HISTÓRIA MILITAR DO RIO GRANDE DO NORTE – PARTE 1 – AS LUTAS

Felipe Nery de Brito Guerra – Publicado originalmente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN, 1927, Volumes XXIII e XXIV, páginas 218 a 228.

* Informação do Blog Tok de História – Busquei atualizar alguma coisa da ortografia do texto do Desembargador Felipe Guerra, escrito em agosto de 1920, sem, contudo, alterá-lo. Devido a sua extensão, foi necessário dividi-lo em duas partes, uma dedicada as lutas e outra aos combatentes potiguares, que será a nossa próxima publicação.

Escrever a história militar do Rio Grande do Norte desde o início de sua colonização, principiada em fins do século XVI seria, pelo menos até princípios do século XVIII, escrever a história do Rio Grande do Norte, porquanto esse espaço de tempo, abrangendo um período de cerca de dois séculos, foi preenchido por sangrentas agitações, lutas e guerras.

A dominação francesa, exercida então por piratas, aventureiros, desclassificados, sem outros ideais a não ser o lucro mercantil, sempre receosos e a espera de ataques dos portugueses. O que é certo, porém, é que essa permanência constante e demorada dos franceses, embora sem estabelecimento conhecido, representava um perigo para as vizinhas e próximas capitanias, principalmente a Paraíba, de onde haviam sido repelidos.

“O mal vem do Rio Grande”, dizia-se em Pernambuco e na Paraíba. E assim, para acabar com esse mal, foi resolvida a conquista do Rio Grande, da qual foi incumbido Manoel Mascarenhas Homem, tendo Jerônimo de Albuquerque alcançado melhor êxito na empresa.

Piratas franceses no Brasil – Fonte – httpswww.goianarte.com

Não tinham então os franceses regulares instalações. Viviam, entretanto, em estreitas relações com os selvagens, habitando mesmo suas aldeias. É o que se depreende da célebre “História do Brasil” de Frei Vicente do Salvador, escrita em 1627, e onde se lê que logo ao chegar Manoel Mascarenhas Homem “ali desembarcaram e se entrincheiraram de varas de mangue para começarem a fazer o forte e se defenderem dos Potiguaras que não tardaram muitos dias. Vieram uma madrugada, infinitos, acompanhados de cinquenta franceses, que haviam ficado das naus no porto dos Búzios e outros que ali estavam casados com Potiguaras”.

Manoel Mascarenhas Homem, que lutou no Rio Grande do Norte contra os franceses – Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia

E assim ofereceriam os selvagens, auxiliados por seus aliados franceses, tenaz resistência. O que não impediu, entretanto, a fundação do “Forte dos Reys”, permitindo a criação da povoação do Natal dois anos depois — 25 de dezembro de 1599. Foi celebrada a paz com os Potiguaras, conseguida por Jerônimo de Albuquerque com a mediação de um selvagem “principal e feiticeiro”, chamado ILHA GRANDE.

A conquista do litoral brasileiro havia sido começada do norte para o sul, sendo depois continuada do sul para o norte, tendo, principalmente esta última, contado com eficaz cooperação dos naturais da terra, já representados por brancos, filhos de portugueses, por mestiços e pelos selvagens que, subjugados e pacificados pelos portugueses, eram aproveitados como seus aliados.

Os selvagens constituíam sempre o grosso das forças conquistadoras, embora não fossem, em regra, os elementos mais resistentes nos combates. Eram, entretanto, os mais resistentes às longas marchas, aos transportes e aos mais serviços exigidos em campanhas rudes e aventurosas, em que não podia se contar com auxílios minguadíssimos e retardados, senão impossíveis.

Forte dos Reis Magos, por Frans Post (1638)
– Fonte – http://noisnafolia.no.comunidades.net/pontos-turisticos

Os Potiguares, que dominavam o litoral do Rio Grande do Norte, uma vez pacificados, foram valiosos e fortes elementos para a conquista do norte. Não existindo mais o “mal vindo do Rio Grande», que passara para o Ceará e para o Maranhão, foi resolvida a conquista desses pontos, onde os franceses procuravam se firmar. Ainda foram os Potiguares elementos preponderantes para a conquista do primeiro daqueles territórios.

Expulsos os franceses do litoral, de Paraíba ao Maranhão, as novas populações que procuravam se estabelecer não ficaram na tranquilidade da paz. Nem todas as tribos haviam feito amizade com os colonizadores; e mesmo no meio daquelas tidas como amigas, surgiam ataques e desconfianças que traziam para a região um verdadeiro estado de guerra, rompendo a duvidosa paz, sempre de curta duração..

Veio depois a guerra holandesa. O Rio Grande do Norte foi duramente sacrificado na luta. Tomada a Fortaleza dos Reis Magos (12 de dezembro de 1533) por uma força holandesa guiada por Calabar, sofreu o Rio Grande do Norte com o invasor até o final da guerra holandesa no Brasil. Esteve assim esta terra dezenove anos sob o domínio batavo.

Florin holandês de ouro. Essa foi a primeira moeda a conter o nome Brasil e foi produzida pelos holandeses durante a ocupação de Recife – Fonte – https://en.wikipedia.org/wiki/Dutch_guilder

Calabar conseguira angariar para os holandeses a amizade dos Índios Janduís, que unidos aqueles praticaram horríveis massacres. Fácil é de imaginar o que seria a guerra movida por selvagens açulados por aventureiros da pior espécie, como parece que eram os holandeses enviados para o Rio Grande do Norte. Chegaram a negociar prisioneiros como animais para o corte, destinado a pasto dos antropófagos Janduís.

Finda a guerra holandesa pela expulsão dos invasores, continuou a luta no Rio Grande contra os Índios, sempre dispostos a defender sua vida selvagem e sem peias. Houve mesmo uma rebelião generalizada dos nativos que durou longos anos, nada respeitando, nem a vida nem os habitantes do Rio Grande, que já contava elementos de prosperidade. Foi calculado que os índios mataram “perto do trinta mil cabeças de gado grosso e mais de mil cavalgaduras”. Essa rebelião durou de 1688 a 1720, quer dizer, 32 anos, talvez mais, porquanto não se acha bem estudado esse ponto da história. Foi um movimento sério e perigoso. Pedidos insistentes de socorro partiram para Pernambuco, para a Bahia, e até diretamente seguiu um emissário para Lisboa, levando uma representação do Senado da Câmara ao Rei, tais as delongas do auxílio reclamado.

“Cena da Expedição do Tenente-Coronel Affonso Botelho”, aquarela do artista Joaquim José de Miranda (1771) que retrata o confronto entre indígenas e bandeirantes. Provavelmente cenas como essa ocorreram no Rio Grande do Norte – Fonte – https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revolta/guerras-barbaras/

Do litoral ao alto sertão era grande o perigo que ameaçava a própria Natal, sendo, o ponto culminante da rebelião a ribeira do Assú. Vieram em excursões guerreiras tropas da Paraíba, de Pernambuco e da Bahia. Vieram os ”terços paulistas” que haviam lutado em Palmares, vieram companhias do Batalhão de Henrique Dias. Essas forças, os melhores elementos de luta então disponíveis pelo Governo do Brasil, subiram até as cabeceiras do rio Assú, foram às ribeiras do Seridó, do Apodi até ao Jaguaribe, em perseguição dos índios que foram afinal pacificados, isto é, aniquilados, escorraçados, sendo tomada a providência de aldear os restantes. Ainda em tais aldeamentos apareciam insurreições dos índios motivadas por excessivos rigores e injustiças. Nenhuma condescendência havia para o infeliz selvagem, a quem de fato era negado qualquer direito.

