de 7 de junho de 1921, pág. 1.

[4] O coronel Antônio Gurgel do Amaral será capturado pelo bando de Lampião em 12 de junho de 1927, quando do ataque deste cangaceiro a Mossoró e ficará prisioneiro dos quadrilheiros por vários dias.

[5] Sobre a missão Pearce no Brasil ver; Pearse, A. S., “Brazilian Cotton, being the Report of the Journey of the International Cotton Mission through the Cotton States of Sao Paulo, Minas, Geraes, Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Parahyba, Rio Grande do Norte”, pág. 10, 1ª Edição, 1923, Manchester, Inglaterra.

A CIDADE POTIGUAR DE VENHA VER E A SUA POSSÍVEL TRADIÇÃO JUDAICA

A pequena e acolhedora Venha Ver, no extremo oeste do Rio Grande do Norte. O único município potiguar que faz fronteira com dois estados, Paraíba e Ceará

Uma pequena cidade perdida no interior do Rio Grande do Norte guarda vestígios da origem judaica de sua população, cujos fundadores, em 1811, eram descendentes de cristãos-novos — judeus convertidos à fé cristã. Mesmo cristãos, os habitantes de Venha-Ver (440 km a oeste de Natal) revelam em hábitos cotidianos uma tradição particular, transmitida há séculos de geração a geração. A maioria dos habitantes, porém, não tem consciência da origem de seus ancestrais.

Os sinais mais evidentes da tradição judaica encontrados na pequena cidade pela Agência Folha são a fixação de cruzes em formato hexagonal na porta de entrada das casas, o enterro dos corpos em mortalhas brancas e os sobrenomes típicos de cristãos-novos. Os costumes de retirar totalmente o sangue da carne animal após o abate e de colocar seixos sobre os túmulos também podem ser relacionados à ascendência judaica dos habitantes. Os judeus colocam seixos sobre as sepulturas com o significado de que o morto não será esquecido.

Apesar da pretensa e antiga tradição judaica, atualmente a figura religiosa mais importante na cidade é Frei Damião, cuja a grande estátua protege a cidade

Em Venha-Ver, pôr um seixo sobre o túmulo significa uma oração à pessoa ali enterrada. O próprio nome da cidade é uma provável fusão da palavra “vem” (do verbo vir, em português) com o termo hebraico “chaver” (pronuncia-se ráver), que significa amigo, companheiro. Ou seja, Venha-Ver seria uma corruptela de “Vem, Chaver”.
Esses foram parte dos indícios relatados pelo rabino Jacques Cukierkorn em sua tese de rabinato (equivalente a mestrado) sobre a ascendência judaica entre a população do Rio Grande do Norte.

A preservação de tradições centenárias entre a comunidade de Venha-Ver foi facilitada pelo isolamento do município, situado no extremo oeste do Rio Grande do Norte, nas fronteiras do Ceará e Paraíba. Só se chega ali por uma sinuosa estrada de terra.

Na região ainda é comum a utilização de caçuas de couro de boi, bem rígidos e feitos com uma preparação bem tradicional, para o transporte de mercadorias em jumentos e cavalos

Para o rabino Cukierkorn, as cruzes de Venha-Ver têm sua origem na mezuzá — pequena caixinha com uma reza que os judeus fixam nos batentes das portas. Muitas delas têm formato hexagonal, como a Estrela de David, símbolo da fé judaica. A população explica as cruzes nas portas de suas casas como uma proteção contra o mal, o demônio, a ventania e os raios. Os judeus fixam a mezuzá nos batentes para demarcar a proteção divina sobre a casa.

Na pequena localidade, os cadáveres são envolvidos em mortalhas para serem conduzidos até a sepultura. É o que determina a tradição judaica. Esse costume é explicado pelos habitantes de Venha-Ver como algo passado de pai para filho. Há um preconceito contra o uso de caixão — recentemente introduzido nos funerais locais.

Nas portas das casas de Venha Ver é normal se encontrar cruzes feitas com palhas de coqueiros, benzidas no dia de Domingo de Ramos. Para alguns, a forma como a população coloca estes símbolos, é uma representação antiga de uma Estrela de Davi Será?

Cukierkorn vê, na forma de tratar a carne animal, a presença das regras da culinária “kasher” — determinadas pelo judaismo. Logo após o abate de um animal em Venha-Ver, os pedaços de carne são dependurados com uma corda sobre um tronco de árvore, para que todo o sangue escorra. Depois disso, a carne é salgada — prática usual entre os judeus ortodoxos.

Os sobrenomes mais comuns da população branca de Venha-Ver (parte da comunidade, de fixação mais recente, tem origem negra) são Carvalho, Moreira, Nogueira, Oliveira e Pinheiro, notadamente de cristãos-novos, conforme estudo do professor de antropologia José Nunes Cabral de Carvalho (1913 – 1979) fundador da Comunidade Israelita do Rio Grande do Norte. A repressão religiosa desencadeada pela Inquisição, particularmente nos séculos 15 e 16, fez com que uma ampla população judaica tenha sido forçada a se converter ao cristianismo em Portugal, Espanha e também no Brasil, alterando sua fé religiosa, sobrenome e comportamento social.

Entrada principal de Venha Ver

Em Natal, cinquenta famílias no inicio da cerimônia — cerca de 200 pessoas — formam a “comunidade marrana”. São famílias cujos ancestrais eram cristãos-novos e que, nas últimas gerações, retornaram à fé judaica. As famílias se reúnem uma vez por semana na sinagoga do Centro Israelita do Rio Grande do Norte, que foi fundado, em 1929, pela família Palatnik e reinangurado, em 1979, pelo ex-pastor presbiteriano e lider espiritual João Dias Medeiros.

Às sextas-feiras à noite, é celebrado o cabalat-shabat, a cerimônia religiosa que marca o início do dia sagrado para os judeus. Não há rabino. Um orador entoa as orações cantadas e seguidas pelos freqüentadores por meio de um livro (sidur) doado pela Congregação Israelita Paulista (CIP). No início da cerimônia, velas são acesas e, no final, é feita a bênção do vinho e a repartição da chalá (pronuncia-se ralá), o pão de tranças. Mulheres e homens cobrem as cabeças. A cerimônia é um rito judaico. “Nós também celebramos as festas tradicionais, como o Yom Kipur (Dia do Perdão), Rosh Hashaná (Ano Novo), Pessach (Páscoa), Purim e Shavuot”, afirma Éder Barosh. Seu sobrenome original era Barros.

Na praça principal da cidade existe uma réplica de uma antiga casa de barro típica da região, para os mais jovens conhecerem a sua história

Os integrantes da comunidade natalense também seguem a dieta Kasher, que prevê a separação entre as refeições de leite e carne. Uma ala israelita no Cemitério do Alecrim demarca a presença judaica em Natal.

Originalmente publicado pela jornalista Andréa de Lima, da Agência Folha, em Venha-Ver e Agência Folha, em Natal e copiado do site http://oestepotiguar-venhaver.blogspot.com

Fotos – Rostand Medeiros

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