Seguramente Miguel Joaquim de Almeida Castro, o Padre Miguelinho, foi o potiguar que mais expresivamente tomou parte na revolução de 1817 e acabou sendo fuzilado. Em junho de 1906, no 89º aniversário do fuzilamento, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, promoveu uma série de homenagens em Natal . Houve uma sessão solene no então Teatro Carlos Gomes, atualmente Teatro Alberto Maranhão, na noite de 12 de junho de 1906, onde um coro feminino cantou o “Hino de Miguelinho”, letra de Henrique Castriciano e música de Luigi Maria Smido, cuja a capa da partitura apresentamos acima – Fonte – https://gamfrente.blogspot.com/2017/03/padre-miguelinho-luz-do-rio-grande-do.html

Na revolução de 1817, não é ignorado o papel que representou o Rio Grande do Norte. Pode-se dizer que essa página luminosa da história nacional se caracteriza no seu conjunto mais pela pureza de seus chefes, pelo estoico heroísmo dos que nela figuram, pela elevação dos ideais, pelo pendor doutrinário, do que por feitos militares e ação guerreira. E foi essa seguramente uma das causas que apressaram o fracasso da revolução.

Em agitações partidárias passou a Província as fases da Independência Nacional. Tomou parte na revolução da “República do Equador”.

Os corajosos e mal organizados destroços das forças revolucionárias de 1824 seguiram por terra, em dificultosa marcha por ínvios sertões de Pernambuco ao Ceará, procurando junção com as forças que nessa Província apoiavam o movimento revolucionário. Foi uma verdadeira retirada de cerca de três mil pessoas, conduzindo duas peças de artilharia, arrastadas por caminhos impraticáveis e arrostando todas as dificuldades que podem acompanhar forças sem disciplina, sem organização militar, sem recursos e sem alentadoras esperanças.

Quadro “Estudo para Frei Caneca”, de Antônio Parreiras (1918), mostrando o padre revolucionário em seu julgamento – Fonte – https://en.wikipedia.org/

Atravessaram o sertão do Rio Grande do Norte entrando pelo Seridó, seguindo para Pau dos Ferros pelos limites entre Rio Grande do Norte e a Paraíba. No Seridó, onde o presidente provisório da Paraíba deixou sua família, que com ele vinha acompanhando a expedição, da qual também fazia parte o nobre, elevado e culto espírito que era Frei Caneca, não foram hostilizadas as forças. Em Caicó, demoraram-se oito dias, concertando as carretas das peças que eram puxadas por bois. Em Patu de Fora, começou a expedição a sofrer hostilidades e também a hostilizar. Foram incendiadas algumas casas e fazendas.

Em Torrões (ou Torões), Patu, houve forte tiroteio, morrendo mais de trinta pessoas de parte a parte. Parece que batalhões irregulares de Portalegre organizaram guerrilhas, unindo-se depois com as forças legalistas do Rio do Peixe (PB).

Foto – Rostand Medeiros.

Serenada a luta pela submissão dos rebeldes, seguiram-se o martírio e as exageradas punições de infelizes chefes rebeldes, sonhadores antecipados dos ideais republicanos, vítimas da crueldade das juntas militares, tão tristemente célebres na história pátria.

Os habitantes do Rio Grande do Norte conservaram sempre prontos para qualquer emergência, chegando a formar batalhões de tropas irregulares, contra os reacionários de 1832, apoiando a política do então ministro da justiça e depois Regente do Império, padre Diogo Antônio Feijó.

Iniciada no Ceará em dezembro de 1831, com a proclamação de Joaquim Pinto Madeira, essa revolta obedecia aos ideais do Partido Restaurador, ou Caramuru, apoiado pelos portugueses. Formou-se no sertão do Rio Grande do Norte batalhões de tropas irregulares que marcharam para o Crato contra os revolucionários. De Martins e Portalegre seguiu um batalhão sob o comando do coronel Agostinho Pinto de Queirós. Conta-se que na primeira noite de marcha dois soldados de família do Martins, os irmãos Patrícios, tentaram voltar para casa, sendo por isso, ao amanhecer, sumariamente fuzilados. O comandante da tropa foi processado por esse fato e depois, por prescrição, isento da pena.

Pintura em azulejo de Armando Lopes Rafael (2010), representando Joaquim Pinto Madeira – Fonte – https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revista/a-guerra-dos-cacetes-bentos/

Sob o comando do coronel José Teixeira se organizou um batalhão no Seridó, do qual faziam parte os homens válidos das principais famílias. Incorporada à força combatente e reunida em Caicó, o padre Francisco de Britto Guerra, então vigário da cidade e representante da Província na Câmara Temporária, onde entrara como suplente, intimamente relacionado com o padre Feijó, e talvez o principal fator do movimento, promoveu uma grande solenidade cívico-religiosa por ocasião da partida da força. Seguiram todos montados para Pombal onde se uniram as forças da Paraíba, principiaram a receber instrução militar ministrada pelo alferes Canuto, de tropa de linha do Ceará.

Nas várzeas do Rio do Peixe (PB), houve o primeiro encontro entre esse batalhão do Seridó e as forças de Pinto Madeira, tendo estas atacado de surpresa, procurando tomar o valioso comboio dos víveres e munições dos seridoenses. O resultado foi as forças de Madeira retirando-se do combate com a perda de doze homens.

Manuel de Assis Mascarenhas, presidente da Província do Rio Grande do Norte ente 1838 a 1841, em cujo governo concedeu a patente de Coronel Comandante ao seridoense Joãop Gomes da Silva, pela sua capacidade de luta nos combates contra as forças de Pinto Madeira em 1831 – https://pt.wikipedia.org

O batalhão do Seridó continuou em marcha afim de reunir-se com as forças legalistas que no Ceará procuravam abafar a revolta, havendo pelo caminho alguns encontros. Terminada a luta, voltou a tropa ao Caicó, onde foi recebida com festas, aclamações, Te Deum na igreja, etc. Por ocasião dessas festas da chegada, foi aclamado pelos soldados o comandante das forças o quartel mestre João Gomes da Silva, que se havia distinguido na expedição, aclamação que anos depois no governo de Manoel de Assis Mascarenhas (1838 – 1841) foi confirmada com a patente de Coronel Comandante.

Muito é de notar que em todas essas lutas político-partidárias, os sertanejos do Rio Grande do Norte, serenados os ânimos, evitavam ódios inúteis, crueldades, perseguições e delações contra os vencidos.

A tradição narra mesmo o fato de haver Simão Gomes de Britto, capitão de milícias em Campo Grande, recebido ordem superior para prender o Coronel Cavalcante, implicado na revolução de 1817. Mas este apresentou a ordem de prisão ao seu amigo e pediu para que tomasse suas precauções. Acrescentou: — “Dê no que der, não o prenderei, porque sei que não cometeu crime”. E efetivamente não tentou fazer a prisão. Entretanto, o Coronel Cavalcante, ou porque se julgasse inocente, ou por altivez de caráter, ou ainda para evitar a responsabilidade do amigo, foi se entregar, e sofreu os rigores daqueles horríveis cárceres, onde foram martirizados os patriotas de 1817.

Óleo sobre tela de Eduardo de Martino, que retrata a troca de tiros que culminaram na primeira passagem de navios brasileiros por Passo de Tonelero em 1851, onde os argentinos construíram fortificações que bloqueavam a navegação no Rio Paraná. Domínio público, Revista de História da Biblioteca Nacional – Fonte – https://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/historia-do-brasil/brasil-monarquico/8979-quest%C3%B5es-platinas-a%C3%A7%C3%B5es-militares-no-segundo-imp%C3%A9rio

Nas guerras contra as repúblicas do Rio da Prata numerosos filhos do Rio Grande do Norte acudiram em defesa da pátria.

Quatro meses depois de declarada a Guerra do Paraguai, embarcou em Macau um contingente de mais de sessenta voluntários, dos quais trinta e três eram do Assú, além de onze de Campo Grande, que haviam seguido diretamente para a Capital. É conhecido o fato de haver o Dr. Olinto José Meira de Vasconcelos, então Presidente da Província (1863 – 1866), dirigido a palavra na capital, a grupos que se achavam em manifestações em frente ao quartel, apelando para o patriotismo de todos e pedindo dar um passo à frente aqueles que quisessem seguir para a guerra. Mais de 400 voluntários moveram-se para a frente. De todos os pontos da Província seguiram Voluntários da Pátria, sendo também crescido o número de recrutados. E o papel que na guerra desempenharam os rio-grandenses-do-norte ajudou ao merecido renome adquirido pela infantaria do norte.

O brasileiro Symphonio dos Santos uniformizado para combater na Guerra do paraguai – Fonte – http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=92142

Na proclamação da República, na revolução federalista do sul, na revolta da armada, em Canudos, os filhos do Rio Grande do Norte cumpriram sempre seu dever.

Sob as ordens de Plácido de Castro, nas lutas acreanas, encontraram-se também inúmeros rio-grandenses-do-norte, destemidos e audazes pioneiros da colonização e conquista das mais recuadas fronteiras da Pátria, os quais tangidos do torrão natal por atormentadoras secas, forneceram, com seus irmãos de outros Estados, por igual vítimas da calamidade, os elementos vitais, talvez os únicos possíveis para o colossal empreendimento da colonização da Amazônia.

De fato, outras populações vivendo certamente sob um clima mais doce e uma natureza mais amena, não estariam, como os nossos sertanejos, tão habituados a receber e aguentar o choque e a destruição das mortíferas forças da natureza amazônica, com a mesma resignação, com o mesmo esforço e coragem com que encaram e recebem as furiosas cargas das nossas devastadoras secas.

Na execução da recente lei do serviço militar (1916) raro é o sorteado dessa terra que deixa de acudir ao chamado: talvez nenhum listado da União apresente menor número de insubmissos.

Eis aqui, a largos traços, a vida militar do Rio Grande do Norte: lutas constantes durante dois séculos, sempre aceso o sentimento de patriotismo, de abnegação, de sofrimento. E por isso mesmo, apesar de uma bissecular educação guerreira, os filhos do Rio Grande do Norte têm acentuadamente o caráter pacífico: o banditismo, o caudilhismo, e as lutas por fanatismo nunca encontraram apoio entre eles.

Para conhecerem a biografia de Felipe Guerra é só acessar esse link – https://fatosdefelipeguerra.blogspot.com/2019/10/felipe-guerra_31.html 

1945 – ALGUNS ASPECTOS DA GRANDE PONTE AÉREA CRIADA PARA TRAZER OS SOLDADOS AMERICANOS DA EUROPA ATRAVÉS DE NATAL

Uma Ideia Desse Retorno e Os Momentos Desses Militares em Parnamirim Field

Autor – ELTON C. FAY – Redator da equipe da Associated Press.

Publicado Originalmente no THE BINGHAMTON PRESS, de Binghamton, New York, EUA, edição de sábado, 25 de agosto de 1945

CADERNO DE CORRESPONDENTES: SOLDADOS RETORNANDO AOS ESTADOS UNIDOS POR VIA AÉREA A UMA TAXA DE 700 HOMENS POR DIA.

Natal, Brasil – Mais de 32.000 soldados vindos da Europa para casa, passam por esta Base Aérea dos Estados Unidos na região oriental da América do Sul. Eles passam em um fluxo constante. Mais de 700 homens por dia vem em aviões de Casablanca, Norte da África, em voos de até 17 horas. Apenas alguns dias a mais e eles estarão em casa.

Esses jovens tiveram sorte. Eles são prioridade máxima. Em geral, eles são homens destinados a baixa do serviço ativo. Separados de suas antigas organizações militares e movendo-se como indivíduos eles não teriam prioridade de viagem, que foi definida originalmente quando era urgente a redistribuição de soldados para os campos de batalha do Pacífico. Sob circunstâncias normais eles seriam os últimos a sair Europa por navios oceânicos, demorando alguns meses para isso.

Parnamirim Field – FOTO GETTY – IVAN DIMITROV

Mas a maior companhia aérea do mundo – A Força Aérea do Exército dos Estados Unidos e o seu Comando de Transporte, no entanto, tinha aviões – centenas deles a mão.

Este é um exemplo aonde o caminho mais curto para casa pode ser através do trecho mais longo. De navio eles teriam de percorrer cerca de 3.000 milhas, e de avião mais do que o dobro dessa distância. Seguindo uma rota descendo para Casablanca, Marrocos, cruzando a linha do equador e atravessando o Oceano Atlântico até Natal. Depois voando através do Caribe até os Estados Unidos. Em navios de transporte de tropas os soldados levariam em média 10 ou 12 dias através do Atlântico Norte. Já fazendo a viagem aérea pelo Sul, eles alcançam os Estados Unidos em cerca de três dias.

O acampamento militar de Parnamirim Field – FOTO GETTY – IVAN DIMITROV

O Campo de Parnamirim e seu imenso acampamento militar é o ponto de transferência do soldado-viajante. Ele pousa aqui no meio do caminho para casa, geralmente em um avião de transporte quadrimotor Douglas C-54. Muitos talvez estejam cansados de ficar ouvindo o barulho dos motores por 17 horas e até um pouco mais. Fartos das rações K – mas com os Estados Unidos a apenas dois dias de viagem.

Desembarque de um militar americano de uma aeronave C-87, enquanto um técnico brasileiro prepara-se para colocdação de inseticida na aeronave contra a malária – FOTO GETTY – IVAN DIMITROV

O grande avião taxia até a linha principal, representantes do Exército Americano sobem a bordo, incluindo médicos que fazem a colocação de pesadas doses de spray inseticida que enche o avião. A ideia é evitar que os insetos que transmitem a malária desembarquem impunimente por aqui, ou sigam mais adiante.

Alguns Estão Assustados.

Douglas C-54 – Foto – US Army.

Um ou dois deles dormiram no caminho em seus assentos, ou enrolados em um cobertor no chão. Muitos dos homens, muitas vezes a maioria, nunca voaram antes.

Eles estão cansados. De vez em quando eles ficam com medo das sacolejadas no voo. A terra parece boa para eles. Eles contam e repetem o pior de seus medos que passaram na viagem – o salto sobre a água, sobre o Atlântico (sem perceberem que logo mais adiante estariam voando centenas de quilômetros sobre a selva amazônica).

So9ldados americanos em trânsito por Parnamirim Field Fonte – FOTO GETTY – IVAN DIMITROV

Houve alguns casos tremendos em que os soldados recusaram a seguir de avião pelo medo. Nesse caso estes eram despachados para Recife afim de embarcarem para casa no próximo navio a vapor. O Exército não pode obrigar seus homens a voar.

Seria possível em menos de duas horas transferir esses soldados dos grandes aviões transoceânicos para os transportes bimotores menores com destino ao Estados Unidos, mas os homens são mantidos aqui (Parnamirim Field) para dormir em beliches e ter refeições regulares.

A média de permanência deles é de 24 horas. O mau tempo daqui até Miami, Flórida, às vezes reduz o número de operações de voo diárias e exige uma estadia um pouco mais longa.

Não Consigo Sair Do PX

O objetivo é tornar a vida tão mais agradável possível. (Nenhum lugar é melhor que casa para um soldado indo nessa direção.) Natal, por uma aberração do clima, é um local fresco, varrido pela brisa constante, mesmo localizado em uma região seca.

Trabalho normal e diário em Parnamirim Field – FOTO GETTY IVAN DIMITROV

Para seguir os regulamentos de saúde do governo brasileiro o soldado em trânsito não pode sair desse posto, até mesmo para a cidade próxima de Natal. Mas ele encontra aqui um entretenimento melhor que a configuração média e uma chance de se exercitar, comer e dormir.

Esses soldados vão encontrar, no entanto, alguns aborrecimentos antes que ele tenha aquele pedaço de papel que vai libertá-los das regras, regulamentos e do exército. O oficial de instrução que conheci a bordo do avião me disse, com um sorriso irônico: “– Você vai descobrir que quanto mais perto chegar de casa, mais difícil será a guerra. Mantenha a camisa abotoada e as calças arregaçadas”.

Para um soldado que deseje realizar uma viagem de compras, este é o lugar. Possui um dos maiores posto de trocas (PX) do exército. Mensalmente, as vendas aumentam como US$ 500.000 (quinhentos mil dólares). O produto que está no topo da lista dos soldados para compras é a “bota mosqueteira”, uma meia bota de couro fabricada em toda a América do Sul. Bolsas de couro de jacaré vem em segundo lugar.

1945 – ALGUNS ASPECTOS DA GRANDE PONTE AÉREA CRIADA PARA TRAZER OS SOLDADOS AMERICANOS DA EUROPA ATRAVÉS DE NATAL - Um Pequeno Vislumbre Desse Retorno e Os Momentos Desses Militares em Parnamirim Field
Outro aspecto do C-54 – Foto – US Army

Alguns homens, cerca de meia dúzia por dia, descobrem que pequenas doenças interrompem a viagem para casa. Se eles mostram temperaturas alteradas, ou outras evidências de doenças, elas permanecem em Parnamirim até o problema desaparecer e assim evitar que alguma doença contagiosa se instale.

ELTON C. FAY foi um repórter da Associated Press que atuou nos conflitos que envolveram os Estados Unidos, desde a Segunda Guerra Mundial até a Guerra do Vietnã. Ele foi um dos poucos repórteres informados antes dos bombardeios do general Jimmy Doolittle contra no Japão em abril de 1942 e durante o resto do conflito escreveu sobre os principais eventos da guerra. Esteve em duas ocasiões em Natal e Parnamirim Field. Fay ingressou no serviço de notícias em Albany, New York, e mudou-se para Washington em 1932, cobrindo o antigo Departamento da Marinha e depois junto ao Pentágono. Faleceu aos 81 anos, em 1º de setembro de 1982.

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1818 – UM MATRIMÔNIO AFRO-LUSITANO NO SERIDÓ POTIGUAR

AUTOR – Antônio Luís de Medeiros – São João do Sabugi – RN

Se os portugueses discriminavam os índios, muito mais faziam com a raça negra. Então este casamento de um português com uma sua escrava foi um fato raríssimo ocorrido no nosso Seridó há mais de dois séculos.

Nosso saudoso Olavo de Medeiros Filho comentava conosco esse ineditismo. Ele fazia a comparação com o romance Iracema, de José de Alencar, sendo este a miscigenação do português com o índio enquanto o consórcio matrimonial de José Antônio da Costa com Rita Maria, sua ex-escrava seria a união de sangue ibérico com sangue africano.

Ao primeiro dia do mês de julho de mil oitocentos e dezoito, pelas oito horas da noite, nessa Matriz do Seridó, em minha presença e das testemunhas o Reverendo Manoel Teixeira da Fonseca e o Capitão Tomaz de Araújo Pereira, casado, se receberam em matrimônio por palavras de presente José Antônio Costa, europeu, natural de Santarém e Rita Maria, parda, que havia sido sua escrava. Natural da Vila de Icó, Ceará, donde justificam o estado de livre e desimpedidos e igualmente da naturalidade do contraente confinada aos banhos por faculdade do Ilustríssimo Senhor Provedor e Governador do Bispado Manoel Vieira de Lemos aos vinte e seis de maio do corrente ano, como consta dos papéis que ficam emaçados, e declarava o contratante ser filho legitimo de Antônio Pereira de Amorim e de Teresa Maria Maciel, moradores na dita Freguesia de Santarém, de Nossa Senhora das Maravilhas, no Patriarcado de Lisboa, e logo lhe dei as bênçãos  de que para tudo constar fia este assento que com as ditas testemunhas assino.

O Vigr° Francisco de Brito Guerra

                 Pe. Manoel Teixeira da Fonseca – Tomaz de Araújo Pereira

Fonte: 2º Livro de Casamento da Freguesia da Senhora Santana do Seridó, período de 1809/1821, fls. 124 / 125.

Documento de 1818.

Neste modesto trabalho, de poucas linhas, nossa intenção é comentar, superficialmente, a convivência harmoniosa de nossos antepassados com seus poucos escravos na região seridoense. Sendo a atividade pastoril a principal fonte de renda da população, poucas posses dos fazendeiros e dificuldade de sobrevivência era grande a desigualdade patrimonial entre a região litorânea e sertaneja nordestinas.

Com as agruras do meio enfrentadas tanto pelo senhor quanto pelos escravos formava-se um sentimento fraterno e mais humano entre ambos. Os escravos casavam religiosamente, moravam em suas casas, com suas esposas e os filhos, iguais aos “moradores livres”. Nunca encontramos resquícios de senzalas no Seridó. Só nos engenhos do brejo e outras regiões distantes. Nas grandes secas seus senhores passavam as mesmas privações que eles.

Casa Grande da Fazenda Dinamarca, Serra Negra do Norte – RN. Foto meramente iliustrativa – Fonte – Antônio Luís de Medeiros.

João Paulino, da fazenda Pitombeira, em São João do Sabugi, parecia ter mais escravos que bois. Diziam que ele e seu irmão o Ten. Cel. José Evangelista, da fazenda Ipueira, nunca venderam um só escravo.

Coma libertação da escravatura no Brasil, em 13 de maio de 1888, os antigos escravos permaneceram morando na mesma casa, plantando o mesmo roçado de miunças (ovelhas e cabras), com terreiro de galinhas, porco no chiqueiro e um jumento cargueiro para as suas necessidades.

Contrastando com todas as dificuldades do meio e da época, encontramos a maior fortuna do Seridó do século XIX, em Serra Negra, no inventário de Maria Jesus José da Rocha, pernambucana de Pau D’alho, falecida em 1854, esposa de Manoel Pereira Monteiro (o 3º), pais de Antônio Pereira Monteiro – Cangalha. Só para citar alguns dados: 62 peças em ouro, 41 em prata, 52 escravos, 50 bois mansos, 1.338 vacas paridas, 55 touros, 1.200 bois criados, 136 cavalos, extensas fazendas nas Províncias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, 18 contos de réis em dinheiro e muitos outros bens.

Esperidião Medeiros com a família, cerca de 1918 a 1920 – Fonte – Antônio Luís de Medeiros.

Em antigas fotografias aparece sempre uma negra fazendo parte da família como mostra o registro acima de Esperidião Medeiros com a sua esposa e seus 12 filhos, possivelmente entre 1918 e 1920.

Quando faleceu a preta Irene, que havia sido sua ama na infância de Manoel Bandeira ele dedicou-lhe o poema, Irene no céu.

Irene Preta.

Irene boa.

Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:

– Licença meu branco!

E São Pedro bonachão:

– Entre, Irene. Você não precisa pedir licença.

Gentilmente após a publicação desse material, recebi no Facebook, de “Literatura do Seridó”, a informação que essa senhora da foto é Aureliana Aurélia de Albuquerque, ou, como era mais conhecida, “Dedé”.Agregada à família, cuja a criançada a consideravam como uma segunda mãe. Nasceu em Caicó no dia 16 de junho de 1876, e faleceu na mesma cidade, no dia 18 de janeiro de 1953, aos 77 anos de idade. E segundo o autor do texto a criança da foto é Aldo Medeiros, que foi casado com Dona Mili, filha do casal Dinarte de Medeiros Mariz e Dona Diva. Aldo e Dona Mili casaram no ano de 1940.

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VOCÊS SABIAM QUE UM DIA O GRANDE ASTRO DE CINEMA HENRY FONDA ESTEVE EM NATAL?

Pois esse é o tema do nosso novo artigo nas paginas da mais nova Revista BZZZ, cuja editora é a competente jornalista Eliana Lima. Já nas bancas!

A FAZENDA RIBEIRO DE SÃO JOSÉ DE MIPIBU E SUAS HISTÓRIAS

Rostand Medeiros – https://pt.wikipedia.org/wiki/Rostand_Medeiros

Muitas das antigas e tradicionais fazendas do interior do Nordeste vem sofrendo de intenso abandono e destruição, fazendo com que suas histórias caiam no puro e simples esquecimento.

Alguns acham que isso é até uma coisa boa, pois muitos desses locais foram antros de intensas opressões, iniquidades, perseguições, mortes e outras mazelas. O problema dessa ideia é que várias dessas antigas estruturas possuem enorme importância histórica, com informações que ampliam o conhecimento sobre o passado da nossa região e a perda destes locais é algo bastante complicado e irreversível. 

Casa Grande da Fazeneda Ribeiro, em São José de Mipibu – Foto – Rostand Medeiros

Por isso é sempre positivo encontrar uma antiga propriedade rural bem preservada e com muitas histórias. Esse é o caso da Fazenda Ribeiro, a cerca de seis quilômetros da cidade potiguar de São José de Mipibu.

A casa sede está, pelo menos para que a vê de fora, muito bem conservada, pintada de branco e detalhes azuis.

Foto – Rostand Medeiros

Segundo o pesquisador e blogueiro Daltro Emerenciano, em um artigo sobre a história da Fazenda Ribeiro (https://www.blogdedaltroemerenciano.com.br/2012/10/pedacos-do-nosso-rio-grande-do-norte/), informou que o agricultor Francisco Sales e Silva foi o patriarca da família Ribeiro Dantas e Duarte e teria construído uma primeira casa grande na área da propriedade Ribeiro entre o final do século XVIII e o início do seguinte. Nesse mesmo período foi “erguida uma capela em estilo colonial barroco, em homenagem a São João e também montada em separado uma primitiva engenhoca movida à tração animal e destinada a fabricação de açúcar bruto e seus derivados e, por conseguinte, aquele local passou a ser a primeira sede da Fazenda Ribeiro”.

Foto – Rostand Medeiros

Emerenciano comentou que essa propriedade esteve envolvida nos acontecimentos ligados a chamada Revolução Pernambucana de 1817. Ele publicou que “Pelo relato que se tem daqueles que pesquisaram sobre o movimento em prol da independência do Brasil e que culminou com a eclosão da revolução de 1817, as reuniões para a divulgação das ideias liberais e adesão do maior número de simpatizantes, eram realizadas em pontos afastados da capital, inclusive na cômoda e espaçosa Casa Grande do SÍTIO RIBEIRO. Ali o Coronel de Milícias, André de Albuquerque, mentor do movimento em nossa província, conferenciava com os homens de influência de Natal e vilas do interior, ocasião em que era oferecido aos convivas um farto banquete servido em baixelas de prata”.

Necrológico de Horácio Cândido Sales e Silva, publicado em 28 de setembro de 1903.

Foi um neto de Francisco Sales e Silva, chamado Horácio Cândido Sales e Silva (26/09/1838 – 27/09/1903), bacharel em direito, que transferiu a sede da propriedade para um local mais apropriado, onde construiu a nova sede, a casa destinada ao engenho e uma capela, cujos padroeiros são Santa Ana e São Joaquim. Infelizmente não conseguimos apurar as datas dessas construções, mas soubemos que Horácio Sales importou da Europa o maquinário e acessórios necessários a montagem da moenda do engenho movida a vapor, em substituição a antiga engenhoca movida à tração animal.

Capela da Fazenda Ribeiro – Foto – Rostand Medeiros.

Sobre a capela existente ela tem uma característica muito interessante que é o seu alpendre, algo que não vejo com frequência nas antigas capelas do Rio Grande do Norte.

Horácio casou duas vezes. A sua primeira esposa, Anna Vivina de Sales e Silva, nasceu em 17 de dezembro de 1845, teve oito filhos e faleceu em 6 de junho de 1877. Já a segunda, Joaquina Marcolina Ribeiro Dantas (27/01/1854 – 27/02/1941), teve cinco filhos, sendo o terceiro um menino que se chamou Celso Dantas Sales e nasceu na Fazenda Ribeiro em 4 de julho de 1884.

Lápides de Horácio Sales e suas esposas – Foto – https://www.familysearch.org/

Esse jovem ingressou na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 10 de dezembro de 1904. Um ano depois foi nomeado promotor público de Acari, onde conheceu Josefa Leonila de Araújo (16/04/1903 – 22/11/1959), conhecida como Teca, com quem casaria no ano de 1918. Essa jovem era filha dos acarienses Manoel Ubaldo da Silva Neto e Leonila Sérvulo de Araújo.

Celso Dantas Sales, pai de Dom Eugênio, em 1904 – Foto – Fundação Joaqiuim Nabuco.

Depois o Doutor Celso foi transferido para o estado Amazonas, onde exerceu o cargo de juiz de direito nas cidades de Lábrea, Benjamin Constant e outros municípios. Voltando ao Rio Grande do Norte em 1914, atuou como juiz em Acari. Em 8 de novembro de 1920, ainda em Acari, nasceu o segundo filho do juiz Celso e Dona Teca, que foi batizado como Eugênio de Araújo Sales.

No mesmo ano do nascimento do segundo filho, o juiz Celso foi designado para a cidade potiguar de Nova Cruz, sendo depois transferido, a pedido, para a Comarca de São José do Mipibu. Nessa cidade nasceram outros filhos do casal, inclusive Dom Heitor de Araújo Sales.

O pequeno Eugênio, ao centro, com os pais e o irmão Sílvio – Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%AAnio_Sales

Na sequência veio trabalhar em Natal, onde foi membro das Juntas de Sanções, depois foi nomeado desembargador por decreto em 30 de novembro de 1926 e atuou como Procurador Geral do Estado, conforme está descrito em seu necrológico no jornal natalense “A República”, publicado em 16 de outubro de 1934, quatro dias após o seu falecimento em Fortaleza, Ceará, devido a tuberculose.

Infelizmente sobre a vivência e convivência da família do Doutor Celso, Dona Teca e seus filhos na Fazenda Ribeiro eu não consegui maiores informações, mas seguramente o jovem Eugênio se tornou o potiguar com a mais expressiva história de atuação na Igreja Católica.

Depois de fazer estudos humanísticos no Colégio Santo Antônio em Natal, ingressou no seminário em 1937. Foi ordenado por Dom Marcolino Dantas sacerdote em 21 de novembro de 1943. Em seguida passou a exercer o ministério pastoral em Nova Cruz e na sequência foi chamado ao Seminário de Natal, onde atuou como encarregado de suprimentos, professor e diretor espiritual. Entre muitas outras atividades, o Padre Eugênio foi capelão da Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte, no posto de Capitão.

Sino da capela da Fazenda Ribeiro – Foto – Rostand Medeiros.

Em 1 de junho de 1954, aos 33 anos, foi nomeado bispo auxiliar de Natal pelo Papa Pio XII e ordenado bispo no dia 15 de agosto de 1954, pelas mãos de Dom José de Medeiros Delgado, Dom Eliseu Simões Mendes e de Dom José Adelino Dantas. Posteriormente, em outubro de 1962, foi designado administrador apostólico da Arquidiocese de Natal. Aqui promoveu uma série de iniciativas que rapidamente se espalharam por todo o Nordeste do Brasil: fundou o serviço de assistência social aos trabalhadores rurais, centros educacionais e transmissões de rádio para ensino fundamental e médio.

Região rural da Fazenda Ribeiro – Foto – Rostand Medeiros.

Em 6 de julho de 1964 foi nomeado Administrador Apostólico em Salvador, Bahia, e em 29 de outubro de 1968 tornou-se Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, pelo Papa Paulo VI. Nesta Arquidiocese iniciou novas iniciativas pastorais e promoções sociais para os menos favorecidos. Também dirigiu o departamento de ação social do Conselho Episcopal Latino-Americano e participou do Concílio Vaticano II.

Foi proclamado Cardeal pelo Papa Paulo VI no consistório de 28 de abril de 1969. Em 29 de outubro de 1971, Paulo VI nomeou-o Arcebispo do Rio de Janeiro. Dom Eugênio de Araújo Sales faleceu em 9 de julho de 2012.

E O CRIME CONTRA O FORTE DOS REIS MAGOS? 44 DIAS DE SILÊNCIO DA POLÍCIA CIVIL E DOS MINISTÉRIOS PÚBLICOS ESTADUAL E FEDERAL

Eliana Lima

Fonte – https://bznoticias.com.br/noticia/e-o-crime-contra-o-forte-dos-reis-magos-44-dias-de-silencio-da-policia-civil-e-dos-ministerios-publicos-estadual-e-federal

O trabalho de limpeza do Forte dos Reis Magos, maior e mais antigo monumento histórico de Natal, está sendo concluído, por apenados do sistema prisional do estado.

Neste domingo (22) completa 44 dias do crime de pichação da Fortaleza e até hoje a Polícia Civil do RN não informou absolutamente nada sobre a investigação para se chegar aos autores do crime contra o patrimônio e ser feita a devida punição.

Sequer tem uma imagem. O BZN tentou por diversas vezes saber sobre a apuração, mas o máximo que conseguimos foi que a investigação estava em curso. Mesmo à insistência, não passou de “diligências sendo realizadas”.

Não acreditamos na investigação sobre essa mancha que deixa vermelha a história da capital dos magos-enganados.

Nem também no inquérito aberto pelo Ministério Público Estadual.

A seriedade exige resposta. O crime não pode ser compensado.

Enquanto a Polícia Civil do Rio Grande do Norte, o Governo do Estado e os Ministérios Públicos Estadual e Federal não derem uma satisfação ao público, estão desmoralizados perante a população.

Na manhã do dia 7 de setembro, a Fortaleza amanheceu pichada de vermelho em protesto ao PL 2903/23, que trata do marco temporal das terras indígenas – Fotos: Ricardo Morais.

VEJA TAMBÉM – A PIXAÇÃO DA FORTALEZA DOS REIS MAGOS – PASSARAM A BROXA PINTADA DE VERMELHO NA NOSSA CARA! – https://tokdehistoria.com.br/2023/09/12/a-pixacao-do-forte-dos-reis-magos-passaram-a-broxa-pintada-de-vermelho-na-nossa-cara/

A PIXAÇÃO DA FORTALEZA DOS REIS MAGOS – PASSARAM A BROXA PINTADA DE VERMELHO NA NOSSA CARA!

Rostand Medeiros – https://pt.wikipedia.org/wiki/Rostand_Medeiros

Quem esculhambou com a Fortaleza dos Reis Magos no feriadão de 7 de setembro de 2023?

Não sei!

Qual o objetivo dessa ação?

Igualmente não sei!

O que sei é que a maioria das pessoas não estão interessados e nem comentando o que esse impensado ato quis apresentar. Só falam da pixação na Fortaleza, ou Forte, e do quanto se sentiram atingidas.

Foi uma besteira enorme. Foi algo que mexeu com uma situação que estava semimorta, na UTI mesmo, que são os sentimentos de pertencimento e de orgulho da maioria dos natalenses e potiguares pela sua terra e pela sua História.

A Fortaleza dos Reis Magos é um marco da nossa cidade e do Rio Grande do Norte, com uma trajetória que se inicia no final século XVI e está fixada no imaginário dos habitantes desta terra.

Certamente o Forte dos Reis Magos foi uma das primeiras referências visuais criadas no Rio Grande do Norte e divulgadas na Europa.

No passado, até os primeiros anos da década de 1950, quando para sair da nossa pequena e atrasada capital eram utilizados os navios de carga e passageiros, era a Fortaleza a última construção que se via. Na volta, viesse do Norte ou do Sul, era também a Fortaleza que primeiro se avistava dos tombadilhos.

Com o tempo, com a construção das estradas, da intensificação do tráfego aéreo, era para a Fortaleza que levávamos nossos parentes e amigos que visitavam Natal. A intenção era apresentar algo importante da velha “Cidade dos Reis”. Câmara Cascudo, por exemplo, levou muita gente interessante para ver aquela obra antiga e tem várias fotos sobre isso.

Faz tempo que nosso forte encanta os visitantes de Natal. Em 1928 essa mulher chamada Berta Lutz visitou a velha fortaleza e a achou “linda”. Em tempo, Berta Lutz foi uma das figuras mais significativas do feminismo e da educação no Brasil do século XX e nunca precisou fazer pichações em monumentos históricos para lutar e mostrar suas ideias.

Com o tempo a nossa Fortaleza se tornou o destino de milhares de excursões escolares, de escolas públicas e privadas, onde sei lá quantos mil alunos guardam na memória a experiência e a animação daquelas atividades. E foi isso que senti em minha primeira visita, acho que em 1973, ou 74, quando estudante do Colégio Salesiano São José.

Mas isso era no tempo que o ensino sobre a História do Rio Grande do Norte possuía uma outra dinâmica. Era quando nos colégios, cursinhos e nas faculdades sentíamos muita satisfação com as aulas de professores que transmitiam com eloquência e muita capacidade as batalhas ocorridas naquele local. Parecia que estávamos lá ouvindo os canhões e os gritos dos combatentes.

Era um tempo onde a nossa História era parte do currículo do vestibular e muito mais estudada. Mas hoje, com o ENEM nacional, já ouvi alguns professores comentarem “-Qual a real necessidade de se estudar a História do Rio Grande do Norte nas escolas, se não cai na prova?”

Se não tem tanta necessidade, o problema é que a Fortaleza está lá. Com suas histórias intensas, também tristes, às vezes terríveis. Mas é a nossa História. E não quero que ela seja reescrita usando tinta para agradar, ou fazer raiva, aos sobas de plantão!

O que fizeram com essa pixação foi muito além de vilipendiar um rico patrimônio da nossa memória e história. Praticamente passaram a broxa pintada de vermelho na nossa própria cara!

Foi quase como esculhambar a nossa casa e as nossas vidas. Tudo isso para transmitir uma mensagem que, certa ou errada, a nossa Fortaleza não foi erguido para virar outdoor de alucinados.  

Uma outra questão está no trabalho das autoridades constituídas sobre esse caso.

Percebo que as pessoas aguardam suas ações. Sinto falta da indignação pessoal de certas autoridades. Parece que “não estão nem aí” para o que aconteceu. Faltou uma fala mais pessoal sobre isso.

Sinto também que se algo seriamente válido não for feito, se essa gente não fizer valer sua autoridade, é de se questionar o que vem depois? Talvez queimar em praça pública os livros de Câmara Cascudo por sei lá o que?

Mas o que chama mais a minha atenção nessa triste situação é o ensurdecedor silêncio de certas entidades e de intelectuais ligados à história potiguar.

Para que serve esse silêncio?

Foto do tempo que o forte era apenas o forte e não um outdoor de malucos do “Bem”, em meio ao silêncio ensurdecedor das entidades que estudam e, na teoria, defendem e protegem a nossa História. 

Medo de serem excluídos do dinheiro das ditas “Leis de Incentivo à Cultura”, criadas para atender as paróquias e bolhas que satisfazem as autoridades que estão no poder com determinados discursos?

Ok, beleza! Se assim for, podem preparar mais tinta branca para esconder as novas “pinturas” que vão ser feitas nas muralhas da Fortaleza dos Reis Magos e em outros locais de interesse histórico! 

Não melindrar os poderosos e assim não afetar certos benefícios? 

NATAL – PRAÇAS E CAMINHOS DE HISTÓRIAS PERDIDAS

Sabe qual é a primeira rua de Natal? Veja e compare as mudanças que ocorreram no local ao longo dos anos

Dois cruzeiros demarcaram, em 1599, a área onde deveria nascer Natal. A história está guardada em livros de Câmara Cascudo e de arquitetos como João Maurício, que dedicou maior parte de sua vida profissional a organizar registros históricos das mudanças paisagísticas da Capital . Quem não recorrer a esse escritos e, por curiosidade, percorrer os 878 metros que separam a Praça das Flores da Praça da Santa Cruz da Bica (onde foram fixados os dois monumentos iniciais) dificilmente vai conseguir traduzir e perceber a importância histórica de prédios, ruas e monumentos que registraram a história da cidade.  Atualmente, o projeto que promete reverter essa falta de cuidado é o PAC Cidades Históricas que desde 2013 aprovou 10 projetos para Natal. O investimento previsto em obras de restauração é de R$ 43,4 milhões e beneficia nove prédios e 13 praças do Centro Histórico, espaço compreendido entre a Cidade Alta e a Ribeira. Os projetos foram elaborados e inscritos pelo Iphan-RN, Governo do Estado, Prefeitura do Natal e UFRN. Nenhum foi concluído e poucos iniciaram a parte burocrática.

Na Praça das Mães, nem mesmo o cruzeiro existe mais - Foto - Alex Régis
Na Praça das Mães, nem mesmo o cruzeiro existe mais – Foto – Alex Régis – CLIQUE PARA AMPLIAR AS FOTOS

Falta de preservação causa “apagão” histórico

Em 1599, quando foi fundada, Natal passou por uma verdadeira ‘peleja’: a dificuldade de povoar o sítio escolhido para receber  a ‘nova cidade’. Durante as três primeiras décadas, documentos oficiais citados em livros históricos dão conta de um lugarejo fundado no papel, mas não de fato. Em 1631, existiam apenas 60 casas entre os dois crucifixos usados para demarcar os limites da cidade. A área da Natal antiga é para a cidade de hoje o palco de uma nova ‘peleja’: garantir algum tipo de preservação de prédios e monumentos antigos. Quem percorre as vias que ligam os dois pontos que inicialmente delimitavam a cidade não consegue encontrar com facilidade informações de que está pisando na principal área histórica do RN.

Sabe aqueles cafés charmosos em prédios antigos, galerias de arte, museus, monumentos bem conservados, pontos turísticos, ônibus com turistas e suas máquinas fotográficas com direito a pau-de-selfie? Pois é… a área antiga de Natal não tem esse cenário comum a qualquer cidade que tem no turismo um setor importante da economia. 

Sem a devida preservação, a história da Natal antiga vai se perdendo em cada prédio  antigo demolido, reformado ou inutilizado. 

Praça da Santa Cruz da Bica está abandonada - Foto - Alex Régis
Praça da Santa Cruz da Bica está abandonada – Foto – Alex Régis

Esta semana a reportagem da Tribuna do Norte percorreu os 878 metros que separam as duas áreas onde foram chantados os dois primeiros marcos que delimitavam a área da cidade. Dois cruzeiros de posse foram usados: um ao Norte, onde hoje está a Praça das Mães; e o segundo, localizado ainda hoje na Praça Santa Cruz da Bica.

Nesse passeio pelo terreno histórico, além de informação, também faltam conservação, limpeza, iluminação e segurança.
O arquiteto João Maurício, referência no estudo da transformação arquitetônica de  Natal lamenta a falta de cuidado com a história. Em 2014 ele lançou o livro “Natal Foto-Gráfico: Do Passado ao Presente” e comenta: “Vendo essas fotografias, concluímos que muita coisa que tinha que ser preservada não foi. Estamos apagando a memória”, lamenta.

Antiga Igreja do Rosário, no Centro de Natal.
Antiga Igreja do Rosário, no Centro de Natal. Construída pelos escravos entre 1706 e 1714.

Poucos imóveis da primeira rua de Natal (que liga os cruzeiros) resistiram ao tempo.  Embora a estrutura das edificações ainda permaneça a mesma – prédios sem recuos laterais, telhados altos de duas águas – as fachadas foram grotescamente reformuladas. E os poucos imóveis que ainda mantém formatos originais estão sem qualquer preservação ou plano de manutenção. 

No número 55 da Praça João Tibúrcio, uma casinha chama a atenção por ainda preservar a fachada. Há mais de 20 anos, a família do comerciante José Neto mora no local. A calçada da casa ainda possui piso antigo. No interior do imóvel, o piso e telhado não são mais originais. “Nunca veio ninguém aqui querendo saber detalhes desse imóvel ou para me contar o valor histórico da casa. Sei que tem história, sei que é antigo, mas não conheço os detalhes”, afirma o comerciante de 35 anos. A estrutura da casa está bastante abalada e, atualmente, está passando por uma reforma na parte de trás. “Estamos tentando evitar que parte do telhado venha abaixo”, explica. A parte de trás da antiga casa tem vista para a Casa do Estudante e Rio Potengi.

Praças

Nos 878 metros percorridos na última quinta-feira (27), a equipe da Tribuna do Norte encontrou as quatro praças existentes no percurso com problemas de infraestrutura. A mais conservada, a das Mães, não tem referências sobre o início da cidade. “Conheço essa história porque tive acesso às obras de Cascudo. Mas, realmente, essa é uma área que merecia, e merece, total atenção para garantir a preservação da história”, afirma o advogado Cleto Barreto. Há 25 anos ele adquiriu um casarão deteriorado em frente à praça, reformou e instalou seu escritório. 

A Praça João Tibúrcio está destruída. Muretas que sustentam os desníveis do terreno estão sem manutenção e estrutura está comprometida - Foto - Alex Régis
A Praça João Tibúrcio está destruída. Muretas que sustentam os desníveis do terreno estão sem manutenção e estrutura está comprometida – Foto – Alex Régis

No outro extremo, a praça Santa Cruz da Bica, onde ainda existe o cruzeiro que delimitava a cidade em 1599, a área chama a atenção pelo abandono e acúmulo de lixo. Lá, também, não há nenhuma informação sobre a relevância histórica do cruzeiro. “É uma área insegura, escura, suja… Não condiz com a importância histórica. Infelizmente, é a realidade”, desabafa a taróloga Indira Ivanovichi, que mora a 200 metros do cruzeiro.

Na praça João Tibúrcio, que ainda guarda cenário residencial, a situação é a mais precária. Toda a estrutura de alvenaria, que sustenta os desníveis da área, está deteriorada e até representa perigo a quem circula na área. “Eu brinco com meus amigos que vivo na área nobre e aristocrata da cidade. Mas tenho que reconhecer que a história e a infraestrutura estão abandonadas”, afirma e lamenta o empresário Wagner Franco, que nasceu e mora até hoje na área histórica da cidade.

Na André de Albuquerque, monumentos que indicam a fundação da cidade estão pichados e sem placas de informações - Fot - Alex Régis
Na André de Albuquerque, monumentos que indicam a fundação da cidade estão pichados e sem placas de informações – Fot – Alex Régis

Já a Praça André de Albuquerque não tem cenário diferente, mesmo sendo considerada o marco zero da cidade. Bancos estão quebrados e as placas que dariam algum tipo de informação sobre sua importância histórica foram arrancadas ou estão pichadas.

Poucos conhecem referências

Moradores, comerciantes, pedestres. População em geral desconhece fatos históricos sobre a formação da cidade, mas defende que haja trabalho de conservação e recuperação urbana.

Indira Ivanovichi

“Moro aqui há mais de uma década e nunca vi qualquer trabalho de recuperação da área. Hoje, o que me assusta é a violência. Também acho que não há informação sobre a importância histórica”

Antiga Ribeira
Antiga Ribeira

Wagner Franco
“Nasci e me criei aqui nessa área histórica. Acho que a cidade perde muito quando não preserva os monumentos. Trabalho com turismo, mas reconheço que sem estrutura essa área tem potencial pouco explorado” 

Max Willian

“Não tinha o menor conhecimento de que essa área era a mais antiga da cidade. Sempre venho aqui ver prédios mais antigos, mas não há informações sobre essas histórias. Agora vou olhar com mais atenção”

Josimário Diniz

“Tenho essa lanchonete da Metropolitana há 24 anos. Mas confesso que não sabia dos detalhes do início da cidade. Sabia que era por aqui, mas não onde. Aqui não há manutenção. Esperam cair para reconstruir”

Emanuel Januário 

Vendo comida de milho aqui todos os dias. Mas nunca ouvi falar que Natal começou aqui. Acho interessante. Vou dizer para minha família que ficou no interior que eu trabalho na rua onde nasceu Natal”
Cleto Barreto

 “Conheço a importância dessa área porque sempre tive acesso à obra de Câmara Cascudo, mas concordo que falta iniciativa para preservar e divulgar a importância histórica de linda região”.

Em João Pessoa-PB, uma das principais atrações turísticas da cidade é um conjunto de edificações históricas. Esta é a fachada principal do atual Centro Cultural, que funciona em um complexo arquitetônico formado pela Igreja e Convento de Santo Antônio, a Capela da Ordem Terceira de São Francisco, a Capela de São Benedito, a Casa de Oração dos Terceiros (chamada de Capela Dourada), o Claustro da Ordem Terceira
Em João Pessoa-PB, uma das principais atrações turísticas da cidade é um conjunto de edificações históricas. Esta é a fachada principal do atual Centro Cultural, que funciona em um complexo arquitetônico formado pela Igreja e Convento de Santo Antônio, a Capela da Ordem Terceira de São Francisco, a Capela de São Benedito, a Casa de Oração dos Terceiros (chamada de Capela Dourada), o Claustro da Ordem Terceira

Memória

– Fundação – Em 25 de dezembro de 1599, a Cidade do Natal foi fundada oficialmente.

– Escolha – O chão elevado e firme da área ao redor da hoje Praça André de Albuquerque foram as características consideradas para a escolha da posse do terreno para o surgimento da cidade.

– Demarcação – Dois cruzeiros de posse foram usados para demarcar a área da cidade. Um chantando onde hoje está localizada a Praça das Mães; e outro, à margem do rio do Baldo (antigo rio da Bica, rio de Beber). O primeiro cruzeiro não existe mais e não há referências dele na praça. O segundo, ainda está no local, na Praça Santa Cruz da Bica.

1601
Para tentar povoar a nova cidade, o capitão-mor João Rodrigues Colaço ofereceu parte da área como dote de Izabel Alvares. O bombardeiro do Forte dos Reis Magos casou com a moça com o compromisso de povoar a área em três anos. Um ano depois do casamento, abandonou o terreno por ser “terra não proveitosa”.

1608
Governador Geral do Brasil, Diogo de Meneses, escreve a Portugal em 4 de dezembro informando que no Rio Grande, “a povoação que está feita não tem gente”.

1614
A nova cidade tem nessa época 12 casas erguidas na área entre os cruzeiros.

1631
Nessa época, a igreja matriz era a principal construção da cidade (embora fosse uma construção bem humilde). Era o ponto de contro dos que viviam em sítios ao redor de Natal e movimentava a pequena comunidade aos domingo. Os livros de história apontam existir 60 casas entre os dois cruzeiros.

1633
Cascudo descreve que os 34 primeiros anos da cidade foram “lentos, difíceis e paupérrimos” e que Natal era “cidade apenas no nome”.

1722
Capital-Mor Pereira da Fonseca calculava a cidade com trezentas casas. 

1746
Bispo de Olinda, Dom Frei Luiz de Santa Tereza relata que a cidade “de tão pequena que além do título de Cidade, Igreja Paroquial e poucas casas, nada tem que represente a forma de cidade”.

1777
Ouvidor da Paraíba descreve os limites da cidade. Nessa época, um retângulo de 800 por 110 metros, limitados: cruzeiro da antiga Rua da Cruz (norte); cruzeiro do córrego do Baldo (sul); Rua da Conceição (leste); e rua que margeava as praças André de Albuquerque e João Tibúrcio (oeste).  

1805
Primeiro mapa da população tem data de 31 de dezembro de 1805. Das 6.393 pessoas vivendo em Natal. Três anos depois um novo censo, com 1.484 pessoas a menos. Não há explicação para a diferença. 

1810
Censo mostra população de 5.977 pessoas. Causas de morte (além das naturais), duas: tiro e cobra cascavel.

FONTE – 

Autora – Cledivânia Pereira
Editora Executiva Jornal Tribuna do Norte

Fonte – http://tribunadonorte.com.br/noticia/praa-as-e-caminhos-de-hista-rias-perdidas/323122